• Nenhum resultado encontrado

Irene Machado

No documento Semiótica da Comunicação II (páginas 35-66)

Introdução: Tipologia histórica em modelos informacionais

Será o movimento da história sempre uma marcha anco- rada na continuidade? Nos estudos da cultura, o continuum histórico se alimenta fartamente das relações de causa-e- -efeito e de dominante em que noções como transmissão de informação ou transporte de mensagens, consagradoras da sucessão linear de eventos e de invenções. Tal entendimento nos é apresentado como a única alternativa e, por conseguin- te, livre de qualquer suspeita.

Para os estudos da semiótica histórica de Iúri Lótman, ainda que o estudo da cultura tenha surgido “como estudo de sua história”, seu objetivo não eram as sucessões mas sim as diferenças entre épocas. O que atraiu o interesse dos estu- diosos foi, portanto, a descoberta de que as culturas, mesmo

encerradas em suas possibilidades, poderiam interagir com a “alma alheia” (LÓTMAN, 1998c, p. 152). A variabilidade histórica constitui, portanto, no fator distintivo das culturas.

A semiótica da cultura examina criticamente os pressu- postos do continuum histórico, particularmente aquele que confere à escrita o privilégio de constituir a história da ci- vilização. A possibilidade de registro por meio de codifica- ção alfabética constituiu, pelo menos, dois sólidos legados na cultura ocidental: o primeiro afirma o alfabeto como o fundamento construtivo de mensagens codificadas prontas para serem decifradas; o segundo consagra a troca codificada como a condição da transmissão e do transporte de infor- mação que garante a continuidade. Graças a tais legados, a invenção de um processo técnico como o alfabeto e a prática da leitura se colocam na base da decifração. Segundo tal no- ção, ler o livro sagrado ou o livro da natureza corresponde à mais nobre forma de decifrar e, consequentemente, de iniciar o estudo da história da cultura. Evidentemente que temos aqui um quadro indiscutível de inserção da escrita como a forma por excelência de definição civilizacional, divisor de águas de formas culturais que não se constituem pelo padrão escritural.

De saída, há que se situar a simplificada oposição entre cultura e natureza. No âmbito da civilização europeia et- nocêntrica, na base da oposição entre natureza e cultura se ergueram outras oposições tais como: culto vs bárbaro; civi- lizado vs. selvagem; próprio vs alheio; nacional vs estrangeiro; nobre vs servo; cidade vs campo; escrita vs oralidade etc. As- sim, se impõe um modelo de mundo construído como um texto a ser decifrado ou, como afirma Lótman:

A cultura escrita tende a considerar o mundo criado por Deus ou a Natureza como um Texto e aspira a ler a mensagem encerrada nele. Por isso se busca o sentido

principal no texto escrito – sacro ou científico – e se estende depois à paisagem. Desse ponto de vista, o sen- tido da Natureza se revela somente ao homem “letra- do”. Este homem busca na Natureza leis e não augúrios (LÓTMAN, 1998c, p. 90).

Nos estudos de semiótica histórica de Lótman, porém, mais importante do que a centralidade da escrita na definição da história se revela a existência do que temos denominado, com base em Lótman (1998a), de modelos informacionais: experiências culturais que se encarregaram de promover o desenvolvimento de civilizações à revelia de qualquer forma de escritura. Lótman não apenas investe no entendimento de tais modelos como também os coloca no centro do estu- do histórico orientado pela premissa da tipologia da cultura. Não se trata, evidentemente, de um conceito acabado mas de uma premissa de raciocínio derivada da apreensão da infor- mação como base inalienável do movimento da cultura na configuração de tipologias.

Em vez de incentivar a singularidade de formas culturais a partir das quais seja possível criar hierarquias e legitimar domínios, os estudos tipológicos primam pela análise com- parativa capaz de recompor o gradiente de diferentes po- tencialidades de desenvolvimento cultural. Daí que um dos grandes desafios da tipologia da cultura: o dimensionamento de formas existentes de cultura que se colocam em esferas não privilegiadas de contextualização. Lótman apreende tal existência em formas que gravitam em torno dos modelos de cultura orientadas por modelos informacionais.

