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CAPÍTULO I – EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA BRASILEIRA

1.2. Introdução da Educação Escolar Indígena no Tocantins

A Educação para os povos indígenas do Tocantins segue a mesma forma de implementação dos demais Povos Indígenas do Brasil. Em relação à educação escolar indígena dos Apinajé, Albuquerque (2011) informa que essa foi introduzida na década de 1960, por Patrícia Ham, membro do SIL, e se deu nas aldeias de São José e Mariazinha, no então estado de Goiás.

Naquela época, as políticas educacionais, voltadas para os Apinajé, não eram diferentes daquelas oferecidas aos demais grupos indígenas, que eram compatíveis às práticas pedagógicas desenvolvidas pelas escolas das comunidades rurais brasileiras (ALBUQUERQUE, 2011, p. 66).

Porém, e ainda de acordo com esse autor, os primeiros materiais escritos nessa língua indígena para serem utilizados na escola foram elaborados pelo SIL na década de 1970 e à proporção que os estudos avançavam, novas cartilhas e novas versões das cartilhas já existentes eram (re)elaboradas.

Nesse sentido,

[...] Esta data marca a primeira edição da “Cartilha de História Apinayé”. Além deste volume, foram publicados outros cinco: Livro de Lendas 1, Livro de Lendas 2, Leitura Suplementar das Cartilhas e Introdução à Leitura e Livro de Caligrafia. Após essas publicações, vieram outras cinco cartilhas de alfabetização (PUM KAG PUMU), Livro de Canções Novas na Língua Apinayé (livro de cunho religioso) e Aspectos da Língua Apinayé (ALBUQUERQUE, 2011, pp. 66-67). (Aspas do autor).

Segundo Albuquerque (1999), a educação escolar Apinajé, ao longo dos anos de contato com a sociedade não indígena, vinha acontecendo de modo contrário aos anseios e interesses da comunidade, pois, os indígenas, historicamente, têm vivido um processo de perda étnica, com seus valores culturais subjugados pela sociedade majoritária. Todavia, atualmente os estudantes Apinajé têm a chance de estudar em

escolas de suas próprias aldeias, uma vez que possuem duas escolas com Ensino Fundamental e Médio funcionando nas aldeias de São José e de Mariazinha. Das vinte e quatro aldeias Apinayé, treze possuem escolas bilíngues, embora ainda não estejam funcionando regularmente (ALBUQUERQUE, 2011).

Contudo, esse autor sustenta que a partir de 2001, com a implantação das ações do Projeto de Apoio Pedagógico e Educação Indígena Apinajé, os professores Apinajé passaram a elaborar algum material didático bilíngue em sua língua e em português para os anos iniciais do ensino fundamental. Essa realidade foi constatada a partir das informações gerais sobre as escolas Apinajé, tais como o nome das aldeias, o número de escolas de cada aldeia, o município a que elas pertencem, o número de professores Indígenas e não Indígenas e número de alunos matriculados nas escolas das aldeias Apinayé, por série e gênero.

Já o povo Krahô que habita na Terra Indígena Kraholândia, conta com 26 escolas administradas pelo Governo do Estado do Tocantins e a SEDUC é o órgão do estado responsável pela criação de políticas educacionais para os indígenas, como também pelo funcionamento das escolas em terras indígenas do estado do Tocantins, conforme Abreu (2013). De acordo com essa autora, a situação escolar das aldeias Krahô está em fase de desenvolvimento. O corpo docente das escolas tem unido esforços no sentido de realizar práticas pedagógicas que valorizem e respeitem os modos de vida, os conhecimentos tradicionais e a cultura do povo Krahô. No período de 2013 a 2016 foi desenvolvido um “Programa do Observatório da Educação Escolar Indígena Krahô”, sob a coordenação do Professor Dr. Francisco Edviges Albuquerque e uma equipe de professores indígenas, visando a estabelecer ações junto às comunidades para melhorar o desempenho a educação escolar nas aldeias Krahô.

No tocante à educação escolar dos indígenas Xerente, Melo e Giraldin (2012) asseguram que a experiência dos Xerente com a escola, segundo Guimarães (2002), é marcada ainda por dois importantes momentos. O primeiro ocorreu a partir da década de 1950, e estava a cargo de missionários da doutrina Cristã Batista que se empenharam em analisar a Língua Xerente com o objetivo de traduzir textos bíblicos. Os autores sugerem que foram esses missionários quem propuseram a elaboração de uma cartilha de alfabetização e um Curso de Formação de Monitores Indígenas Bilíngues para trabalhar na alfabetização na Língua Xerente. Essa proposta se efetivou em 1983, a partir de um convênio com a FUNAI. O grande

número de professores não indígenas sem qualquer tipo de preparo e a ausência de diálogo entre os diferentes atores envolvidos no processo são apontados como fatores limitantes desse período (GUIMARÃES, 2002 apud MELO; GIRALDIN, 2012).

O segundo momento se deu no final da década de 1980 e início dos anos 1990, marcado pela implementação de um Projeto de Capacitação de Professores Indígenas e não indígenas do estado do Tocantins. Mediante esse programa, foram realizados cinco Cursos de Educação Escolar Indígena, num total de 230 horas/aula com o objetivo de formar professores indígenas e não indígenas capazes de se relacionar com a diversidade dentro do contexto escolar. Doze Xerentes foram formados professores por meio desse curso e foi a partir de então que o número de professores indígenas e também de escolas passou a crescer gradativamente nesse estado da federação (MELO; GIRALDIN, 2012).

Não obstante, em 2009 existiam na área ocupada pelos Xerente 40 escolas para atender às comunidades das 59 aldeias então existentes. Essas escolas apresentam variadas estruturas que podem ir de um pequeno cômodo, cercado e coberto por palha, a construções que se assemelham às das escolas das cidades brasileiras. Os Xerente contam ainda com o Centro de Ensino Médio Indígena Xerente (CEMIX) que não foi construído em uma aldeia, mas em um lugar à parte dentro do território Xerente, apresentando-se como uma alternativa para aqueles que desejam concluir o Ensino Médio sem precisar sair da aldeia.

Após apresentarmos um quadro geral da história da Educação Indígena no Brasil e no Tocantins, trazemos, a seguir, as leis e normas que regem essa modalidade de ensino.