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Para que as proposições que levaram a esta pesquisa sejam adequadamente respondidas, é necessária tomá-las uma a uma: “É possível compreender através das notícias publicadas sobre a BM&FBovespa, de que forma(s) o jornalismo econômico se articulou com a doxa financeira em (T1), (T2), e (T3), dando o significado “neutro” que reproduz a lógica da dominação financeira”, mesmo em momentos de crise”?

A hipótese principal refere-se exclusivamente ao período T1 e propõe que em T1 o jornalismo econômico se articulou aos interesses dos financistas atraindo novos investidores (hipótese 1). A pesquisa também aponta duas hipóteses secundárias, sendo a primeira que em T2 o jornalismo econômico se posicionou de maneira “neutra” em relação à crise, isentando a lógica da dominação financeira e suas consequências (hipótese secundária 1) e, a segunda, que em T3 o jornalismo econômico viveu um período de descrença na BM&FBovespa (hipótese secundária 2).

Desta forma, busca-se neste subcapítulo compreender, em primeiro lugar, a produção da crença (cf. Bourdieu, 2002) dentro do próprio jornalismo econômico, buscando como a doxa financeira produz efeitos homólogos aos interesses do mundo financeiro dentro deste campo. E, se, de fato, o jornalismo econômico reproduziu a lógica da ortodoxia financeira que permeia o universo das bolsas de valores, consagrando a BM&FBovespa aos olhos de milhares de novos potenciais investidores brasileiros, fazendo-os crer na possibilidade de ascensão e lucratividade que se apresentava em T1.

Como já foi dito anteriormente, a percepção de uma situação específica contagiará as ações objetivas de seus participantes, influenciando o curso da situação, podendo algumas vezes certas percepções se concretizarem no real, elegendo alguns repertórios e excluindo outros. Ou seja, esta pesquisa parte da premissa e busca demonstrar primordialmente que a ascensão da então Bovespa em T1 foi um exemplo da “profecia que se cumpre por si mesma” (MERTON, 1968; STEINER, 2006), legitimada mutuamente através de um círculo de crença (BOURDIEU, 2002), e ampliada através do capital de consagração do jornalismo econômico e seus interlocutores (BOURDIEU, 1997; 2002).

Em segundo lugar, busca-se analisar em T2 os significados da crise financeira para o jornalismo econômico e os repertórios culturais que foram acionados nesse momento de instabilidade cultural (SWIDLER, 1986; 2003). Sabe-se que durante certo período muitos analistas, especialistas, jornalistas, etc., mantiveram perspectivas otimistas sobre o mercado, mesmo com sinais vindos do exterior que indicavam o contrário. Mas, a crise chegou e surpreendeu a todos, e, ainda mais, o próprio sistema financeiro, que foi potencialmente o principal causador da crise, ao mesmo tempo em que foi isentado das responsabilidades (GRÜN, 2011a). E, ainda, reassumiu o controle da narrativa sobre a crise, indicando o que é a crise, como sair dela e as formas para evitar uma nova crise. Ou seja, em algum ponto após a crise atingir o Brasil aconteceu “a volta da capacidade do campo financeiro de impor para o conjunto da sociedade sua visão não só sobre como são, mas também como devem ser a economia e a justiça” (GRÜN, 2011a, p. 321).

E, no final deste subcapítulo, pretende-se demonstrar que o trauma da crise do período T2 produziu um efeito em T3 de limitar a disposição dos jornalistas econômicos em utilizar seu capital de consagração para novamente se articular com os interesses da doxa financeira, pelo menos no que se refere à promoção da BM&FBovespa. Nesta perspectiva, entende-se que todas as “previsões” que fracassaram não passaram de uma questão de percepção, pois a realidade se apresentou de modo diferente do esperado. Da mesma forma, esta lógica produziu um efeito inverso em T3, pois, por mais que a tendência de queda da BM&FBovespa se reverta e, por exemplo, o ano de 2014 tenha sido um bom ano para comprar ações, o jornalismo econômico em T3 está acometido de um sentido negativo para a situação, seja ela objetivamente boa ou má. A descrença se estabeleceu em T3, por mais que a realidade daqueles dias venha a se apresentar no futuro como um bom momento para se ter investido na BM&FBovespa.

