Tema I – Campanha Prevenção Doenças Cardiovasculares
1. Introdução Teórica
Na sociedade atual, são cada vez mais comuns os alertas de organizações
e instituições para o risco cardiovascular, associado ao estilo de vida sedentário
cada vez mais frequente entre a população. De facto, em Portugal, tal como no
resto do mundo, as doenças cardiovasculares representam a principal causa de
morte, sendo também uma importante causa de incapacidade. Doenças como
arritmia, enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral são dos principais
problemas relacionados com maus hábitos de vida, tais como, prática deficiente de
exercício físico, uma alimentação inadequada ou o tabagismo [16-18]
As doenças cardiovasculares surgem usualmente na sequência de uma
acumulação de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos, processo designado
por aterosclerose (Figura 1). Este processo poderá iniciar-se numa fase ainda
jovem da vida, sendo que os seus sintomas são silenciosos, o que leva a que,
aquando do seu diagnóstico, já se encontre num estado avançado [19].
Figura 1 – Formação do processo aterosclerótico. A: Localização do coração. B: representação do fluxo sanguíneo numa artéria coronária normal. C: representação de uma placa aterosclerótica, impedindo o normal fluxo sanguíneo. Adaptado de [19]
20
Consideram-se fatores de risco de doença cardiovascular as condições que
de algum modo surgem ligadas ao aparecimento desta situação e que contribuem
para o seu desenvolvimento. Hoje em dia dividem-se os fatores de risco em
modificáveis e não-modificáveis, considerando-se dentro dos primeiros os
chamados fatores de risco major (como o tabagismo, dislipidemia, hispertensão
arterial e diabetes), a obesidade, hábitos alimentares, fatores trombogénicos,
sedentarismo e consumo excessivo de álcool. Estes são aqueles que, do ponto de
vista da prevenção, se pode atuar e corrigir. Dentro dos fatores não modificáveis
encontram-se a história pessoal e familiar da doença cardiovascular, a idade e o
sexo, sendo assim não passíveis de intervenção [20].
1.1. Maus Hábitos Alimentares
Um dos fatores que mais contribui para o aparecimento da aterosclerose é
a dieta, sendo que o excesso de peso agrava significativamente o risco de um
evento cardiovascular. O consumo excessivo de sal, de gorduras saturadas, de
álcool e de açúcares de absorção rápida aliados a uma carência de legumes,
vegetais e frutos frescos, são fatores agravantes do risco cardiovascular. Em
Portugal, quase metade da população apresenta excesso de peso e perto de um
milhão de adultos sofre de obesidade [21].
O Índice de Massa Corporal (IMC) permite classificar o grau de obesidade
de uma pessoa. Calcula-se dividindo o peso (em kg) pela altura elevada ao
quadrado (em metros), dando uma ideia de “densidade”. Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), o excesso de peso corresponde a um IMC entre 25 e 30
e a obesidade surge quando o IMC é igual ou superior a 30. Os valores de
referência seguem na Tabela 4 [21].
Tabela 4 - Valores de referência para o IMC [21]
Classificação
IMC (kg/m
2)
Baixo Peso
<18,5
Variação Normal
18,5 – 24,9
Excesso de Peso
25,0 – 29,9
21
Ao aumento do IMC, associa-se o aparecimento das placas ateroscleróticas,
aumentando o risco de doença coronária, com a diminuição do fluxo sanguíneo,
que transporta o oxigénio necessário ao coração. Esta interrupção de fluxo pode
causar também angina, ataque cardíaco ou falência cardíaca [21].
1.2. Hipertensão Arterial
A pressão arterial elevada, também chamada de Hipertensão Arterial (HA) é
considerada, simultaneamente, uma doença e um fator de risco, representando um
grande desafio para a saúde pública. A HA é uma condição clínica multifatorial,
caraterizada por elevados níveis de pressão nas artérias, dificultando o normal fluxo
sanguíneo. Está muitas vezes associada a alterações funcionais de órgãos como
o coração e rins, e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco
cardiovascular. É definida quando são encontrados valores de pressão arterial
sistólica acima de 140mmHg e diastólica acima 90mmHg [22]. Entre as suas
principais causas, encontram-se o excesso de peso e obesidade, o sedentarismo,
o tabagismo, os hábitos alimentares, passando pela história familiar, e idade [22].
Os valores de referência seguem na Tabela 5.
Tabela 5 - Valores de referência para a pressão arterial [23].
