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Apesar do fenómeno da abstenção eleitoral ter aumentado significativamente nas últimas décadas, é empiricamente reconhecido ser entre os jovens que atinge níveis particularmente elevados, sobretudo durante os primeiros anos das suas respectivas vidas eleitorais activas56.

No entanto, o exercício eleitoral é somente uma das formas de participação política, a qual, não recolhendo especial interesse entre os jovens releva, ainda assim, de uma ideia generalizada e mistificada da juventude como um segmento etário insensível aos assuntos políticos. Sob esse prisma, a desafeição juvenil em relação à política seria uma espécie de estádio evolutivo insuperável, comum à generalidade dos jovens. Incapaz de se autonomizar de tal determinismo e de acordo com aquela leitura, a maior parte dos jovens seria culturalmente homogénea, apática e indiferente aos assuntos políticos.

No seguimento desta leitura que remete para a primazia dos ciclos de vida, a maioria dos jovens só encontraria condições para despertar de uma «existência anestesiada» à medida que assumisse as responsabilidades profissionais e familiares que atestam normalmente a entrada no ciclo de vida dos adultos. Embora válida, esta visão remete para uma clara assunção da ética da responsabilidade cingida ao mundo do trabalho e às responsabilidades da vida conjugal. Nesse caso, a conjugalidade, a paternidade e a profissão seriam, de per si, factores suficientes que ajudariam à explicação dessa progressiva integração social, expressa pelo aumento da participação eleitoral com o aumento da idade. Mas também sucede que, como procurámos clarificar anteriormente, este fenómeno da abstenção eleitoral entre os jovens não é recente, desafiando o que nos diz Ronald Inglehart a respeito da transição paradigmática de valores. Segundo este autor, a substituição de valores materialistas pelos valores pós-materialistas ocorre num quadro de contestação à

56 Ver Freire e Magalhães [2002, 131-137]; ver ainda, com referência à desafeição juvenil em relação à política

Alexandre Varela 48 autoridade e consequente «fuga» para formas alternativas de participação, particularmente entre os jovens. Contudo, o fraco envolvimento eleitoral dos jovens não é uma novidade, como nos explica Martin Wattenberg57.

Assim, é fundamental perceber se a desmobilização eleitoral dos jovens resulta dos ciclos de vida e da cultura juvenil que lhes subjaz ou se resulta, em contrapartida, de uma alteração das referências e valores culturais.

Na presença das dúvidas que se levantam com a interpretação da desmobilização eleitoral a partir de abordagens teóricas distintas, a explicação dos ciclos de vida e a explicação geracional podem não ser mutuamente exclusivas. Para compreender melhor esta problemática, importa considerar que nem os jovens são todos iguais e orientados por padrões culturais idênticos nem a idade estabelece disposições padronizadas em todos eles. Por conseguinte, esse sentido de responsabilidade «súbito» sugerido pela integração em ciclos de vida pode afinal ser identificado nas experiências e exigências quotidianas, advenham elas do relacionamento específico dos jovens com os pais, os amigos, professores, organizações juvenis, trabalho ou perante si próprios. No mesmo sentido, há um conjunto de referências, vivências e socializações que permitem despertar interesses distintos, independentemente da fase do ciclo de vida em que um jovem se encontra.

Efectivamente e ainda no que respeita à problemática que envolve o conceito de juventude, defendem alguns autores – entre os quais sinalizamos Braga da Cruz ou José Machado Pais – que esta fase de vida é efectivamente associada à idade biológica mas também à idade social, isto é, a juventude pode ser igualmente entendida como o produto de uma construção social levada a cabo pelos media, por actos administrativos legitimados por pareceres técnico-jurídicos e até por discursos políticos58. O conceito de juventude assim entendido pressupõe uma definição atribuída social e biologicamente. Consequentemente, é um conceito variável historicamente.

Por outro lado, varia igualmente consoante os meios específicos em que se dão as diversas interacções, indiciadoras de processos de socialização e integração em grupos sociais (a pertença a grupos profissionais, étnicos ou «tribais», bem como as referências familiares, regionais ou religiosas), denotando diferentes matrizes sub-culturais.

