• Nenhum resultado encontrado

4 CONCRETO AUTOADENSÁVEL (CAA)

4.1 Introdução

O guia europeu de recomendações para a especificação, o uso e a produção do Concreto Autoadensável (CAA) (European Guidelines for Self-Compacting Concrete: Specification, Production and Use) (ERMCO, 2005) define o concreto autoadensável como um concreto inovador que não necessita de vibração para o adensamento e compactação, sendo capaz de fluir sob o seu próprio peso, enchendo completamente a fôrma e alcançando compactação completa, mesmo na presença de alta taxa de armadura, tal como exemplificado na Figura 5. Já o CAA no estado endurecido é um concreto denso, homogêneo e tem as mesmas propriedades físico-químicas e de durabilidade de um concreto vibrado tradicional.

Figura 5 – Aplicação do CAA na indústria de pré-fabricados.

Fonte: ERMCO (2005).

Em face de o concreto autoadensável ter sido desenvolvido praticamente na mesma época em que o Concreto de Alto Desempenho (CAD) foi classificado como um concreto cuja característica principal é a baixa relação a/c, o termo alto desempenho passou a ser destinado aos concretos com elevada durabilidade. Tendo em vista que a durabilidade é uma característica forte do CAA no estado endurecido e a autoadensabilidade no estado fresco, Okamura e Ouchi (2003) passaram a classificá-lo como um concreto autoadensável de alto desempenho.

Para Ozawa, Sakata e Okamura (1995) o concreto, então denominado de concreto autoadensável de alto desempenho, desenvolvido na Universidade de Tokyo, é caracterizado como segue: no estado fresco, ele não apresenta apenas autoadensabilidade, mas também suficiente fluidez, resistência à segregação e coesão, permitindo a passagem pelas armaduras sem bloqueio ou segregação. Nas idades iniciais, ele gera limitado calor devido à hidratação e sua retração por endurecimento e secagem também são limitadas, fazendo com que os defeitos iniciais sejam reduzidos. Depois de endurecido, ele apresenta microestrutura densa e alta resistência aos íons cloretos e ao gás dióxido de carbono.

Quanto aos materiais empregados na produção do CAA, usam-se os mesmos empregados nos concretos convencionais. Para se apontarem as possíveis maiores diferenças, na composição do CAA empregam-se mais materiais finos do que no concreto convencional e aditivos dispersantes de grande eficiência, conhecidos como superplastificante de terceira geração. Pode, ainda, haver a necessidade de aumentar a viscosidade da pasta do concreto empregando-se, por vezes, aditivo modificador de viscosidade (REPETTE, 2011).

Estes aditivos modificadores de viscosidade e as adições minerais conferem elevada resistência à segregação do CAA, apesar da alta fluidez ou deformabilidade no estado fresco, pois tendem a aumentar a coesão da mistura e evitar a segregação do agregado graúdo (TUTIKIAN; DAL MOLIN, 2008).

As adições minerais, além de responsáveis pela resistência à segregação da mistura, podem desempenhar um papel importante para a resistência e durabilidade do concreto, tanto física quanto quimicamente (TUTIKIAN; DAL MOLIN, 2008). Neste contexto, os autores classificam as adições minerais, de acordo com sua ação físico-química, em quimicamente ativas, tais como a cinza volante, a sílica ativa e a cinza de casca de arroz; e sem atividade química, tais como o calcário, a areia fina e o pó granítico.

O uso dos aditivos modificadores de viscosidade visa melhorar a resistência à segregação quando há falta de materiais finos ou objetivando corrigir as composições cujo suprimento de materiais constituintes é muito variável, em particular quanto à forma e distribuição granulométrica dos agregados miúdos e quanto à inconstância na quantidade de água empregada na fabricação do CAA, conforme sinaliza Repette (2011).

Domone (2006), ao realizar uma análise de 11 anos de estudos de caso com o CAA, verificou que o conteúdo de agregado graúdo deve ser suficientemente baixo para permitir que as partículas do agregado, individualmente, sejam lubrificadas por uma camada de pasta/argamassa, aumentando assim a fluidez com redução do risco de colmatação dos

agregados e, portanto, de bloqueio do concreto quando for passar por aberturas estreitas, ou seja, aumentando a habilidade passante.

Tutikian (2007) ressalta que o CAA só é diferente do convencional até que a mistura passe do estado fresco para o endurecido e, a partir daí, suas propriedades mecânicas e de durabilidade serão o efeito da proporção dos materiais constituintes.

Quanto à difusão da utilização do CAA, Cavalcanti (2006) afirma que vários países já adotaram esta tecnologia, principalmente o Japão e países da Europa. No Brasil, apesar de alguns questionamentos de ordem econômica, a utilização do CAA vem crescendo exponencialmente tanto para a produção de estruturas complexas e obras com maior rigor de acabamento como para peças pré-fabricadas (LISBÔA, 2004).