Partindo da medição e da comparação da intensidade dos repertórios culturais “ascensão”, “descrença” e “cautela”, dentro de cada reportagem, foi possível identificar o sentido da situação (cf. Merton, 1968) para o jornalista econômico que produziu aquela notícia. Aqui se acredita que apenas estes três nós são suficientes para captar este sentido, pois são justamente aqueles que apontam uma provável direção do momento, enquanto o restante dos nós,

apesar de também importantes, são invocados pelos jornalistas econômicos geralmente para auxiliar na descrição do contexto que envolve estes três primeiros. O programa N-Vivo nos auxiliou nesta tarefa, pois, a partir dos trechos codificados, o software possui a capacidade de informar a porcentagem de cobertura daquele nó no interior de cada notícia. Desta forma, os nós foram comparados, reportagem a reportagem, visando determinar se uma notícia é predominantemente relacionada ao nó “ascensão” (otimista), “descrença” (pessimista) ou “cautela” (cautelosa), em termos de porcentagem de cobertura, conforme as Tabelas 11 e 12 abaixo:

Tabela 11

Cobertura por reportagem - Otimismo, cautela e pessimismo na Revista Exame

Amostra Ascensão (%) Cautela (%) Descrença (%) Predominância

RE_T1_2004(1) 25,77 - - Otimista RE_T1_2004(2) 2,32 2,93 - Otimista RE_T1_2004(3) 33,80 - - Otimista RE_T1_2005(1) 36,18 - - Otimista RE_T1_2005(2) 7,62 - - Otimista RE_T1_2005(3) 28,80 6,89 - Otimista RE_T1_2006(1) 21,03 0,72 - Otimista RE_T1_2006(2) 32,04 - - Otimista RE_T1_2006(3) 4,30 - - Otimista RE_T1_2007(1) 36,26 - - Otimista RE_T1_2007(2) 18,20 0,95 0,61 Otimista RE_T1_2007(3) 23,56 1,24 - Otimista RE_T1_2008(1) 12,87 15,61 0,28 Cautelosa RE_T2_2008(2) 7,86 0,98 2,20 Otimista RE_T2_2008(3) - - 32,53 Pessimista RE_T2_2009(1) 10,97 6,13 10,79 Otimista RE_T2_2009(2) 24,91 0,55 - Otimista RE_T2_2009(3) 11,83 2,29 - Otimista RE_T2_2010(1) 21,72 - - Otimista RE_T2_2010(2) 13,00 - 0,99 Otimista RE_T2_2010(3) 5,24 - 6,99 Pessimista RE_T3_2011(1) 4,34 3,48 - Otimista RE_T3_2011(2) - - 14,25 Pessimista

RE_T3_2011(3) - - 9,02 Pessimista RE_T3_2012(1) 3,00 12,49 4,64 Cautelosa RE_T3_2012(2) 1,43 7,71 3,30 Pessimista RE_T3_2012(3) - - 11,78 Pessimista RE_T3_2013(1) 3,15 - 14,28 Pessimista RE_T3_2013(2) 1,65 0,24 2,38 Pessimista RE_T3_2013(3) 2,04 - 8,95 Pessimista RE_T3_2014(1) 1,09 5,26 12,43 Pessimista RE_T3_2014(2) 1,24 0,44 11,60 Pessimista RE_T3_2014(3) 1,37 - 21,47 Pessimista

Fonte: Elaborado pelo autor.

Tabela 12

Cobertura por reportagem - Otimismo, cautela e pessimismo na Folha de São Paulo

Amostra Ascensão (%) Cautela (%) Descrença (%) Predominância

FSP_T1_2004(1) 11,29 - - Otimista FSP_T1_2004(2) 16,12 - 4,04 Otimista FSP_T1_2004(3) 32,73 - - Otimista FSP_T1_2005(1) 24,88 1,72 - Otimista FSP_T1_2005(2) 5,99 - - Otimista FSP_T1_2005(3) 21,30 - - Otimista FSP_T1_2006(1) 21,06 3,97 - Otimista FSP_T1_2006(2) - - 22,43 Pessimista FSP_T1_2006(3) 13,50 - 2,16 Otimista FSP_T1_2007(1) 21,89 1,25 - Otimista FSP_T1_2007(2) 4,51 - 13,92 Pessimista FSP_T1_2007(3) 42,42 - - Otimista FSP_T1_2008(1) 6,16 - - Otimista FSP_T2_2008(2) - - 8,38 Pessimista FSP_T2_2008(3) 2,11 - 3,90 Pessimista FSP_T2_2009(1) - - 1,26 Pessimista FSP_T2_2009(2) 3,78 - - Otimista FSP_T2_2009(3) 6,47 - - Otimista FSP_T2_2010(1) 6,60 - 1,89 Otimista FSP_T2_2010(2) 1,44 2,33 - Cautelosa FSP_T2_2010(3) - 5,33 - Cautelosa FSP_T3_2011(1) 1,39 - 6,81 Pessimista FSP_T3_2011(2) - - 4,00 Pessimista