57 Wattenberg [2002].

Alexandre Varela 49 Com efeito, pegando na definição de Ronald Inglehart, o conceito de cultura apela a um conjunto de valores e conhecimento transmitido de geração em geração, sendo interiorizado e partilhado pelas pessoas dessa sociedade. Enquanto a natureza humana é inata e universal, a cultura resulta de uma aprendizagem e varia de sociedade para sociedade59. Ou seja, poderá integrar transformações que são fruto das interacções e das consequências materiais e imateriais das mesmas em grupos sociais permanentes ou ocasionais. Logo, colocando a tónica numa dimensão mais restrita do conceito de cultura, José Machado Pais entende por cultura juvenil, “o sistema de valores socialmente atribuídos à juventude (tomada como conjunto referido a uma fase de vida), isto é, valores a que aderirão jovens de diferentes meios e condições sociais”60.

Contudo, o estudo das culturas juvenis fica incompleto se os jovens não foram investigados a partir dos seus contextos vivenciais e quotidianos, porque é “no curso das suas interacções, que os jovens constroem formas sociais de compreensão e entendimento que se articulam com formas específicas de consciência, de pensamento, de percepção e acção” 61. São estas particularidades individuais e grupais que os distinguem e os posicionam com referência a um padrão de normalidade: a juventude. Nestes termos, para além das claríssimas diferenças de base cultural entre um jovem yanomami e um coetâneo sueco, dentro de um mesmo país as distinções são óbvias entre jovens de meios rurais e urbanos, entre jovens estudantes e jovens com responsabilidades familiares, entre jovens provenientes de meios familiares mais ou menos politizados, entre jovens com mais ou menos conforto material ou entre jovens de diferentes etnias e orientações sexuais.

A percepção destas distinções de base cultural é clarificada por José Machado Pais ao colocar em evidência algumas transformações por que têm passado os jovens portugueses: o retardamento da entrada na vida activa, alongando por isso mesmo a fase de vida juvenil, resultante das necessidades de qualificação escolar; mas também as transformações estruturais na família tradicional e, finalmente, a massificação do ensino, que aumenta o período de escolarização (em número de anos), contribuindo para o alongamento da juventude enquanto fase de vida. Mas este padrão que «infantiliza» os jovens aos olhos das gerações precedentes sobrevive num patamar de generalidade no qual as malhas são suficientemente largas para não coligir atitudes e comportamentos totalmente

59 Inglehart [1997, 15]. 60 Pais [1990, 163]. 61 Pais [1996, 54-56].

Alexandre Varela 50 descoincidentes: dos apáticos aos mobilizados em estruturas políticas e associativas, dos marginais aos jovens integrados e com carreiras promissoras.

Por conseguinte, como resultado da crescente complexidade das sociedades contemporâneas ocidentais e apesar de múltiplas características que funcionam como denominador comum para as juventudes de todo o mundo, não é possível conceber uma cultura juvenil única – ostentando práticas e concepções culturais uniformizadas – expressa etariamente através de uma fase de vida, cujas clivagens se posicionam em convergência com a cultura dominante em termos inter-geracionais (corrente geracional da sociologia da juventude). Inversamente e sem pôr de parte o que foi dito, interessa aludir também à juventude como um conjunto social necessariamente diversificado, do qual emergem diversas culturas juvenis matizadas por clivagens de natureza intra-geracional que são marcadas por desigualdades sociais (corrente classista da sociologia da juventude).

Se o efeito do ciclo de vida nos adverte justificadamente que a acumulação gradual de conhecimento, a entrada na vida activa e as responsabilidades familiares estimulam o interesse e a preocupação em intervir nos assuntos públicos, o efeito geracional poderá apontar efectivamente para uma alteração nos perfis de participação, reivindicativos de formas alternativas de participação – entre as quais emerge a participação não convencional – associadas à transformação operada ao nível dos valores pós-materialistas. Mas entre as duas, há um enorme universo que nos cabe explorar, nomeadamente o elemento da «interacção quotidiana», no qual se dão as trocas relacionadas com a socialização política e integração que, adiante, retomaremos.

