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49 de que todos estão unidos ao redor do mundo pela web, defendida por Castells e seus seguidores, não parece “fornecer um imaginário que capture a essência de formas colaborativas contemporâneas de ação coletiva.” (GERBAUDO, 2012: 26)

Por isso, Gerbaudo se vale da expressão networks without centres (redes sem centros) em clara crítica à Castells, já que este utiliza como justificativa o fato de os movimentos sociais em rede não terem a obrigação de lideranças e comandos por autoridades verticais. À exemplo desse confronto entre os dois autores, trata-se, ao fim e ao cabo, de uma questão empírica, a ser analisada a partir de “diversos padrões e repertórios de ação coletiva, identidades e militâncias múltiplas”(BRINGEL, 2013: 50)

Por último, na análise de Gerbaudo, a sociologia informacional de Castells quase não percebe a presença do ator, ou seja, não se tem a formação de um sujeito político. Dentre a dicotomia entre uma análise empiricista e outra normativa, a linha de Gerbaudo apresenta um viés mais analítico, em que não só o ativismo on-line é considerado um repertório de ação, como a insurgência do movimento é analisada desde o começo de sua mobilização até a sua repercussão em um local da esfera off-line.

50 aumentado o escopo das possíveis políticas que podem favorecer o fortalecimento de novíssimos movimentos sociais com caráter emancipatório.34

Não foram sindicatos ou os partidos que convocaram as manifestações; foram os cidadãos plugados em redes sociais. Aliás, desde o início se fez crítica radical a todas as instituições do establishment – parlamento, partidos, sindicatos, empresas, igrejas e monarquia (GOHN, 2013: 34). Segundo a autora, todos que têm acesso às mesmas informações, particularmente os jovens35, estão conectados em um único mundo, o virtual, onde também podem ficar lado a lado, curtir as mesmas páginas, compartilhar os mesmos vídeos, fotos, artigos, posts, sem contar a replicação em perfis, blogs e sítios.

Mais do que tratar as manifestações como formas de ativismos “prontas” e

“chapadas”, da forma de como se apresentam em uma teoria aqui e outra acolá, elas devem ser, a priori, tomadas como um processo em construção em que as perspectivas políticas deixam de se identificarem com lógica do Estado e são obrigadas a se abrirem para uma sociabilidade dinâmica e multifacetada, revendo seus sentidos, seus sujeitos e seus marcos institucionais. Dada a sua “natureza” indeterminada, as Jornadas de Junho transbordam para além das condições históricas que a alimentam, a saber, os novos possíveis cenários que são criados “escapam ao radar dos analistas que apenas vêem o jogo esperado de grande política com seus atores e estratégias já definidas”. (PARRA, 2013: 142) 36

É justamente pelos laços frágeis é que se dá a lógica dessas novas formas de ativismo.

Por isso, não se trata de “rotular” estas manifestações como “ativismo de preguiçosos”37, uma vez que, por não terem ativistas com causas específicas, distribuição temática ou, mesmo, uma lista de lideranças programadas, elas representam, dessa forma, movimentos de indignação em que não há uma necessidade obrigatória de terem uma noção de identidade compartilhada pelos seus participantes e suas ações coletivas não necessariamente precisam ter fins claros e definidos.38

Em realidade, a indignação não é um movimentosocial. É, na verdade, um estado de ânimo.Como canalizá-la em um movimento social transformador? Além de não se ter uma

34 Ver o documentário “A partir de agora... As Jornadas de Junho no Brasil” de Carlos Pronzato (diretor e roteirista). Disponível em: http://www.contextolivre.com.br/2014/02/a-partir-de-agora-as-jornadas-de-junho.html. Acesso em: 14 de Fevereiro de 2014.

35 Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,apos-atos-governo-nao-tem-interlocutores,1053152,0.htm. Acesso: 20 de novembro de 2013.

36 Por meio de sua sociologia dos rastros, Parra (2013) analisa as controvérsias sobre as motivações e estratégias dos movimentos.