FSP_T3_2011(3) - - 3,66 Pessimista FSP_T3_2012(1) 0,69 - 1,24 Pessimista FSP_T3_2012(2) 1,94 - - Otimista FSP_T3_2012(3) 7,63 2,05 - Otimista FSP_T3_2013(1) - - 6,97 Pessimista FSP_T3_2013(2) 0,43 - - Otimista FSP_T3_2013(3) - - 4,45 Pessimista FSP_T3_2014(1) 1,52 - 4,69 Pessimista FSP_T3_2014(2) 8,01 - - Otimista FSP_T3_2014(3) - 2,92 - Cautelosa

Fonte: Elaborado pelo autor.

As Tabelas 11 e 12 apresentam uma comparação simples, linha a linha, de qual nó possui mais cobertura dentro de cada reportagem. Nos casos em que há um “hífen”, significa que não há nenhum trecho codificado daquele nó na referida reportagem. Para que possamos analisar estas tabelas, é necessário convertê-las novamente em outras duas tabelas menores que contemplem a totalidade dos dados apresentados, quantificando de forma mais visível os resultados por período.

Sendo assim, cada período T1 T2 T3 foi analisado individualmente para se chegar ao nó que possui maior cobertura. Os dados foram quantificados, período por período, conforme as Tabelas 13 e 14:

Tabela 13

Quadro de predominância por período na Revista Exame.

Período Predominância

Resultado Qtde/Total (%)

T1 Ascenção (otimista) 12 de 13 (92,31%) T2 Ascenção (otimista) 6 de 8 (75,00%) T3 Descrença (pessimista) 7 de 12 (58,33%) Fonte: Elaborado pelo autor.

Tabela 14

Quadro de predominância por período na Folha de São Paulo.

Período Predominância

Resultado Qtde/Total (%)

T1 Ascenção (otimista) 11 de 13 (84,62%)

T2 Ascensão (otimista) e Descrença (pessimista) 3 de 8 (37,50%)

T3 Descrença (pessimista) 7 de 12 (58,33%)

Fonte: Elaborado pelo autor.

Nota: Houve um empate na predominância em T2

A partir dos dados apresentados nas Tabelas 13 e 14 é possível afirmar que no período T1 a cobertura do nó “ascensão” foi superior a todos os demais períodos. Na RE, 92,31% das reportagens continham na sua maioria conteúdos que levavam seus leitores a crer que a Bovespa estava em ascensão (12 de 13 reportagens eram predominantemente otimistas), que o contexto era favorável ao Brasil, que o número de investidores não parava de subir e, que nem as crises políticas que ocorreram no período (mensalão, troca de ministros, etc.), um governo de esquerda no poder, nem mesmo a crise do subprime americana iniciada em 2007 eram capazes de abalar a prosperidade que se apresentava no horizonte do mercado financeiro brasileiro. O mesmo pode ser dito da FSP, que promoveu em 84,62% de suas notícias em T1 a ascensão da Bovespa. Nesse cenário, o jornalismo econômico foi de vital importância para este crescimento.

O jornalismo econômico tem legitimidade na pauta dos temas que trata, já que possui o capital de consagração para atribuir valor a objetos, pessoas e, no caso analisado, ao mercado financeiro brasileiro. Porém, de maneira alguma ele pode ser entendido como único causador deste fenômeno: Assim como no campo da arte, de acordo com Bourdieu (2002), em que as grandes editoras são guiadas por uma paixão “desinteressada” por determinada obra ou artista, a cadeia de causas que produz a crença de que determinado objeto tem algum valor passa por diversas instâncias, que conjuntamente formam um pensamento coletivo que confirma e suporta a hipótese do valor de uns para os outros. Uma obra de arte não teria valor algum se não houvesse um acordo tácito entre museus, galerias, marchands, editores e seus artistas, escritores, pintores, diretores, etc. Da mesma forma, o jornalismo econômico por si só não

seria capaz de produzir a ascensão da Bovespa em T1 senão fosse uma cadeia de analistas, especialistas, economistas, políticos e uma infinidade de agentes que contagiaram e deram suporte tácito uns aos outros naquele momento, suportando a crença de que o mercado era de alta e estava além de qualquer ameaça do cenário, conforme o trecho codificado a seguir sobre o nó “cenário” em T1:

