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Para realização de um bom planejamento e controle de produção (PCP) de qualquer agroindústria, uma boa previsão de demanda, tem sido extremamente importante, apresentando uma estreita relação com a manutenção de estoques adequados (TUBINO, 2007). Souza, Samohyl e Miranda (2008), explicam que existe a necessidade da realização de previsões constantes e que os softwares podem auxiliar nessa tarefa, por reduzir o tempo gasto com os cálculos e auxiliar a empresa em uma tomada mais rápida de decisão, o que por vezes é crucial na economia de tempo e recursos humanos, materiais e financeiros.

Sanders e Manrodt (2003), ao pesquisarem 240 empresas norte americanas, descobriram que a maior parte delas (48%), utilizam apenas planilhas para previsão e realizam suas próprias programações nessas planilhas, porém esses empresários confiam menos nas previsões encontradas e ajustam muito mais os resultados do que os empresários (10,8%), que utilizam softwares comerciais adquiridos prontos geralmente automáticos para a previsão. Observaram ainda que 9,8% dos entrevistados não realizam nenhum tipo de previsão e que a grande maioria busca no programa características tais como a simplicidade de uso do software,

apresentação de resultados de forma simples de interpretar ou mesmo apenas a geração de relatórios conclusivos.

Esse estudo objetivou utilizar ferramentas computacionais de avaliação estatística e previsão de demanda, para buscar uma previsão futura das vendas de fécula de mandioca, com base em dados históricos de vendas mensais de 14 anos da agroindústria. Buscou-se ainda, por meio dessas análises verificar a existência de tendência e sazonalidade nas vendas e avaliar a relação destas com as melhores épocas de colheita e com os preços médios do produto.

5.2.1 Amido, Aplicações e Contexto de Mercado

O amido, é produzido pelas plantas durante o processo de fotossíntese e serve para o armazenamento de energia nos vegetais. Os grânulos de amido de todas as plantas têm tamanho, forma, e marcações características da espécie de planta da qual é extraído (ISI, 2016). As plantas mais utilizadas como fontes de amido são o milho, a batata, o trigo, a mandioca e o arroz (AMIDO, 2013).

O amido presente na mandioca, legal e comercialmente conhecido como fécula de mandioca, de acordo com Edhirej et al. (2015), é composto por grãos ovalados, formado por macromoléculas de amilose e amilopectina e pode ser utilizado em diversos segmentos industriais, por conta das suas propriedades reológicas de gelatinização, solubilização e expansão.

Dentre os usos e aplicações industriais do amido Ellis et al (1998), citam aplicações na indústria de alimentos, tecidos, papel, adesivos, embalagens, perfuração de petróleo, mineração entre outros.

Por apresentar maior absorção de água, proporcionar maiores rendimentos e deixar os produtos mais macios a menores custos, a fécula de mandioca é a fonte amilácea principal utilizada na indústria frigorífica. Outro uso que cabe destacar para a fécula de mandioca é a substituição de 25% da farinha de trigo na produção de macarrão entre várias outras aplicações industriais (AMIDO, 2013).

Edhirej et al. (2015), explicam que o amido ou a fécula podem ser utilizados na forma nativa ou modificada física, química ou enzimaticamente, quando alguma

dessas modificações são aplicadas, suas propriedades são alteradas com vistas a tornar o produto adequado a um determinado uso industrial.

A fécula de mandioca modificada por processo de oxidação é muito utilizada pela indústria papeleira, pois este atinge o ponto de gelatinização em temperatura mais baixa que outros amidos, o que acelera o processo e gera uma economia de energia, tal produto apresenta ainda menor tendência à retrogradação, o que aumenta a vida útil do adesivo e evita falhas e descolamentos (HORNUNG et al., 2014).

Moorthy (2002), explica que o estudo de novas fontes nativas de amido ou de fécula podem desvendar produtos com propriedades semelhantes a amidos modificados, isso mostra particular importância para indústria alimentícia, fazendo com que a modificação não seja mais necessária e um produto natural possa ser utilizado ao invés do modificado, com maior praticidade de obtenção e economia.

Além da busca por novas plantas fornecedoras de amido ou fécula e dos processos de modificação, a mistura de diferentes tipos de amido vem sendo estudada e relatada como uma ótima forma de melhorar as propriedades individuais dos diversos amidos e féculas nativas, mantendo o produto natural e com as propriedades necessárias às mais diversas aplicações industriais (KARAMA et al. 2005).

Apesar de todos usos descritos para fécula de mandioca e de sua preferência em determinados setores industriais, de acordo com Felipe, Alves e Camargo (2010), a falta de um plano de gestão para aquisição da matéria prima e a predominância do mercado spot ou de aquisição de mandioca que aparece a pronta entrega pelas fecularias, em quantidade superior a 70%, ocasiona forte sazonalidade de produção e de preços, isso consequentemente conduz a perda de competitividade da fécula de mandioca em relação aos produtos do mesmo segmento como o amido de milho, que apresenta preços mais estáveis por conta da predominância de compra do produto via contratos e das características do produto.

Além disso, de acordo com Cereda e Vilpoux (2002), pesa contra a mandioca a questão da dificuldade de armazenamento do produto pós colheita, sendo que a época a se colher que deve ser programada para que se possa obter melhores resultados, dificuldade essa que o milho não apresenta podendo ser armazenado sem maiores problemas. Sagrilo (2001), avaliando diversas cultivares de mandioca, colhidas com dois anos, em diferentes épocas de colheita, na região noroeste do

estado do Paraná, encontrou redução nos teores de amido ao longo dos meses de novembro e dezembro, o autor atribuiu tal fato ao processo de rebrota e crescimento vegetativo das plantas, sendo que a planta direcionou a reserva de amido de suas raízes à produção de novas folhas e hastes. Cabe destacar, que logo após a formação das folhas, a planta volta a acumular amido e que no final do segundo ano, tende a ter mais amido acumulado do que em no final do primeiro ano.

A construção de um plano de gestão de compra de raízes de mandioca pela agroindústria não é tarefa simples, pois a cultura de acordo com Benesi et al. (2008), apresenta redução de rendimento quando colhida muito cedo e formação de muitas fibras quando colhida muito tarde, as características desejáveis são mais presentes quando se colhe o produto entre 1 e 2 anos do plantio, além disso, outros fatores como a época de colheita, o clima e o genótipo também podem influenciar no desempenho e na qualidade do produto.

De acordo com Sagrilo, Filho e Pequeno (2002), a colheita da mandioca para produção de fécula, tradicionalmente tem se iniciado em Maio, se prolongando até os últimos meses do ano, percebe-se a ampliação desse período em algumas fecularias, mas a sazonalidade ocasionada pela época de colheita, por conta da queda das folhas e consequente acúmulo de matéria seca e aumento dos teores de amido nas raízes, tem levado à melhoria no preço pago pela agroindústria nesse período, ocasionando cada vez mais a concentração da pronta entrega de mandioca no período do inverno ou da seca dependendo do estado avaliado.

Lima, Ferreira e Ferreira (2012), explicam que um dos maiores problemas da cadeia produtiva está na instabilidade de produção no decorrer dos anos, pois os produtores não mantêm constância de área de plantio, daí decorre elevada variação de área cultivada de ano para ano. Isso faz com que em anos de grandes áreas de plantio provoque excesso de oferta de matéria-prima que geralmente forçam a queda dos preços, razão pela qual desmotiva os produtores a plantarem a cultura no próximo ano. Os autores ainda destacam que uma forma de redução desse problema seria exatamente a existência de contratos de compra entre agroindústria e produtores e oferecimento de certas garantias por parte da fecularia.

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