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3. Revisão de literatura

3.3 A Problemática dos Ativos Intangíveis nas Sociedades Anónimas Desportivas

3.3.3 Jogadores Formados Internamente

O cálculo do valor de jogadores formados internamente por um clube que sejam alvo de uma transferência, de acordo com a Fédération Internationale de Football Association (FIFA), deve ser efetuado através de um regulamento próprio, elaborado pela FIFA.

Em Portugal, a 19 de maio de 2005, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) emitiu o comunicado oficial nº 393 no qual se encontra regulamentado aquele tipo de transferências. Neste comunicado, de acordo com o anexo 4, no seu artigo 1º é referido que “A formação e educação de um jogador ocorrem entre os 12 e os 23 anos de idade. Esta compensação deve ser paga ao clube formador até o atleta atingir os 23 anos. Considera-se para efeitos de cálculo do valor da formação, o período que decorre dos 12 anos até aos 21, salvo quando seja evidente que determinado jogador terminou este processo antes daquela idade.”

Por sua vez, o artigo 2º enuncia que “quando existe lugar à compensação por formação de um atleta. Esta deve acontecer quando o atleta é inscrito pela primeira vez como jogador profissional, ou quando um jogador mesmo já profissional é transferido entre clubes de duas federações diferentes. Esta verba deve ser paga antes do final da época em que o atleta atinja os 23 anos12.”

Segundo o artigo 5º do mesmo comunicado, o valor a pagar pelo clube que adquire o atleta formado deve ser calculado conforme o n.º 1, isto é, “calcular a compensação por formação devida a um clube ou vários clubes anteriores, é necessário considerar os custos que teriam sido incorridos pelo novo clube se tivesse formado o jogador.” Por sua vez, o n.º 2 deste artigo refere ainda que: “a primeira vez que um jogador se inscreve como profissional, a compensação por formação é calculada considerando os custos de formação do novo clube

multiplicados pelo número de anos de formação, em princípio desde a época do 12º aniversário do jogador até à época do seu 21º aniversário. No caso das transferências seguintes, a compensação por formação é calculada com base nos custos de formação do novo clube multiplicados pelo número de anos de formação no clube anterior.”

Com o objetivo de garantir que o valor da compensação estabelecido não é exageradamente elevado, o n.º 3 deste mesmo artigo prevê que: “os custos de formação para jogadores para as épocas entre os seus 12º e 15º aniversário (isto é, quatro épocas) são baseados nos custos de formação e educação para clubes de categoria 4.” No caso do mercado português, a entidade que estipula os custos de formação é a Union of European Football

Associations (UEFA), dividindo os clubes inscritos nas competições organizadas pela LPFP

e pela FPF em 4 categorias, sendo a 4 categoria a mais baixa.

Em certos casos, e na eventualidade de os clubes não chegarem a acordo no valor de compensação pelo facto do clube que pretende adquirir o passe do jogador considerar o valor muito elevado, este deve recorrer à Câmara de Litígios, a qual detém o poder de alterar o valor, caso o considere desproporcionado, conforme previsto no Anexo 4, artigo 5 n.º 4, do mesmo regulamento.

Ainda no mesmo comunicado, a FPF prevê também que, se um clube ou jogador não respeitar a compensação por formação a ser paga ao clube de formação, a resolução do conflito fica sobre a alçada da comissão disciplinar da FIFA, a qual pode aplicar castigos, tanto ao clube infrator, como ao jogador.

Após a análise do comunicado da FPF sobre jogadores formados internamente por um clube, segue-se um breve enquadramento contabilístico no âmbito do normativo em vigor. Seguindo as condições gerais que permitem o reconhecimento de um ativo como intangível, é necessário analisar se se verificam os requisitos da IAS 38, ou seja, se os passes dos jogadores são identificáveis, são controlados por uma sociedade desportiva, e podem ser suscetíveis de gerar benefícios económicos futuros, por exemplo através de uma transferência para outra sociedade desportiva, onde a de origem tem direito a receber a devida compensação, conforme estipulado pelo comunicado oficial da FPF e normas da FIFA.

Do ponto de vista contabilístico, considera-se na fase de pesquisa os jogadores até aos 12 anos de idade (escalões de escolinhas e infantis) pois, conforme o comunicado da FPF, só a partir desta idade é que se considera que um jogador se encontra em formação, até então trata-se de uma “prospeção de atletas”. De acordo com a NCRF 6 e a IAS 38, estes custos devem ser reconhecidos como gastos do exercício. Além disso, e dando cumprimento à Lei nº 28/98, art.º 31, a assinatura de um contrato de formação é válida apenas para jogadores entre os 14 e os 18 anos. Neste sentido, os clubes devem também contabilizar como gastos do exercício os atletas até aos 14 anos. Só após os 14 anos, e não aos 12, como está previsto no comunicado da FPF, e para dar cumprimento à Lei nº 28/98, deve-se considerar que estes jogadores estão numa fase de desenvolvimento, como ativos intangíveis, mas para tal os jogadores têm de assinar um contrato de formação desportiva com o respetivo clube.

A assinatura deste contrato de formação por parte do jogador evidência de forma inequívoca a questão do controlo, preenchendo assim os requisitos para o seu reconhecimento como ativo intangível, pois o passe do jogador é identificável, é controlado pela entidade e tem capacidade de gerar benefícios económicos futuros, através da sua transferência para outro clube, mediante o pagamento de contrapartidas financeiras.

Esta identificação da fase de pesquisa e da fase de desenvolvimento de um jogador formado internamente está em conformidade com o trabalho efetuado por Cruz (2007). Por sua vez, Roberto (2003, p.39) afirma que “é através do contrato de formação desportiva que um jogador passa da fase de pesquisa para a fase de desenvolvimento”.

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