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Diagnóstico

O diagnóstico clínico de intolerância alimentar geralmente é baseado na presença de sintomas, incluindo dor abdominal, inchaço, cólicas e diarreia. A anamnese precisa ser bastante detalhada. Além disso, o teste de diagnóstico mais útil para a intolerância alimentar é a exclusão alimentar para alcançar a melhora dos sintomas. No entanto de acordo com os sinais e sintomas, exames complementares podem ser necessários para um melhor diagnóstico (SUCHY, 2010;

MISSELWITZ, 2013; LOMER, 2014).

Tratamento

O tratamento deve ser direcionado principalmente para a melhora clínica dos sintomas. Em alguns casos, não será necessário retirar completamente o componente da dieta, como no caso da intolerância à lactose, em que o indivíduo pode tolerar certa quantidade sem apresentar sintomas (MISSELWITZ, 2013; LOMER, 2014).

Além disso, muitos indivíduos com intolerância à lactose ingerem quantidades inadequadas de cálcio e vitamina D, o que pode predispor a diminuição da acumulação óssea, osteoporose e outros desfechos adversos à saúde. Portanto, as abordagens dietéticas

Do lado esquerdo a mucosa de indivíduo saudável, do lado direito a mucosa de um indivíduo intolerante à lactose.

Fonte: TelessaúdeRS-UFRGS

baseadas em evidências com e sem alimentos lácteos e estratégias de suplementação são necessárias para garantir o consumo adequado de cálcio e outros nutrientes em indivíduos intolerantes à lactose (SUCHY, 2010).

A legislação também possui especificações que devem constar no rótulo em casos de alimentos que contenham compostos relacionados às intolerâncias alimentares, especialmente no caso dos dissacarídeos, que dispõem sobre a declaração obrigatória da presença de lactose nos rótulos alimentares (BRASIL, 2017b):

• Isentos de lactose: alimentos para dietas com restrição de lactose que contêm quantidade de lactose igual ou menor a 100 mg por 100 g do alimento. Devem trazer a declaração

“isento de lactose”, “zero lactose”, “0% lactose”, “sem lactose” ou

“não contém lactose”, próxima à denominação de venda do alimento.

• Baixo teor de lactose: alimentos para dietas com restrição de lactose que contêm quantidade de lactose maior que 100 mg por 100 g e igual ou menor do que 1 g por 100 g do alimento.

Devem trazer a declaração “baixo teor de lactose” ou “baixo em lactose” próxima à denominação de venda do alimento.

Além disso, no caso dos alimentos para dietas com restrição de lactose, a informação nutricional deve ser declarada. Os teores de lactose e galactose devem ser declarados em gramas e sem o percentual do valor diário (%VD), abaixo do item “carboidratos”, na tabela de informação nutricional.

Principais diferenças entre Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) e intolerância à lactose

Alergia à Proteína do

Leite de Vaca (APLV) Intolerância à lactose

Mecanismo Envolve mecanismos

imunológicos em resposta a ingestão da proteína encontrada no leite de vaca e derivados.

Não envolve mecanismos imunológicos, mas sim defeitos na produção da enzima lactase.

Os sintomas ocorrem após a ingestão do açúcar lactose.

Epidemiologia Mais comum na infância. Mais comum em crianças maiores e adultos.

Alimentos

envolvidos Leite de vaca e seus produtos, alguns aditivos de uso industrial.

Leites de mamíferos e seus produtos. O teor de lactose pode mudar de acordo com o processamento do produto.

Manifestações, sinais e

sintomas

Podem ocorrer manifestações respiratórias, cutâneas e gastrointestinais. Pode ocorrer também anafilaxia.

Náuseas, flatulência, distensão abdominal, dor abdominal, diarreia, entre outros.

Diagnóstico História clínica, exame físico, dieta de exclusão, teste de desencadeamento e testes para IgE.

História clínica, teste de tolerância à lactose, teste de hidrogênio expirado.

Tratamento Evitar qualquer contato com a proteína do leite de vaca. Necessário excluir alimentos que contenham traços da proteína.