Delineia-se um horizonte crítico em que as bases da his- tória da civilização ocidental construída a partir dos even- tos e inventos técnicos, multiplicados pelo alfabeto, pode ser questionada. Não se trata de questionar a hegemonia da cultura escrita e da história, mas do princípio que a tornou

um sistema cultural autossuficiente e capaz de se autoeleger como a única forma distintiva de civilização possível. Face a tal eleição todos os demais tipos de cultura existentes são descartados. O estudo da tipologia da cultura de Lótman co- loca tão consagrado princípio sob suspeita.

Segundo suas formulações, “baseando-se no amplo mate- rial que nos tem sido dado, realmente, poderíamos reconhe- cer [o vínculo determinante entre escrita e civilização] como uma lei universal da cultura se não fosse o enigmático fe- nômeno das civilizações pré-incaicas sul-americanas” (LÓT- MAN, 1998a, p. 82). A existência de tais civilizações com notáveis desenvolvimentos em diversos campos de suas ati- vidades não consegue omitir o inexplicável paradoxo: deixar um complexo legado de sistemas de símbolos sem nenhum vestígio da presença de uma escritura (LÓTMAN, 1998a, p. 82). Ao que Lótman infere:

A suposição que às vezes se cogita é de que a escri- tura foi aniquilada por forasteiros conquistadores – primeiros os incas, depois os espanhóis – não parece convincente. Os monumentos de pedra, as lápides, os túmulos não saqueados que se conservaram intac- tos; as cerâmicas de mesa e outros utensílios teriam trazidos até nós algumas pegadas da escritura se esta tivesse existido. A experiência histórica mostra que, em tais escalas, a destruição sem deixar vestígios não corresponde às possibilidades de nenhum conquista- dor. Resta supor que não havia escrita (LÓTMAN, 1998a, p. 82).

A inexistência de escritura não significa, todavia, inexis- tência de civilização e de modelos de desenvolvimento se- gundo Lótman, hipótese fundamental para a introdução do núcleo argumentativo segundo o qual a escrita figura como apenas uma das formas da memória (LÓTMAN, 1998a, p.

82), esta sim, a base da semiótica histórica praticada por Lót- man. Nela os mecanismos que tornaram possível a memória coletiva de movimentos naturais, de rituais e de sentimentos são traduzidos como modelos informacionais dos tipos de cultura. Enquanto mecanismos eles se manifestam em dife- rentes culturas. O fato de estarem estritamente vinculados à mnemotécnica das construções que os constituem e os con- servam torna-se a prova cabal de sua existência. Com isso, os modelos informacionais representam uma outra forma de memória: não aquela voltada para o passado como a prati- cada pela cultura da escrita, mas sim aquela que se dirige para o futuro como a praticada pela cultura oral (LÓTMAN, 1998a, p. 84). Trata-se de uma memória de caráter preditivo, adivinhatório, que as culturas ágrafas desenvolveram lançan- do seus mistérios para o futuro. Ao tangenciar uma outra forma de tempo histórico como alternativa ao continuum, o estudo tipológico abre o caminho para uma das inquietações que conduziu os trabalhos semióticos para uma concepção interativa das formas descontínuas e as contingências, como se espera examinar ao longo desse trabalho.

O movimento descontínuo da informação na cultura

A memória direcionada para o futuro tem como objetivo a conservação de informações: numa disputa não interessa quem venceu, mas como as informações sobre o evento fo- ram preservadas (LÓTMAN, 1998a,p. 83). Envolve compor- tamentos abertos às probabilidades, o que justifica a tendên- cia às adivinhações e previsões. Ao prognosticar o futuro, a eleição de uma possibilidade só é feita a partir de um con- junto de previsões de experiências semiotizadas pela memó- ria coletiva (LÓTMAN, 1998a, p. 87 e segs.). Desse debate se dimensiona o jogo de temporalidades em curso na história como alternativa ao processo de continuidade causal.

