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2. A ASSISTÊNCIA JURÍDICA

2.2. CONCEITOS E DIFERENÇAS ENTRE JUSTIÇA GRATUITA, ASSISTÊNCIA

2.2.1. JUSTIÇA GRATUITA

Como bem assinala MARCACINI153 a própria lei 1.060/50 faz referência várias vezes ao termo assistência judiciária ao referir-se ã justiça gratuita.154 O sentido correto da expressão assistência judiciária é apenas usado no art. Io, nos § Io e 2o do art. 5o, e no art. 16, parágrafo único.155 A atual Magna Carta utiliza um terceiro conceito que não deve ser usado como sinônimo de assistência judiciária ou justiça gratuita que é a assistência jurídica.

Assim, justiça gratuita nada mais é do que a isenção de toda e qualquer despesa judicial do necessitado em juízo, bem como as despesas extrajudiciais decorrentes do andamento do processo.

Para MARCACINI, justiça gratuita

“deve ser entendida a gratuidade de todas as custas e despesas judiciais ou não, relativas a atos necessários ao desenvolvimento do processo e à defesa dos direitos do beneficiário em juízo. O benefício da justiça gratuita compreende a isenção de toda e qualquer despesa necessária ao pleno exercício dos direitos e das faculdades processuais, sejam tais despesas judiciais ou não”.156

O benefício compreendido pela justiça gratuita garante toda e qualquer despesa, tais como: a isenção de custas, taxas judiciárias, condução do oficial de justiça, despesas postais, suprimento de autenticações em cópias e procurações, despesas com remessa de cartas precatórias, perícias, extração de cópias do processo, despesas com órgãos do foro extrajudicial e outros órgãos públicos, documentos para a realização de usucapião,

153 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Op. cit., p. 29-31.

154 Artí 3o: “a assistência judiciária compreende as seguintes isenções: (...); Art. 4o: “a parte gozará dos benefícios da assiWmcia jutífciária, mediante simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as custais do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família”; Art. 7o “a parte contrária poderá, em qualquer fase da lide, requerer a revogação dos benefícios de assistência, desde que prove a inexistência ou o desaparecimento dos requisitos essenciais à sua concessão”; Art. 9o: “os benefícios da assistência judiciária compreendem todos os atos do processo até decisão final do litígio, em todas as instâncias” 155 “A rt.íl0: Os poderes públicos, federal e estadual, concederão assistência judiciária aos necessitados nos termos da presente lei”. “Art. 5o, § Io: Deferido o pedido, o juiz determinará que o serviço de assistência judiciária,\organizado e mantido pelo Estado, onde houver, indique, no prazo de dois dias úteis, o advogado que patrocinará a causa do necessitado. § 2o : Se no Estado não houver serviço de assistência judiciária, por ele mantido, caberá a indicação à Ordem dos Advogados, por suas seções estaduais, ou subseções municipais.” “Art. 16°, parágrafo único: O instrumento de mandato não será exigido, quando a parte for representada em juízo por advogado integrante de entidade de direito público incumbido, na forma da lei, de prestação de assistência judiciária gratuita (...)”

publicação de editais, despesas com honorários, tradução de documentos e depósito de 5% do valor da causa na propositura da ação rescisória.157

Muitos desses benefícios foram conquistados lentamente, à luz da jurisprudência, especialmente no que se refere a perícias e documentos de profissionais nas

ações de usucapião.

Uma grande dificuldade apresentada pelos necessitados no benefício da justiça gratuita é com avanço do sistema neoliberal. Vários cartórios e distribuições dos fóruns foram entregues a particulares, ou seja, foram privatizados.

Por exemplo, na Comarca de Santo Cristo, no Rio Grande do Sul, a distribuição do Foro foi privatizada. A cidade é pequena e em muitas causas é pleiteada a justiça gratuita. O juízo, nas ações em que ela é pretendida, a defere para todos os atos, com exceção das custas que cabe ao escrivão. Essa decisão é ilegal e inconstitucional, pois obsta as pessoas carentes de ingressarem em juízo, ferindo assim, os preceitos contidos na lei e na Carta Magna.

O Tribunal de Justiça do Estado tem reformado as decisões que indeferem a justiça gratuita mencionada, conforme a seguinte ementa:

“Processual civil. Gratuidade judiciária. Benefício que implica isenção da obrigação de pagar quaisquer despesas do processo, inclusive as custas devidas ao escrivão. Os benefícios da assistência judiciária compreendem todos os atos do processo até decisão final do litígio, em todas as instâncias. Logo, estando o agravante ao abrigo deste benefício, fica isento da obrigação de adiantar as custas devidas ao chefe da Escrivania, ao qual a lei não conferiu nenhum privilégio, não cabendo ao intérprete abrir exceção sem respaldo

;fear.158

Cumpre salientar que pela lei e pela construção da jurisprudência, não há necessidade de ser indigente ou miserável e sim necessitado, para ter o benefício da justiça gratuita.

157 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Op. cit., p. 35-47

158 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Gratuidade Judiciária. Benefício que implica isenção da obrigação de pagar quaisquer despesas do processo, inclusive as custas devidas ao escrivão. Agravo de Instrumento n° 70001736271. Walter de Lima Ramos e Município de Porto Lucena. Relatora: Mara Larsen Chechi. 28 de dezembro de 2000.

BARBOSA menciona que a jurisprudência utiliza “como critério o fato de que o conceito de necessitado entende-se pobre no sentido legal e não o miserável ou indigente. Assim, pode-se ter um imóvel, uma linha telefônica ou um automóvel e ser pobre, no sentido de que a Lei estabelece, tendo, portanto, o direito de usufruir o benefício da Justiça Gratuita”.159

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