Como é evidente e não obstante as clivagens inter-geracionais, as culturas juvenis podem ser referenciadas em função do contexto específico em que evoluem, o qual é assegurado por uma multiplicidade de variáveis como o local de residência, referências históricas objectivas (um bairro politicamente activo, por exemplo), grupo socioprofissional dos pais, grupo de amigos, tipo de música preferida, gosto pelo desporto, influências escolares ou até a pertença a uma organização política juvenil.

Consoante as culturas juvenis, assim se manifestam os jovens relativamente ao fenómeno político e eleitoral, não sendo por isso aceitável considerar que, entendidos como um todo, os jovens não se interessem pela política apenas porque se verificam elevados níveis de abstenção eleitoral num intervalo de idades específico. Os jovens e as culturas juvenis que exprimem e os matiza não são idênticas e, quanto a isso, as referências históricas ao tradicional envolvimento dos estudantes em acções de protesto assim como o

Alexandre Varela 51 envolvimento em organizações partidárias juvenis, atestam esse elemento distintivo de uns grupos em relação a outros, evidenciando distintas orientações políticas.

Pelos motivos invocados, é nosso entendimento que as culturas juvenis são construídas pela confluência de valores, crenças, símbolos, normas e práticas partilhadas que tanto podem ser inerentes a uma fase de vida como podem ser assimiladas através da interacção e socialização. Mas que se afirmam, independentemente do contexto, enquanto culturas frequentemente opostas ao conceito de cultura dominante. Seja por oposição à cultura das gerações mais velhas, seja por oposição à cultura de classes dominante62. Ora, a exigência de participação que decorre num quadro atitudinal de orientações cognitivas, afectivas e avaliativas relativamente ao sistema político (segundo o conceito de cultura cívica de Almond e Verba) esbarra naturalmente num padrão de culturas juvenis em oposição com os valores das gerações mais velhas.

Apesar desta clivagem de base entre culturas juvenis e a cultura de participação dominante, a diferenciação do contexto continua a ser particularmente importante se “entendermos as culturas juvenis como resultado de processos específicos de socialização”, as quais podem ser o resultado de interacções mais ou menos permanentes com elementos de gerações distintas63.

62 Pais [1990, 160]. 63

Alexandre Varela 52 4. A INTEGRAÇÃO DOS JOVENS COMO FACTOR DE MOBILIZAÇÃO POLÍTICA

À semelhança do que vimos anteriormente, a abstenção verificada nos primeiros anos que consagram a passagem à «maioridade política» regista quase sempre os maiores níveis, comparativamente aos restantes grupos etários. Efectivamente, a observação empírica habilita a concluir que os maiores níveis de participação eleitoral se concentram nas fases de idade intermédia, isto é, sensivelmente entre os 30 e os 65 anos de idade, apresentando frequentemente uma distribuição curvilinear64.

Em todo o caso, essa distribuição da abstenção por idades não afecta indiferentemente todos os jovens, justamente porque as suas coordenadas de mobilização política variam consoante os recursos de que dispõem, referências políticas favorecidas por processos de socialização e integração social que hão-de configurar atitudes específicas e outros tantos comportamentos políticos65. E, assim sendo, toda essa multiplicidade de variáveis, acrescidas de outros factores como a situação perante o emprego, as expectativas de vida, a avaliação geral da situação governativa do país e a intensidade das vivências são susceptíveis de posicionar diferentemente os jovens ou grupos de jovens, com respeito à participação política. Seja ao nível da participação convencional (participação eleitoral, contactos com políticos, militância partidária, etc.), seja no campo da participação não convencional (acções de protesto, tomadas de posição em órgãos de comunicação social, colaborar com organizações voluntárias, etc.).

Esta multiplicidade de variáveis é normalmente enquadrada pelos processos de integração social, a qual funciona como elemento clarificador de atitudes e comportamentos políticos, reflectindo aquilo que, num determinado contexto, é ou não razoável no ajustamento permanente e recíproco entre sociedade e indivíduo. Dito de outro modo, a própria participação e envolvimento cívico podem surgir como indicadores de integração

64 Ver Milbrath apud Della Porta [2003, 89-90]; Wattenberg [2002, 24 e ss.]; Reto e Sá [2000, 68-69]. Ver

também, a este respeito Magalhães e Moral [2008].

