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A costa marítima brasileira tem 8500 km de extensão. A reserva de água doce do país, correspondente a 5.500.000 hectares, representa 12% do total mundial de água doce (BRASIL-SEAP, 2003). A produção brasileira de pescado em 2009 apresentou-se em torno de 1 milhão de t sendo, 680 mil t provenientes da pesca e 320 mil t da aqüicultura. (BRASIL- SEAP, 2007b). Há potencial para o incremento da produção de pescado brasileiro, no quesito quantidade e qualidade, no mercado interno e externo. Para implantar um sistema de rastreabilidade, o setor pesqueiro brasileiro necessita adotar metodologias adequadas e eficientes de controle de qualidade e que armazenem dados de todos os elos da cadeia produtiva, desde a captura até a chegada do produto ao consumidor.

Rastreabilidade é a habilidade de localizar uma matéria-prima ou um produto no seu trajeto pela cadeia produtiva e de distribuição, através de informações disponíveis armazenadas em um banco de dados (ISO, 1994).

A indústria pesqueira é um setor comercial onde a rastreabilidade tem se tornado uma necessidade (BORRESEN, 2003). No sistema comercial globalizado, a falta de padrões internacionais tem dificultado a identificação da origem e a disponibilidade do histórico dos produtos provenientes do setor pesqueiro (THOMPSON et al., 2003).

A implantação de sistemas de rastreabilidade pode trazer grandes benefícios à indústria pesqueira. Dickinson e Bailey (2002) sugerem que a rastreabilidade poderia tornar- se uma valiosa commodity, especialmente no que se refere à segurança do alimento.

Os sistemas de rastreabilidade tem confiado credibilidade às indústrias, pela habilidade que o sistema possui de informar e, de certa forma, estabelecer garantias à indústria no que tange aos fornecedores, reduzindo desta forma a responsabilidade da indústria em situações de doenças veiculadas por alimentos, justamente pelo fato de ser possível rastrear informações em todos os elos da cadeia (GLEDHILL, 2002).

Através da garantia de atributos favoráveis, produtores de pescado podem firmar-se quanto a qualidade de seus produtos dentro da cadeia produtiva, (UNNEVEHR et al., 1999) agregando, desta forma, valor a seus produtos, uma vez que há consumidores dispostos a pagar por este serviço (BAILEY et al., 2002). Na ausência de legislação, no que tange à rastreabilidade dentro do território nacional, a implementação ou não de sistemas desta natureza dependerá da necessidade individual de cada empresa e das vantagens que podem ser adquiridas em relação ao custo (THOMPSON et al., 2005).

Uma das principais vantagens de um sistema de rastreabilidade é a habilidade para relacionar vários fatores responsáveis pela qualidade de um produto (GADARSSON, 2007). Na indústria pesqueira, foi constatado que a qualidade do produto final depende de variáveis como o local da pesca, estação do ano, idade e maturidade sexual do pescado, defeitos físicos, parasitas e hematomas, entre outros. Ao longo dos últimos anos, cientistas islandeses têm trabalhado com sistemas de rastreabilidade no intuito de predizer qual a melhor área de pesca, uma vez que há uma ligação direta entre os vários fatores que conferem a qualidade aos filés de cod fish, inclusive a área escolhida para a pesca (GUDMUNDSSON et al., 2006; MARGEIRSSON et al., 2007).

A Islândia é produtora e exportadora de pescado, sendo esta atividade, a mais importante da economia do país. Em 2004, o setor pesqueiro contribuiu para 8,1% do PIB – Produto Interno Bruto, empregando 6,7% da população, e gerando valores responsáveis por 60% do total exportado (ICELANDIC MINISTRY OF FISHERIES, 2004).

O Cod fish é capturado em águas islandesas durante o ano todo, principalmente na região sudeste da costa (ICELANDIC MINISTRY OF FISHERIES, 2007). O cod fish do Atlântico (Gadus mohua) é o mais importante recurso marinho islandês. Em 2002, o cod fish foi responsável por 38% do total, em valor, de produtos de pescado exportados pela Islândia (ICELAND TRADE DIRECTORY, 2003). Em 2004, os produtos de cod fish representaram 40,3%, em valor, quanto aos produtos islandeses exportados, sendo que a totalidade do cod

fish capturado é exportada (ICELANDIC MINISTRY OF FISHERIES, 2004).

Estabelecer parâmetros de qualidade a partir da pesca até o processamento é importante para garantir qualidade ao pescado como matéria-prima para a indústria; a pesca é o primeiro e o mais importante elo de uma cadeia produtiva que esteja sendo rastreada. Depois do abate, evisceração, lavagem e mensuração, o pescado é colocado em recipiente com gelo, o qual é etiquetado, permitindo armazenar informações detalhadas como, por exemplo, a capacidade do maquinário empregado na pesca e o volume capturado, data e área da pesca, entre outras informações. Estas informações são a chave para elaborar o histórico deste alimento, desde a pesca até o processamento e devem colaborar para melhorar o rendimento e a qualidade do produto. Estas informações são valiosas para a indústria pesqueira, pois são um indicativo de quais parâmetros vão influenciar na qualidade do produto.

O objetivo principal desta pesquisa foi contribuir com o controle de qualidade do cod

fish em águas islandesas usando sistema de rastreabilidade como uma ferramenta para

Os objetivos específicos estabelecidos para este projeto foram:

- Estudar a ligação de sistemas de rastreabilidade com o controle de qualidade em pescado proveniente da pesca, observando o sinergismo entre eles;

- Observar como alguns fatores podem interferir na qualidade da matéria-prima com o intuito de dispor estas informações aos produtores como forma de ganhar em aspectos de qualidade e rendimento;

- Sugerir que o controle de qualidade para o setor pesqueiro brasileiro seja feito de forma adequada, através da implantação de sistemas de rastreabilidade que melhorem a qualidade da matéria-prima utilizada nas empresas de processamento.

Em 2003, foi criada pelo governo brasileiro, a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, através da Lei n0 10.683, com o objetivo de prover suporte ao desenvolvimento de todas as áreas do setor pesqueiro. A transformação da referida secretaria em ministério se deu pela lei nº 11.958 de 26 de junho de 2009 (BRASIL-SEAP, 2010). Assim, atualmente existem metas governamentais que visam a qualidade do recurso pesqueiro uma vez que o setor carece de programas que tenham o intuito de qualificar produtos de pescado, tanto para importação como para exportação.

Este projeto pode ser adaptado para ser aplicado ao setor pesqueiro brasileiro, o qual, em quase sua totalidade, não apresenta controle de qualidade a bordo, a partir das embarcações pesqueiras, sendo que os pescadores brasileiros estão, na sua maioria, classificados como artesanais, operando embarcações pequenas, com limitações quanto à capacitação e conseqüente falta de controle de qualidade na captura.

Há falta de informações quanto a origem do pescado capturado dificultando o controle de qualidade que deveria ser implementado imediatamente depois da captura. Órgãos governamentais que deveriam conduzir o serviço de inspeção, muitas vezes possuem informações limitadas quanto à captura e processamento.

Assim, este projeto pretende desmonstrar a importância da inclusão da rastreabilidade, como pré-requisito em cada estágio da cadeia produtiva, no intuito de dispor uma ferramenta em pról da qualidade dos produtos pesqueiros brasileiros.

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