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ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE LISBOA

1.2. Intervenções de enfermagem

Após uma fase inicial de choque e desorientação, onde muitas vezes o conhecimento da doença é escasso, os pais tendem a procurar informações e apoio junto dos técnicos de saúde, para uma maior compreensão e adequação à situação atual. Os técnicos de saúde auxiliam e promovem a consciencialização dos pais acerca do diagnóstico, prognóstico e tratamento, desmistificam e esclarecem dúvidas, tranquilizam, minimizando o problema, desdramatizam-no e devolvem aos pais a sua competência parental, securizando-os quanto a um prognóstico favorável dos seus filhos (Simões et al. , 2010). Desta forma, os pais, esclarecidos acerca de todo o procedimento cirúrgico, sentem-se mais confiantes e o choque do pós-operatório, ao verem a criança, envolta em tubos e máquinas pode ser minimizado (Simões et al., 2010). De acordo com Kiliçarslan-Toruner e colegas(2012) posteriormente à cirurgia cardíaca há muita informação, relacionada com o cuidar da criança, a transmitir aos pais. Consideram-se importantes áreas como: o apoio na comunidade, os sintomas, a natureza do defeito cardíaco, o procedimento cirúrgico e medicamentos. As informações que são geralmente excluídas pelos profissionais de saúde incluem: cuidados a ter para prevenir infeções, alimentação, recuperação normativa, imunizações, dor (Diaz-Caneja et. al, 2005). O suporte fornecido aos pais e as intervenções que minimizem as condições de separação da criança e promovam a sua inclusão nos cuidados pode minimizar ou impedir este risco e

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promover a parentalidade e a vinculação (Diaz-Caneja et. al, 2005). Também para Kiliçarsla- Toruner e colegas (2012) e Smith (2011) as intervenções de enfermagem baseadas na educação e no encorajar da participação parental nos cuidados à criança podem contribuir para o cuidar da criança e família podendo inclusive diminuir os níveis de ansiedade parental e aumentar o nível de conforto da criança.

Um acolhimento eficaz promove uma relação de confiança dos pais em relação à equipa de saúde e um sentimento de unicidade, que promove a colaboração, sendo fundamental a impressão causada no primeiro impacto (Jorge, 2004). Durante a hospitalização os cuidados são providos pela equipa de enfermagem, mas, após a alta, passam a ser competência dos pais e familiares. Por este motivo Albridge (2005) e Cleveland (2008) refere que no desenvolvimento do papel parental, os pais apresentam a necessidade de estar junto da criança e de “serem pais” de cuidar da criança, participar, estando envolvidos nos cuidados e nas decisões terapêuticas.

Muitas vezes as mães vivenciam sentimentos de culpa, pelo que pode ser importante a partilha da dor, através do apoio da família, dos técnicos de saúde e de troca de experiências entre as mães, durante a hospitalização da criança. Neste sentido, algumas mães referem a

necessidade de apoio psicológico (Simões et al., 2010). A possibilidade de grupos de entre-

ajuda poderá sugerir uma resposta centrada nas vivências subjetivas dos pais tendo em conta os aspetos afetivos e emocionais, para além dos aspetos biológicos e funcionais da

parentalidade face à cardiopatia congénita (Simões et al., 2010). No que respeita à intervenção

psicológica, Finkel (2000) citado por Simões e colegas(2010) refere que é preciso ajudar a família a enfrentar esta difícil realidade, e ajudar a criança a enfrentar situações de internamento, procedimentos , exames e cirurgias a que será ser submetida. Segundo o mesmo autor, esta ajuda poderá ser providenciada através de preparação psicológica, incluindo sempre a família, incentivando a sua participação e oferecendo apoio durante o internamento, promovendo a adesão ao tratamento cardiológico. O suporte emocional pode funcionar como um fator de resiliência entre o stress familiar e o coping parental (Vrijmoet-Wierma et al., 2009). De acordo Damas e colegas (2009) a enfermagem pode ajudar pais e familiares na presença da doença, alívio do sofrimento, promovendo o restabelecimento da saúde. Segundo os mesmos autores tais intervenções podem ser terapêuticas, de apoio e aconselhamento, ou ainda de educação para a saúde de forma a promovera autoconfiança materna.

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CONCLUSÃO

Com este trabalho foi possível aprofundar saberes práticos e teóricos que podem impulsionar mudanças nas práticas de enfermagem, com reflexo na melhoria contínua da qualidade dos cuidados pediátricos, nomeadamente no âmbito da promoção da parentalidade na criança/jovem e família com doença cardíaca. O desempenho do papel parental numa situação de doença cardíaca e hospitalização da criança é um momento stressante para os pais e que condiciona as mudanças (Barão, 2014). O bem-estar e a capacidade dos pais de desenvolverem estratégias de coping para lidarem com a criança com cardiopatia congénita pode afetar as estratégias de coping desenvolvidas pela criança e a perceção da sua condição (Kiliçarslan-Toruner et al., 2012). De acordo com Damas e colegas(2009) são necessários validar programas e protocolos de cuidados destinados a promover a capacitação dos pais com cardiopatia congénita. Estes programas devem ser flexíveis de modo a possibilitar a adaptação a cada situação clínica e aos determinantes sociais, cultural e económico que agem sobre a família (Idem, 2009).

Considero que esta revisão de literatura me permitiu identificar e desta forma melhor planear as intervenções de enfermagem promotoras de um papel parental adequado atendendo às necessidades e dificuldades dos pais com cardiopatia congénita. Por último e como perspetiva futura, sendo este o meu atual local de trabalho, é meu objetivo partilhar este conhecimento com toda a equipa de enfermagem de forma a contribuir para a progressão da enfermagem enquanto ciência do cuidar.

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APÊNDICE V