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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 JORNADAS DE JUNHO: a busca por uma interpretação a luz de analogias

Segundo Amaral (2013) as revoltas sociais não encontram nas ciências sociais um instrumento que possibilitasse a sua previsão. Há assim uma dificuldade de se compreender o presente – o contemporâneo que se inventa enquanto discurso possível. Segundo Amaral (2013) em comum a alguns fatos precedentes às manifestações de junho de 2013 era o fato de que não puderam ser previstas. Assim também o colapso da União Soviética. Posto que a queda do muro de Berlim não pode ser prevista. Segundo este raciocínio os atentados de 11 de setembro nos EUA também não puderam ser previstos. Há a defesa de uma tese analógica – nela, o autor associa estes acontecimentos anteriores que também não puderam ser previstos aos acontecimentos que contextualizam as jornadas de junho de 2013 no Brasil. Qual o contexto global destas manifestações?

Tudo isso pode ser aplicado tanto ao Occupy Wall Street, quanto à ‘Primavera Árabe’ que termina, também imprevistamente (pelo menos os ‘especialistas’ em mundo árabe não nos avisaram), em uma ditadura militar sanguinária, que se oferece como alternativa à intolerância religiosa, mero pretexto para encobrir a escalada belicista imperialista, com o conveniente suporte de Israel e dos “democratas” saudistas, que está se assanhando para colocar em chamas o Oriente Médio. A propósito, com a mesma rede das mobilizações anteriores, a praça Tahrir permanece vazia, inane diante dos militares golpistas. Tudo isso pode ser igualmente aplicado à ‘virada’ da Catalunha (1977). (AMARAL, 2013, p. 8-9).

Para Moreira (2013) as jornadas de junho de 2013 constituíram uma forma de acontecimento político – que teve no Brasil como precedentes fatos políticos também distintos tanto em 1985 – no movimento das Diretas já – quanto em 1992 no Fora Collor. Segundo Moreira (2013) nas manifestações de rua deflagradas em junho de 2013 a mídia tradicional tentou se apropriar das bandeiras de luta dos manifestantes. Conforme Moreira

(2013) o que vimos em junho de 2013 no Brasil foi a crise de nosso sistema representativo. Com as manifestações de junho de 2013 observamos descortinar-se um novo cenário político a partir do qual a mobilização das pessoas se fez de modo muito distinto de até então.

Segundo Nogueira (2013) alguns precedentes das jornadas de junho de 2013 ocorridos no Brasil foram: Passeata dos Cem Mil de junho de 1968 contra a ditadura militar no Brasil, as Diretas Já de 1983, nela a reivindicação do povo pelas eleições diretas e pleno exercício democrático, além do movimento dos Caras Pintadas que, em 1992 punha-se a favor do

impeachment do então presidente Collor de Melo.

Para Amaral (2013) as manifestações sociais que as jornadas de junho de 2013 deflagram se tipificam como uma irrupção social. No Brasil como precedentes das jornadas de junho de 2013 temos alguns exemplos históricos que trazem luzes à questão:

[...] Em 24 de agosto de 1954, as massas que na véspera pediam a renúncia do Presidente Vargas foram às ruas pranteá-lo e agredir seus algozes. Pouco mais de dois anos após a consagração das ruas, Collor de Mello vê as mesmas massas exigirem seu impeachment. (AMARAL, 2013, p. 9).

A razão da dificuldade de se compreender um fato atual – no devir inerente à sua construção traz consigo o conceito de realidade como um problema:

Como, não sabemos, mas a política muda [...] porque a sociedade muda, porque o pensamento muda. E as mudanças, se se operam lentamente no organismo social, elas irrompem sem aviso-prévio. São as chamadas ‘mudanças bruscas’, ou curtos- circuitos, derivados do trabalho silencioso do caruncho social, devorando ou costurando as entranhas do organismo político, sem dar sinais de seu trabalho. Um dia, sem se saber o porquê, a fortaleza desaba. (AMARAL, 2013, p. 9).

Outro precedente das jornadas de junho de 2013 no Brasil: maio de 1968:

O maio de 1968, sem a internet, uma revolta estudantil que se estenderia a todo o mundo, inclusive ao convulsionado Brasil da ditadura e da “passeata dos 100 mil’ e ao aparentemente imóvel EUA, irrompe em Nanterre e convulsiona Paris, quando se supunha que a França estava sendo governada por um tal grau de racionalidade que eliminava riscos. (AMARAL, 2013, p. 9).

Para Amaral (2013) o projeto de uma reforma política se encontra adormecido desde 1985 no Congresso Nacional em Brasília. Neste contexto “[...] Planalto, partidos, ‘cientistas sociais mediáticos’, OAB e CNBB, sindicatos... todos hoje concordam que o sistema eleitoral precisa ser passado a limpo. [...]”37. Estaria a reforma política circunscrita apenas a reforma de nosso sistema eleitoral? Entendemos que este debate é bem mais amplo e diz respeito a construção do significado da nova participação social nas decisões políticas. Deste contexto

37

no qual se observa um certo consenso quanto a existência do problema, não há na mesma direção consenso quanto a solução “[...] pois qualquer reforma porá em risco a renovação dos mandatos dos atuais legisladores e deles quase tudo se pode pedir, menos fazer haraquiri. [...]”38.

Não precisamos mitificar os agentes sociais que foram às ruas. O desafio que se põe é o de se ampliar o debate – transformando-o em diálogo necessário à construção de uma democracia mais participativa. É preciso repensarmos, na escola, o nosso déficit de democracia participativa. Pois em nosso horizonte político presente o que observamos é que “Há um déficit de democracia participativa que precisa ser resolvido. Só votar e esperar quatro anos não adianta mais. Uma reforma política que se concentre em ferramentas de participação popular pode ser a saída.”39. Portanto, a retomada dessas discussões nas aulas de geografia no ensino médio se fazem necessárias e pertinentes. Os discentes precisam construir a crítica necessária às jornadas de junho de 2013 e esta não se faz se a distinção da paz que não queremos – como diz o vocalista do conjunto O Rappa: “paz sem voz, não é paz, é medo”.

2.4. JORNADAS DE JUNHO: entre os pacíficos e os pacificados: função e discursos da