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2. MÉTODO

3.2.3. Ioga e psicologia ambiental

Segundo Bassani (2009), a psicologia ambiental enfoca, no Brasil, os estudos das inter-relações das pessoas com os ambientes físicos naturais ou construídos, e salienta que os ambientes são também sociais.

Bassani (2009), citando Aragonés e Amérigo (2000), chama a atenção para o fato de temas como sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente estarem na moda, porém, não existe uma real conscientização de que o homem é o grande responsável pelo que está acontecendo e como tal terá que mudar suas atitudes.

Para a autora, ao abordar a relação entre psicologia ambiental e qualidade de vida, acredita-se que o termo certo a ser utilizado é problema humano-ambiental, pois, incluindo o ser humano como responsável, é mais provável que ele perceba que faz parte do problema e das soluções para problemas ambientais que estão ocorrendo.

Para Corral-Verdugo (2002), a psicologia tem grande responsabilidade na luta com a preservação do meio ambiente, pois a mudança de crença e a quebra de paradigma individual e grupal é o que será necessário para a tomada de consciência e para a real mudança da atitude humana frente à hiperexploração ambiental.

Ainda, segundo o autor, existem crenças de que a Terra é ilimitada, ou que somos donos dela e por isso podemos explorá-la como quisermos.

García-Mira e Vega, (2009) pontuam que apenas se conscientizar não é o suficiente, a mudança precisa ocorrer nos valores e atitudes. É preciso descobrir qual a motivação para descuidar ou cuidar do meio ambiente. Essas questões coexistem dentro de um contexto político e cultural que precisa ser investigado e transformado.

Para os autores, a grande dificuldade da mudança de atitude pró-ambiental é o contexto político que está relacionado a ela, pois não se vê uma postura política pró-ecológica.

A psicologia ambiental tem crescido no Brasil, e são muitos os temas que pertencem a essa área da psicologia.

Algumas pesquisas utilizam os conceitos de estressores ambientais, outras apontam para a importância do cuidado com os espaços físicos. Outros pesquisadores têm se voltado para a questão da qualidade de vida, do bem-estar, da qualidade ambiental, do estilo de vida e da apropriação de espaço.

A dissertação de mestrado de Farias (2011) aborda o tema ioga e psicologia ambiental. O assunto central cursa sobre o estilo de vida dos estudiosos e praticantes da ioga, que moram em grandes capitais.

Farias aplicou um questionário aberto e um instrumento de autoavaliação de qualidade de vida, observando o estilo de vida de iogues (praticantes de ioga) em grandes centros urbanos.

Todos conseguiram adaptar uma rotina dentro da filosofia da ioga, mesmo morando em grandes centros urbanos. Relataram praticar, meditar e cuidar do meio ambiente. O estilo de vida dos sujeitos mostrava autocuidado, respeito nas relações com os outros, sustentabilidade nas ações e busca por um aprimoramento pessoal.

De acordo com a autora, há um encontro entre o conceito da psicologia de estilo de vida e da ioga, já que ambos tratam de um conjunto de ensinamentos que propõe uma maneira de agir, pensar e se relacionar consigo mesmo.

Um ponto interessante do trabalho é que todos os participantes da pesquisa, depois de se tornarem praticantes de ioga, demonstraram uma nova postura em relação aos cuidados com o meio ambiente, modificando seu dia a dia e criando uma conexão maior com o entorno.

Na Avaliação do Milênio, de 2000, um resultado que chamou a atenção de Bassani (2009), é que houve maior degradação e devastação do meio ambiente em áreas onde foi detectada uma diminuição da espiritualidade.

Segundo a autora, o ser humano não se enxerga mais como parte da natureza. Entende que, destruindo a sacralização da natureza, ele não será punido pelos “espíritos da floresta” e irá sim encontrar outras formas de sobreviver através do tecnológico e do poderio econômico.

Corral-Verdugo (2002), também relata que a destruição do meio ambiente aumentou no momento que o ser humano passou a ser mais tecnológico.

Na dissertação de Farias (2011), percebi que, com o aumento da espiritualidade, que é uma das intenções da ioga, os praticantes passaram a ter um maior cuidado com o meio ambiente.

O homem precisa conectar-se à natureza, percebendo que esta é a grande provedora de água, de alimento e da possibilidade de uma vida digna.

Corral-Verdugo (2002) traz a questão do dilema entre o desejo do homem em consumir e a necessidade de conservação dos recursos naturais. Ele relata um consumo desenfreado sem a consciência de que a natureza é limitada. Farias (2011) também aponta essa necessidade do homem de consumir, como se isso fosse preenchê-lo, uma vez que pouco tempo depois de consumir algo já se sente vazio novamente, precisando assim comprar outra coisa.

A autora ainda salienta que é necessário que o ser humano se observe e perceba que já está completo e que a felicidade e o contentamento são internos e não há como comprá-los.

Corral-Verdugo (2002) observa que algumas características de pessoas mais felizes são as mesmas de pessoas que possuem um estilo de vida sustentável. Essas características são: altruísmo, condutas pró-ecológicas, preocupações com o outro e com o entorno, condutas equitativas e consumo equilibrado.

Podemos perceber essas mesmas características nos praticantes de ioga que Farias (2011) entrevistou em seu trabalho sobre o encontro entre a psicologia ambiental e a ioga.

A ioga aponta para a conexão do ser humano com a natureza e com o ambiente. Para a ioga, o ser humano é a natureza, faz parte de um todo, não está apenas relacionado a ela. Esse seria um desencontro com a psicologia ambiental, pois, para essa área do saber, o ser humano não é a natureza, ele se relaciona com ela, modificando-a, enquanto é modificado por ela.

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