Em seus estudos sobre a concepção de história de Lót- man, Jerusa P. Ferreira (2007) lançou sementes de uma fe- cunda reflexão ao observar que, em Lótman, em vez de “um fio infinito”, a história se impõe como “um novelo desenro- lado” cujo movimento de seus acontecimentos muito mais afeitos à imprevisibilidades emerge “como uma avalanche de matéria viva que se auto desenvolve” (FERREIRA, 2007, p. 231). No espaço constituído pelo autodesenvolvimento não é a continuidade linear, causal e progressiva que orienta o desenrolar dos acontecimentos mas sim a imprevisibilida- de, a indeterminação e a contingência marcadas por escolhas – compreensão que reúne os termos da semiótica histórica nos espaços das contingências pelo qual o tempo histórico é reconhecido. Nele funciona a interação com distintos cortes temporais em relação ao qual o presente é apenas o corte sin- crônico (LÓTMAN, 1998c, p. 153) o que significa dizer que, paralelamente ao desenvolvimento contínuo há ocorrências de mudanças de direção.

Lótman tratou da descontinuidade como pressuposto ina- lienável da história em diferentes estudos e concepções, a co- meçar pelo conceito de texto como processo combinatório do tenso diálogo entre ocorrências de distintas codificações e temporalidades (LÓTMAN, 1996). Também nos persisten- tes estudos sobre tipologia da cultura como metodologia de apreensão das mudanças nas invariantes é possível flagrar o alcance de um entendimento não orientado pela síntese dia- lética (LÓTMAN, 1998a), mas aberto para o diálogo. Daí Lótman deriva a metodologia da cultura como informação não hereditária que as coletividades acumulam, conservam e transmitem (LÓTMAN, 1979, p. 31). Encaminha-se uma abordagem que se consagra na concepção da semiosfera pro- posta como uma cosmologia (FERREIRA, 2007, p. 231) e por isso mesmo integradora das forças em disputa no bios. Não sem motivo que semiosfera é concebida como universo

da mente e espaço da culturologia (LÓTMAN, 1990) onde continuidade é surpreendida por movimentos de instabili- dade e de desequilíbrio – noções que consagram a teoria da explosão como processo de tensionamento sem o qual nem a cultura nem a história sobrevivem.

Descontinuidade tornou-se a chave dos sistemas semióti- cos da cultura inseridos na cadeia de distintas continuidades espaço-temporais. Um dos precursores dessa prática teórica, o jesuíta Pavel Floriênski, assim se manifesta a esse respeito:

Nos mais diversos domínios do conhecimento, pelo beirar do século XX, observam-se fenômenos dota- dos de caráter notoriamente descontínuo; por outro lado, o trabalhador consciencioso do pensamento, sem sombra de dúvida, vê-se obrigado a confirmar, mais uma vez, nos diversos domínios do conheci- mento, a existência de uma forma [...] Onde se ob- serva a descontinuidade, nós procuramos o todo, e, onde está o todo, vige a forma e, consequentemen- te, há uma delimitação individual de realidade para separá-la do meio circunstante. Por outras palavras, onde a realidade possui caráter discreto, existe cer- ta mônada, isto é, uma unidade (claro, relativamente) indivisível, fechada em si própria. (FLORIÊNSKI

apud IVANÓV, p. 316).

A transmissão de mensagens definiu as bases da investiga- ção semiótica, não porque correspondesse à totalidade dos impulsos que constituem o movimento da informação na cultura, mas porque abriu o debate sobre o contínuo e o des- contínuo do processo histórico em suas contingências espa- ço-temporais. Seguindo concepções da antropologia russa da época, apreende-se uma orientação para confluências, como se expressa A. F. Bernardini a respeito do trabalho de Ivanóv.

[...] dentro das diferentes maneiras de se entenderem semelhanças pode-se admitir que muitas delas não se expliquem pelo modelo da continuidade histórica (o

continuum da história), mas pela convergência de pro-

cessos históricos tipológicos, na qual um dos modelos pode ser considerado o dos ciclos de desenvolvimen- to. Ou, em outras palavras: os resultados históricos de certa continuidade, cuja ocorrência nos é visível só são avaliados com base em outra continuidade análo- ga no passado, com a qual aqueles se identificam ou se correlaciona em certo sentido (BERNARDINI, 2010, p. 156).

Do ponto de vista da articulação histórica, há que se pon- derar sobre o papel das transformações como agentes po- tenciais de modificação da própria informação que emerge então, não como uma mensagem a ser decifrada, mas sim como informação nova imprevisível.