Acredita-se que, mesmo que o custo da produção do CAA seja efetivamente superior ao convencional, outros fatores tornam a utilização deste tipo de concreto mais barata no cálculo final dos custos, como a redução de mão-de-obra necessária para a concretagem, a rapidez na execução do serviço, a menor quantidade de equipamentos necessários, a não- necessidade de mão-de-obra especializada, apenas para citar alguns (CAMARGOS, 2002).

Alencar (2008) frisa que esta tecnologia acelera o ritmo da concretagem, podendo haver um ganho de tempo da ordem de 20% a 25%.

No ano de 2005, quando o CAA ainda era uma novidade tecnológica no Brasil, Geyer (2005) desenvolveu um trabalho de comparação dos custos da utilização de concreto autoadensável e concreto convencional em estruturas de edifícios. Segundo o autor, a ideia era apenas realizar uma análise comparativa entre os dois materiais e verificar até que ponto o preço do autoadensável desestimularia o seu uso em edificações. No entanto, o pesquisador verificou que, a partir das mesmas condições oferecidas para o uso de concreto convencional com resistência mecânica característica de 20 MPa, a aplicação de CAA solucionava os problemas de aparecimento de ninhos de concretagem ou acabamento não satisfatório. Além disso, houve redução da mão-de-obra, desmobilização de equipamentos e menor consumo de energia elétrica. Por ter maior trabalhabilidade, o CAA aumentou a velocidade de execução da estrutura. Para o concreto convencional levou-se em média quatro horas para concretar uma laje e com o autoadensável esse tempo caiu para uma hora e meia.

No entanto, o custo final da obra ficou 8% acima daquele que seria dispensado com os métodos tradicionais. Constatou-se que, com resistência de 20 MPa, esse material não tinha boa viabilidade econômica por causa do custo dos aditivos. Segundo o referido autor, para concretos com resistência acima de 25 MPa, com maior quantidade de cimento e menor consumo de aditivos, pode-se observar uma melhor relação custo-benefício.

De acordo com a pesquisa de Geyer (2005), com resistência de 40 MPa a diferença de preço entre os concretos cairia para 1,8% e o custo final da estrutura ficaria, aproximadamente, 5% mais vantajoso para o uso do CAA. O pesquisador acreditava que devido a tendência de adoção da resistência característica igual a 30 MPa para adequação à NBR 6.118 (ABNT, 2007), haveria um favorecimento para o uso do CAA, além de muitos aditivos não serem mais importados e sim fabricados no Brasil e com preços mais acessíveis. De fato, o que se observa hoje é uma aceitação maior por parte das empresas para a aplicação do CAA.

Levando em consideração que, via de regra, as obras da construção civil não obedecem ao cronograma físico previamente estabelecido, o uso do CAA pode se tornar uma ferramenta essencial para as empresas que normalmente têm dificuldades de cumprir seus prazos ou àquelas que tenham prazo reduzido. A título de exemplo, a revista Guia da Construção (2010) apresenta o estudo de caso que faz um comparativo entre o uso do concreto convencional e do concreto autoadensável num empreendimento. Notou-se que, embora o preço do material favorecesse o uso do primeiro, a economia de tempo, pessoal e fôrmas levou a construtora a optar pelo uso do CAA. Estimou-se que, com a diminuição do tempo de concretagem, a construtora tenha encurtado em cerca de um mês o cronograma físico do empreendimento.

Neste exemplo, o construtor reconheceu que a simplificação das etapas do lançamento permitiu também à empresa diminuir a quantidade de funcionários envolvidos no serviço e as horas de trabalho necessárias. Paralelamente, o menor número de funcionários envolvidos na concretagem reduziu os riscos de amassamento e deslocamento das ferragens no momento da execução dos serviços, assegurando maior qualidade à laje. Outra vantagem verificada foi a economia de fôrmas, pois, mesmo aplicando desmoldantes em ambos os sistemas comparados, durante a desforma as fôrmas se soltam com mais facilidade quando se usa concreto autoadensável, já que as superfícies ficam com acabamento mais liso. Além disso, durante o lançamento, o esforço em cima das fôrmas de laje foi menor: há menos movimento, menos trabalhadores e não há vibração. Isso ajudou a preservar as fôrmas e aumentar o seu reaproveitamento. O construtor acrescenta, ainda, que o concreto autoadensável preencheu melhor os espaços vazios na hora da concretagem e reduziu imperfeições nas peças estruturais depois de prontas.

Silva Filho (2012), em reportagem sobre o futuro da construção, acredita que o concreto autoadensável será o componente de praxe e deverá virar o novo "convencional".