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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Reciclagem e questões ambientais

2.1.1 Introdução

Ao longo das últimas décadas, os materiais plásticos vêm demonstrando cada vez mais sua ampla utilidade em aspectos da vida moderna, principalmente na área de embalagens. Essa versatilidade dos polímeros em geral proporciona aos consumidores produtos e serviços únicos, característica essa que faz com que estes sejam considerados materiais diferenciados. No entanto, o segmento de embalagens plásticas apresenta como principal inconveniência o emprego de plásticos em aplicações de curto prazo [1], pois em muitos casos o recolhimento e a reciclagem dessas estruturas não é um processo simples.

O constante aumento da preocupação ambiental tem provocado grande interesse governamental na seleção de resíduos plásticos. Em outras palavras, por conta da sua baixa degradabilidade, o acúmulo de objetos plásticos no meio ambiente tem se tornado um problema significativo. Consequentemente, diversos grupos de pesquisa enfrentam o desafio de converter plásticos recuperados em materiais úteis e passíveis de serem utilizados em novas aplicações.

A reciclagem de resíduos plásticos municipais e industriais é uma alternativa conveniente para amenizar os problemas causados pelo uso de aterros sanitários e lixões, principais destinos dos plásticos pós-consumo. Assim, a reciclagem se tornou não apenas uma alternativa desejável, mas também mandatória. [2]

A partir da década de 80, houve um aumento expressivo no interesse sobre questões do meio ambiente. Os problemas causados por questões ambientais afetam tanto a qualidade de vida das populações quanto gera preocupações no setor industrial. O lixo doméstico da população brasileira contém de 5 a 10 wt% de plásticos, variando um pouco por região, o qual é um volume expressivo e preocupante do ponto de vista ambiental. Sabe-se inclusive que o setor produtivo empresarial busca adequar seus produtos com base nas normas ISO 14000, com o intuito de obter uma imagem ambientalmente positiva.

Nesse sentido, muitas vezes as indústrias recorrem à comunidade científica com o objetivo de encontrar soluções para minimizar as diversas formas de agressão ao meio ambiente causadas pela geração e má destinação dos resíduos produzidos. [1]

Em geral, os materiais poliméricos oferecem um conjunto de boas propriedades a um custo relativamente baixo. Por essa razão, atualmente a substituição de materiais poliméricos é inviável e impraticável. Uma solução alternativa para os polímeros pós-consumo seria a recuperação e a reciclagem destes dejetos, prolongando a vida útil do material e reduzindo o impacto ambiental. A reciclagem, uma vez aliada à utilização de materiais plásticos com o compromisso com o meio ambiente, é uma alternativa que se encontra em constante crescimento.

Atualmente, as políticas ambientais que visam a diminuição da poluição e também a conservação de matérias-primas não renováveis encorajam a reciclagem de resíduos plásticos. Devido ao fato das poliolefinas (como o polietileno, polipropileno) e do poli(tereftalato de etileno) (PET) serem produzidos em grandes quantidades, estes despertam interesse na tecnologia de reciclagem de plásticos. [3]

Do ponto de vista de biodegradação, os polímeros sintéticos são bastante resistentes e demandam anos para se biodegradarem, razão pela qual apresentam baixa tendência a sofrer esse tipo de processo. Essa é a principal razão das preocupações do ponto de vista ambiental, pois os polímeros quando descartados em lixões e aterros sanitários necessitam de centenas de anos para se decompor.Além disso, atualmente a maior parte dos plásticos são derivados do petróleo ou gás natural, fontes de matéria prima não renováveis e que exigem uma significativa quantidade de energia na sua transformação. Por outro lado, a reciclagem de plásticos exige apenas cerca de 10% da energia utilizada no processo primário. Assim sendo, com estas vantagens, a reciclagem de plásticos industrial e de pós-consumo tem se difundido rapidamente entre as indústrias. [1]

Existem vários motivos que justificam o baixo índice de reciclagem de plásticos no Brasil. Primeiramente, podem-se destacar problemas de origem socio-econômica como a falta de coleta seletiva, a falta de organização da

cadeia de reciclagem, a displicência e a falta de cuidado do consumidor por questões ambientais, e o baixo valor agregado do plástico reciclado. O baixo valor agregado é principalmente devido à baixa qualidade do material reciclado disponível no mercado, que impede seu uso em aplicações com especificações estritas. O material reciclado, principalmente o proveniente de origem pós- consumo, em geral é composto de misturas de polímeros incompatíveis o que resulta em um material reciclado de qualidade inferior e com composição variável.

Paradoxalmente, as embalagens flexíveis de produtos de consumo são produzidas cada vez mais com filmes multicamadas de materiais incompatíveis como, polietileno, PET, Nylon, EVOH e muitos outros, para que possam ter o desempenho adequado e um custo aceitável. Assim sendo, estas estruturas são difíceis de reciclar e apresentam um empecilho para as companhias devido à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Após cerca de 20 anos de discussões no Congresso Nacional, a aprovação da Lei nº 12.305/10 instituiu a PNRS. Esse é considerado o marco zero de uma forte articulação institucional que envolve o setor produtivo, a sociedade civil e os três entes federados (União, Estados e Municípios) na busca de soluções para a questão de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos. Resumidamente, a PNRS estabelece princípios, objetivos, diretrizes, metas e ações para propiciar um melhor gerenciamento e alternativas de gestão dos diversos tipos de resíduos sólidos gerados. [4]

Segundo a PNRS, parte desses rejeitos não mais poderá ser enviada a aterros sanitários, causando um grande empecilho às companhiasa. Além disso, a PNRS aplica o princípio da responsabilidade compartilhada entre as três esferas de governo, cidadãos e iniciativa privada. Com isso, não só o governo, mas os produtores e os consumidores serão responsáveis pela correta destinação do lixo. Os municípios tiveram até agosto de 2012 para estabelecer os planos de administração dos resíduos de acordo com os critérios da nova política. A previsão é de que até 2014, os municípios terão de se adaptar

(a)Quando da não observância do processo de logística reversa, as companhias estabelecerão taxas ou

“impostos” que incidirão sobre o valor final do produto/embalagem. Esse valor será repassado ao governo que, por sua vez, ficará responsável por gerenciar esse resíduo pós-consumo da maneira mais apropriada.

totalmente à PNRS. Com isso, espera-se que as cidades passem a reciclar cerca de 30% do seu lixo. A PNRS prevê ainda que as cooperativas de catadores sejam as responsáveis pela triagem dos materiais.

Levando em consideração todos os motivos ambientais levantados, a premissa do presente projeto baseou-se no fato de que as indústrias geradoras de resíduos de embalagens enfrentariam esse novo cenário a partir de 2014. Com o intuito de auxiliar na resolução deste problema industrial, esse projeto concentrou esforços na reutilização de aparas plásticas de filmes multicamadas pós-industriais, material frequentemente acumulado no setor de embalagens cosméticas, de tal forma que estes resíduos possam ser utilizados na confecção de blendas poliméricas com valor agregado.