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CAPÍTULO 1 – CRESCIMENTO E RENDIMENTO DA SOJA

1. INTRODUÇÃO

De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), mais de 850 milhões de pessoas passam fome no planeta hoje em dia, e devido à atual crise de alimentos este valor pode aumentar em 300 milhões, sendo necessário haver um aumento na produção de alimentos em 50% até 2030.

Vieira et al. (1999) avaliaram o teor nutricional de seis cultivares de soja e constataram que elas apresentavam excelente balanço de aminoácidos essenciais, podendo ser consideradas como uma fonte de proteína de alta qualidade para a alimentação humana. Todas as cultivares estudadas apresentaram em sua composição um conteúdo médio, na base seca, de 39,52% de proteína, 23,04% de óleo, 5,41% de cinzas, 5,75% de fibra e 32,01% de glicídios totais.

O mercado da soja no Brasil apresenta boas perspectivas de crescimento nos próximos anos, devido a fatores como o potencial uso da soja para a indústria de bicombustível, ao aumento do consumo de farelo de soja e principalmente pelo fato de países produtores como EUA, China e Índia estarem com suas fronteiras agrícolas quase ou totalmente esgotadas, tornando o Brasil como um dos grandes provedores da demanda mundial (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA –

A cultura da soja foi introduzida no Brasil em 1882 no estado da Bahia, mas só começou a ser desenvolvida com êxito no Brasil, nos estados da região Sul devido às condições climáticas similares às do local de origem. No Rio Grande do Sul a soja começou a ser cultivada como uma substituição às áreas anteriormente cultivadas com pastos ou outras lavouras. Posteriormente foi expandida para os estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo (MUELLER; BUSTAMANTE, 2006).

De acordo com Igreja et al. (1988), a partir da década de 80, a soja se expandiu para outras regiões do Brasil, como os estados de Goiás, Oeste de Minas Gerais, Sul do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em alguns casos, como no cerrado, a expansão da soja ocorreu devido ao tipo de relevo da região, à fácil correção química do solo, e ao apoio técnico-científico oferecido pelo Governo (ANDERSON et al., 2003).

Segundo Simon e Garagorry (2005), a produção agrícola que antes era concentrada em algumas microrregiões situadas no sul do País, apresentou uma migração para a região Norte, possuindo novos centros de produção próximos ou mesmo dentro dos limites da região Amazônica. O avanço da sojicultura para as regiões de baixas latitudes surgiu como estratégia para atender ao crescente aumento da população e da demanda por alimentos e mais recentemente pela pressão decorrente da busca por biocombustíveis.

A baixa rentabilidade econômica das pastagens também contribuiu para que houvesse esta migração no uso da terra para fins agrícolas nestas regiões. Outro detalhe, no entanto, é o fato de que em algumas cidades da Amazônia, a soja foi adotada como estratégia para levar desenvolvimento e agregar valores aos serviços gerados direta e indiretamente na região.

Na Amazônia o cultivo da soja (Glycine max (L.) Merryl) se iniciou na década de 2000, com uma área de plantio de apenas 73 mil ha. No estado do Pará, por exemplo, a área plantada era de apenas 1.200 ha em 2000, mas a região já vinha recebendo incentivos do governo desde 1994 para estimular o aumento da produção de grãos principalmente nas regiões de Santarém e Paragominas (MUELLER; BUSTAMANTE, 2006). A área plantada em 2006 no estado do Pará já chegava a 72 mil ha, com produtividade média de 3 t ha-1 (SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA – SAGRI, 2009).

Entretanto, nas safras de 2007 e 2008 a área plantada no estado do Pará apresentou uma redução para 53 e 71 mil ha, respectivamente, com uma produção de 154 e 201 mil ton (COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB,

2009). Esta redução se deu devido a questões ambientais na região de Santarém, causando redução do crédito de financiamento e obrigando os produtores a optar por outras culturas; e também associadas a ocorrência de doenças e da baixa competitividade da soja perante o milho na região de Paragominas (EL-HUSNY, 2007). Fatores como os baixos preços das terras e condições climáticas favoráveis na Amazônia fizeram com que houvesse esta migração na agricultura Brasileira (HOMMA, 1996). Apesar dos altos níveis pluviométricos, altas temperaturas e do favorecimento à proliferação de pragas e doenças dificultarem o avanço da soja na Amazônia (SCHNEIDER et al., 2000), o desenvolvimento de novas variedades menos sensíveis a elevadas temperaturas e principalmente ao fotoperíodo, tornou possível a expansão da sojicultura para as regiões de baixa latitude (SINCLAIR et al., 2005).

Apesar dos sérios impactos ambientais gerados pelo avanço da soja como redução das chuvas na região (COSTA et al., 2007), aumento do albedo da superfície (SOUZA et al., 2008a) e erosão e contaminação do solo pelo uso de produtos químicos (FEARNSIDE, 2001) o impacto direto causado pela soja, assim como pelas demais culturas temporárias no desmatamento nesta região é absolutamente inexpressivo comparado ao gerado pela atividade pecuária (MIRAGAYA, 2008).

No entanto, excluindo-se as áreas protegidas como terras indígenas e reservas florestais, apenas 20% da Amazônia Legal, cerca de 1,0 milhão km2, são consideradas áreas potenciais para rendimentos superiores a 2 t ha-1 desta cultura (VERA-DIAZ et al., 2008 De toda esta área 44% pertencem ao estado do Mato Grosso onde a soja já se encontra totalmente expandida o que representa uma barreira econômica para o contínuo avanço desta cultura na Amazônia. Fatores como condições edafoclimáticas adequadas, crédito financeiro acessível, facilidade no transporte e menor gasto com o uso de fertilizantes e defensivos são determinantes para se potencializar o plantio extensivo nestas áreas.

Alguns estudos realizados no Brasil têm mostrado que o rendimento da soja é influenciado por fatores como déficit hídrico (THOMAS; COSTA, 1994; ALBERTO et al., 2006), excesso hídrico (SCHOFFEL et al., 2001), temperatura (SCHOFFEL; VOLPE, 2002), espaçamento adotado (TOURINO et al., 2002; RAMBO et al., 2003) e ao nitrogênio (JENDIROBA; CÂMARA, 1994). No caso especifico da Amazônia, nas áreas aonde o cultivo da soja vem sendo desenvolvido com certa intensidade, pouco se sabe sobre o comportamento desta cultura em função das condições ambientais da

Por isso, é importante ampliar os conhecimentos sobre as respostas da soja em áreas em que se verifica o avanço da fronteira agrícola na região para validação de modelos de simulação que possam ser utilizados tanto para prever as respostas da cultura às variáveis climáticas locais como para prever os impactos ambientais nas áreas onde já se realiza e onde se prevê o cultivo da soja.

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