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O Inventário de 1899 da autoria de Frederico Laranjo

No documento Filomena Maria Ferreira de Sousa Bruno (páginas 72-74)

Fundação de Escolas

5.1. O Inventário de 1899 da autoria de Frederico Laranjo

Um inventário é um documento muito importante que enumera e descreve uma memória pertencente a alguém, num determinado tempo e lugar. Essen (2009), responsável pela organização da Base de Dados – The Henrik Database, que possibilitou a reconstrução de bibliotecas perdidas da Finlãndia do séc. XIX (colecções de livros e seus possuidores), nomeadamente de Helsinquia e Oulu, durante e depois de 1809, confirma-nos essa importância:

A collection of books, a library, an old catalogue, or a list of book titles contain much more information than a title of a single book. Not because of the fact that the amount of text and signs is larger, but because the selection and combination of books adds so much value and meaning to the entity (p.2)

O inventário permite-nos explorar uma série de questões e alerta-nos relativamente ao tipo de património albergado e neste caso concreto aos costumes literários. Alison Walker, ao estudar a Biblioteca de Sir Hans Sloane, que constituiu a base do British Museum aberto em 1759, referia-se à lista dos seus livros como um ponto de partida para diversos estudos. Segundo Walker:

The project to recreate Sloane’s dispersed library, in common with many historical studies of libraries, has at its core a list of books. But it is a list which can be searched, manipulated and interrogated, and which is enhanced with information on acquisition, provenance, binding and condition which can be used to analyse how the library was built up and managed. The list of books is only the starting point for analysis, interpretation, comparison and interdisciplinary study. (Walker, 2009:12)

Estes documentos dão testemunho de momentos ou épocas e têm como objectivo declarar e expor um espólio móvel e imóvel.

O inventário em questão torna-se tanto ou quanto mais importante na medida em que,

desconhecendo-se a existência de qualquer outro, se revela como o único registo escrito sobre os bens pertencentes à Biblioteca que a Associação ―O Gremio Illustração Popular‖ de Castelo de Vide constituiu nos anos longínquos de 1870.

Todo o inventário se encontra escrito em letra manuscrita, cursiva e com um número mínimo de abreviaturas como: ―Dr.‖ ou outros, se o nome do autor assim os contiver (―C. de Gramomt‖; ―V. Cousin‖).

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É composto por 20 páginas, funcionando a primeira – a folha de rosto – como uma capa onde se pode ler ―Inventário dos livros e demais objectos pertencentes ao Gremio Illustração Popular da Villa de Castello de Vide‖.

O inventário é da autoria do Dr. José Frederico Laranjo que o assina na última página que o compõe, na qualidade de ― O Presidente do Gremio‖, logo após a data – ― Castello de Vide 4 de Setembro de 1899‖.

Este documento tinha como objectivo registar as obras e demais objectos – mesas, estantes, cómodas, quadros de parede, livros de actas, cadeiras, bancos de madeira, canapés, carteiras – pertencentes ao Grémio.

O inventário foi feito em folhas azuis, de ―35 linhas‖ e encontra-se em relativo bom estado. Apesar de se visualizar praticamente a totalidade das páginas, muitas palavras são de difícil leitura devido ao tipo de caligrafia, que se revela muito ―rebuscada de adornos‖. Está escrito numa caligrafia ―itálica‖, ou seja com inclinação para a direita. Denota-se pouca pressão no traçado das letras à excepção de algumas maiúsculas, onde é visível um traço de tonalidade escura mostrando uma maior pressão. O formato das letras assemelha-se a um paralelogramo, ou seja a altura é sempre superior à largura. É uma escrita bela e elegante, que obedece a um uniforme espaçamento entre as letras.

As margens foram passadas por cima, de modo a dividir as folhas. Na margem esquerda foi feita uma numeração que vai do ―1‖ ao ―632‖ da última página. Serve a margem direita para anotação do número de exemplares/volumes de cada obra ou objecto. No espaço central, entre as duas margens, encontra-se o nome da obra, do autor ou da colecção – ―As obras de António Feliciano de Castilho‖, por exemplo.

O inventário não obedece a qualquer ordenação alfabética, nem respeita as normas de catalogação utilizadas actualmente ou antigamente nas bibliotecas.

Do registo não constam dados relevantes como a data de edição, a editora, o local da edição. A quase totalidade das obras apenas tem o nome do autor ou o título do livro.

Foram mesmo detectados erros na escrita de alguns nomes:―Apreçus‖ em vez de ―Aperçus‖; ―Ensignement‖ em vez de ―Enseignement‖. Surgem ainda nomes repetidos – ―Madame de Stael‖.

Este inventário encontra-se arquivado na Biblioteca Municipal de Castelo de Vide, desconhecendo-se a data de entrada nos arquivos, a razão da sua elaboração ou quem o fez chegar à Câmara Municipal de Castelo de Vide. Nas actas da Câmara Municipal, de 1899, data da extinção do Grémio, até 1912, em que a Biblioteca Municipal já é referida com essa designação, não existe qualquer referência à sua elaboração ou existência. Nos arquivos

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referentes à Associação e ao Grémio Ilustração Popular, apenas constam listagens dos livros adquiridos ou a adquirir. Em acta do dia 25 de Dezembro de 1872, no ponto 4º, pode ler-se no entanto, ―Que se archivassem os catálogos dos livros e os inventários dos moveis pertencentes a cada uma das Associações‖.

Na acta da sessão do dia 9 de Setembro de 1873, José António Serrano, como ―bibliothecario‖ solicita a recolha de todos os livros da biblioteca:

Sendo necessário recolher temporariamente todos os livros que se acham em leitura caso para verificar a sua existência e proceder à sua conveniente colocação na Bibliotheca, rogo a v. Sas se dignem entregar ao portador todas as obras que têm em seu poder as quais serão reenviadas logo que finalisem aqueles trabalhos.

Por baixo do ofício encontra-se uma lista de 40 nomes, estando 10 riscados. Denota-se já nesta altura a preocupação pela organização da biblioteca.

No documento Filomena Maria Ferreira de Sousa Bruno (páginas 72-74)