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CAPÍTULO II – CARACTERIZAÇÃO DO FATOR FÍSICO

2.2 Principais arquipélagos, ilhas, penínsulas e massas continentais

2.2.9 Islândia

Localiza-se no limite do Círculo Polar Ártico, sendo considerada um Estado Ártico por se localizar a uma latitude que o justifica, e por ter um clima polar (TFO, 2007c) – ver Figura II-19. O país é geologicamente muito jovem, estando ainda em formação, como o atestam o relevo e configuração rugosas, grosseiras, abruptas e irregulares. Possui uma altitude média de 500 metros, mas um quarto do país tem altitudes inferiores a 200 metros. Existem localidades onde se faz sentir fortemente a erosão marinha e dos glaciares, que ajudaram a dar forma aos vales atuais e às zonas arenosas, frequentemente junto dos fiordes. A ilha tem planaltos extensos, mas que são rasgados abruptamente por vulcões que formam uma cintura vulcânica ativa (DIT, 2011).

Fonte: (VIDIANE, 2011)

Figura II-19 – Mapa da Islândia

A norte a costa é deveras irregular, rochosa e rasgada por numerosos fiordes e enseadas que no seu conjunto consagram bons portos naturais, que também são protegidos; no entanto, a sul a costa é arenosa e com contornos suaves, muitas vezes com extensas praias e lagoas que não propiciam a existência de portos naturais (DIT, 2011).

A Islândia é o país com menor densidade populacional da Europa, com apenas três habitantes por km2. Cerca de 4/5 da área do país não é habitável, pelo que a quase totalidade

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da população190 vive em vales e numa estreita faixa costeira da zona sudoeste do país (DIT, 2011).

A ilha em apreço tem uma área de 103.000 km2 (EN, 2011) - ainda assim maior que a de Portugal - e uma localização muito importante, pois materializa o ponto mais setentrional do Oceano Atlântico, fixando-se entre a Gronelândia e a Noruega.

A maioria do gelo do mar em torno da Islândia provém das fortes correntes marítimas que têm origem a leste da Gronelândia, correndo para sul, como já tivemos oportunidade de ver. Assim, a navegação ao longo da costa da Islândia é mais ou menos perigosa, consoante a quantidade de gelo proveniente da Gronelândia, sendo que por vezes é mesmo necessário fechar portos no norte da ilha.

Uma das principais saídas do Oceano Ártico para o Oceano Atlântico processa-se através do Estreito da Dinamarca, cujo limite oeste é a Gronelândia e o limite leste é a Islândia. Por outro lado esta ilha é o limite oeste de outra saída do Ártico para as águas quentes do Atlântico: o Mar da Noruega.

Somos de opinião que a Islândia terá uma palavra a dizer no futuro da região, como já tem na resolução de alguns problemas de fronteiras, pois a mais que previsível melhoria de condições de navegabilidade no Ártico beneficiará a Islândia, fruto da sua localização privilegiada. A nossa perspetiva parece reforçar a ideia que as ilhas existentes nos diversos oceanos, sobretudo quando são em número restrito, como acontece no Atlântico, veem variar a sua importância em função dos períodos que se vivem.

2.3 Síntese Conclusiva

O espaço Ártico foi cartografado com maior precisão a partir da II Guerra Mundial, confessando a real proximidade entre a América do Norte e a URSS, nem sempre bem percecionada191.

Ventos fortes e gelados, temperaturas que podem descer aos -46ºC, ausência de chuva e, noites e dias que se prolongam por meses criam condições extremamente inóspitas, pouco tolerantes às necessidades do ser humano.

Invariavelmente acolhe tundras de enormes dimensões, que se estendem por 45.000 km de costa e materializam cerca de 15% da superfície da Terra, mas na sua essência são

190 A população da Islândia, em 2011, é de 318.452 habitantes (DIT, 2011).

191 No capítulo anterior já havíamos visto que esta imediação mereceu particular divulgação nas teses de

Nicholas Spykman, geopolítico que fazendo uso de uma projeção polar alertava para a proximidade entre o Novo e o Velho Mundo, bem como para a concentração das massas continentais no Hemisfério Boreal.