Exclusão ou redução da lactose na dieta, utilização de lactase e probióticos. Não é necessário excluir alimentos que contenham apenas traços de lactose.

Fonte: Heyman, 2006; Suchy, 2010; Misselwitz, 2013

Em relação ao público infantil, é necessário que os profissionais de saúde estejam atentos sobre os benefícios e prejuízos relacionadas ao consumo de produtos à base de leite e fórmulas infantis à base de leite. O teor de lactose do leite geralmente influencia a decisão sobre a continuação dele na dieta. Contudo, a exclusão do leite e dos produtos lácteos tem um efeito negativo sobre a ingestão de cálcio e vitamina D, principalmente em lactentes, crianças e adolescentes.

Além disso, outros nutrientes, como a proteína, tornam os produtos

lácteos uma importante fonte de nutrição para crianças em crescimento. Portanto, leite sem lactose ou com lactose reduzida são substitutos adequados para crianças de 1 ano de idade (leite integral sem lactose para crianças <2 anos de idade). O teor de nutrientes de leites não lácteos geralmente não é equivalente ao leite de vaca (HEYMAN, 2006).

Capítulo 5

Recomendações

alimentares e nutricionais

para pessoas com obesidade

A obesidade é definida como peso corporal desproporcional para a altura, com acumulação excessiva de tecido adiposo que geralmente é acompanhada de inflamação sistêmica crônica leve.

Ela configura-se com um dos maiores desafios de saúde atuais, por estar associada às principais causas de morbimortalidade no Brasil (diabetes, câncer e doenças cardiovasculares) (SCHMIDT, 2011;

NCD-RisC, 2016) e possuir etiologia multifatorial complexa e difícil tratamento (GONZALEZ-MUNIESA, 2017). Segundo indicadores do Vigitel, o número de brasileiros sofrendo com a obesidade foi de 11,8% no ano de 2006 para 18,9% em 2016, representando um importante problema de saúde pública no país (BRASIL, 2017c).

O ganho excessivo de peso, de acordo com uma visão simplista, resultaria do desequilíbrio entre a ingestão calórica e o gasto energético. Nesse sentido, a obesidade seria o resultado de pouca atividade física e do consumo de alimentos

além das necessidades dos indivíduos (MARTINEZ, 2000). No entanto, estudos atuais têm demonstrado que a etiologia da obesidade é muito mais complexa, uma vez que os comportamentos alimentares são moldados não apenas por fatores genéticos e biológicos, mas também pelo acesso e disponibilidade aos alimentos, por aspectos psicossociais e culturais (POPKIN, 2012). Assim como as características socioeconômicas, ambientais, comportamentais e interações genótipo-fenótipo devem ser levadas em consideração para que se possa entender a etiologia da obesidade (GONZALEZ-MUNIESA, 2017), também as ações de prevenção e as intervenções para a reversão do excesso de peso em populações ou em indivíduos precisam considerar esses múltiplos fatores.

Assim sendo, o combate à obesidade requer intervenções multiníveis e multicomponentes que adotem uma abordagem sistêmica. As estratégias potenciais para o enfrentamento da

Fonte: TelessaúdeRS-UFRGS

obesidade incluem, em nível populacional, programas que abordem mudanças nos estilos de vida e políticas que visem mudanças no meio ambiente. Já o tratamento individual da obesidade é direcionado à perda de peso, usando tratamentos de baixo risco, como intervenções de estilo de vida (mudanças na dieta e exercício físico) como a escolha de primeira linha, seguida, de medicação ou cirurgia em casos específicos (GONZALEZ-MUNIESA, 2017).

Nesse cenário, é possível identificar a atenção primária como papel central na prevenção e no tratamento da obesidade na população em geral. Por sua proximidade ao cotidiano de vida das pessoas, ela tem maior poder de compreensão da dinâmica social e dos determinantes de saúde de cada território, tornando-se local privilegiado para o desenvolvimento de ações de promoção de saúde e enfrentamento do excesso de peso que acomete o indivíduo, as famílias e a população (BRASIL, 2014).