Essa combinação entre empresas mais saudáveis e economia mais robusta blindou a bolsa contra a crise política e gerou a terceira causa de alta dos preços: o interesse dos investidores estrangeiros. Hoje há um forte apetite por ativos em países emergentes, principalmente devido aos juros baixos nas economias mais desenvolvidas. As taxas americanas de curto prazo, por exemplo, estão próximas de zero em termos reais. "Isso leva os investidores de fora a buscar alternativas mais atraentes de remuneração", diz João Luiz Pasqual, diretor executivo da ABN Amro Real Corretora. O fluxo de dólares para os países em desenvolvimento atingiu a marca histórica de 345 bilhões de dólares neste ano, segundo o Institute of International Finance. "O Brasil é um dos preferidos, porque a situação da economia e das empresas é muito boa", diz Pasqual. A percepção externa em relação ao Brasil é tão positiva que o risco-país, medido pelo banco americano JPMorgan, caiu de 400 para cerca de 350 pontos em setembro, o menor desde 1997. Periodicamente, circulam pelo mercado comentários de que a agência de classificação de risco Moody's vai elevar a nota do país em breve [RE_T1_2005(3)].

A reportagem acima codificada sob o nó “cenário” é apenas um exemplo de muitas que viam um cenário favorável para o Brasil. As fontes citadas na reportagem, um diretor da ABN Amro Real Corretora, o Institute of International Finance, JPMorgan, Moody´s, entre tantos em outras reportagens como essa, contribuíram para a formação desse “círculo de crença” (cf. Bourdieu, 2002) que se formou ao redor da Bovespa em T1.

A FSP, por sua vez, não trazia uma versão tão otimista do cenário mundial em suas reportagens, mas também apresentou algumas reportagens que contribuíram para atribuir ao “cenário” um dos fatores responsáveis pelo “círculo da crença” (cf. Bourdieu, 2002) em T1, como o pequeno trecho codificado a seguir: “Apesar das reclamações sobre o câmbio, o Brasil bateu

em julho um recorde histórico de US$ 11,06 bilhões em exportações” [FSP_T1_2005(2)].

Nessa conjuntura, o jornalismo econômico, por ser uma instituição voltada para “o negócio de disseminar informações sobre questões contemporâneas importantes e de interesse público” (SCHUDSON, 2003, p. 3, tradução minha), teve o papel de sintetizar este coletivo, refletindo o pensamento dessa época e produzindo ainda mais agentes otimistas sobre o futuro do mercado. Nesse processo, alguns jornalistas participaram de forma mais direta que outros, conforme veremos a seguir.

Antes de tudo, é preciso se despir de qualquer visão ingênua do jornalismo e deixar claro que nenhum jornalista econômico por si só tem o poder de influenciar os movimentos do mercado atraindo seus leitores, nem tampouco no sentido inverso ser responsabilizado pelas decisões econômicas dos mesmos. O jornalista econômico é o profissional que possui capital acumulado em diferentes campos, a princípio, no próprio campo do jornalismo e da economia. Porém, o jornalista econômico depende diretamente e num grau maior das informações de suas fontes do que outros jornalistas (BOURDIEU, 1997), tendo em vista a possível complexidade do tema, o que o torna menos propenso a fazer reportagens opinativas (MEDINA, 1988).

Além disso, como diria Pierre Bourdieu (1997), não seria digno da Sociologia tratar deste ou daquele determinado jornalista, mas entendê-los como a expressão de um campo, que emerge a partir de determinadas restrições estruturais e condições temporais específicas que favorecem sua emergência (BOURDIEU, 1997; 2002). E, no que se refere às suas fontes, compromisso com a informação imediata, nichos de mercado para o qual seus empregadores são voltados, etc., sabemos que muitos jornalistas “frequentemente sofrem muitas das restrições que são obrigados a impor” (BOURDIEU, 1997, p. 17) ou reproduzir.