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formadas por pedras e vegetação rasteira, pois o permafrost não permite o crescimento de grandes raízes e, quando derrete dá origem a grandes lamaçais – fruto da impermeabilidade dos solos – que algum tempo mais tarde voltam a congelar.

As bacias do Ártico estão cobertas pela calota polar, camada de gelo muito espessa e de grandes dimensões, embora a sua extensão varie consideravelmente ao longo do ano, como aprofundamos no capítulo VI.

As Bacias Euro-asiática e Américo-asiática estão separadas pela Cordilheira de Lomonosov, que se ergue 3.000 m acima das regiões abissais e se estende por cerca de 2.000 km, desde o Mar de Laptev até à Ilha Ellesmere, passando pelo Pólo Norte. Veremos, no capítulo VII, que vários países da região ártica argumentam que esta cordilheira constitui a extensão natural das respetivas PC’s, procurando assim fundamento para as extensões territoriais que reivindicam.

As PC’s que bordejam as bacias do Ártico são as mais amplas do mundo, mormente no Ártico russo, onde é tão extensa e plana que se prolonga para além dos mares marginais e apresenta profundidades tão baixas que dificultam a navegação por navios de maiores dimensões, como veremos no capítulo IV. Não encontramos melhor indicador do que acabamos de explanar que aquele que nos é propiciado por Sechrist, Fett e Perryman (1989) ao referirem que os mares subsidiários ocupam cerca de 35% da área total do Oceano Ártico, mas o volume de água que encerram é apenas de 2%, pois os restantes 98% estão nas profundas bacias do Ártico.

O Oceano Ártico dispõe de três camadas de água, sendo que destacamos a «camada do Atlântico», que proporciona enormes fluxos de água quente provenientes do oceano mais meridional que lhe dá o nome e funciona como um radiador gigante da região, mas também a «água do Ártico», camada superior e com os menores índices de salinidade, fruto do degelo da calota polar e dos fluxos de água doce provenientes dos rios que correm para este oceano. As grandes variações de temperatura, salinidade e ventos dão origem a padrões de correntes oceânicas que são conhecidos - e foram por nós explanados – mas poderão alterar- se substancialmente, como resultado das alterações climáticas experimentadas na região (e que desenvolvemos no capítulo VI).

No Mar de Beaufort, aquele que apresenta maior profundidade média dos mares subsidiários do Ártico, os padrões agora referidos resultam em correntes marítimas que empurram a calota polar em direção ao Alasca e ao Grande Norte do Canadá.

A Baía de Baffin apresenta correntes que se movem no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio; como está sujeita à ação de outras vindas do Atlântico, da «corrente canadiana» e

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da corrente e ventos provenientes da Gronelândia, resulta numa baía liberta de gelo a leste e literalmente abastada de gelo a oeste.

O Mar da Gronelândia é o que propicia maiores fluxos de água entre os oceanos Atlântico e Ártico - com destaque para o Estreito de Fram – funcionando como motor das correntes transpolares que irradiam algum calor ao longo do oceano mais boreal do globo terrestre.

As condições naturais do Mar da Noruega proporcionam que a água quente da «camada do Atlântico» chegue ao Mar de Barents, mas também que a região setentrional da Islândia possa auferir de condições de navegabilidade razoavelmente boas.

De entre os mares que banham a Rússia ártica, o Mar de Barents é claramente aquele que beneficia de melhores condições de navegabilidade à superfície, auferindo de águas livres durante todo o ano, com exceção da faixa leste, onde a navegação à superfície é dificultada durante o inverno e primavera. Não se pense que a navegação é fácil, porquanto a Esquadra do Norte - baseada na Península de Kola - tem de afrontar inúmeros icebergues e tempestades resultantes de alterações bruscas da atmosfera, que resultam num mar pleno de ondas de grande dimensão. Tem maior profundidade que os restantes mares que banham a Rússia, proporcionando as condições necessárias para albergar os submarinos da Federação (assunto que aprofundamos no capítulo que se segue).