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Cfr. Freire e Magalhães [2002, 121-136]. Convém ter bem presente, no que respeita às atitudes políticas, nomeadamente à confiança e satisfação com a política, que os jovens enfrentam progressivamente maiores entraves à sua entrada na vida activa, remetendo-os ao desemprego e aos trabalhos precários. Ora, a imprevisibilidade quanto a perspectivas e escolhas futuras, a encruzilhada em que se acham, tende a favorecer um distanciamento e desconfiança entre os mais jovens, ao se darem conta de promessas adiadas, sonhos alterados e ao esquecimento a que são votados. Ver Pais [2001].

Alexandre Varela 53 social, em função da qual a intensidade e o grau de envolvimento variam. Altos índices de integração social enquadram, do ponto de vista teórico, indivíduos mais activos na defesa das estruturas ideológicas e materiais que constituem o fundamento das sociedades em que vivem. Neste campo, podemos considerar um continuum que vai da integração social de jure à integração de facto, ou seja, do mais elementar enquadramento social dos indivíduos enquanto membros de uma sociedade até à consubstanciação material desse enquadramento em acções concretas e envolvimentos políticos, cívicos, comunitários, profissionais, familiares. No caso do campo político, o expoente será a militância partidária activa e a eleição ou nomeação para cargos públicos. Mais uma vez e considerando as palavras de Manuel Villaverde Cabral, a materialização dos direitos políticos carece de uma atitude activa, a qual será favorecida por diferentes níveis de integração social e política. Estas são duas realidades que poderão nem sempre coincidir, embora partamos do pressuposto que são realidades cumulativas, isto é, um elevado nível de integração político- partidária tende a estar associada a elevados índices de integração social.

Nestes termos, a integração política que envolve a militância partidária activa e o envolvimento não convencional mais enérgico, ocupa um lugar de relevo na mobilização política porque é o meio pelo qual os indivíduos se envolvem directamente com fenómenos de natureza política, actuando e interagindo com eles. É também por meio da integração política e, em paralelo, da socialização política, que se desenvolve e incrementa a identificação partidária e o interesse pela política, indicadores vulgarmente considerados de enorme utilidade na análise das atitudes políticas.

Retomando a problemática dos ciclos de vida, é evidente que a idade é uma variável de primeira linha, uma vez que é no decurso das experiências e conhecimentos acumulados que a informação política é processada e consolidada. De acordo com esta leitura, a idade pode contribuir para a afirmação de um sentimento de competência subjectiva com vista a uma tomada de posição mais informada e crítica, que pode ter lugar em actos eleitorais ou em simples comentários entre amigos a respeito da performance de um governo. Entre os militantes em partidos ou estruturas políticas, é naturalmente no decurso da idade e do tempo de pertença que os laços partidários são reforçados, promovendo um maior envolvimento que se há-de consubstanciar no fortalecimento da identificação partidária a um nível de maior militância. Convém finalmente ressalvar o facto da identificação partidária gerar sentimentos de pertença cuja intensidade varia naturalmente entre a militância activa

Alexandre Varela 54 e a simples simpatia partidária66. Assim, a idade é assumida como um factor crítico de integração política que se encontra intimamente relacionada com os processos de socialização política.

A integração em determinados grupos sociais, organizações partidárias e sindicais ou simplesmente em comunidades mais ou menos implicadas politicamente pressupõe, de antemão, um conjunto de pessoas em interacção com vista à consecução de um ou vários objectivos comuns. Ora, os grupos sociais são frequentemente caracterizados por serem identificáveis, estruturados formal ou informalmente, apresentarem papéis e funções diversas e congregarem os seus membros em torno de interesses e valores comuns. Ainda dentro de uma concepção relacional, estas condições consagram normalmente um processo de socialização e educação informal entre os membros. Estes processos decorrem naturalmente da partilha e difusão de informação política, assim como da intensificação de sentimentos de pertença. Neste campo, a identificação com um objecto (um partido político, uma religião ou um clube de futebol), gera frequentemente sistemas de solidariedade entre os seus membros que se desenvolvem com referência à partilha de objectivos, contribuindo para a cooperação cívica, clubista ou religiosa. Em suma, gerados pela integração em grupos sociais, estes sistemas de solidariedade encontram nas normas de reciprocidade grupal e na intensificação do envolvimento, alimento privilegiado para a mobilização activa. Neste ponto importa ter em mente aquilo que foi dito acerca do capital social, medido pelas redes de reciprocidade e pela confiança, o qual é favorecido pelo envolvimento cívico e partidário.