Diante de tal possibilidade, Lótman infere que o impulso fundamental do movimento da informação na cultura é a “luta pela informação” (LÓTMAN, 1975, p. 28). Nesse ho- rizonte conceptual, nem as construções sobrevivem como manifestações isoladas, que podem ser substituídas, nem um produto representa mais do que outro a ponto de exercer um domínio sobre os demais. Na verdade, o movimento da in- formação na cultura se aproxima muito mais de um modelo dinâmico de transformação do que de uma unidade confi- gurada numa transmissão unilinear. É como modelo que a informação revela sua condição explosiva, com capacidade de armazenar, distribuir e, principalmente, gerar novos ar- ranjos e manifestações culturais. Um modelo informacional que alimenta circuitos de imprevisibilidade segundo os quais é possível falar em dinâmica transformadora da informação em seu movimento na cultura. Ainda que o modelo infor- macional se apresente como emergência da descontinuidade,

em nenhum momento ele pode ignorar o passado nem o continuum histórico, o que se constitui num desafio para a perspectiva que olha a história pelos sistemas de signos atra- vessados de contingências culturais.

Lótman adverte para uma diferença essencial entre “os componentes da cultura com os conceitos de tempo, em particular o tempo histórico” (LÓTMAN, 1998c, p. 153) que muda radicalmente o próprio conceito de história. Se den- tre os componentes primordiais da cultura estão os inventos técnicos é preciso considerar a dimensão paradoxal que eles introduzem na história. Se, por um lado, reforçam a noção evolucionista de causalidade e de substituição pelas conquis- tas atuais sempre renovadas, por outro lançam luz para as “leis da memória”: “o que passou não é aniquilado nem passa à inexistência, mas que, sofrendo uma seleção e uma complexa codificação, passa a ser conservado, para, em determinadas condições, novamente manifestar-se” (LÓTMAN, 1998c, p. 153). É como código que os inventos técnicos se situam na história e enquanto tais criam memória, o que explica a cen- tralidade desse conceito em seu pensamento semiótico. Com base em tais leis, Lótman infere:

A constante atualização de diversos textos de épocas passadas, a constante presença – consciente ou incons- ciente – de estados profundos, às vezes muito arcaicos, da cultura no seu corte sincrônico, o diálogo ativo da cultura do presente com variadas estruturas e textos pertencentes ao passado, nos levam a duvidar de que o evolucionismo trivial, segundo o qual o passado da cul- tura se assemelha aos dinossauros fósseis, e a rigorosa li- nearidade de seu desenvolvimento sejam instrumentos de investigação adequados (LÓTMAN, 1998c, p. 154). O papel da memória é decisivo nessa concepção visto que, em seu aspecto semiótico, a cultura constitui uma das

formas da memória coletiva, entendida aqui como memó- ria profunda a abarcar a “experiência anterior da humanida- de” e, enquanto tal, “encontra-se atravessada pelas estruturas parciais da memória interna” (LÓTMAN, 1998c, p. 154-5). Reafirma-se, por conseguinte, as leis da memória na geração do futuro nas transformações advindas das relações com o passado, caminho esse percorrido com o impulso da descon- tinuidade.

Códigos da memória no funcionamento do tempo histórico

Códigos da memória definem a perspectiva histórica de Lótman em coerência com sua abordagem semiótica da cul- tura que não mira totalidades nem sínteses mas funciona- mentos de textos em sistemas de linguagens e de códigos culturais em transformação modelizante. Nos códigos atuam diferentes temporalidades que interagem e criam modelos informacionais cuja complexidade está longe de se acomo- dar na continuidade das sucessões de eventos ou inventos.

Entende-se por código cultural estruturas de grande com- plexidade que operam com algoritmos limitados para abran- ger um vasto campo de relações no espaço semiótico da cul- tura, particularmente, nos processos de comunicação em que os meios figuram como os agentes por excelência de espaços.

Quando Lótman atribui papel de inegável importância à informação na definição da cultura não é apenas o processo de transmissão que se coloca em questão, mas também a di- nâmica transformadora de códigos culturais que a transmis- são mobiliza. Interessa-lhe acompanhar o processo da cultu- ralização que transforma os eventos em informação cultural capaz de gerar sentido e de situar os agentes da transforma- ção histórica. Longe de entender tal processo a partir de um

ponto perdido no passado, a culturalização acompanha a vida dos sistemas da cultura.