O Mar de Kara tem menos de metade da profundidade média do Mar de Barents. Os padrões de salinidade e das correntes de água são muito influenciados pelas enormes quantidades de água vazadas pelos rios Ob e Yenisei, sendo o que maiores quantidades de gelo acumula em todo o Ártico e aquele que mais dificilmente é navegado, fruto dos muitos icebergues que provêm das regiões a norte das ilhas Novaya Zemlya e Severnaya Zemlya, impelidos pelos fortíssimos ventos provenientes de leste (como aprofundamos no capítulo IV). O Estreito de Motochkin Shar praticamente não é utilizado na ligação entre os mares de Kara e de Barents, devido à radiação nuclear que aí subsiste; dos restantes estreitos que permitem a ligação em apreço o de Kara Gate é o mais utilizado, pois o de Yugorskiy Shar apresenta condições de navegação muito melindrosas.

Dos estreitos que ligam os mares de Kara e Laptev, o predileto é o Estreito de Vil’kitskii, pois apesar de ter uma profundidade baixa permite navegação com a ajuda de navios quebra- gelo junto à costa da massa continental; o Estreito de Shokal’skii, sendo de águas profundas é muito problemático, devido aos icebergues que se acercam de leste a grande velocidade.

O Mar de Laptev apresenta profundidades escassas, inferiores a 50 metros em mais de metade da sua área total, mas que chegam a valores próximos dos 10 metros sobre a sua vasta PC. Os icebergues provêm de norte, passam a leste de Svernaya Zemlya e da Península

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Taymyr até esbarrarem nos fluxos de água provenientes dos rios Lena e Yana, que os desviam para o Mar da Sibéria Oriental, através das ilhas da Nova Sibéria. Pelas razões aduzidas - com exceção dos meses de agosto e setembro - é de difícil navegação, pois no inverno consegue ser mais frio que o Mar de Kara.

O Mar de Laptev liga-se ao Mar da Sibéria Oriental através do Estreito Sannikov, mais boreal, mais comprido, mais largo e mais profundo que o Estreito Dmitrii Laptev, cheio de baixios traiçoeiros.

O Mar da Sibéria Oriental é francamente o menos profundo de todos os mares que banham a costa setentrional da Rússia, pois a batimetria deste mar quase sempre oscila entre 10 e 40 metros de profundidade - prevalecendo os valores mais baixos. As temperaturas deste mar são muito próximas das que prevalecem no Mar de Laptev, mas a faixa leste está normalmente repleta de gelo durante todo o ano, o que não acontece na faixa oeste, mais liberta no verão por ação das águas vazadas pelos rios.

A ligação ao Mar de Chukchi é feita através do Estreito Longo, difícil de navegar em virtude da rapidez com que os blocos de gelo aí se deslocam. Destacamos que o Mar de Chukchi desfruta de águas bastante mais quentes que o seu vizinho ocidental, porquanto aufere dos fluxos de água provenientes do Oceano Pacífico, que lhe garantem melhores condições de navegabilidade na faixa oeste.

O Alasca é o maior e mais boreal dos Estados dos EUA, permitindo o controlo da navegação que utiliza as águas que ligam os oceanos Pacífico e Ártico, mormente através das Ilhas Aleutas e do Estreito de Bering. O clima, muito severo, é caracterizado por tempestades bruscas e temperaturas baixas, ingredientes que dificultam a exploração de recursos naturais, como desdobramos no capítulo V.

O Canadá Ártico, ou Grande Norte, ocupa cerca de 2/5 da área total do Canadá e, é composto pela massa continental (que integra os Territórios do Noroeste, Yukon e Nunavut) e o Arquipélago Ártico (com cerca de 36.000 ilhas, algumas das quais das maiores do planeta). A costa do Canadá é a maior do mundo, bordejando os oceanos Pacífico, Ártico e Atlântico, mas é no mais boreal destes oceanos que adquire grandes dimensões, devido às inúmeras ilhas já referidas.