37 A expressão vem do inglês “slacktivism”. Ver: (GERBAUDO, 2012: 7)

38 Estas discussões foram debatidas na GT 04 Ciberpolítica, Ciberativismo e Cibercultura, no XXXVIII Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu, Minas gerais, em Outubro de 2014.

51 resposta definitiva para este questionamento, a discussão, a meu ver, não caminha nesta direção. As perguntas estão sempre direcionadas para critérios de legitimidade e de validade das manifestações. Eureka! Talvez suas formulações estejam sendo feitas de maneira equivocada, significa dizer, ao inverter o ângulo de análise, verifica-se umamultiplicidade de perspectivas, significados e possibilidades abertas que não devem ser “enquadrados”39 com base nas acepções modelares de ação coletiva da TMS ou mesmo das NTMS.40 “Não ter garantias” para que a participação política se traduza em mecanismos de transformação da realidade social talvez seja uma de suas características basilares. Firmam-se, ao fim e ao cabo, como novas maneiras de se pensar e fazer a política no mundo contemporâneo.

Bringel (2013) detecta ainda a existência de uma “miopia política”. Esta se revela na restrição das interpretações da vida política à sua dimensão institucional, o que limita o surgimento de cenários sociais emergentes. Tal miopia impede também a avaliação de motivações, articulações e atitudes dos cidadãos em meio a uma pluralidade de significados que são característicos dos movimentos sociais contemporâneos.Estesinauguram novas reconfigurações das teorias contemporâneas sobre os movimentos sociais e não podem deixar de considerar as novas dinâmicas da vida social, características de um mundo cada vez mais globalizado e, por isso, pautado pelo uso intenso das TIC’s.Direcionando a discussão para os dados empíricos, grande parte dos universitários esteve presentes nas Jornadas de Junho de 2013 (56%) e admitiram ser amplamente “favoráveis” a elas (75%).

Gráfico 20: Você foi favorável às Jornadas de Junho ocorridas em 2013?

39 “Esta dificuldade de enquadrá-lo talvez seja o principal sintoma que estamos diante de algo novo.” (PARRA, 2013: 144)

40 Se a TMS foi caracterizada pelas interpretações sobre os movimentos sociais marcados pelo movimento operário e a importância atribuída ao conflito no mundo do trabalho, se valendo dos cânones clássicos da Sociologia (Marx, Durkheim e Weber), a NTMS deu sentido às ações dos “novos” atores sociais do conflito, o que faz surgir uma série de recursos epistemológicos, quais sejam: a teoria de mobilização de recursos, a teoria do processo político e outras abordagens particulares. São os novos movimentos feministas, ecológicos, pelos direitos civis, que avançam na compreensão de determinadas temáticas que outrora se valiam de questões específicas do movimento operário e de conflitos trabalhistas. Para mais detalhes, ver: BRINGEL (2011), (2012).

52

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração do autor.

Gráfico 21: Você participou das Jornadas de Junho de 2013?

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração do autor.

Mas como eles souberam dessas manifestações? Verificou-se que 92,6% dos estudantes souberam pelas redes sociais virtuais41 e 47,9% por meio dos web sites, indicando o papel basilar que a internet exerceu na convocação e mobilização dos estudantes entrevistados, o que confirma, a priori, a constituição de formas mais interativas na organização do movimento.

Embora pesquisas revelem que a maior parte dos usuários da rede virtual faz seu uso

41 “A Internet se tornou um instrumento de mobilização política e participação mais direta e contínua... O Brasil já é o segundo maior mercado do mundo de Facebook, com mais de 58 milhões de contas, e do Twitter não fica muito atrás, com mais de 40 milhões.” (KNIGHT, 2013: 6)

39,4%

36,2%

10,6%

5,3%

8,5%

Muito favorável Favorável Pouco favorável Nada favorável Não sabe

56%

42%

2%

Sim Não Não sabe

53 para assuntos privados e serviços ligados ao entretenimento42, a internet apontou, a partir dos dados coletados, como uma alternativa bastante útil na convocação destes alunos. À título de comparação, pesquisa feita pelo IBOPE43 revelou que 62% dos entrevistados ficaram sabendo das manifestações pelo facebook e que 77% foram mobilizados por esta rede social virtual.

