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No âmbito do futebol, as necessidades dos jogadores são muito variáveis, pelo que a conservação da motivação dos jogadores durante a temporada é uma das tarefas mais difíceis para o treinador, uma vez que o estado anímico da equipa, a coesão e as atitudes variam segundo as oscilações da performance e dos resultados desportivos (Cook, 2001). A teoria da auto-determinação sugere que os atletas que competem em níveis superiores, caracterizam-se principalmente por estarem focados nos resultados, têm objectivos de ganhar e, provavelmente, a sua motivação é menos auto-determinada, apresentando níveis superiores de desmotivação e de regulação introjectada, quando comparados com os atletas que praticam este desporto de baixo nível competitivo. O mesmo acontece quando atletas que praticam desporto de competição são comparados com praticantes de desporto recreativo.

Vallerand e Losier (1999) afirmam que, em consequência da competição, por vezes, o foco principal da competição deixa de ser a própria tarefa e torna-se na tentativa de ser melhor que o adversário. Ames (1992), Duda (1992) e Nicholls (1984) sugeriram que a motivação intrínseca é afectada negativamente quando o foco se altera na actividade passando de envolvimento na tarefa para envolvimento do ego.

Fortier, et. al., (1995) realizaram um estudo com 399 estudantes de ambos os sexos com idade média de 19 anos. Uma parte da amostra participava em competições com os outros colégios enquanto os restantes praticavam desporto de forma recreativa no colégio. O objectivo era examinar a existência de diferenças motivacionais em função do nível competição e do género dos atletas. Os resultados demonstraram que os atletas que participavam em desportos de competição, quando comparados com os atletas que praticavam desporto de forma recreativa, apresentavam menores níveis de motivação intrínseca e maiores níveis de desmotivação ainda que apresentassem níveis superiores no que concerne à regulação identificada. Mais especificamente, os atletas que praticam desporto de competição demonstram valores menos elevados nas formas mais auto-determinadas de motivação tais como a motivação intrínseca e a motivação com regulação

identificada apresentando níveis superiores de desmotivação, regulação externa e regulação introjectada. Mallet e Hanrahan (2004) consideram a este propósito que se a competição diminui a motivação intrínseca e promove elevados níveis de motivação extrínseca, é lógico considerar que os atletas de elite, quando comparados com atletas que competem em níveis menos elevados, sejam caracterizados por elevados níveis de motivação extrínseca e reduzidos níveis de motivação intrínseca.

Sarmento, Catita e Fonseca (2008) num estudo com jogadores de futebol de três níveis competitivos - amadores (n=78), semi-profissionais (n=156), profissionais (n=105) - compararam os tipos de motivação dos participantes e verificaram que os jogadores profissionais apresentaram níveis muito baixos de desmotivação (p=.04) quando comparados com os amadores e níveis elevados de motivação introjectada (p=.02) e identificada (p=.01). Os jogadores considerados semi-profissionais apresentaram altos níveis de motivação introjectada (p=.01) quando comparados com os amadores. Tanto os profissionais como os semi-profissionais acreditam que a competência desportiva resulta da aprendizagem e está sujeita a melhoria. Os amadores, por outro lado, quando comparados com os profissionais acreditam que a competência para a prática do futebol é estável.

Também o estudo desenvolvido por Lowther, Carlow e Lovell (2004) com equipas de futebol dos campeonatos ingleses (profissionais, n=19; semi-profissionais, n=19; amadores n=19) permitiu concluir que os semi-profissionais eram os atletas com maiores níveis de motivação intrínseca, sendo os amadores os que apresentam menores níveis de motivação intrínseca. Relativamente à motivação extrínseca também foram os jogadores da equipa semi-profissional que atribuíram os valores mais elevados, apresentando valores mais baixos que os jogadores profissionais. Os autores concluíram que os jogadores profissionais apresentam um perfil mais auto- determinado que os restantes atletas, o que contradiz a teoria da avaliação cognitiva que sugere que as recompensas poderão levar à diminuição dos níveis de motivação intrínseca. Contudo, alguns estudos anteriores revelaram que recompensas externas, tais como prémios ou recompensas monetárias, diminuem a motivação intrínseca (Eliot, 2005; Reeve & Deci, 1996). Comentando os efeitos que as recompensas externas poderão ter na motivação intrínseca, Ryan e Deci (2007) afirmam que o comportamento intrinsecamente determinado representa o protótipo das actividades auto-determinadas que se caracterizam por serem naturais e espontâneas quando os indivíduos se sentem livres para realizar as suas necessidades inerentes. Ainda assim, outros estudos efectuados (Chantal, Guay, Dobreva-Martinova, & Vallerand, 1996; Lowther, et al., 2004; Mallett & Hanrahan, 2004) não suportam a mesma premissa como expressa o estudo de Sarmento, et al., (2008). Os autores assumem que a

participação desportiva de nível competitivo elevado nem sempre influencia negativamente a motivação auto-determinada, pois após um período de tempo, e sob influência inicial de recompensas financeiras, os atletas de elite vão procurando tornar- se em alguém especial no desporto, passando este a ser um motivo mais poderoso. Este motivo resulta da crença de que a sua competência é resultado de aprendizagens constantes e continua sempre sujeita a melhoria. O contrário verifica-se nos jogadores de futebol amador que consideram a sua competência mais estável e por isso estão menos propensos a envolverem-se em trabalho específico para melhorarem a sua construção. No entanto, os estudos desenvolvidos na área das determinantes e objectivos de realização são ainda inconclusivos. Um estudo desenvolvido por White e Duda (1994) demonstrou que os jogadores de futebol que competem em níveis mais elevados são mais orientados para o ego do que aqueles que competem em níveis inferiores. Estes resultados, não foram, ainda assim, considerados conclusivos. Outros estudos realizados não encontraram diferenças significativas nas orientações motivacionais quando comparados futebolistas de diferentes níveis competitivos (Etnier, Sidman, & Hancock, 2004; Sarmento, et al., 2008).

Um estudo realizado por Holt e Morley (2004) procurou identificar quais os factores psicossociais associados ao sucesso desportivo, em adolescentes considerados altamente talentosos e demonstrou que uma das atribuições associadas ao sucesso é a determinação.

Um estudo realizado por Murcia, Gimeno e Coll (2007) demonstrou que no que se refere à idade, os desportistas mais jovens têm uma maior percepção de clima direccionado para a tarefa do que os mais velhos. O mesmo foi verificado por Halliburton e Weiss (2002) que verificaram que as ginastas de 13 e 14 anos obtiveram médias mais elevadas nas dimensões do clima orientado para o ego que as ginastas de 12 anos. Também Santos-Rosa (2003) verificou que os tenistas com idades entre os 15 e 16 anos percepcionavam um clima mais orientado para o ego que os tenistas da categoria infantil (12 -13 anos). Segundo Faria (2003), a idade dos praticantes no contexto desportivo não é conclusiva no que concerne à magnitude dos construtos motivacionais.

Assim, considerámos pertinente analisar de que forma é regulada a motivação, como se percepciona o sucesso, assim como é percepcionada a integração no grupo, em função do escalão dos jogadores: juniores (dos 15 aos 19 anos) e seniores (acima dos 19 até aos 32 anos) e em função do estatuto (titular e suplente).