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Capítulo II – Metodologia do Estudo

2.1. Principais opções metodológicas

2.1.1. Investigação qualitativa e paradigma interpretativo

A investigação qualitativa é desenvolvida inserindo-se num paradigma interpretativo e, segundo Aires (2015), um paradigma apresenta-se como um dos níveis que compõe o processo de pesquisa dos investigadores e pode caraterizar-se como “um conjunto aberto de asserções, conceitos ou proposições, logicamente relacionados e que orientam o pensamento e a investigação” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 52). De acordo com Guba (1990, citado por Aires, 2015) este conceito pode também ser caraterizado por um "conjunto de crenças que orienta a ação" (p. 18), sendo que a adoção de um paradigma exige ao seu investigador questões e problemas específicos no seu estudo.

O paradigma interpretativo, em conjunto com a investigação qualitativa, considera o educador como investigador das suas práticas. Este paradigma tem um grande impacto para a educação de infância pois, de acordo com Graue, Tobin e Walsh (2002) “as suas produções encontram-se mais acessíveis, uma vez que a linguagem utilizada direciona-se não só, mas também para os profissionais e que este tipo de investigação dá maior importância às interpretações dos(as) educadores(as) de infância.” (p. 1040).

Considerando que a investigação qualitativa se encontra inserida no paradigma interpretativo, interessa compreender como a mesma se desenvolve e quais são as características que a definem.

De acordo com Nelson et al (1992, citados por Aires, 2011) a investigação qualitativa é “(…) considerada um campo interdisciplinar e transdisciplinar que atravessa as ciências físicas e humanas.” (p. 13). Esta perspetiva tem como principal objetivo a investigação e assenta numa perspetiva interpretativa da realidade que procura compreender fenómenos através da descrição, análise e reflexão. Segundo Freixo (2012) o objetivo da investigação qualitativa passa por descrever ou interpretar e que, neste sentido, o papel do investigador é o seguinte: “Ele observa, descreve, interpreta e aprecia o meio e o fenómeno tal como se apresentam, sem procurar controlá-los” (Freixo, 2012, p. 173). Para este autor, este tipo de investigação desenvolve-se em sete etapas diferentes, que podem não ser fixas: após a formulação do problema, procede-se à realização de questões precisas e, de seguida, à seleção de quais os métodos de recolha de dados a utilizar. Posteriormente, ao determinar-se qual o contexto no qual se irá realizar a investigação, dá-se início à recolha de dados, elabora-se hipóteses interpretativas e, por último, “consoante a

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aquisição de novos dados, reformula-se, como por exemplo, as questões” (Freixo, 2012, p. 177). De acordo com Aires (2015), o processo de investigação qualitativa evolui em seis níveis que se relacionam, sendo eles: o investigador, os paradigmas de investigação, as estratégias e métodos de investigação nos paradigmas qualitativos, as técnicas de recolha de materiais empíricos, os métodos de análise de informação e a avaliação e conclusão do projeto de pesquisa.

De acordo com Bogdan e Biklen (1994) a investigação qualitativa é uma expressão que "agrupa diversas estratégias de investigação que partilham determinadas características”, e em que os dados que são recolhidos são denominados de qualitativos pois são ricos em "pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e de complexo tratamento estatístico" (p. 16). Ou seja, Coutinho (2011) defende que, quando estamos perante uma investigação de caráter qualitativo:

“o objeto de estudo na investigação não são os comportamentos, mas as intenções e situações, ou seja, trata-se de investigar ideias, de descobrir significados nas ações individuais e nas interações sociais a partir da perspetiva dos atores intervenientes no processo” (p. 28).

Segundo Bogdan e Biklen (1994), a investigação qualitativa apresenta cinco caraterísticas: (i) “(…) a fonte direta dos dados é o ambiente natural e o investigador é o principal agente na recolha desses mesmos dados” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 47), ou seja, o investigador despende de muito tempo nos contextos, para apresentar a sua questão problema e recolher informações cruciais para o seu estudo (registos multimédia ou escritos). O investigador neste tipo de investigação é o instrumento principal, inserindo-se no contexto com o objetivo de observar e compreender as ações, pois “as ações podem ser melhor compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de ocorrência” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 48). Aires (2012) também menciona a importância dos contextos naturais referindo que “os investigadores qualitativos estudam os fenómenos nos seus contextos naturais” (p. 13); (ii) “A investigação qualitativa é descritiva. Os dados recolhidos são em forma de palavras (…) contém citações (…) incluem transcrições de entrevistas, notas de campo.” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 48). A forma como os dados são registados é crucial para que estes sejam analisados em toda a sua riqueza, uma vez que “nada é considerado um dado adquirido e nada escapa à avaliação” (Bogdan &

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Biklen, 1994, p. 49); (iii) Os investigadores que utilizam metodologias qualitativas interessam- se mais pelo processo em si do que propriamente pelos resultados ou produtos; (iv) A análise dos dados é feita de forma indutiva, ou seja, não partir para a investigação “com o objetivo de confirmar ou infirmar hipóteses construídas previamente” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 50). Ao invés disso, devemos partir sem qualquer ideia de dados e resultados a obter, construindo noções através da recolha e análise de informação no momento; e (v) “O significado é de importância vital na abordagem qualitativa” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 50), uma vez que os investigadores se interessam pelas perspetivas dos indivíduos envolvidos na investigação e, tal como os autores indicam, “(…) fazem questão em se certificarem de que estão a apreender as diferentes perspectivas adequadamente” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 51).

Denzin (1994, cit. por Aires, 2015) caracteriza todo o processo de investigação qualitativa como:

“reflexivo e complexo, pois depois da pesquisa no terreno por parte do investigador, com o intuito de adquirir informações, o mesmo executa “o primeiro texto, nomeado por texto de campo, seguido da realização do segundo, que inclui uma sistematização das suas notas.” De seguida, o investigador elabora um texto interpretativo provisório e, posteriormente, surge o documento final, que é executado depois do texto interpretativo ser negociado e partilhado com os restantes membros da investigação.” (p. 16-17)

Dentro de uma grande variedade de metodologias desenvolvidas no campo de investigação socioeducativa, a que suporta o presente relatório intitula-se por investigação-ação, motivo pelo qual o tópico que se segue aborda esta abordagem metodológica.