Categoria
Pressão
arterial sistólica
Pressão
arterial diastólica
Pressão arterial normal
Inferior a 130 mmHg Inferior a 85 mmHg
Pressão arterial normal-alta
130-139
85-89
Hipertensão (ligeira) fase 1
140-159
90-99
Hipertensão (moderada) fase 2
160-179
100-109
Hipertensão (grave) fase 3
180-209
110-119
Hipertensão (muito grave) fase 4
Igual ou superior a
210
Igual ou superior a
12
A hipertensão arterial afeta milhões de pessoas em todo o mundo, com uma
diferença notória conforme a origem étnica. Por exemplo, nos Estados Unidos,
onde afeta mais de 50 milhões de pessoas, 38% dos adultos negros sofrem de
hipertensão, em comparação com 29% em caucasianos [24]. Em Portugal, quase
metade da população (42%) sofre de hipertensão, números que evidenciam a
22
relevância da patologia na sociedade atual, e a necessidade de medidas que a
previnam [25].
1.3. Sedentarismo
A inatividade física é hoje reconhecida como um importante fator de risco
para as doenças cardiovasculares. Embora não se compare a fatores de risco como
o tabagismo ou a hipertensão arterial, é importante na medida em que atinge uma
percentagem muito elevada da população, incluindo adolescentes e jovens adultos.
A falta de prática regular de exercício físico moderado potencia outros fatores de
risco suscetíveis de provocarem doenças cardiovasculares, tais como a
hipertensão arterial, a obesidade, a diabetes ou a hipercolesterolemia [26].
Em Portugal, 64% dos inquiridos num estudo sobre a prática de exercício
físico, realizado pelo Eurobarómetro, afirmou nunca praticar desporto, o que
demonstra a gravidade do problema, e a necessidade de se implementar medidas
que contrariem esta realidade [27].
1.4. Diabetes Mellitus
A Diabetes Mellitus é um conjunto de desordens metabólicas, caraterizadas
por um estado crónico de hiperglicemia (elevados níveis de glicemia), resultante da
deficiente produção de insulina, da sua ineficiente ação, ou ambas.
Existem dois principais tipos de Diabetes Mellitus: i) Tipo 1, também
chamado de insulinodependente, causada por falta de secreção de insulina nas
células beta do pâncreas. ii) Tipo 2, também chamado de não-insulina dependente,
ou insulinoresistente, causada pela diminuída sensibilidade dos tecidos-alvo da
insulina. Alguns exemplos de causas que levam a este tipo de resistência à insulina
são:
- Obesidade/excesso de peso (especialmente adiposidade visceral);
- Excesso de glucorticóides (Síndrome de Cushing ou terapia com
esteroides);
- Excesso de hormona de crescimento;
- Gravidez (diabetes gestacional);
- Doença do ovário poliquistico;
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- Mutações no recetor de insulina;
- Autoanticorpos para o recetor de insulina.
A prevalência desta doença está a aumentar rapidamente por todo o mundo,
e segundo a OMS, até ao ano de 2030, o número de adultos diabéticos duplicará,
de 177 milhões (em 2000), para 370 milhões [28, 29]
Segundo a American Heart Association, adultos com Diabetes Mellitus têm
um risco 2-4 vezes superior de sofrer uma doença cardiovascular como acidente
vascular cerebral, em comparação com adultos sem esta doença [30]
Assim, indivíduos com resistência a insulina ou diabetes, quanto apresentam
também outros fatores de risco têm ainda uma maior probabilidade de sofrer
eventos cardiovasculares, controlando os parâmetros glicémicos, estes indivíduos
podem fazer uma melhor prevenção ou atrasar o potencial desenvolvimentos deste
tipo de doenças.
Os valores de referência para os níveis de glicemia são os seguintes:
Tabela 6 - Valores de referência de níveis de glicemia (mg/dL)[31].
Hipoglicemia
Normal
Pré-Diabetes
Diabetes
Jejum
<70
70-100
100-126
>126
2h após
refeições
<70
70-140
140-200
>200
Com um estilo de vida sedentário e cada vez mais ligado a um maior
consumo da chamada fast food, tudo resulta na combinação de fatores que
agravam o risco cardiovascular, sendo necessária a intervenção junto da
população, no sentido de aconselhar e implementar hábitos mais saudáveis, seja
alimentares, seja de exercício físico.
Assim, o farmacêutico de oficina, tendo contacto direto e frequente com a
população, tem o dever de agir no sentido de aproximar da população as
informações e incentivos necessários a uma mudança de práticas e hábitos que
resultem na prevenção do risco cardiovascular.
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No documento
Relatórios de Estágio realizado na Farmácia D'Arrábida e no Hospital Universitario La Paz - Madrid
(páginas 30-35)