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JOAQUIM E AS ILUSTRAÇÕES

No documento A todos os Joaquins do Brasil (páginas 108-112)

4. A MODERNIDADE VISTA A PARTIR DAS PÁGINAS DA REVISTA

4.4 JOAQUIM E AS ILUSTRAÇÕES

É interessante como a revista Joaquim dá destaque às ilustrações. Nas capas, pode-se observar que elas ocupam a página inteira, dividindo espaço apenas com o nome da revista, ora Joaquim com maiúscula, ora com minúscula, isto é, a cada número havia alguma modificação ou novidade em ralação ao seu desenho. E esse “mimo” ao leitor foi de responsabilidade dos ilustradores da revista.

Este destaque dado às ilustrações da revista não passa despercebido pela crítica, Q. Campofiorito, crítico de arte, publica no periódico o texto Os ilustradores de Joaquim203 e parabeniza por se dedicarem em todos os números as ilustrações que não servem apenas de adereço aos textos e as capas, mas trazem a sensibilidade do artista. Segundo o crítico, é interessante o processo explorado pela revista, devido ao uso de “clichês gravados diretamente sôbre o zinco”. Embora pondere que o processo não seja novo, afirma que os ilustradores dão à

203

CAMPOFIORITO, Q. Os Ilustradores de Joaquim. In: Joaquim, ano II, n.10, p. 10, maio de 1947.

revista “aspecto gráfico realmente artístico, à semelhança das publicações que oferecem aos seus leitores estampagens originais de clichês diretamente executados pelo artista”204

. Assim, o periódico não poderia ser reconhecido por uma capa única que representava as marcas do grupo, faziam com que a cada número se tivesse uma joia, devido ao processo pelo qual o artista submetia a confecção das ilustrações, tornando o trabalho único para a revista e para o leitor.

Figura 8 - Joaquim nº16 e nº15.

Fonte: Revista Joaquim. Figura 9 - Joaquim nº17 e nº13.

Fonte: Revista Joaquim.

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CAMPOFIORITO. Q. Os Ilustradores de Joaquim. In: Joaquim, ano II, n.10, p. 10, maio de 1947.

A gravura foi muito utilizada pelos ilustradores da revista paranaense, cujos expoentes eram Poty e Guido Viaro. Este tinha como temáticas em suas gravuras o que Campofiorito chamou de “comunhão do destino do homem simples, do homem que sofre, do homem para quem a vida é uma luta, do homem comum”205

. Fato curioso a ser observado, pois em vez de trabalhar temáticas paranistas, o pintor e gravurista estava preocupado em trabalhar a temática do homem comum, um joaquim do Brasil. Também havia nomes como o de Renina Katz206, que Poty conheceu quando foi morar no Rio de Janeiro. Possivelmente, quando voltou para Curitiba, Poty intermediou o contato entre Kartz e Trevisan. Dessa forma, a pintora começa a participar ativamente na montagem dos números da revista, a partir da edição número 12, tendo também a função de redatora. A desenhista tem algumas publicações como a ilustração ao conto My Darling Katherine, na edição do número 14, que pode ser associado às composições mais variadas nas capas, tanto por cores como por estilos.

Percebe-se que a revista dava ênfase às artes plásticas, com publicações de críticos renomados de arte como Sérgio Milliet, Mario Pedrosa, Q. Campofiorito e Guido Viaro. Eles tiveram um olhar diferenciado e crítico sobre a arte, dedicando-se aos estudos e discussões constantes e que representavam o pensamento sobre as artes do grupo de intelectuais que participavam da revista.

Já em relação à crítica de arte, os redatores da revista dão sempre um espaço especial. Na primeira edição do periódico, há uma “amostra” ao leitor do que viria a ser constante nas suas páginas: mostrar ao leitor como a critica local valorizava um circulo de amizades e gostos, e não a obra em si.

Na página 05 da primeira edição da revista, há a reprodução de um texto João Chorosnicki, crítico do Jornal o Diário da tarde, de Curitiba, que anuncia a exposição do pintor italiano Silvio Nigri207 e em

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CAMPOFIORITO. Q. Os Ilustradores de Joaquim. In: Joaquim, ano II, n.10, p. 10, maio de 1947.

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Renina Katz nasceu no Rio de Janeiro em 1925, cursou a Escola Nacional de Belas Artes e Q. Campofiorito é um de seus professores, após licencia-se em desenho pela Universidade do Brasil e faz o curso de gravura em zinco. Tornou- se uma artista de renome. Durante muito tempo lecionou na Universidade de São Paulo.

207

Silvio Nigri foi um pintor italiano que nasceu em Florença, na Itália. Frequentou a Academia de Belas Artes e foi aluno dos pintores Chini e Arcangeli.

sua tentativa de convencer o público a comparecer na exposição do autor, escreve:

Nigri é um ótimo desenhista, e tem uma coleção de obras creadas por um grande talento, que de um modo original reproduz o trabalho do criador. [...] Suas águas (oh!), neves (oh!), conjunto de barcos a vela (oh!), encantam sobremaneira. Quasi tôdas as telas de Silvio Nigri agradam-me. Espero que isso não dê motivo a uma alegria excessiva por parte do famoso artista (sic). [...] A quem contempla as obras de Nigri é dado gozar uma espécie de prazer platônico, que exclue qualquer pose.208

O artigo do jornal Diário da tarde sofreu intervenções por parte da direção, assim, todos os sublinhados e exclamações foram colocados com o intuito de ridicularizar o “crítico” de arte que se baseia em afirmações vagas e sem respaldo técnico para a apreciação da obra do pintor italiano. Tendo como referências críticos consagrados no meio artístico, como interlocutores da revista, os diretores não poderiam ter respaldo maior para apresentar críticas, como a de Campofiorito às exposições e apreciações locais.

O que inicialmente chama a atenção na crítica de Chorosnicki são as afirmações sobre a obra de Nigri “que de um modo original reproduz o trabalho do criador” 209

, descreve como aquele que não representa a arte moderna, pois a visão desse artista é mostrar o quanto havia uma crítica que não era séria e comprometida com o público leitor, elegendo aspectos superficiais e subjetivos na análise das obras. Há uma tensão entre o pensamento dos intelectuais que defendiam uma crítica de arte pautada na obra e os intelectuais locais numa crítica subjetiva e sem critérios de avaliação.

Ao lado do texto de Chorosnicki, a revista publica o texto de Q. Campofiorito; ao descrever a mesma exposição, o crítico afirma que o pintor italiano faz uma sub-arte que agride não só aqueles que vão às exposições para admirar, mas também a academia. Segundo o crítico, a arte de Nigri “na sedução da ignorância, e na informação de um aspecto

208

CHOROSNICKI, João. Exposição de Nigri. In: Joaquim. Ano I, n. 01, p. 05, abril de 1946.

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CHOROSNICKI, João. Exposição de Nigri. In: Joaquim. Ano I, n. 01, p. 05, abril de 1946.

artístico inteiramente falso, a par de uma compostura profissional assás leviana. A crítica, realmente honesta, deve denunciar o baixo comércio de arte”. 210

O que o crítico Campofiorito quer denunciar é uma arte baseada em impressões subjetivas que não levam em conta os fatores estéticos da obra, mas sim as impressões do resenhista ou crítico de arte. No entanto, as duas críticas não deixam de serem interpretações de juízo sobre o pintor, embora o destaque negativo dado pelo crítico de arte demonstra alguns dos valores defendidos pelos integrantes da revista Joaquim.

No documento A todos os Joaquins do Brasil (páginas 108-112)