INTRODUÇÃO

A água se caracteriza como um recurso natural renovável por meio do ciclo hidrológico e apresenta importância fundamental tanto para a manutenção e sobrevivência da vida no planeta quanto para o desenvolvimento humano. Entretanto, o uso indiscriminado deste recurso, associado à baixa eficácia de sua gestão, vem aumentando a competição e gerando conflitos entre os diferentes usuários (SALIS et al., 2017; OLIVEIRA, 2018) sendo, portanto essencial a necessidade de se estabelecer um processo adequado de gestão aos diversos usos dos recursos hídricos disponíveis.

A disponibilidade hídrica de bacias hidrográficas tem sido amplamente discutida em vários países do mundo, sobretudo no Brasil (SALIS et al., 2017), mesmo sendo considerado um país privilegiado em termos de disponibilidade hídrica, pois conta com cerca de 28% da disponibilidade sul-americana e 12% dos recursos disponíveis no mundo (VICTORINO, 2007).

Visando esta problemática, a Agência Nacional das Águas (ANA, 2017) aponta em seu Relatório sobre a Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil que a estimativa da disponibilidade hídrica pode se caracterizar como uma importante ferramenta de subsídio à gestão dos recursos hídricos em bacias hidrográficas, sendo que, por meio deste diagnóstico é possível entender os elementos que afetam a sua dinâmica e determinar um nível de garantia para seus usuários. Além disso, a bacia hidrográfica é vista como a unidade de gestão mais apropriada para aplicação de estudos qualitativos e quantitativos dentro da perspectiva hidrológica (PIRES, SANTOS E DEL PRETTE, 2008).

Considera-se como disponibilidade hídrica superficial, o acúmulo de água disponível nos mananciais associados à uma probabilidade de ocorrência, sendo representada principalmente pelas vazões de cursos d’água e pelo potencial ao acúmulo subsuperficial de água na interface solo-vegetação (ANA, 2010; 2017; WWAP, 2018), associando-se respectivamente aos componentes climáticos, hidrológicos e dos meios físico, biótico e abiótico.

Nos últimos anos, tem-se aplicado diversos métodos para simular processos hídricos no recorte aos estudos em bacias hidrográficas (DESSU et al., 2014; PEREIRA et al., 2016; FARAMARZI et al., 2017; WANG e FU, 2018), sendo muito comum a utilização de equipamentos para a obtenção de dados hidrológicos diretamente no corpo hídrico. Entretanto, determinar a disponibilidade de água no solo em termos quantitativos nem sempre é factível quando se deseja realizar um estudo em escalas pormenorizadas, devido à inconsistência de

66 dados regionais ou inviabilidade econômica na implementação de equipamentos na abrangência de uma unidade territorial, levando a resultados generalizados a partir de observações pontuais. Para a realização da estimativa da disponibilidade hídrica, deve-se dispor de uma base de informações que contenha dados relacionados às características físicas da bacia, dados hidrológicos como séries de precipitação, vazão e dados climáticos (BARBAROTTO JR., 2014). Desta forma, a análise e integração dos atributos relacionados à disponibilidade hídrica de uma bacia podem ser determinados por meio de um diagnóstico geoambiental da área em estudo, sendo o zoneamento geoambiental (ZG) considerado uma ferramenta eficiente neste processo.

O ZG tem por finalidade o levantamento, avaliação e análise dos atributos relacionados ao meio físico (ZUQUETTE, 1987) e apresenta-se em diversos estudos como o método mais apropriado para a aplicação de um diagnóstico integrado em uma bacia hidrográfica (MENEZES e ZUQUETTE, 2004; TRENTIN e ROBAINA, 2005; RIGHI e ROBAINA, 2008; DE NARDIN e ROBAINA, 2010; DIAS, TRENTIN e SCCOTI, 2015). Além disso, Zuquette (1987) aponta que os atributos escolhidos devem relacionar entre si, desta forma, quanto maior o número de elementos representados para um determinado atributo, maior será a importância de sua representação.

Para determinar a importância dos atributos avaliados devem-se combinar classificações relativas à pesos e priorizações de relevância. O uso de matrizes de decisões é uma das soluções mais comuns na classificação dos atributos e redução de subjetividade entre os mesmos, sendo elaboradas por meio de Análise de Decisão Multicriterial (ADMC) (COSTA et al., 2019).

O Processo Hierárquico Analítico (AHP), desenvolvido por Saaty (1980), é considerado como um dos métodos de análise multicriterial mais eficientes e amplamente utilizado em diversas áreas do conhecimento, o qual consiste na criação de uma hierarquia de decisão que envolve comparação de pares e ponderação de critérios quantitativos e qualitativos, possibilitando atribuir valores distintos de acordo com a importância da classe do atributo avaliado.

Em ambiente SIG, a ADMC representa um avanço em relação ao cruzamento de Planos de Informação (PI’s) e os critérios, normalmente, são integrados com a utilização de pesos de importância, obtidos com o apoio de ferramentas de suporte à decisão (TRAFICANTE et al., 2017).

Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo realizar o Zoneamento dos atributos associados à disponibilidade hídrica superficial da bacia hidrográfica do Rio São João por meio

67 da elaboração de um documento cartográfico interpretativo de auxílio à gestão dos recursos hídricos, por meio de uma metodologia passível de ser replicada em outras unidades ambientais. O método de análise multicriterial AHP foi escolhido visando sua efetividade na hierarquização de importância dos dados, que associados a um Sistema de Informação Geográfica (SIG), permite realizar o cruzamento e integração dos atributos geoambientais, resultando em um documento cartográfico final de zoneamento em escala de 1:50.000.

A área em estudo é amplamente utilizada como fonte de abastecimento hídrico de seus municípios de abrangência, portanto, o estudo sobre a disponibilidade hídrica da bacia representa um mecanismo de suporte à decisão e direcionamento de ações de planejamento, visando, por meio de um diagnóstico integrado, a regulação e gestão dos recursos hídricos nesta bacia hidrográfica.