Em todo o caso, apesar da existência de organizações partidárias juvenis e de outras organizações relativamente politizadas ou de envolvimento cívico, cujos processos de integração política são frequentemente intensos, não será leviano afirmar que a maioria dos jovens jamais esteve integrada em semelhantes estruturas, indicando que a integração político-partidária não é um processo generalizado entre os jovens portugueses67.

Por outro lado, os jovens são por vezes postos à margem das preocupações dos partidos por duas razões que podem surgir interligadas. Em primeiro lugar, sendo um eleitorado recente e frequentemente passivo no plano da participação convencional, não constitui um público-alvo prioritário na competição pelos votos, em particular em países com estruturas demográficas envelhecidas. Em segundo lugar, as referências e

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Com respeito à competência subjectiva adquirida com a idade, ver Freire e Magalhães [2002, 135]. Quanto ao aumento e reforço dos laços partidários, ver Dalton e Wattenberg [2000, 30].

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Alexandre Varela 55 reivindicações dos jovens podem manifestar-se algo desfasadas dos programas partidários, concentrados em problemáticas e assuntos só excepcionalmente comuns e coincidentes com os interesses e percepções genéricos dos jovens. Consequentemente, a própria sensação de distância ao poder acaba por funcionar como mais um mecanismo de desmobilização eleitoral68.

Em suma, o desinteresse político dos jovens identificado há décadas, persiste e é acentuado pelas lacunas de integração política, ao nível da pertença a associações cívicas ou organizações partidárias, mas também é constatável pelo défice de familiarização com o exercício da cidadania activa, consentido por alguma inércia do próprio sistema formal de ensino. Por outro lado, o aumento da mediatização e dos objectos de entretenimento hedonista, aumenta a passividade receptora dos jovens naquilo que Bernard Manin denominou a democracia do público69, porquanto é como espectadores – e não como participantes – que, em muitos casos, os jovens se configuram.

68 Ver Cabral [2000, 109]. 69

Alexandre Varela 56 5. SOCIALIZAÇÃO POLÍTICA E TRAJECTÓRIAS INDIVIDUAIS

A socialização política, fortemente associada a dinâmicas decorrentes da integração política mais ou menos institucional – politização do meio familiar e profissional, envolvimento em organizações partidárias, cívicas, associativas – está seguramente entre os mais importantes mecanismos que contribuem para a definição de atitudes e comportamentos convergentes com uma cultura política que privilegie a participação e o envolvimento cívico. Como é evidente, essa importância joga-se desde logo na transmissão, apreensão e transacção de referências políticas (que se traduzem em formas de estar, ser e sentir) e, também, de recursos cognitivos.

Na generalidade dos casos em que a socialização contempla a temática política para além de todas as outras, os primeiros contactos com esse universo dão-se no seio da família ou de grupos de amigos, podendo adquirir um carácter mais ou menos intenso no decurso das trajectórias individuais de cada um. Sob este ponto de vista, comportamentos tão díspares, como a militância partidária e a total apatia no relacionamento com objectos políticos, podem ser estudados com algum detalhe a partir das teorias da socialização. Em particular, podem ser estudados considerando as trajectórias de vida, no decurso das quais se dão a transmissão e apreensão de referências e reprodução de valores sociais que ordenam, classificam e avaliam as realidades sociais num dado contexto. Esta hipótese de trabalho pressupõe que se verifique, de facto, a interiorização de elementos cognitivos, normativos e axiológicos circulantes numa sociedade e que são transmitidos pelas pessoas. Os elementos que são objecto de processos de socialização serão, por sua vez, reproduzidos

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