O processo cibernético foi fundamental a esse contex- to especulativo pois em sua constituição atuam, fundamen- talmente, códigos do sistema da cultura. Além de fornecer uma paisagem nova de funcionamentos culturais, os códigos cibernéticos desafiam o entendimento do processo de cultu- ralização dos sistemas de signos tecnológicos atualizados his- toricamente (IVANÓV, 1977; 1978). Também é importante dizer que a cibernética consolida os conceitos de modelo, de modelizar, de modelização e de sistema modelizante como conjugação de forças em jogo na constituição das formas culturais. Dentre elas se distingue o papel dos códigos e das linguagens geradoras de sistemas de signos. Graças ao pro- cesso de modelização foi possível observar como a língua natural ao homem se torna linguagem em sistemas culturais tão diversificados como o mito, a religião e a própria má- quina combinatória de códigos da ciência e da tecnologia. Amplia-se a noção de corte sincrônico uma vez que, nos códigos maquínicos, se evidenciam quais são as variáveis que emergem no contexto de suas invariantes.

Nem o modelo é protótipo nem modelização se con- funde com hereditariedade. Em sua acepção semiótico-ci- bernética, modelizar constitui a ação que envolve o trabalho com algoritmos de grande complexidade a partir dos quais é possível acompanhar o trabalho gerativo de outras formas culturais (IVANÓV, 2003; LÓTMAN, 1979). No limite, tal concepção toma como paradigma a própria linguagem e o processo modelizante de línguas e sistemas culturais. No mo- delo se manifesta o jogo das variáveis no campo das invarian- tes o que abre para a emergência de processos contingentes. É como contingência na história da cultura que Lótman nos leva a compreender o desenvolvimento histórico orien- tado, não pelos eventos constituídos num processo gradual,

mas pela modelização de códigos culturais. Esse é o caso das produções de culturas ágrafas e das civilizações cujo desen- volvimento cultural não foi pautado por um sistema de es- crita como o alfabético-ocidental. Vamos recuperar o exem- plo de Lótman, citado anteriormente, relacionado às culturas pré-colombianas do continente sul-americano. Concentre- mo-nos na pergunta: Por que a magnitude dos textos legados pelas culturas ágrafas não podem ser exemplos de desenvol- vimento cultural e de civilização? Para examinar tal formula- ção, consideremos o sistema gráfico dos geoglifos que o povo Nazca (200 a.C. – 600 a.C.) cultivou no deserto Peruviano ao longo de 37 milhas entre os Andes e o Pacífico.

FIGURA 1 – Linhas de Nazca

Fonte: http://1.bp.blogspot.com/rg4yL5Pe6UE/UcEU_GrmEZI/AA- AAAAAAAP0/ARSYolRN_jQ/s400/nazca-ballena.jpg

As linhas que desenham formas geométricas – cujo con- junto é alcançável apenas pela visão aérea – resultam da in- tervenção no solo e foram entendidas, ao longo dos séculos, tanto quanto sistema de irrigação quanto aeroporto alieníge- na. Ainda que os geoglifos sejam formas gráficas não gerado- ras de um sistema de escrita, o conjunto organiza formações culturais responsáveis pelo desenvolvimento de modelos in- formacionais que não são estranhos ao universo da escrita. Basta que se reconheça no registro em superfície o processo modelizante da composição gráfica e diagramática de linhas que sustentam processos interpretativos em planos empírico e perceptual-cognitivo. Para isso, convém observar o papel dos códigos culturais como agentes históricos do modelo e da semiose cultural encarregada da modelização de siste- mas culturais, em que os geoglifos, inseridos no campo dos códigos gráficos da cultura, constituem um forte legado de modelização.

Todo processo gráfico – de um ponto, uma linha ou uma forma (geométrica ou não) – coloca em relevo traços ele- mentares dotados de mobilidades tanto estruturais quanto semânticas. Os geoglifos, por exemplo, podem ser tomados

No documento Semiótica da Comunicação II (páginas 35-66)

Documentos relacionados