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Juscelino Kubitschek de escala em Lisboa

III. 2 33 Anos depois: a visita de Café Filho

III.4. Juscelino Kubitschek de escala em Lisboa

Apesar de esta visita não ser considerada “visita de Estado”, visto que Juscelino Kubitschek tinha sido eleito mas não havia tomado posse, o Presidente de Portugal e o Governo de Salazar fez questão de o receber na condição de Presidente.

Assim, a 22 de Janeiro de 1956, e depois de ter visitado vários países da Europa e da América, o Presidente eleito do Brasil, Juscelino Kubischek de Oliveira, chega ao aeroporto de Lisboa, vindo de Madrid, para uma visita de dois dias, como hóspede do Governo português.232

No aeroporto é aguardado pelo Presidente do Conselho, Professor Oliveira Salazar, cercado de membros do seu Governo, entre os quais o seu colaborador directo, o Ministro da Presidência do Conselho, Professor Marcelo Caetano e o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Cunha, bem como os Embaixadores do Brasil em Lisboa, Heitor Lyra e o de Portugal no Rio de Janeiro, António de Faria. Ainda no aeroporto e depois dos cordiais cumprimentos e apresentações, cumpre-se o protocolo com a deslocação do Presidente eleito para a plataforma, onde recebe as honras militares inerentes à situação. Tocam-se os acordes dos hinos do Brasil e de Portugal e quando Kubitschek de Oliveira inicia a revista à formação, ouvem-se os aplausos da multidão que assistia à chegada do Presidente.233

231 CHACON, Vamireh, História dos Partidos brasileiros, Os Partidos na Quarta Republica (1945-

1964), Colecção Temas Brasileiros, Volume V, Editora Universidade de Brasília, 2ª Edição, Brasília, 1985.

232 AHDMNE, 2P, A61, M42, Visita do Presidente eleito dos Estados Unidos do Brasil, Kubitschek de

Oliveira a Portugal, Janeiro de 1956, Circular nº3 do MNE para as Missões Diplomáticas e Consulados indicados, Lisboa, 3 de Fevereiro de 1956.

233PT IANTT AOS/CO/PC-40, Visita do Presidente eleito dos Estados Unidos do Brasil, Juscelino

79 Depois de trocar algumas palavras com Salazar, ao chegar ao átrio do aeroporto, o Sr. Kubitschek é interpelado pelos jornalistas e, a pedido destes, profere uma breve saudação ao povo português a aos governantes de Portugal.234

Seguidamente, depois de receber a continência da cavalaria da Guarda Nacional Republicana, encarregues da escolta de Honra, o Presidente entra no automóvel presidencial e organiza-se o cortejo que segue para o Palácio Nacional de Belém. Ao longo de todo o percurso, apesar de serem cerca das 10 horas da manha, os passeios estão cheios de pessoas que saúdam entusiasticamente o Presidente eleito. Por volta das 11 horas, o cortejo presidencial chega a Belém, onde o Dr. Juscelino Kubitscheck, depois de receber as Honras Militares, é recebido pelo Presidente de Portugal, General Craveiro Lopes, a quem, entre outros assuntos, convida para visitar o Brasil.235

Já no Palácio, e depois dos cumprimentos, o General Craveiro Lopes, que ostentava a Grã-Cruz do Cruzeiro do Sul, depois de apresentar ao Presidente eleito dos elementos da sua Casa Civil e Militar e este, por sua vez apresentar ao Presidente português as entidades que o acompanhavam na viagem à Europa, condecorou o Presidente brasileiro com as insígnias da Grã-Cruz de Torre e Espada. Proferindo, a propósito, breves palavras, disse que era desejo constante dos portugueses, manifestarem a sua admiração, amizade e afecto à Nação brasileira. Interpretando esse sentimento que desde sempre contribuía para estreitar cada vez mais as relações existentes entre os dois Povos, tinha grande satisfação em entregar ao Presidente do Brasil uma Ordem muito antiga e nobilíssima, destinada a distinguir altas virtudes e a premiar o valor, a lealdade e o mérito. Termina, formulando, em nome de Portugal, os mais sinceros votos para que Juscelino Kubitschek seja muito feliz no elevado cargo que iria, dentro de poucos dias, assumir.236

Respondendo, o agraciado disse receber com muita honra esta Ordem e que conhecia perfeitamente o valor e o significado daquela venerável condecoração, ligada ao nome de um Rei que foi dos portugueses e dos brasileiros – D. João VI. Conclui, declarando que agradecia, emocionado, aquela homenagem, que interpretava como envolvendo todo o povo brasileiro, em nome do qual saudava o Presidente de Portugal

234 AHDMNE, 2P, A59, M320, Visita do Presidente eleito dos Estados Unidos do Brasil, Juscelino

Kubitschek de Oliveira a Portugal, Boletim Semanal do Secretariado Nacional de Informação, Noticias de Portugal, Ano IX, Nº 456, pag. 2, Lisboa, 28 de Janeiro de 1956.