Dito isto, ao retornarmos aos Quadros 1 e 2 desta pesquisa, é possível perceber quais jornalistas ocuparam mais espaços nas colunas da RE e FSP. Importante dizer que seus nomes não foram levados em conta na etapa de seleção das notícias. Isto significa que surgiram totalmente ao acaso dentro dos dados, pois o dado primordial desta pesquisa é o conteúdo das

reportagens, e não quem as escreveu. Entretanto, alguns dados nos levaram a refletir sobre a autoria das reportagens.

Nesta perspectiva, pode-se observar que na RE, especificamente no período T1, os jornalistas que mais aparecem nas amostras são Giuliana Napolitano e Cláudio Gradilone. Em T2, os destaques da RE são Giuliana Napolitano (novamente), Eduardo Salgado e Guilherme Fogaça. E, em T3, os destaques RE são João Sandrini e Priscila Yazbek. Já a FSP, possui como destaques em T1 Sandra Balbi e Fabrício Vieira, em FSP T2 Epaminondas Neto e, em FSP T3, o destaque é para a Agência de notícias Reuters, que produziu as notícias que foram reproduzidas pela FSP. Porém, não é possível fazer com a Reuters a análise que pretendemos fazer, portanto, em T3 da FSP, como não há vantagem numérica de nenhum jornalista, selecionamos a jornalista mais antigo deste período, Tatiana Freitas. Deste modo, voltamos o nosso olhar para a trajetória desses jornalistas, buscando averiguar se poderiam nos acrescentar informações para o entendimento de T1 T2 T3. Vejamos o Quadro 3 a seguir:

Quadro 3

Quadro de jornalistas destaques dos períodos T1 T2 T3.

Período

Revista Exame Folha de São Paulo

Jornalista Ocupação atual e formação Jornalista Ocupação atual e formação

T1

Giuliana Napolitano

Atual editora de finanças da Revista Exame. Graduada em Jornalismo

(USP) com MBA em Derivativos Financeiros (BM&F Bovespa) Sandra Balbi Atual Editora da Revista Legado, graduada em comunicação social- jornalismo (UFPR) Cláudio Gradilone

Atual editor financeiro da Revista Isto É. Graduado em Jornalismo (USP) e Economia (USP) com MBA

em Finanças e Derivativos (USP)

Fabrício Vieira

Atual editor assistente no VALOR ECONÔMICO S/A.

Graduado em Jornalismo (Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho,

com mestrado em Literatura e Crítica

Literária e Pós- graduação (lato sensu

em Literaturas de Língua Portuguesa T2 Giuliana Napolitano (repete) Epaminondas Neto Jornalista FREELANCER e Analista de Comunicação na CAU/SP - Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, graduado em comunicação social- jornalismo (USP) e História (USP) Eduardo Salgado

Atual editor executivo da Revista Exame, bacharel em Jornalismo (UFRGS) com mestrado em Relações internacionais (University of London) Guilherme Fogaça

Atual editor de conteúdo web da globo.com, Jornalista (UFRGS) T3 João Sandrini Atual jornalista (especializado em Internet) da Revista Exame, formado

em Jornalismo (USP).

Tatiana Freitas

Atual repórter da Folha de São Paulo, graduada em Comunicação Social – Jornalismo (Universidade metodista de SP), pós- graduação em Jornalismo Econômico /

lato sensu (PUC-SP) e MBA em Derivativos e informações econômico

financeiras (FIA) Priscila

Yazbek

Atual editora assistente da EXAME.com, graduada em

jornalismo (Faculdade Cásper Líbero) com MBA

em informações econômico-financeiras e mercado de capitais para jornalistas (UBS Escola de Negócios e BM&FBovespa)

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados do Quadro 1 e de informações encontradas no site Linkedin30.

A partir das informações contidas no Quadro 3 é possível afirmar que dos 10 jornalistas apontados, todos eles possuem graduação em jornalismo, 4 deles fizeram algum curso de pós-graduação em finanças, 4 são mulheres e 6 são homens, 4 são formados pela USP, 2 são formados pela UFRGS e o restante em outras universidades. Pode-se afirmar que todos os jornalistas

30

analisados possuem legitimidade acadêmica para atuar no jornalismo, mas apenas 4 deles possuem esta mesma legitimidade no campo da economia, que os torna mais aptos a falar o “economês” (CALDAS, 2003) e traduzir para seus leitores. Nota-se que os jornalistas da RE vêm do mainstream acadêmico, mas com ênfase no mercado financeiro, em especial cursos na própria Bovespa, enquanto o perfil dos jornalistas da FSP é mais heterogênio e diversificado (podemos encontrar jornalistas cobrindo a Economia que possuem pós- graduação em literatura e história).

