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3.2 Disseminação da propriedade intelectual

3.2.1 Casos de disseminação da propriedade intelectual no mundo

3.2.1.2 Japão

Diferentemente da Coreia, o Japão teve um processo de industrialização e de utilização do sistema de PI bastante diferente e introduzido há bem mais tempo. Em 1858 foi abolida a política de fechamento do seu comércio com o exterior o que possibilitou que alguns acordos comerciais fossem firmados com os EUA, Holanda, Rússia, Reino Unido e França. Consequentemente, segundo Suzuki (2016), com o retorno das equipes que estavam no

exterior tratando desses acordos internacionais passou-se a discutir a introdução o sistema de PI no Japão.

Em 1871 foi introduzida a primeira lei japonesa sobre direitos de propriedade intelectual garantindo o monopólio sobre criações. Inicialmente esta lei era apenas para inventores, mas com a sua revisão em 1899, empresas começaram a ter o direito de serem titulares dessas invenções o que provocou um grande aumento nos depósitos de patentes feitos por japoneses (SUZUKI, 2016), conforme ilustrado na Figura 4:

Figura 4- Número de depositantes de patentes no Japão no período de 1897 – 1945

Fonte: SUZUKI (2016)

A partir de então uma série de treinamentos e ações foram desenvolvidas para a criação de uma cultura de PI dentro do Japão. Um trabalho de monitoramento das tendências tecnológicas no mundo e daquelas tecnologias que eram protegidas no país foi desenvolvido para propiciar embasamento na tomada de decisões sobre as políticas industriais a serem aplicadas (SUZUKI, 2016). Em 1904, foi criada pelo Japão uma Associação de Proteção da Propriedade Industrial para estabelecer uma ordem sobre os direitos e entendimentos sobre a PI e posteriormente desenvolver o sistema de propriedade industrial japonês.

Segundo Suzuki (2016), após o fim da II Guerra Mundial, em 1945, a economia japonesa ficou desmoronada e a falta de recursos financeiros provocou uma lacuna nos investimentos em P&D. Em 1959, o Japão fez uma radical revisão nas leis de PI com o intuito de proteger as invenções japonesas e promover sua utilização para contribuir com o

desenvolvimento da sua indústria. A partir desse momento o Japão passou a obter licenças de patentes de tecnologias estrangeiras e teve que desenvolver o seu próprio know how para aplicar tais invenções (SUZUKI, 2016). Para Freeman (1995), esta estratégia adotada pelo Japão de aprimorar a tecnologia importada foi o que levou o Japão a possuir uma grande economia mundial.

Na década de 70, o país já se tornava uma potência industrial e para isso, ações estratégicas foram fundamentais para o seu sucesso (CHANG, 2002). Houve uma combinação de políticas industriais e fiscais, que possibilitou atingir os objetivos através de uma política de ciência e tecnologia bem estruturada, com investimento em capital humano, coordenação e cooperação entre os setores governamentais e industriais com ênfase nos setores estratégicos para o desenvolvimento do país.

Com o uso de tecnologias estrangeiras, o Japão conseguiu desenvolver produtos manufaturados inovadores para competir com o mercado internacional restabelecendo sua economia no pós-guerra. Diante disto, observa-se na Figura 5 que a partir de 1970 o Japão se utiliza dos seus produtos tecnológicos exportados para alavancar sua balança comercial:

Figura 5- Estatística de Balança de Pagamentos do Japão

Portanto, desde o séc. XIX, o Japão vem utilizando a PI como forma intrínseca ao desenvolvimento tecnológico devendo ser utilizado por todos que fazem parte do sistema japonês de inovação.

Política Nacional de Propriedade Intelectual do Japão

Mais recentemente, em julho de 2002, de acordo com o Escritório de Patentes Japonês (JPO), foi definida a Política Nacional de Propriedade Intelectual chamada “Ciclo de Criação Intelectual” que tinha como objetivo transformar o Japão e torná-lo referência como a nação baseada em PI, de acordo com a Figura 6:

Figura 6 - Ciclo de Criação Intelectual

Fonte: Adaptado OGIYA (2016)

Este projeto foi importante para nortear como o Japão deveria continuar a usar a propriedade intelectual em seu benefício, principalmente dentro das empresas. A partir de então a estratégia nacional de PI provocou o sistema de inovação japonês integrando a indústria, academia e governo a atuarem em conjunto sobre o tema (OGIYA, 2016).

Para tanto, definiu-se as cinco áreas de recursos humanos que iriam ser os alvos da disseminação do conhecimento em PI (JPO, 2016):

2- Criação de recursos humanos em gestão de PI – pesquisadores de empresas e universidades e executivos de negócios e gestores em estratégia de PI;

3- Público geral – adultos e estudantes;

4- Pesquisadores em PI e funcionários do governo – professores de universidades; 5- Multiplicadores de PI e educadores – professores de escolas de ensino básico e médio e multiplicadores de PI.

O JPO ficou responsável em conectar os diversos atores do SNI japonês a fim de promover e incentivar o conhecimento em PI através da estratégia nacional de PI (OGIYA, 2016). Anualmente, segundo o JPO, o governo japonês define a estratégia que será seguida no ano posterior juntamente com todos os envolvidos: Setor Privado (empresas, indústria, associações, universidades etc.) e o Governo (Gabinete Oficial, Ministério da Justiça, da Economia, da Indústria e Serviços, da Agricultura, da Educação e da CT&I). Enfim, todos participam e alinham as estratégias que serão seguidas por todos.

Segundo o JPO (2016), o resultado desta política nacional de PI foi mais de 50.000 gestores de empresas treinados e a formação de mais de 10.000 advogados especialistas em PI. Outro resultado foram as inúmeras atividades para estudantes, como o Clube da Invenção para Meninos e Meninas com mais de 9.000 membros e 2.000 professores discutindo inovação, empreendedorismo e PI; Feiras de ciências e tecnologia para alunos do ensino médio; Publicação das invenções em revistas; Premiações Nacional e Regional de Melhor Invenção; Campanha contra pirataria; Seminários de PI; Dia do Jovem Inventor; Premiações; e Desenvolvimento de material didático próprio para jovens.

O Instituto de Tecnologia de Osaka no Japão, por exemplo, possui dentre os cursos de Engenharia, Robótica e Design, Informação em Ciência e Tecnologia a formação de alunos em Propriedade Intelectual. É um mestrado profissional em PI com alunos das mais diversas áreas que debatem desde questões legais ao uso estratégico da PI dentro dos negócios.

A disseminação da cultura de PI e do empreendedorismo na base do ensino escolar também é uma estratégia adotada em alguns países. No Japão, por exemplo, os jovens das escolas públicas do ensino médio possuem disciplina regular de propriedade intelectual em seus currículos com material didático altamente qualificado e com linguagem direcionada sobre os conceitos básicos da PI (AMORIM et al, 2007).

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