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3. A logística Multinacional da NATO

3.3. A logística da NATO no Teatro de Operações do Kosovo

3.3.1. O Joint Logistics Support Group

O conceito do Joint Logistics Support Group (JLSG) teve início em janeiro de 2004, através de uma publicação doutrinária da NATO, em que considerava a logística como uma responsabilidade coletiva. No ano seguinte, o JLSG surge como uma unidade de nível de TO para garantir o RSOM e as operações de uma NRF. A NATO em 2006 realizou em Cabo Verde o exercício Steadfast Jaguar, com a finalidade de certificar a capacidade da NRF e consequentemente do JLSG. O exercício demonstrou que apesar da implementação de uma estrutura de coordenação ao nível TO, continuaram a ser identificados algumas limitações que se pretendiam colmatar.

A estrutura deveria proporcionar um aumento de eficiência e eficácia do apoio logístico. Contudo, verificou-se que cerca de 40% dos meios projetados foram considerados excessivos, tendo também sido evidenciado algumas lacunas ao nível do comando e controlo. De acordo com Gary Harell, comandante do DJTF da NRF durante o exercício, citado por Daly, «…o JLSG teve um bom desempenho, mas a falta de controlo sobre os NSE teve como consequência o aumento em cerca de 50% da “pegada logística”» (Daly, 2008: 12).

O comandante de um TO deveria deter controlo tático sobre as unidades colocadas à sua disposição e controlo logístico sobre os NSE, através do JLSG, para ser capaz de cumprir os princípios de unidade de esforço e comando. Este grau de comando deveria ficar decidido na transferência de autoridade. O comandante do JLSG deveria ter responsabilidade de comando e controlo sobre as atividades logísticas iniciadas na unidade. Para cumprir as responsabilidades estipuladas na doutrina, o JLSG tinha um conjunto de células relacionadas com as suas áreas de atividade.

A evolução do JLSG continuou até 2008, altura em que foram estabelecidas quatro unidades deste tipo na estrutura de comando da NATO. A responsabilidade continuava a ser de garantir a logística multinacional num TO. Em Novembro de 2009, Nápoles atribuiu

71 a Madrid a responsabilidade33 do estabelecimento de um JLSG no Kosovo que é implementado e testado a partir desse ano (Pires, 2013). O quartel-general do JLSG ficou localizado em Pristina, no aquartelamento de Film City, tendo as unidades dispersas pelo TO (Fonseca, 2013).

O JLSG deveria executar um conjunto de funções com um efetivo do comando e estado-maior composto por 95 militares. Contudo, foram efetuadas algumas alterações ao conceito inicial. O seu emprego operacional, não foi para apoio de uma NRF conforme idealizado, mas foi no TO do Kosovo, numa operação que naquela altura pode ser caraterizada como estabilizada relativamente à segurança do ambiente operacional. Relativamente ao efetivo do comando e estado-maior, foi inferior ao previsto, sendo de 31 militares, pouco mais do preconizado para o núcleo permanente que era de 25 militares (idem, 2013).

O JLSG para cumprimento das suas missões tinha à sua disposição um conjunto de unidades. Na prática os artigos e serviços que ficaram sob controlo do JLSG foram os víveres e água engarrafada, combustíveis, RSOM, apoio médico que engloba os roles 2 e 3, controlo de movimentos terrestres (rodoviários e ferroviários) e aéreos, apoio em meios de transportes, de engenharia, apoio à contratação e apoio da nação hospedeira (Figura 20).

Figura 20 – Estrutura do Joint Logistics Support Group no TO Kosovo

Fonte: Fonseca, 2013

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O comando conjunto de Brunssum tem sob as suas ordens três comandos de componentes específicas: aéreo situado em Ramstein - Alemanha, marítimo em Northwood - Reino Unido e terrestre em Heidelberg - Alemanha. O comando conjunto em Nápoles tem igualmente três comandos sob as suas ordens: uma componente aérea em Izmir, Turquia, uma marítima em Nápoles e uma terrestre em Madrid, Espanha.

72 Relativamente ao apoio de transportes dispunha de uma companhia multinacional, formada por dois pelotões de transporte, sendo um austríaco e outro suíço, num total de 51 militares. Esta unidade garantia o transporte de pessoal de âmbito geral, tanto para atividades de treino como para o apoio para a realização de determinados eventos como conferências, por exemplo. Para além destas responsabilidades, possibilitava ainda a distribuição de combustível, o apoio no transporte durante a projeção e receção de pessoal e apoio ao movimento de outras unidades quando fosse necessário.

A companhia de transporte ficou localizada em Camp Rigas Fereos, as infraestruturas sanitárias que providenciavam o role 2 e 3, lideradas pela Alemanha e EUA respetivamente, implantadas em Prizren e Urosevac no Camp Bondsteel (Pires, 2013). Para a distribuição de combustível foram estabelecidos acordos com empresas, através da NATO

Support Agency (NSPA). A NAMSA34 garantiu a prestação de serviço relativamente ao combustível a partir de 2010, que até aí tinha sido distribuído pela França que se assumiu como RSN.

As atividades de RSOM foram efetuadas através da Zona de Comunicações-Sul localizada em Salónica na Grécia. Esta estrutura fazia a gestão dos 3 itinerários principais de reabastecimento desde Salónica, de 3 SPOD e dois APOD, além dos movimentos ferroviários. Até janeiro de 2013, através desta área de responsabilidade, foram efetuados movimentos de cerca de 1.239 navios, 2.340 aeronaves, 2712 comboios e garantido o apoio a mais de 136.000 militares.

Relativamente aos meios de engenharia, o JLSG dispunha de dois pelotões, um da República Checa e outro da Ucrânia, num efetivo de 32 e 28 militares, respetivamente. Estas unidades garantiam a capacidade de construção de infraestruturas, de Road

Clearance, de reparação e manutenção de itinerários, de movimento de terras e de

escavação. A capacidade Explosive Ordnance Disposal (EOD) foi conferida por elementos da Áustria, da República Checa e da Ucrânia. Estes elementos executavam tarefas no âmbito da Counter – Improvised Explosive Device (C-IED), do treino relativo a

Unexploded Ordnance (UXO) e garantiam segurança durante eventos especiais.

Em termos de armazenamento, a regra consistia em sete dias de abastecimentos (DA) imediatamente disponíveis nas forças, e os restantes 23 DA armazenados para distribuição, de modo centralizado, ao nível do JLSG. As nações tinham inteira autonomia para assegurar o apoio logístico que entendiam às respetivas forças.

34 A NSPA integrou a NATO Maintenance and Supply Agency (NAMSA), a Central Europe Pipeline Management Agency (CEMPA) e a NATO Airlift Management Agency (NAMA).

73 Só aderiam à logística multinacional se esta fosse funcionalmente atrativa ou economicamente menos dispendiosa. Neste contexto, o objetivo de cada nação contribuinte, não seria evitar a dependência das prioridades atribuídas pelo JFC, através do Comandante do JLSG, mas prestar o apoio logístico às suas forças sob a melhor perspetiva do custo e eficácia.

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