Cabe ainda destacar que 75% dos entrevistados na pesquisa IBOPE utilizaram alguma rede social para convocar outras pessoas para as manifestações.

Gráfico 22: Como soube das Jornadas de Junho de 2013?

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração do autor.

Mas a questão-chave é entender o que motivaria estes jovens a participarem das manifestações? A dimensão interativa dos sujeitos investigados é diagnosticada a partir das respostas dos atores políticos baseadas em suas percepções e orientações subjetivas acerca de suas motivações. Neste sentido, os entrevistados justificaram seus interesses, principalmente pela crença de que movimentos dessa natureza podem mudar a realidade do país (43% das respostas), e/ou são a expressão da insatisfação com a atual situação brasileira e indignação com os nossos políticos (25 % das respostas). Já na pesquisa IBOPE, as reivindicações mais destacadas por participarem das manifestações foram: a precariedade do transporte público (37,6%), insatisfação com o ambiente político (29,9%) e gastos excessivos com a copa das confederações de 2013 e com a copa do mundo de 2014 (4,5%).

42 Disponível em: http://pesquisa.ufabc.edu.br/nuvem/linhas.html Acesso em: 22 de Julho de 2014.

43 A pesquisa foi realizada pelo IBOPE no dia 20 de junho de 2013, logo após as primeiras grandes manifestações ocorridas em sete capitais brasileiras (SP, RJ, MG, RS, PE, CE, BA) e Brasília. Foram entrevistados 2002 manifestantes com 14 anos ou mais, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa também apontou que o perfil dos manifestantes era majoritariamente composto por jovens (63% com menos de 30 anos), com nível superior completo (43%), ou cursando esse nível de escolaridade e/ou tendo concluído o ensino médio (49%). Disponível em:

http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/06/veja-integra-da-pesquisa-do-ibope-sobre-os-manifestantes.html.Acesso em: 01 de novembro de 2014.

92,6%

54,3%

47,9%

27,7%

17,0%

2,1%

Pelas redes sociais

Pela TV Pelos web sites Pelo jornal Pelo rádio Não sabe

54

Gráfico 23: Motivações para participar das Jornadas de Junho

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração do autor.

Para os que não participaram, as principais justificativas afirmaram ser a falta de clareza quanto aos objetivos do movimento (31,1% das respostas), o medo da violência (8,8%) ou o fato de estarem em fase de provas ou trabalho (8,8%).

Gráfico 24: Motivações para não participar das Jornadas de Junho

43%

25%

8%

6%

4%

4%

4%

6%

Vontade de mudar a realidade brasileira

Insatisfação com a situação do país/Indignação com os políticos Vontade de participar de um momento histórico

Incentivo dos amigos Truculência da polícia

Mostrar que o povo não é passivo Curiosidade

Outros

55

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração do autor.

Quando questionados sobre como avaliavam os resultados das manifestações, cerca de 44% dos entrevistados opinaram que a participação nas Jornadas de Junho foi motivo para animá-los a participar politicamente e 38,3 % pontuaram que as manifestações fortaleceram a democracia. Da mesma forma, a pesquisa IBOPE revelou que 94% dos entrevistados acreditavam que as manifestações iriam promover mudanças a partir das reivindicações dos protestos.

41%

12%

12%

6%

29%

Falta de clareza quanto aos objetivos do movimento Medo da violência

Momento de provas/trabalho Falta de identificação com o movimento Outros

56

Gráfico 25: Avaliação dos resultados

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração do autor.