O Arquipélago Ártico, especialmente as Queen Elisabeth Islands, experimenta um clima polar e uma morfologia extremamente agreste e inóspita, como o atestam os inúmeros glaciares aí existentes. Entre as ilhas existem estreitos, mares e canais que estando geralmente gelados começam a adquirir maior importância, materializando a Passagem do Noroeste, sobre a qual discorremos no capítulo IV.

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A Gronelândia é a segunda maior ilha do globo terrestre, pois possui uma área quatro vezes maior que a da França e, acolhe no seu seio o ponto mais boreal das massas terrestres do planeta Terra: Cape Morris. O manto de gelo que resulta da fusão dos imensos glaciares existentes na ilha cobre cerca de 4/5 da superfície da Gronelândia. Sendo uma região autónoma da Dinamarca localiza-se entre a América e a Europa, esta última a mais do dobro de distância da primeira.

A Noruega é rasgada por inúmeros fiordes, desde o Mar de Barents até ao Mar do Norte, e cerca de 1/3 da sua área total localiza-se a norte do Círculo Polar Ártico. Dispõe de duas regiões insulares muito importantes para a nossa tese – Ilha Jan Mayen e Arquipélago Svalbard – porquanto lhe permite expandir para o Ártico várias áreas onde exerce direitos de soberania, pese embora atualmente ainda sobrevenham algumas reivindicações que colidem com os seus interesses (como vamos analisar no capítulo VII).

A Ilha Jan Mayen proporciona que a Noruega possa reivindicar a extensão da ZEE e da PC e, o Arquipélago Svalbard – localizado à mesma distância do Pólo Norte e da Noruega continental – sendo território da Noruega desde 1920, está sujeito a um conjunto de regras imposto cinco anos mais tarde pelo Ato Svalbard, que de alguma forma limita a soberania absoluta da Noruega e salvaguarda os interesses do vasto número de países signatários.

A Rússia ártica inclui as ilhas existentes nos mares subsidiários, a PC, a costa ártica e as bacias hidrográficas que correm para o oceano mais boreal do planeta; a sua vastidão é de tal monta – 9,46 milhões de km2 – que as tundras significam cerca de 2/3 da área total da Federação. A costa ártica aufere de valores que variam entre 28.000 km e 72.000 km, consoante consideramos apenas a costa da massa continental ou lhe acrescentamos as costas das ilhas existentes no Ártico.

Dos quatro arquipélagos que a Rússia dispõe no Oceano Ártico salientamos que Novaya Zemlya sugere ser a extensão natural dos Montes Urais e separa os mares da Europa e da Ásia; a Terra de Franz Joseph localiza-se a leste do Arquipélago Svalbard e a norte de Novaya Zemlya, e por tão boreal está circunscrita pelo gelo e coberta de glaciares; Svernaya Zemlya localiza-se a norte da Península Taymyr e separa os mares de Kara e Laptev; e, as Ilhas da Nova Sibéria separam os mares de Laptev e da Sibéria Oriental, funcionando como ponto de entrada nos mesmos.

A vastidão da Rússia, que praticamente abraça metade do Ártico, e as possibilidades que os arquipélagos ora referidos lhe proporcionam são tão significativos que lhe permitem auferir da Passagem do Nordeste e reivindicar a extensão de áreas sob sua jurisdição, como veremos nos capítulos IV e VII.

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Por fim a Islândia, ator mais jovem do Ártico e com menor área, estando ainda em formação geológica e a sofrer as agruras de albergar cinturas vulcânicas ativas. Com efeito aufere de uma área pouco maior que a de Portugal, mas lucra com o facto de se localizar entre a Gronelândia e a Noruega e de ser um local privilegiado para o apoio à navegação da Passagem do Nordeste, como veremos no capítulo IV.

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No documento O Ártico como espaço geopolítico (páginas 132-139)

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