235 PT IANTT AOS/CO/PC-40, Visita do Presidente eleito dos Estados Unidos do Brasil, Juscelino

Kubitschek de Oliveira a Portugal, fls 824-826, Lisboa, Janeiro de 1956.

236 AHDMNE, 2P, A59, M320, Visita do Presidente eleito dos Estados Unidos do Brasil, Juscelino

Kubitschek de Oliveira a Portugal, Boletim Semanal do Secretariado Nacional de Informação, Noticias de Portugal, Ano IX, Nº 456, pag. 4, Lisboa, 28 de Janeiro de 1956.

80 com os votos mais ardentes pelas relações, cada vez mais fraternas, entre portugueses e brasileiros.

No final desta cerimónia, os presidentes despediram-se com um efusivo aperto de mão e o Sr. Juscelino de Oliveira segue para o Palácio de Queluz, onde fica alojado. Era cerca do meio-dia quando o Presidente eleito chegou a Queluz e esperava-o uma multidão de pessoas que queriam ver e saudar o Presidente. Voltou a ter honras militares e depois de passar revista à formação dirigiu-se à janela dos seus aposentos, a fim de responder às manifestações populares de que continuava a ser alvo. Pouco depois, desce novamente à entrada, mas desta vez para receber o General Craveiro Lopes que, por breves momentos, retribui a visita. Pouco depois o Presidente de Portugal voltou a Belém e o Presidente eleito do Brasil prepara-se para o almoço, que se realizou na Embaixada do Brasil.237

Depois de um almoço íntimo na Embaixada do Brasil, o Presidente dirigiu-se para o Estádio Nacional para assistir a uma partida de futebol, onde foi aclamado por mais de cinquenta mil espectadores que presenciavam o jogo. Depois dos agradecimentos, sentou-se entre os Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Educação Nacional e assistiu ao encontro até ao final da 1ª parte. Antes de se retirar foi alvo de outra grande manifestação de simpatia.

Seguiu então para o Palácio das Necessidades onde o Dr. Paulo Cunha, Ministro dos Negócios estrangeiros de Portugal, apresenta o Presidente eleito às altas individualidades do meio cultural, cientifico, financeiro e económico de Portugal. Depois da recepção, o Ministro dos Negócios Estrangeiros usou da palavra para, num brinde ao Presidente eleito do Brasil, reafirmar a honra que sentia em recebe-lo no Palácio das Necessidades, local onde nascera a ideia do Tratado de Amizade e Consulta, instrumento que consagrara uma política de sincera amizade e de constante entendimento, característica dominante na Comunidade Luso-Brasileira. Termina relembrando o passado glorioso da Nação brasileira e da sua vitalidade e desejando as maiores venturas pessoais e no desempenho do seu novo cargo, sendo que a sua obra, a

237 AHDMNE, 2P, A59, M320, Visita do Presidente eleito dos Estados Unidos do Brasil, Juscelino

Kubitschek de Oliveira a Portugal, Boletim Semanal do Secretariado Nacional de Informação, Noticias de Portugal, Ano IX, Nº 456, pag. 5, Lisboa, 28 de Janeiro de 1956.

81 bem do Brasil, iria ser acompanhada e sentida pelos portugueses como se se tratasse de Portugal, tão intima era a ligação entre as duas Pátrias.238

Em resposta, o Dr. Juscelino de Oliveira recorda os objectivos da sua viagem, querendo estabelecer contacto com as altas individualidades da politica, cultura e da economia e que sendo essa a intenção poderia não ter visitado Portugal pois aqui já conhecia uma grande parte das pessoas em questão. Mas isso seria um crime “lesa- patria”, já que “Portugal representa a fonte e o berço de todas as maiores aspirações

do Brasil e estar em terra portuguesa corresponde para um brasileiro, à visita de um filho à casa paterna.”239

Após afirmar que a calorosa recepção de que era alvo em Lisboa confirmava as suas palavras, o Presidente declara que no seu mandato de cinco anos iria procurar apertar ainda mais os laços de união entre as duas Pátrias. Refere ainda que o Brasil estaria sempre aberto a todos os entendimentos, convénios e acordos com Portugal, visto não haver quaisquer fronteiras entre os dois países.

Termina agradecendo a presença de tão ilustres individualidades e dizendo que “levo saudades deste Portugal tão querido para os brasileiros. Levarei aos seus

ouvidos e corações os ecos desta extraordinária recepção, que traduz o elo indestrutível de ligação de dois povos que o destino uniu e que cada um de nós – cada um dos Portugueses e cada um dos Brasileiros – deve procurar sempre tornar mais amigos e prósperos.”240