Verificou-se que 70% dos estudantes desaprovam as manifestações violentas por parte dos manifestantes e 80% desaprovam por parte dos policiais, o que foi confirmado também na pesquisa IBOBE quando 57% dos entrevistados responderam que a polícia agiu com violência. Segundo Romão (2013), “os detalhes da incapacidade da força policial em lidar com as demonstrações públicas foram divulgadas por meio de inúmeros vídeos que foram exibidos pelas redes sociais.” (ROMÃO, 2013: 12) A violência policial alterou sua forma de agir durante o “desenrolar” das manifestações, se em um primeiro momento, verificou-se ações violentamente reprimidas pelos militares, em um segundo momento, vários manifestantes passaram a ser escoltados pela polícia quando ocupavam as ruas e as estradas, especialmente no caso de São Paulo.44

44 Ver: (PARRA, 2013: 145). O autor denomina como “rastro seis” as variações nos modos de repressão policial aos movimentos de rua.

43,60%

38,30%

30,90%

7,40%

4,30%

Me animou a participar politicamente

Fortaleceu a democracia

Não resultou em nada Não sabe Não respondeu

57

Gráfico 26: Você aprova ou desaprova as manifestações violentas por parte

dos manifestantes ocorridas nas Jornadas de Junho de 2013?

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração do autor.

Gráfico 27: Você aprova ou desaprova as manifestações violentas por parte dos policias ocorridas nas Jornadas de Junho de 2013?

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração do autor.

19%

70%

10% 1%

Aprova Desaprova Não sabe Não respondeu

11%

80%

7% 2%

Aprova Desaprova Não sabe Não respondeu

58 Quanto à visibilidade midiática, cabe destacar que inicialmente o enfoque era nos transtornos para as cidades no que tange o trânsito e os confrontos com a polícia. Como houve uma forte reação dos manifestantes, a cobertura da mídia “curiosamente” mudou, já que começou a ressaltar o caráter pacífico dos atos e a disputar a pauta das reivindicações, confirmando seu papel central no desenrolar das Jornadas ocorridas em diferentes localidades do país.45Romão (2014) pontua a existência de uma “relação sinérgica entre o repúdio à repressão policial pela mídia grande e, ao mesmo tempo, um reforço simbólico à dispersão de pauta e à caracterização dos atos como um grito da juventude contra a corrupção” (ROMÃO, 2014: 160) Prova disso, é que cerca de 44% dos entrevistados, afirmaram avaliar a cobertura da mídia televisiva de forma desfavorável e 37% como nem favorável, nem desfavorável, indicando o caráter oscilatório das transmissões midiáticas.

Gráfico 28: Como você avalia a cobertura da mídia televisiva em relação às Jornadas de Junho de 2013?

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração do autor.

Em relação à renda mensal familiar, enquanto 44,7% desses estudantes universitários tinham renda superior a 10 salários, a pesquisa IBOPE mostrou que renda familiar mensal acima de 5 salários mínimos caracterizavam 49% dos manifestantes presentes nas manifestações. Singer (2013) destaca também que “nada menos que 43% dos manifestantes

45 Para uma descrição mais detalhada sobre o “vaivém” da mídia, ver: FILHO (2013).

9%

37%

44%

10%

Favorável Nem favorável, nem desfavorável Desfavorável Não sabe

59 tinham diploma universitário”.46 (SINGER: 2013, 28)

Gráfico 29: Renda familiar mensal

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração do autor.

Singer (2013) ainda reforça que havia uma forte impressão na presença da classe média nas manifestações, ao mesmo tempo em que o subproletariado também participoudos protestos. Percebeu-se um cruzamento ideológico de classes sociais entreprogramas de

“esquerda”, “direita” e “centro”, que segundo autor, acabou por reivindicar por melhores serviços públicos de educação, saúde e transporte e demonstrar imensa insatisfação “contra os gastos públicos privatizados pelo capital e contra a corrupção.” (SINGER, 2013: 36)

46 Dados da Rede Brasil revelam que o número de matriculados no ensino superior do país chega a 7, 5 milhões de indivíduos, compreendendo 8 % da população brasileira. Disponível em:

http://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2014/09/matriculas-no-ensino-superior-crescem-3-8-taxa-inferior-a-do-ultimo-censo-5497.html Acesso em: 15 de setembro de 2014.

