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3.5 “Jogo de fora”

No “jogo de fora”, acontece a ação mais diretiva por parte da direção e de outros participantes do grupo, nesse momento o trabalho é lapidado e finalizado.

Inicio: a entrada do público acontece ao som da musica Labará, um canto em ioruba retirado do álbum CANDOMBLÉSS de Carlinhos Brown, pois buscamos algo que nos remetesse a figura de Exu como é tratado no candomblé, onde é um orixá a quem é atribuído muita importância pelo fato de ser ele o mensageiro entre os deuses e os humanos. Visto que essa figura é deturpada na umbanda, dando origem a noção de “exu”.

Incelênça: desde o inicio do trabalho, intuitivamente, apontou-se o desejo de inserir na cena algo da intérprete Clementina de Jesus, por vermos nela a imagem simbólica encontrada nas mães-de-santo. Assim incluímos a musica Incelência.

Uma Incelênça que pra ele Uma Incelênça que pra ele Mãe de Deus, mães de Deus Oh mãe de Deus, rogai a Deus por ele.11

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A incelência é um tipo de canção, de caráter religioso, cantada em velório e enterros, na cena ela aparece relacionada com a morte de Zé Pelintra e é cantada em forma de prece.

Samba: a relação entre o malandro e o samba e tratada no ponto cantado, que evoluiu coreograficamente em passos de dança próprias do universo do samba e foi nesse momento que a presença de música ao vivo se tornou fundamental. Recurso que passa a ser utilizado em toda a cena.

Altar: objeto central dentro do culto da umbanda, o altar é trazido para a cena na forma de cenário, que é incluído de forma interativa. Para chegar ao altar, incluímos a música que é cantada na despedida da entidade Zé Pelintra.

Seu Zé Pelintra, onde é que o senhor mora? Seu Zé Pelintra onde é sua morada?

Eu não posso lhe dizer.

Porque suncê não vai me compreender. Eu nasci no jurema.

Minha morada é bem pertinho de Oxalá.12

História: uma das historias contadas na pesquisa de campo por Zé Pelintra, foi adaptada e inserida na parte final da cena, momento em que o ator interage com outros elementos que fazem parte no universo da entidade Zé Pelintra tais como, a cachaça, o terno branco, o sapato branco, o gravata encarnada, o cachimbo e por fim o chapéu.

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4. Considerações Finais

Essas que são as linhas finais do meu trabalho, onde devo eu expressar toda a minha felicidade e satisfação em realizar esse projeto e discorrer como ele se tornou importante em minha vida. Assim seria não fosse pela minha dificuldade em se quer começar esse parágrafo.

Em um dos meus ensaios com a Renata para a elaboração da cena, trabalhamos com a idéia de construção de dramaturgia por meio das referências até então coletado na tenda de umbanda pesquisada. Lembro-me quando em uma das improvisações surgiu um texto onde eu dizia – “Eu não conhecia Seu Zé. Vim conhecer ele aqui”. E foi realmente desse modo, estudando- o em meu corpo, que hoje me sinto um pouco mais próximo dessa figura que antes desse projeto eu apenas conhecia de nome e de fama. Porém descubro que dele pouco sei, e que talvez nunca venha a saber, pois Zé Pelintra é mistério, por onde pairam muitas ambigüidades sua vida e de morte.

Posso dizer que por meio desse estudo minha relação com a religião se acentuou ainda mais. Meus psicólogos são agora os pretos velhos, os caboclos são meus guias, as crianças minha luz e exu, é quem vigia. Seu Zé também está lá, o seu altar eu vou montar. Não tenho medo, é respeito por alguém que eu um pouco entendo.

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A escolha desse foco de estudo parte inicialmente de uma identificação com a cultura afro-brasileira em suas diversas formas de expressão e também por influência da minha opção religiosa. Por essa razão o meu envolvimento no campo aconteceu com muita entrega e paixão, o que em certos momentos geraram confusão sobre os limites da fé e da pesquisa artística, e não é descartada a possibilidade de que esse conflito venha à tona na cena, podendo até ser essa pulsão entre o umbandista e ator o cerne do trabalho.

O trabalho não se conclui aqui, resta a dúvida de como “O Dono do Corpo” será absorvido e assimilado pelo público, tanto para os envolvidos com a umbanda, como para as pessoas com pouco ou nenhuma aproximação com a religião. Haja vista que a falta de informação sobre esse universo é a principal razão para generalizações e juízos depreciativos.

Por essa razão visualizamos a importância de estudos acadêmicos e artísticos que valorizem a cultura afro-brasileira no sentido de trazer para a cena artística contemporânea referências estéticas que sensibilizem o publico para o respeito à diversidade cultural.

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Referências

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