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4 INTELECTUAIS E ÊXODO RURAL NO BRASIL

4.6 JOSÉ GRAZIANO DA SILVA

José Graziano da Silva nasceu em 1949 na cidade de Urbana no estado norte-americano de Illinois. É graduado em Engenharia Agronômica pela Escola

Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ, da Universidade de São Paulo –

USP (1972), especialista em Métodos de Pesquisa no Sistema de Produção Agrícola

pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP (1976),

mestre em Economia e Sociologia Rural pela USP (1974), doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP (1980), pós- doutor em Estudos Latino-americanos, pela University College de Londres (1990). Atualmente é professor Titular da UNICAMP e foi eleito em 2011 Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU). No ano de 2001, coordenou a elaboração do Programa Fome Zero, tendo sido Ministro Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, assumindo a tarefa de dirigir o Programa. Possui 25 livros

publicados além de diversos artigos vinculados ao tema de desenvolvimento rural. (CURRÍCULO LATTES, 2014).

Desde o início de sua formação, o professor José Graziano da Silva passou a se dedicar a linha de pesquisa sobre o desenvolvimento e o emprego rural. Para entender a visão do autor sobre o êxodo rural é preciso analisar o contexto dos seus estudos, onde trouxe para discussão na década de 1980 “a questão agrária no Brasil” num de seus primeiros livros chamado O Que é Questão Agrária (1980). Nessa obra, Silva além de apresentar a herança histórica do Brasil baseado no monopólio latifundiário, trouxe o debate do desenvolvimento da agricultura através da mecanização, processo pelo qual a economia agrícola estava vivenciando no momento. Ao verificar uma “modernização parcial” da agricultura especialmente na região Centro-Sul do país nos anos 1970, modernização essa que não atingiu todas as fases do ciclo produtivo, só fez aumentar a sazonalidade do trabalho agrícola. A fase da colheita foi uma das etapas que não foi contemplada com o avanço das tecnologias, ocorrendo então em determinadas regiões e em certas épocas do ano uma escassez temporária de mão de obra, enquanto em outras um elevado índice de desemprego. Isso modificou intensamente as relações de trabalho no campo além de gerar um violento êxodo rural. (SILVA, 1998, p. 20).

Segundo José Graziano da Silva (1998), para aquelas pessoas que não encontram outra forma de se inserirem produtivamente na sociedade, o acesso a terra através da reforma agrária se torna uma questão de sobrevivência. Na visão do autor, a reforma agrária é uma decisão eminentemente política, mas que depende essencialmente da mobilização através de organizações como os sindicatos e de alianças dos trabalhadores rurais com o operariado e a classe média urbana. A luta deve ser para transformar a estrutura do sistema de produção que segundo ele é uma herança histórica de correlações de forças políticas que precisam ser vencidas. O desenvolvimento do capitalismo na agricultura brasileira, trouxe a modernização, mas de forma desigual, visto que concentrou a riqueza naqueles que tinham acesso as terras e ao capital aumentando a produtividade e a exploração da mão de obra, e por outro lado, acentuou a miséria de parte dos que não tinham acesso ao crédito e as modernas tecnologias, ficando incapacitados de competir no mercado capitalista. Para Silva (1998), na perspectiva do capitalismo, não é necessário realizar a reforma agrária, haja vista que o aumento produtivo ocorreu sem haver distribuição de terra, somente com o desenvolvimento de capital na

agricultura se resolveu a questão do aumento da produtividade. Por isso, o autor argumenta que a reforma agrária deve ser realizada com um argumento social, onde a luta seja contra a pobreza e a miséria de milhares de pessoas que vivem nas periferias das cidades, assim a reforma agrária possibilitaria a volta dessas famílias para o campo como forma de gerar emprego e renda no meio rural. (SILVA, 2002, p. 139-140).

Numa pesquisa realizada por Silva (2001), chamada Projeto Rurbano2, o autor

mostra que o rural não é predominantemente agrícola, que novas atividades que não estão ligadas diretamente à agricultura, surgem no meio rural como fonte de empregos e desenvolvimentos. A renda oriunda das Ocupações Rurais Não- agrícolas (ORNAS) tem melhorado as condições das famílias rurais e muitos desses trabalhos têm origem urbana, como o trabalho de empregadas domésticas e o turismo rural. Portanto, a agricultura não é mais a única forma viável de desenvolvimento rural, mas a busca do desenvolvimento da agricultura com atividades de características urbanas precisam de adaptações especialmente respeitando a questão ambiental e social da zona rural. A renda das famílias rurais teve queda, mas foram compensadas pelas transferências sociais de aposentadorias e pensões, por isso as famílias rurais estão se tornando cada vez mais não-agrícolas. Quanto à gestão das propriedades, o número de pessoas para administrar diminuiu, ficando somente o pai ou um dos filhos, enquanto os demais buscam novas alternativas de renda fora da propriedade. Na questão do êxodo rural, essas novas atividades têm diminuído a saída das pessoas do campo, mas que regiões como o Sul continuam perdendo seus moradores para as cidades. (SILVA, 2001, p. 39).

O conceito de Silva (2001) que, define “ORNAS” como novas atividades rurais que não são agrícolas, é muito importante para entender, porque o autor considera não existir êxodo rural no Brasil, com exceção da região Sul que ainda existe queda na população “especialmente naquelas áreas que denominamos de rural agropecuário ou rural profundo”. (SILVA, 2001, p. 41). Pois, o incremento adicionado ao campo por esses empregos não agrícolas tem trazido um novo cenário econômico ao campo. Segundo Silva (2001), as recentes estatísticas revelam que o

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Projeto Rurbano: iniciadas em 1996 buscou a caracterização do Novo Rural Brasileiro, que objetivava analisar as recentes transformações nas relações urbano-rural em 11 estados brasileiros. (SILVA, J. F. G. ; GROSSI, Mauro Eduardo Del ; CAMPANHOLA, Clayton, 2002, p. 37).

emprego de ordem agrícola tem apresentado acentuada queda no campo, enquanto a população rural passou a crescer ou em última análise não diminuiu.

A análise de Silva (2001) é baseada nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) que no ano de 1996 apresentou a menor população rural (31,6 milhões de pessoas) e a partir disso vem crescendo chegando em 1999 a 32,6 milhões. Porém, o autor ressalta que “a volta ao campo” não significa o retorno as atividades agrícolas, pois grande parte dessas pessoas são aposentados ou inativos que passam a residir em zonas rurais próximas as capitais e grandes cidades. Enquanto outras retornam ao campo para prestar serviço de motoristas de ônibus de trabalhadores rurais, pedreiros, jardineiros das casas dos aposentados e inúmeros outros empregos que surgiram com as melhorias das condições de vida chegada ao campo nos últimos anos.

5 OS INTELECTUAIS “CONTEMPORÂNEOS” E O EXÔDO RURAL: UMA