44,7%

22,3%

14,9%

11,7%

3,2% 2,1% 1,1%

Renda familiar superior a 10

salários mínimos

Renda familiar está entre 5 a 10 salários

mínimos

Renda familiar está entre 3 a

5 salários mínimos

Não sabe Renda familiar está entre 1 a

2 salários mínimos

Renda familiar está entre 2 a

3 salários mínimos

Não respondeu

60

Considerações Finais

Com base neste estudo e em um cenário onde a velocidade das mudanças proporcionadas pelas TIC’s se dá em um ritmo diferente do funcionamento das instituições tradicionais das democracias modernas, a possibilidade de conectar internet à participação política aparece como uma alternativa para dinamizar os espaços públicos urbanos. Os dados coletados, no entanto, não permitem afirmar que a internet pode ser uma real ferramenta de participação política, mas indicam que a participação via canais institucionais da política, pelo menos no ambiente acadêmico, perfaz sinais de esgotamento, dada a baixíssima participação dos universitários diagnosticada na pesquisa.

Em contrapartida, no momento em que explodiu as Jornadas de Junho de 2013, verificou-se uma mobilização intensa desses universitários por meio de canais virtuais interativos, como as redes sociais virtuais, o que não só desmistificou o cenário de uma amorfia e descontinuidade em termos de participação nas nossas sociedades conforme apontavam vários estudiosos47, como também essas novas formas de mobilização representaram e continuam a representar novas formas de se pensar e fazer a política no mundo contemporâneo. Trata-se de entender novas práticas participativas emergentes que transbordam para além dos canais institucionais estabelecidos.48

A discussão aqui em pautasugere caminhos ao relacionar as plataformas de participação via internet com as atividades que redundam em ação política no plano real49 reconhecendo que os sujeitos se inserem em uma identidade de múltiplas implicações coletivas por meio de escolhas individuais50.O representado, neste novo ambiente, é

47“Entre os dias 11 e 13 de junho do ano passado foi realizado, em Brasília, Seminário Internacional denominado Desafios da Consolidação Democrática na América Latina, organizado em conjunto pela Universidade de Brasília, pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.O evento buscou promover o debate entre especialistas latino americanos e internacionais acerca das questões centrais que envolvem o fortalecimento da democracia no continente,após décadas de relativa estabilidade democrática na região. De uma forma geral, as apresentações trataram dos inúmeros ganhos em termos da institucionalização democrática nesses diferentes países, mas também apontaram para certa amorfia ou descontinuidade em termos da mobilização e participação política em massa nessas sociedades.” (MESSENBERG, 2014: 2)

48 Enquanto este trabalho estava sendo produzido, novos movimentos de indignação explodiram em Hong Kong.

Ver:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140929_hong_kong_entenda_paiAcesso em: 27 de novembro de 2014.

49 O mundo virtual é um objeto manipulável pelo sujeito. Trata-se de ampliar sua capacidade de intervenção no real a partir de uma transposição de suas ações nos sítios virtuais para ações políticas concretas no mundo real. A relação entre virtualidade e real é bastante densa, mas deve ser encarada como uma relação de trânsito, e não de oposição, o que muitos autores chamam de “hibridização” entre o real e o virtual. Ver: Ribeiro (1996).

50 Tais ideias estão em comum acordo com o discurso de Michel Wieviorka proferido no dia 12 de Março de 2014 no Auditório da Reitoria da Universidade de Brasília (UnB). Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=PT2j5s5Cg2A Acesso em: 13 de março de 2013. Amadeu et al (2014) também destacam, em sua obra, a mediação das escolhas estratégicas dos atores sociais.

61 potencialmente conectado ao seu representante, e, por isso, faz sentido pensar que ele está à distância de apenas “um clique” dele. Trata-se de pensar a imediaticidade e transparência trazidas com o advento da internet de forma complementar à efetivação de processos de deliberação e decisão no espaço público, e não lidá-los como espaços antagônicos e distintos.

