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Mais do que uma fase, a adolescência é um processo dinâmico de passagem entre a infância e a idade adulta. Moreira (2000), define adolescência como um período de desenvolvimento pessoal durante o qual o jovem deve estabilizar e definir a sua própria identidade e os seus próprios valores, tendo em conta as modificações sofridas na sua imagem corporal. A personalidade é uma construção pessoal que decorre ao longo da vida, e não se pode isolar de aspetos pessoais como a dimensão fisiológica, emocional, intelectual, sociomoral, não sendo também independente da consciência e da representação que cada indivíduo tem de si, nem da sua autoestima (Monteiro & Santos, 1998).

Segundo Bernardo & Matos (2003), a transição da infância para a adolescência é marcada por um número significativo de mecanismos que contribuem em grande parte para o desenvolvimento cognitivo e motor da criança. À medida que as crianças maturam e se tornam adolescentes, a sua autoestima torna-se diferenciada, ou seja, os vários domínios tornam-se menos relacionados entre si.

A autoestima tem sido aceite como um indicador do bem-estar mental e um mediador do comportamento humano. Refere-se à relação de cada pessoa consigo própria: o que pensa de si, o que sente por si, a imagem que tem de si própria, o nível de bem-estar que sente consigo, ou seja, encontra-se ligada às dimensões avaliativas e emocionais, sendo considerada a parte afetiva do autoconceito. Assim a autoestima é um indicador crítico do ajustamento da vida e do bem-estar emocional, visto que as pessoas gostam de se sentir bem consigo mesmas. Por isso, segundo Scriven & Stiddard (2003) tem-se vindo a dar grande relevância ao desenvolvimento da autoestima, uma vez que se acredita que os jovens detentores de autoconfiança e de uma visão positiva acerca de si mesmos possuem maior capacidade de aumentar a sua autoeficácia, de resistir às pressões de grupo para comportamentos de risco para a saúde.

Desta forma, o facto de a autoestima encontrar-se ligada às dimensões avaliativas e emocionais do autoconceito e considerada a parte afetiva do autoconceito (ou seja, um indivíduo autoavalia-se atribuindo assim sentimentos de “bom” ou “mau” à sua identidade), a construção

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de uma autoestima positiva proporciona aos jovens a oportunidade de desenvolverem autoeficácia positiva e a sua crença na capacidade de controlar vários aspetos da sua vivência educacional ou da sua vida.

A adolescência é uma fase da vida humana marcada por profundas transformações fisiológicas, psicológicas, pulsionais, afetivas, intelectuais e sociais nos indivíduos, vivenciadas num determinado contexto cultural, que muito provavelmente se refletem nas suas autoperceções. A autoperceção e a satisfação corporal são fatores preponderantes na autoaceitação dos indivíduos e podem gerar atitudes adequadas ou inadequadas que auxiliam ou prejudicam seu convívio social. Uma aquisição importante para a compreensão das autoperceções durante adolescência está baseada no processo hipotético-dedutivo que envolve o aparecimento do pensamento abstrato, introspeção e autorreflexão. Esta habilidade passa as autoperceções para um novo nível de representação, o adolescente pode agora, diferenciar os seus atributos e expressar autoavaliações mais específicas de um ego multidimensional.

Dada a sua complexidade, a imagem corporal tem sido alvo de muitos estudos nas últimas décadas, em ambos os sexos e em diversas etapas do ciclo de vida, mais especialmente na adolescência, etapa em que a imagem corporal assume um importante papel no desenvolvimento psicológico e interpessoal. Rosenberg (1985) afirma que, a maioria das alterações que ocorrem neste período parecem desafiar a imagem que o adolescente tem de si próprio. É também durante a adolescência que a imagem corporal mais influencia a autoestima, sobretudo das raparigas, estando uma imagem corporal negativa frequentemente associada a baixa autoestima, depressão, ansiedade e tendências obsessivo-compulsivas (Levine & Smolak, 2002).

A Imagem Corporal tem sido definida em vários sentidos: autoperceção de atração física ou aparência, sentimentos positivos ou negativos acerca do corpo, ou a visão mantida acerca do próprio corpo. Uma imagem corporal positiva pode ser interpretada como significado de atração física, um certo somatótipo, musculatura, magreza, entre outras características. O somatótipo e o peso têm emergido como dois dos mais importantes aspetos para os adolescentes, tendo sido estudadas as influências de fatores tais como o sexo, a idade, o estádio maturacional e os valores sociais (Duke-Duncan, 1991).

Alguns autores, (Folsom-Meek, 1991; Melnick & Mookerjee, 1991; Biddle et al, 1993; cit. in Batista, 2000) defendem que os benefícios da atividade física podem ser notados no

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autoconceito, na autoestima, na personalidade, na confiança, na imagem corporal e no ajustamento social, induzindo assim, alterações de comportamento.

Segundo o Programa Nacional de EF do Ensino Secundário, “A conceção de Educação Física (…) (conjunto dos programas de Educação Física) vem sistematizar esses benefícios, centrando-se no valor educativo da atividade física eclética, pedagogicamente orientada para o desenvolvimento multilateral e harmonioso do aluno. Assim, esta conceção concretiza-se na apropriação das habilidades e conhecimentos, na elevação das capacidades do aluno e na formação das aptidões, atitudes e valores (bens de personalidade que representam o rendimento educativo), proporcionadas pela exploração das suas possibilidades de atividade física adequada - intensa, saudável, gratificante e culturalmente significativa. (…) Considera-se que a atividade dos alunos e os seus efeitos integram necessariamente esses domínios. Assim, o programa organiza- se em torno da diferenciação dos tipos de atividades característicos da EF. Os aspetos específicos do desenvolvimento (cognitivo, motor e sócio afetivo) encontram-se relacionados nessas atividades, integrando-se quer nas componentes genéricas dos programas (finalidades, objetivos de ciclo e orientação metodológica), quer nos elementos mais pormenorizados (objetivos por matéria).

Segundo Weinshenker (2002, cit. in Matos et al., 2002), os adolescentes são mais propensos a preocupações em relação à imagem do corpo, nomeadamente a distorções e sentimentos de insatisfação em relação ao corpo. Durante a adolescência destacam-se dois aspetos relacionados com a imagem corporal, em primeiro lugar as alterações corporais que os adolescentes estão sujeitos, e em segundo lugar a adolescência é um período de progressiva diferenciação entre os géneros, sendo nesta altura que as diferenças sexuais biológicas são mais evidentes entre os rapazes e as raparigas. Simultaneamente com estas modificações corporais verificadas ao longo do processo de maturação biológica, registam-se alterações ou evoluções significativas ao nível da imagem corporal.

Neste contexto, o objetivo principal deste estudo foi o de comparar a perceção que os adolescentes têm da sua imagem corporal com a real e analisar o nível de satisfação que eles têm do próprio corpo.

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2.3.2 Material e Métodos

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