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4. CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS POR ADOLESCENTES EM

4.1. Introdução

O desenvolvimento deste projeto, levou a uma reflexão mais profunda sobre a problemática do consumo de substâncias psicoativas na adolescência em contexto escolar. O senso comum, a análise empírica e a pouca valorização de alguns profissionais neste âmbito não permitem que sejam adotadas boas práticas para a resolução desta problemática. Esta questão obriga à interiorização de que todos os intervenientes no processo de crescimento e desenvolvimento dos adolescentes, têm responsabilidade de intervir de forma a detetarem precocemente sinais de alerta e adotarem sistematicamente medidas preventivas, fundamentais para que os adolescentes incorporem princípios e orientações favoráveis à promoção da saúde.

O adolescente não pode ser olhado isoladamente, tem que ser considerado na sua essência (personalidade, crenças, valores, …) e no contexto onde está inserido (família, escola, cultura, comunidade…). Sendo uma faixa etária complexa, pelas mudanças significativas que se verificam no seu processo de crescimento e desenvolvimento, exige por parte da escola, dos profissionais de saúde, da família e da comunidade, conhecimentos e domínio de estratégias adequadas ao seu percurso de vida. A escola, sendo um contexto privilegiado para as suas aprendizagens, deve integrar metodologias que estejam em conformidade, com as orientações das políticas de saúde a adotar em contexto escolar, face à problemática dos consumos. Esta dinâmica obriga a uma articulação estreita com a equipa de saúde escolar, no sentido de através deste intercâmbio serem definidas as regras do jogo, assumindo cada um, qual a sua responsabilidade no processo educativo destes adolescentes. A componente científica (na vertente saúde/estilos de vida saudáveis), deve ser trabalhada pela equipa de saúde escolar, preferencialmente por um Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica, detentor de um background que permita uma visão mais objetiva e real da problemática.

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Sendo que a equipa docente se confronta no seu quotidiano com comportamentos e práticas desajustadas dos adolescentes, compete-lhe desenvolver mecanismos e integrar conhecimentos sólidos, adequados às necessidades individuais de cada adolescente.

Nesta perspetiva, direcionou-se o projeto de intervenção para a população alvo (corpo docente), estruturando um programa de formação sobre a problemática em estudo tendo como objetivo, documentar e capacitar a equipa para uma abordagem sólida e segura dos adolescentes em contexto escolar. Para dar consistência a este projeto construiu-se uma grelha (Apêndice VIII) com fatores de risco e de proteção de forma a tornar mais mensurável e segura a avaliação dos comportamentos de risco, passíveis de referenciação. Para a utilização deste instrumento, definiu-se que perante um critério em cada dimensão (pessoal, familiar, escolar e social), os professores devem adotar uma supervisão rigorosa com o objetivo de compreender se os comportamentos se repetem e se eventualmente é detetado mais algum comportamento que confira maior suscetibilidade à avaliação. Sempre que ocorra este cenário os professores devem envolver numa primeira fase os alunos, de forma a não ser quebrada a relação de confiança. Com este envolvimento pretende-se validar com o adolescente os aspetos identificados, confirmando a suspeição do consumo. Os professores poderão pedir apoio técnico-científico ao EEESMP.

Nesta interação, professores e alunos negoceiam e assumem o compromisso de mudança, estabelecendo um timing para reavaliação. A recorrência de um comportamento de risco em cada dimensão e de dois sinais de alerta, obriga à implicação dos pais/substitutos legais, de forma a definir estratégias conjuntas e proceder à referenciação às instâncias especializadas. Importa salvaguardar que a avaliação deve ter em conta a personalidade do adolescente, logo só por si não podem ser considerados comportamentos de risco. É fundamental que os professores conheçam o padrão de comportamento de cada aluno, evitando enviesamento na avaliação.

O espaço temporal para a realização deste estágio foi limitativo de planear um projeto mais ambicioso. A revisão bibliográfica efetuada apontou para a necessidade de enveredar por uma área considerada prioritária, para que se possam estruturar e aplicar no futuro, programas de prevenção mais consistentes e adequados aos contextos. Esta

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prática formativa leva a que a equipa docente, a replique na comunidade educativa (assistentes operacionais, pais/família, alunos), integrando os conteúdos em áreas curriculares que facilitem a sua abordagem. Pretende-se que este processo se torne enraizado e que passe a ser uma obrigatoriedade sistemática no currículo escolar, transformando a escola num veículo de boas práticas para os adolescentes que pelas fragilidades inerentes ao estadio de desenvolvimento, são suscetíveis ao consumo de substâncias psicoativas. A Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, Arlete Lourenço será a gestora da aplicabilidade do plano de formação e uma referência, para a conceção de um futuro plano de prevenção do consumo de substâncias psicoativas nos adolescentes em contexto escolar, bem como o apoio técnico científico em qualquer circunstância decorrente desta problemática.

Com esta dinâmica, pretende-se, fornecer contributos válidos para o Projeto Sinergias do Cuidar no eixo Sincuidar-Cidadania.

Este trabalho constitui-se como um projeto de intervenção no âmbito da identificação e referenciação de consumo de substâncias ilícitas por adolescentes em meio escolar.

Tem como objetivos gerais:

• Capacitar o corpo docente para a deteção precoce do consumo de substâncias ilícitas em meio escolar;

• Desenvolver um instrumento de suporte avaliativo, para orientação da equipa docente face à identificação da problemática.

Como objetivos específicos:

• Fornecer subsídios teóricos para melhorar a atuação da equipa docente;

• Sensibilizar/destigmatizar a equipa docente face aos comportamentos aditivos;

• Reforçar à equipa docente a importância da articulação com outras entidades. Apesar de existirem normas e diretrizes nacionais que apontam para a obrigatoriedade da integração desta temática nos currículos escolares, constata-se uma

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lacuna na sua operacionalização, levando à necessidade de interiorizar a sua importância e agir de forma consistente e sistemática em conformidade com as orientações. Esta metodologia visa o envolvimento do corpo docente, adolescentes, pais/família, comunidade tornando-os intervenientes ativos em todo o processo, levando a uma maior responsabilização e eventual mudança de comportamentos e atitudes, promotores de estilos de vida saudáveis.