A própria globalização da comunicação possibilita a web ser uma ferramenta de luta política, na qual o espaço virtual é complementar às formas de mobilização coletiva no plano off-line. Não há, portanto, como pensá-los de forma separada. É possível dizer que “a internet, conjugado com um novo tipo de ciberativismo político, possa impactar novas formas de mobilização social, fazendo com que a democracia se veja obrigada a repensar suas formas de participação política, mesclando arenas off-line e online.” (FERREIRA, 2012: 42)

À guisa de comparação, cabe assinalar que a recente promulgação do decreto 8.243 no dia 23 de maio de 2014 parece ilustrar o alcance de investidas na área de participação social e internet, conforme percebido no inciso X do art. 2º: “considera-se o ambiente virtual de participação – mecanismo de interação social que utiliza tecnologias de informação e da comunicação, em especial a internet, para promover o diálogo entre administração pública federal e sociedade civil”.

Connell (2012), da mesma forma, ao expor seu debate sobre temas emergentes na sociologia, pontua: “para que a democracia participativa floresça em uma escala mundial, um dos requisitos é a produção de conhecimento social acessível na mais ampla escala possível e que seja gerado a partir das preocupações da maioria das pessoas” (CONNELL, 2012: 16) e a web, neste sentido, pode configurar-se como uma potencial ferramenta para este florescimento.

A internet não só sugere como pode alavancar novos canais de participação e abre espaço para um surplus, qual seja: aqueles que normalmente não tinham nenhuma participação nos assuntos públicos, talvez comecem a despertar um interesse, mesmo que tímido, em participar de qualquer atividade do universo político. O partido do futuro, da mesma maneira, talvez seja aquele que use as TIC’scomo ferramentas as mais versáteis possíveis com o intuito de criar novas formas de interação, já que o modelo tradicional de organização partidária vem se mostrando esfacelado.51

Na análise baumaniana, “os políticos perdem poder cada vez mais, simultaneamente há um progressivo desinteresse pelo eleitorado por tudo que tenha caráter político, além de uma queda substancial nos índices de confiança nos governos”. (BAUMAN, 2000: 27) Tal

51 As recentes disputas presidenciais, camo a campanha Obama de 2008, conforme visto, apontam nesta direção.

62 fenômeno procura abrir novos horizontes que irão buscar uma maior participação da sociedade52, a qual certifica o autor em sua obra.53

O uso interativo da internet funciona, por tudo isso, como uma ferramenta capaz de promover um canal alargado entre representados e representantes, o que permite construir novas formas colaborativas que levem em conta a motivação subjetiva dos atores, constatando um enorme esforço das ciências sociais em entender o motivo que leva o ator a participar politicamente dentro de um contexto de uma sociedade informacional.

A s reflexões em torno dessa temática procuram analisar novas formas de participação política promovida pelo uso das TIC’s, em específico a internet, para além das abordagens dicotômicas que, por um lado, defendem entusiasticamente o potencial democratizador desse instrumento como uma espécie de “ágora digital”, por outro, observam a expansão da internet como tendência à desmobilização. Significa dizer: a partir de experiências empíricas singulares, os estudos tendem a problematizar como os múltiplos usos da rede virtual nas novas formas de participação se traduzem, ou não, em mecanismos de ativação da cidadania e repolitização do social.

Entender, portanto, como a internet pode contribuir para o estímulo da participação política, envolvendo cidadãos e articulando-os com novos espaços políticos de atuação é uma das principais mensagens deste trabalho. O debate está em curso e certamente a web nos permite vislumbrar cenários emergentes para as democracias modernas, estabelecendo uma nova cultura política capaz de promover diálogos mais participativos com segmentos da sociedade civil.

52 Daí, a obra ser intitulada como “Em busca da Política”.

53 “O mundo da política institucional e das políticas públicas precisa entrar em compasso com uma sociedade que se modifica com rapidez, que exigirá cada vez melhores serviços públicos, mas que, por enquanto, mantém-se longe das instâncias de tomada de decisão. Deve-mantém-se pensar em formas de aproximar esmantém-ses dois mundos e colocá-los efetivamente em prática.” (ROMÃO, 2013: 17).

63

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