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Não fosse apenas a crescente aceitação do instituto perante a doutrina pátria, a verdade é que o inadimplemento antecipado do contrato vem sendo, também, reconhecido e aplicado pelos Tribunais do país. Apesar de ainda serem poucos os precedentes, ocorre que a quebra antecipada já foi proclamada em diferentes Tribunais de Justiça dos Estados e, inclusive, na instância máxima do Superior Tribunal de Justiça.

Veja-se, por exemplo, que no primeiro julgado do país a reconhecer o inadimplemento anterior ao termo, em razão da pouca disseminação do instituto na época do julgamento – que ocorreu em 1983 – a ruptura antecipada sequer veio a ser declarado de maneira expressa. Não obstante, em razão da evidente ocorrência de uma das suas hipóteses caracterizadoras, o inadimplemento foi totalmente considerado. É o que se extrai da ementa do seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, de relatoria do ilustre Desembargador Athos Gusmão Carneiro:

“CONTRATO DE PARTICIPACAO, ASSEGURANDO BENEFICIOS

VINCULADOS A CONSTRUCAO DE HOSPITAL, COM

COMPROMISSO DE COMPLETA E GRATUITA ASSISTENCIA MEDICO-HOSPITALAR. O CENTRO MEDICO HOSPITALAR DE PORTO ALEGRE LTDA NAO TOMOU A MINIMA PROVIDENCIA PARA CONSTRUIR O PROMETIDO HOSPITAL, E AS PROMESSAS FICARAM NO PLANO DAS MIRAGENS; ASSIM, OFENDE TODOS

OS PRINCIPIOS DE COMUTATIVIDADE CONTRATUAL

PRETENDER QUE OS SUBSCRITORES DE QUOTAS ESTEJAM ADSTRITOS A INTEGRALIZACAO DE TAIS QUOTAS, SOB PENA DE PROTESTO DOS TITULOS. PROCEDENCIA DA ACAO DE

RESCISAO DE CONTRATOS EM CONTA DE PARTICIPACAO.”72

(grifou-se)

Perceba-se que, nesse caso, por conta do não-cumprimento das obrigações da contraparte de construir o hospital em tempo hábil, a rescisão do contrato se mostrou admissível, tendo em vista que, o comportamento do devedor levaria a concluir pelo inadimplemento da avença, antes mesmo do advento do termo. Segundo o próprio relator, naquela hipótese, o que teria ocorrido seria o “completo inadimplemento por parte de um dos contratantes. Já transcorreram mais de 5 anos e o Centro Médico Hospitalar existe apenas de jure.”.

35 Já no que diz respeito ao precedente do Superior Tribunal de Justiça, o ilustre Ministro Relator Ruy Rosado de Aguiar reconheceu, de maneira explícita, a configuração da quebra antecipada do contrato. Nesse caso, mais uma vez, em razão do comportamento concludente do devedor em sentido contrário ao cumprimento, foi admitida a ruptura da avença antes do advento do termo. Leia-se a seguinte ementa, do acórdão da 4ª Turma do Tribunal Superior:

“PROMESSA DE COMPRA E VENDA. Resolução. Quebra antecipada do contrato.

- Evidenciado que a construtora não cumprirá o contrato, o promissário comprador pode pedir a extinção da avença e a devolução das importâncias que pagou. - Recurso não conhecido.”73 (grifou-se)

No referido julgado, o fato é que as partes teriam contratado a compra e venda de um imóvel, a ser construído e entregue em novembro de 1999. Apesar disso, em julho de 1998, as obras sequer teriam se iniciado, motivo pelo qual o adimplemento do contrato, no prazo previsto, se mostrava impossível. Diante disso, o STJ reconheceu e declarou a quebra antecipada do contrato, de acordo com a conclusão do relator de que “Quando a devedora da prestação futura toma atitude claramente contrária à avença, demonstrando firmemente que não cumprirá o contrato, pode a outra parte pleitear a sua extinção.”.

Além desse caso, importante notar que, recentemente, novos precedentes tem surgido nos Tribunais de Justiça do país, os quais vem, cada vez mais, reconhecendo o inadimplemento antecipado, frente às suas hipóteses de configuração. É esse o caso do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro onde, apenas no início do ano de 2011, já aplicou, em duas ocasiões distintas, a quebra antecipada do contrato.

No primeiro precedente, a Desembargadora relatora Célia Maria Vidal Meliga Pessoa, em decisão monocrática – confirmada posteriormente pela Câmara julgadora – decidiu que “quando as partes fixam o momento para o cumprimento das prestações, mas as condutas praticadas por uma delas revelam que não será adimplente ao tempo convencionado, adianta-se o remédio resolutório como espécie de antecipação do inadimplemento,

36 concedendo ao prejudicado a possibilidade imediata de desconstituição da relação, em vez de aguardar pelo desenlace avisado e sofrer prejuízos ainda mais amplos.”74

Já no segundo julgado, ao se tratar, mais uma vez, de atraso na conclusão de empreitada com prazo certo, a 20ª Câmara Cível, mediante acórdão de relatoria da Desembargadora Odete Knaack de Souza, aplicou a teoria do inadimplemento antecipado, afirmando que “apesar de a demanda ter sido promovida antes do escoamento do prazo fatal para conclusão da empreitada, incide a teoria do inadimplemento antecipado, visto ser incontroverso o atraso das obras, ao que a agravada anuiu ao imputá-lo a força maior, sem comprová-la, contudo.”75

A fim de comprovar o crescente reconhecimento que o instituto vem ganhando nos tribunais deve-se notar que, também, os Tribunais de Justiça do Distrito Federal e de São Paulo, já decidiram pela aplicação teoria da ruptura antecipada. Com efeito, através do acórdão de relatoria do Desembargador Hermenegildo Gonçalves, da 1ª Turma Cível do TJDF, decidiu-se que “não se pode exigir do comprador a espera da previsível falência do empreendimento para só depois buscar a rescisão do contrato, bem como daquilo que já se pagou se a demora na construção da obra é flagrante, e de fácil constatação o inadimplemento antecipado.”76. Nesse mesmo sentido, decidiu também a 9ª Câmara de Direito Privado do TJSP, mediante acórdão de relatoria do Desembargador Piva Rodrigues, o qual concluiu que “examinando-se as condutas praticadas pela ré até a data da sentença, é possível afirmar que, inevitavelmente, as obras não estariam prontas no tempo convencionado.”77

Diante desse breve panorama jurisprudencial, é possível confirmar a amplitude que o instituto do inadimplemento antecipado vem ganhando perante Tribunais de Justiça diversos do país. No entanto, até o presente momento, confirma-se que a grande maioria das hipóteses de aplicação do instituto pelos tribunais se restringiu ao comportamento concludente do devedor, voltado especificamente para casos de construção com prazo certo. Ainda assim, esse cenário comprova, invariavelmente, a aceitação do instituto pelo direito brasileiro.

74 TJRJ, Ap. 0117017-71.2008.8.19.0002, rel. Des. Célia Maria Vidal Meliga Pessoa, 18ª Câmara Cível, j.

07.01.2011

75 TJRJ, Ag. 0004042-10.2011.8.19.0000, rel. Des. Odete Knaack de Souza, 20a Câmara Cível, j. 27.04.2011 76 TJDF, Ap. 0001518-85.2002.807.00001, rel. Des. Hermenegildo Gonçalves, 1ª Turma Cível, j. 13.05.2002 77 TJSP, Ap. 0110649-33.2003.8.26.0000, rel. Des. Piva Rodrigues, 9ª Câmara de Direito Privado, j. 09.03.2010

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