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completam...eu estava muito indecisa numa coisa... entretanto...

I: Ou seja, uma situação concreta... P1: Houve uma situação concreta! I: Ok.

P1: Que não... quer dizer que não teve à partida ligação com aquele trabalho que foi feito, ou seja o trabalho não foi feito por

21. P1 explica que o exercício corporal descrito não foi realizado com base no seu sentimento de indecisão, mas acabou por influenciar diretamente a sua capacidade de auto compreensão para adotar uma atitude segura e coerente com os seus reais desejos, face a uma situação concreta.

Esta atitude implicava negar algo à uma determinada pessoa e isto estava a gerar um

72 causa dessa situação, mas era, o contexto

era esse, o contexto que eu estava a viver na altura e que, e que... havia uma grande hesitação minha para aceitar uma

coisa.Mas... mas um medo enorme de dizer que não! À essa pessoa que tinha uma influência muito, muito grande na minha vida.

I: Ok...

P1: E lembro-me que no dia a seguir a esse exercício... foi de uma clareza

completamente tranquila, é que nem se quer...“não... é não”! Foi assim muito, muito clarividente! ‘não’!

I: Entendo.

grande dilema para a participante. Depois de ter vivido aquela descarga emocional, que possibilitou o contato de P1 com a legitimidade dos seus sentimentos, ficou muito claro para si como deveria proceder face ao dilema em que se encontrava.

A participante conta então, que logo no dia seguinte ao da consulta em que o evento significativo ocorreu, conseguiu solucionar esta situação com segurança e

autoconfiança.

22.P1: E nem se q... e não foi um ‘não’...

não foi um ‘não’... foi um ‘não’ muito, muito...aaa... maduro!

I: Entendo.

P1: Pronto, é ‘não’! E foi comunicado que era ‘não’ e correu super bem.. aaa... e pronto , esse é assim o grande...

I: Ahã, quer dizer, você associa o evento a uma... a uma... mudança concreta de postura que foi muito próxima, não é? P1: Associo. Associo completamente.

22. P1 volta a referir a relação que estabelece entre o evento significativo e uma imediata e consequente mudança na sua atitude.

A participante recorda-se que depois da consulta em causa, conseguiu comunicar o ‘não’ que temia com grande convicção e ao contrário do que fantasiava, foi uma

situação serena, sem efeitos prejudiciais para si.

23.I: Você sentiu que... pelo que você está

contando, que essa sessão terapêutica, quer dizer, no dia seguinte te fez tomar uma posição que há algum tempo, não sei... P1: Me angustiava... muito! Era muito confuso para mim pensar nisso...

23. P1 esclarece o contexto da sua decisão, indicando que precisava posicionar-se face a uma pessoa influente na sua vida,

aceitando ou recusando algo. Quando refletia sobre este assunto, antes de viver aquele evento em terapia, a participante

73 I: Ahã, portanto podemos chamar...

podemos dizer que era uma situação de indecisão? Ou não é bem isso?

P1: É... quer dizer, sim havia uma

indecisão, mas havia sobretudo um medo de dizer ‘não’!

I: Ok, ok, ok.

P1: Um medo de, de... não só da reação da pessoa, mas depois o que se abria a partir desse ‘não’, não é. Porque eu estava a recusar uma coisa.

I: Entendo.

P1: Mas sim, havia uma indecisão também, claramente.

I: E um medo de dizer não que foi ultrapassado…

P1: E um medo de dizer não. Sim.

tinha ideias e sentimentos contraditórios, portanto tinha dificuldade em encontrar uma resposta que fizesse sentido para si. A participante revela que além de estar indecisa, preocupava-se com a reação da sua interlocutora no momento da sua resposta e receava que a opção pela recusa pudesse acarretar qualquer espécie de punição para si. Isto amedrontava-a

O facto é que, depois de ter experimentado em psicoterapia alívio emocional e uma sensação de contato genuíno consigo própria, ficou evidente para P1 que o seu desejo sincero implicava a resposta negativa e foi isto que fez, com autoconfiança, sem que houvesse consequências prejudiciais para si.

24.P1: Foi como se nesse, nesse... estado

em que eu fiquei, sobretudo a seguir. Para mim foi mais importante isso que eu tive a seguir do que propriamente... aliás porque não foi nada agradável, não é, em termos de... esse estado catártico que eu fiquei, na sessão.

I: Ah, sim... está a voltar ao evento.

P1: Foi duro. Foi duríssimo! Foi duríssimo! Mas o que eu senti a seguir foi mesmo uma coisa que eu... tenho até hoje dentro de mim (emociona-se ligeiramente a falar), não é, quer dizer gostava de ter sempre, de poder ir lá sempre, contactar com esse lugar, não é, não consigo. Mas sei que tive num... sei que contactei ali com qualquer coisa

24. A participante volta ao relato da sessão e fala sobre o valor e a importância que atribui aos efeitos psicofísicos do exercício corporal realizado.