Certamente, estes jornalistas destas revistas renomadas possuem crédito com uma cadeia de agentes, em especial seus leitores, que por sua vez depositam neles um grau de confiança que lhes confere certa autoridade, ao percebem a informação produzida por eles como confiável e de alta qualidade. “Esta autoridade não é outra coisa senão um crédito junto a um conjunto de agentes que constituem relações tanto mais preciosas quanto maior for o crédito de que eles mesmos se beneficiam” (BOURDIEU, 2002, p. 24). Ou seja, sendo eles trabalhadores de empresas de notícias de grande prestígio e visibilidade nacional, emprestam sua reputação para a RE e FSP, assim como são prestigiados por trabalhar lá. Nesta continuidade, seu prestígio também é emprestado para os agentes do mercado financeiro, que também se beneficiam de sua consideração ao elegê-los como fonte, reproduzindo assim o interesse econômico do mercado financeiro, um dos principais motivadores da ação social destes agentes (SWEDBERG; 2005b; WEBER, 2004; 2012), ao atrair mais investidores para o “círculo da crença” (BOURDIEU, 2002), impulsionando ainda mais a profecia que se cumpre por si mesma (MERTON, 1968).

Esse empréstimo de reputação e capital de consagração não se limitou ao mercado financeiro, pois a instância política também se beneficiou e contribuiu para o momento otimista T1. Nesse momento específico, os dados empíricos (Tab. 9) apontam que o Estado também teve participação na produção da crença (cf. BOURDIEU, 2002) que se formou ao redor da então Bovespa, pois esteve fortemente relacionado nas reportagens nesse período de alta. Porém, o Estado é apenas mais um elo nesta configuração, e não se pode afirmar se as políticas do governo federal causaram a ascensão da

Bovespa ou se o Brasil se beneficiou de um momento da economia mundial que o favoreceria de um jeito ou de outro (GRÜN, 2009).

Dois exemplos da captação política que alimentou a crença em T1 são os trechos codificados a seguir: “Até o Lula está ajudando: gradativamente, Brasília vem criando incentivos fiscais para facilitar o investimento estrangeiro na bolsa. Não se paga, por exemplo, CPMF” [RE_T1_2006(2)]. E, o segundo trecho:

A S&P não esquece da dívida externa, "que caiu dramaticamente", diz. Em fevereiro, o governo brasileiro anunciou com estardalhaço que o país tinha se tornado "credor externo líquido", isto é, que as reservas cambiais, somadas aos créditos privados no exterior, haviam superado o valor da dívida externa pública e privada [FSP_T1_2008(1)].

A chave para a compreensão de que não se pode afirmar se as políticas do governo federal causaram a ascensão da Bovespa, ou se o Brasil se beneficiou de um momento da economia mundial que o beneficiaria de um jeito ou de outro, pode ser encontrada na seguinte reportagem do início do período T2 (referente ao ocorrido em T1).

No início de junho, o economista Jim O'Neill, criador da expressão BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) disse o seguinte à coluna: "Creio que para sabermos se realmente o Brasil mudou de patamar em termos de seu potencial de longo prazo teremos de esperar o momento em que os preços das commodities começarem a cair. Antes disso, é difícil julgar se a mudança é estrutural ou não. O forte aumento das commodities tornou as coisas muito fáceis para o Brasil" [FSP_T1_2008(2)].

Segundo Grun (2011a), o “mercado” tem o poder de ditar as regras das políticas econômicas no Brasil, pois a capacidade de resistência da classe política é enfraquecida pelo exército de lobistas do mercado e pela complexidade do mundo econômico, que os torna sujeitos aos seus interesses. A seguir um trecho da RE em T1 que menciona a incapacidade da classe política de resistir aos desejos dos financistas do mercado:

Por mais que desejem, Lula e seus colaboradores não têm o poder de ditar as regras ao mundo dos negócios. A razão é

que, no estágio de evolução atual da economia brasileira e de inserção do país no jogo da globalização, não cabem mais