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Visão da Tragédia

Debaixo de uma laje de 85 metros de comprimento, pesando perto de 10 mil toneladas, um número desconhecido de mortos. Na Gameleira, onde era construído o Palácio das Exposições, que Niemeyer projetou, aconteceu, ontem, uma das maiores Tragédias de Minas Gerais. (JORNAL ESTADO DE MINAS – 05/02/71 – Caderno 1 – p. 1)

De repente, todo o bloco, pesando aproximadamente dez mil toneladas caiu, atingindo cerca de cem operários que, após o almoço (11h58), dormiam ou jogavam cartas à espera do reinício do trabalho.

Pela manhã, 512 operários haviam assinado o ponto, na entrada do serviço. À saída, às 6 da tarde, apenas 394 “bateram” o cartão. Esse dado não significa, porém, que os 118 restantes estejam mortos: há os feridos e suspeita-se que, na hora do pânico, muitos tenham se retirado, sem ligar para o relógio de ponto. (JORNAL ESTADO DE MINAS – 05/02/71 – Caderno 1 – p. 1)

De repente, um estrondo. A morte estava chegando

Faltavam dois minutos para o meio dia, quando o operário Antônio Miranda de Souza, 30 anos, casado, pai de quatro filhos, tirou a última escora da laje da construção do novo prédio do Palácio das Indústrias, no parque da Gameleira. Ali perto dele, cerca de cem operários almoçavam

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ou jogavam baralho, em grupos, como acontecia todo dia nesta hora. „De repente ouvi um estrondo e tudo veio abaixo‟, diz Antônio Miranda, que conseguiu se salvar, enquanto gigantescos blocos de cimento armado soterraram dezenas de seus companheiros, que, em pânico, tentaram fugir pelos lados.

O barulho e a poeira provocados pelo desabamento de 85 metros da construção foram notados de longe. (JORNAL ESTADO DE MINAS – 05/02/71 – 2ª Seção – p. 1).

O que faziam

[...] servente de pedreiro, um dos sobreviventes da catástrofe, disse que seus companheiros estavam brincando, jogando cartas, batendo bola, dormindo e muitos deles estavam ainda almoçando, quando se deu o desabamento. (JORNAL ESTADO DE MINAS – 05/02/71 – 2ª Seção – p. 2).

Nos portões, a angústia dos parentes

Ninguém sabia dizer ao certo o número de mortos nem o de feridos. A única informação que parecia ser verdadeira, era a de que pelo menos 100 operários estavam debaixo da laje, na hora em que ela desabou. (JORNAL ESTADO DE MINAS – 05/02/71 – 2ª Seção – p. 3)

A cortina lateral esquerda, de concreto armado não resistiu ao peso as vigas e ruiu de dentro para fora, arrastando toda a estrutura do teto. (JORNAL ESTADO DE MINAS – 05/02/71 – 2ª Seção – p. 5)

118 não marcaram ponto de saída

Até as 20h de ontem, a direção da SERGEN havia apurado que 118 trabalhadores deixaram de marcar o ponto no horário da tarde. Entre os que não registraram sua presença estão os que foram socorridos nos hospitais da cidade e o primeiro morto a ser identificado foi José de Oliveira Roque. (JORNAL ESTADO DE MINAS – 05/02/71 – 2ª Seção – p. 5).

A Tragédia

A pressa é sempre inimiga da perfeição. A verdade que esse provérbio contém, apesar de diariamente estar sendo comprovada por toda parte, parece não se revestir, porém, de muita força persuasiva. Talvez em virtude de chocar-se com a tendência dos novos tempos, caracterizada pela celeridade e pela preocupação dos rendimentos imediatos. Nem a evolução científica, nem o apuramento dos processos tecnológicos, no entanto, têm conseguido limitar os riscos a que se sujeitam todas as obras que se realizam com afoiteza. Por sinal, entre os muitos exemplos que se verificaram dentro e fora do Brasil nos últimos meses, lamentavelmente figura agora um em Minas, de conseqüências tão trágicas, que foi o desabamento de grande parte da estrutura do Palácio das Exposições, em construção no Bairro da Gameleira.

Tem-se dito que os mineiros primam pela falta de pressa em suas iniciativas, por preferir tudo bem feito, seguro e definitivo. Tudo indica que foi por se haver descurado desse propósito que a execução do grandioso projeto, de fato até que bem indispensável no esquema que se arma com o objetivo de estimular o desenvolvimento da economia mineira, passa a ser assinalada pelo desfalque de vidas preciosas e por prejuízos elevados para o erário. A catástrofe entra, assim, para a história como

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uma advertência a mais de que, se mesmo os pequenos empreendimentos do governo convém sejam cercados de cautelas especiais, muito mais se justifica esse procedimento quando se trata de obra das dimensões e do valor da que está se erguendo na Gameleira. Até agora, não se tem ainda um balanço preciso dos danos humanos e da pulverização de recursos que vão derivar do desabamento do Palácio de Exposições e só se pode desejar que não assuma a amplitude e a gravidade das estimativas iniciais. Acredita-se que a remoção dos escombros que correspondem a mais de dez mil toneladas de blocos de cimento e vigas de ferro, só se tornará possível após alguns dias, de modo que nem mesmo o número de operários vitimados se pode precisar enquanto não se concluir essa operação.

No que se refere às causas do terrível acidente, tudo igualmente permanece ainda obscuro, estando a apuração na dependência de investigações a serem procedidas por uma comissão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Evidentemente, a essa comissão cabe agir com segurança e rigor, para não ficar indefinido o grau de responsabilidade dos que se encarregaram da execução do projeto. A impunidade pela negligência ou incompetência seria um desrespeito ao sacrifício dos que perderam a vida enquanto buscavam garantir a subsistência ou dos que vierem a ficar incapacitados para o trabalho. (JORNAL ESTADO DE MINAS – 05/02/71 – 1ª Seção – p. 4).

Os impactos da Tragédia da Gameleira são grandes não só nas

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