P1 esclarece que as sensações que teve durante a aplicação da técnica corporal não foram prazerosas, pelo contrário, ela afirma enfaticamente que o momento em que sentiu a descarga somática foi penoso. Contudo, depois de passar por este momento de intenso desconforto, a

participante declara que atingiu um estado de plenitude que guarda na sua memória com grande emoção. Foi o contato com a sua autenticidade de modo sereno e pouco comum.

74 importante e pronto e por isso senti... não

sei... lembra-me que senti isso, com uma grande... com uma grande tranquilidade.

P1 mostra que sente um desejo enorme de estar nesta condição psicofísica

frequentemente, mas que não consegue aceder a este estado intencionalmente.

25.I: Sei... é interessante porque falou...

dessa sensação posterior ao exercício como se tivesse contactado com um lugar. É... Acha que é possível qualificar esse lugar? É possível?...

P1: Aaaaa

I: Eu já percebi que é algo, como disse, é uma experiência que é difícil... as

sensações, né, que aconteceram são difíceis de colocar em palavras, numa estrutura lógica e racional.

P1: É.

I: Mas pensando nessa metáfora desse lugar que diz...

P1: O que eu sinto é que esse lugar era o meu... quando eu digo verdade... contact... eu acho que era o meu lugar de verdade, era o meu self, uma coisa mais... era realm... contactei ali com qualquer coisa que... que era nu de, de.. artifícios!

25. A participante procura definir com maior exatidão esse estado que alcançou e que está a chamar de “lugar de verdade”. Ela reafirma que é difícil falar deste assunto de maneira lógica e racional, já que esta foi fundamentalmente uma experiência

sensível.

P1 faz um esforço para traduzir em palavras o que viveu naquele instante, indicando que entrou em contato com uma dimensão essencial e genuína do seu “eu”, que

contém informações preciosas a respeito de si própria e do seu percurso de realização. Esta experiência parece ter proporcionado a P1 uma oportunidade singular para sentir a sua potencialidade, livre de qualquer condicionamento.

26.P1: Que foi... que teve a ver... a seguir a

uma grande fragilização minha, que também é uma coisa, para mim difícil de acontecer, quer dizer, entristeço-me com alguma facilidade, mas fragilizar-me propriamente, passar por uma coisa de descontrole, isso é uma coisa mesmo difícil! E por isso... acho que foi assim um

26. P1 refere novamente que acabara de passar por uma fase da sua vida em que se sentiu muito vulnerável e com pouco controle sobre esta situação, o que fez com que o impacto desta vivência fosse ainda maior.

O contexto espaço temporal desta

75 momento de cair a máscara, de ter ali

conectado com um lugar de verdade. I: Entendo.

P1: Acho que é assim o mais próximo que eu consigo.

I: Um lugar de verdade. P1: Um lugar de verdade, sim.

potencializado os seus efeitos, pois de acordo com o discurso da participante, foi como se no espaço seguro e acolhedor da sessão terapêutica, ela tivesse vislumbrado as suas plenas capacidades

psicofisiológicas, sentindo a partir de então maior capacidade e segurança para lidar com a legitimidade das suas emoções e com os dados da sua existência.

27.I: Curioso. E... Então, só para dar uma

forma: Então disse que isso foi, estava em terapia corporal há pouco tempo... há cerca de 2 meses...

P1: Sim, há muito pouco tempo, nem sei se tanto.

I: Ok, E foi o primeiro exercício corporal. P1: Foi o primeiro exercício corporal. I: Até então, a terapia... até aí estavam no verbal.

P1: Eu precisava muito de falar. Acho que eram 2 coisas: por um lado não me queria calar porque tinha medo que o trabalho corporal entrasse.

I: Ahã, aaaa, ok.

P1: Por outro lado, porque eu tinha muita necessidade de falar... e ainda tenho. Mas... (risos) pronto, também já foi um longo caminho. Por isso, acho que também a terapeuta deu... esse espaço, não é?

27. A intervenção psicofísica que provocou estas reações em P1, ocorreu na fase inicial do seu processo terapêutico.

Ou seja, a participante havia passado recentemente por um período de grande fragilidade, tinha iniciado a psicoterapia há pouco tempo e deu-se o evento

significativo.

P1 confirma que até então não tinha tido contato com nenhuma técnica corporal em contexto terapêutico e temia esta

possibilidade por desconhecimento, bem como desconfiança em relação aos efeitos deste tipo de intervenção.

Até acontecer aquele episódio, as sessões terapêuticas de P1 estavam centradas no diálogo.

A participante conta que chegou à

psicoterapia com uma necessidade enorme de falar e ser compreendida. Além disto, permanecer na linguagem verbal, evitava de certa forma, o confronto com a

linguagem do corpo que remete diretamente às emoções.

76

P1 afirma estar consciente disto e considera que a sua terapeuta respeitou o tempo e o espaço que necessitava para falar.

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