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Os investidores individuais

No documento Atas do V Congresso Português de Demografia (páginas 151-157)

Novos imigrantes portugueses no Brasil e as estratégias para a obtenção de visto

3. Os investidores individuais

Considerando o período de 2011 a 2014, foram concedidas, pelo Ministério do Trabalho, 4.374 autorizações de emissão de vistos para estrangeiros como investidores individuais no Brasil, assim distribuídas: 1015 em 2011, 1169 em 2012, 1174 em 2013, e 1016 em 2014.

Quando analisado quais as principais nacionalidades desses investidores têm-se, em 2011 e 2014, os italianos como os que apresentam maior número de solicitações, seguidos pelos chineses e, em terceiro, os portugueses. Entretanto em 2012 e 2013 essa ordem modifica-se, mantendo os portugueses em primeiro e em segundo lugares, respectivamente, como mostra a Tabela 2.

Tabela 2 - Concessão de Vistos ao Amparo da RN 84/2009, Principais Nacionalidades 2011 A 2014

País 2011 2012 2013 2014 ITÁLIA 231 275 327 319 CHINA 193 122 158 159 PORTUGAL 132 283 281 149 ESPANHA 119 129 97 89 FRANÇA 73 80 97 91 SUIÇA 8 16 15 21 ALEMANHA 27 24 18 18 EUA 47 59 34 19 REINO UNIDO 20 26 25 18 HOLANDA 20 20 16 14 OUTROS 145 135 106 119 Total 1.015 1.169 1.174 1.016

Fonte: CGIg, nov.2014.

Em termos do montante investido, em 2011 foram R$ 204.265.786,70 (€ 58.361.653,34), em 2012 R$ 286.403.702,80 (€ 81.829.629,14), em 2013 R$ 290.269.232,11 (€ 82.934.066,10), e 20146

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R$ 225.377.267,09 (€ 64.393.504,85). A figura abaixo mostra a distribuição desses montantes por país, destacando a posição de Portugal como o a maior participação em 2012 (27,2%) e em um segundo posto em 2013 (23,7%).

Figura 2 - Valores de Investimento por Pais de Origem

Fonte: CGIg, nov.2014

Observado, então, o quanto os portugueses têm investido no Brasil nos últimos anos, mesmo com uma queda em 2014, essa foi a nacionalidade que mais cresceu no quadriênio de estudo.

Ao se tratar especificamente dos investidores individuais portugueses, os dados da CGIg e do CNIg, permitem acompanhar a sua distribuição pelo território brasileiro a partir de 2010. O mapa a seguir indica os estados com maior presença de investidores portugueses.

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Figura 3 - Mapa dos Imigrantes Portugueses Investidores no Brasil Amparados pela RN 84/2009 (2010- 2014)

É possível observar que os estados do Acre (AC), Amazonas (AM), Roraima (RR) e Amapá (AP) não receberam nenhum desses investidores nos últimos quatro anos. Em contrapartida os estados do Ceará (CE), Rio Grande do Norte (RN) e São Paulo (SP) foram os que mais receberam esse perfil de imigrante. A maioria dos estados brasileiros, 13, recebeu menos de 1% desses investidores: Piauí (PI), Maranhão (MA), Pará (PA), Tocantins (TO), Mato Grosso (MT), Rondônia (RO), Mato Grosso do Sul (MS), Goiás (GO), Paraná (PR), Rio Grande do Sul (RS), Distrito Federal (DF), Espirito Santo (ES) e Sergipe (SE). Em escalas intermediárias, os estados que receberam entre 1,8% e 8%, são 7: Santa Catarina (SC), Minas Gerais (MG), Rio de Janeiro (RJ), Bahia (BA), Paraíba (PB), Pernambuco (PE) e Alagoas (AL).

O gráfico a seguir mostra a distribuição dos valores investidos pelas principais unidades da federação.

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Figura 4 - Porcentagem de Valores Investidos por Estado (2010 a 2014)

Fonte: CNIg, 2015.

Quando se trata dos valores investidos, São Paulo teve a maior porcentagem (24,22%), o equivalente a R$ 53.798.220,76 (€ 15.370.92021), enquanto o Ceará, mesmo sendo o estado que mais recebeu portugueses, teve 19,40% dos investimentos (R$ 43.105.917,77 - € 12.315.976,50), seguido do Rio Grande do Norte com R$ 32.039.421,60 (€ 9.154.120,46), 14,42% do total. Os demais estados receberam menos de 10% dos investimentos.

A análise dos dados disponibilizados pelo CNIg com base na descrição do CNAE7 mostra que 42% dos investimentos concentraram-se em três principais atividades: 9% na compra e venda de imóveis próprios, 15% na construção de edifícios e 17,4% em incorporações de empreendimentos imobiliários. Esses dados denotam, então, uma predileção pela área imobiliária, abarcando da construção à venda, permitindo associar esse registro ao crescimento imobiliário ocorrido nos últimos anos no Brasil.

4. Comentários Finais – investidor ou imigrante permanente.

Apesar das indicações sobre os investimentos realizados por imigrantes no Brasil apontarem para a sua importância em termos de valores e distribuição no espaço, a realidade que se encontra no campo é bem distinta. No desenrolar dessa pesquisa foram realizados levantamentos nos estados do Nordeste e o que foi encontrado comprovava as indicações apresentadas pela Polícia Federal, em reunião do CNIg (03/2015). Naquele momento estimava-se que mais de 60% das empresas de propriedade de estrangeiros portadores de visto permanentes não tinham

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empregados. Portanto não geravam empregos diretos, o que é um dos condicionantes para a concessão do visto. Mais da metade dos demandantes desse tipo de visto, não apresentavam um pedido de renovação ao termino do prazo de vigência, o que poderia indicar a não manutenção do empreendimento.

Tais pontos configuram uma indicação de que o visto para investidor individual estava se transformando em um caminho para a obtenção do visto permanente, o que possibilitava a inserção no mercado de trabalho e contornar as dificuldades encontradas por profissionais liberais, para o exercício profissional no Brasil. Criava-se uma empresa e essa prestava os serviços aos contratantes sem a necessidade de um contrato de trabalho individual. Como exemplo, uma das empresas pesquisadas, listava em seu contrato social 82 atividades diferentes, como agência de publicidade, comércio de produtos perecíveis, realização de loteamento e construção de imóveis.

Essas situações levaram ao CNIg a editar uma nova resolução normativa (RN nº118) que passou a exigir um investimento mínimo de R$ 500.000,00 (€ 142.857,00) para a concessão de visto de investidor individual. Tal medida causou forte movimentação de associações de investidores estrangeiros, principalmente chineses, que solicitaram a revogação da resolução.

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