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CAPÍTULO III – A JUSTIÇA MILITAR

3.1 Justiça Militar Estadual: Organização e Competência

A organização judiciária da Justiça Militar Estadual é bem semelhante à da Federal, com algumas particularidades. A 1ª instância é exercida pelos Conselhos de Justiça, compostos pelo juiz-auditor e por quatro juízes militares, como será explicado de forma mais aprofundada quando da análise da organização da Justiça Militar da União. O que difere a organização da Justiça Castrense Estadual da Federal é, portanto, o fato de a 2ª instância daquela ser exercida pelos Tribunais de Justiça Militar, que existem somente nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Nos demais Estados, em que o efetivo da Polícia Militar não é superior a vinte mil integrantes, existem Câmaras Especializadas no Tribunal de Justiça local. O art. 125 da Constituição Federal, em seu §3º, prevê a organização da Justiça Militar Estadual:

Art. 125 - Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição.

(...)

§ 3º - A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes. (Alterado pela EC 45/2004)

Destarte, a Constituição Federal de 1988 restabeleceu a possibilidade de criação de Tribunais de Justiça Militar, que havia sido suprimido desde a Emenda Constitucional nº 01 à Constituição de 1946. Tais Tribunais podem ser criados através de proposta dos Tribunais de Justiça locais, na hipótese já mencionada.

A título de exemplo, no Ceará, como não existe um Tribunal de Justiça Militar, a organização judiciária militar é a seguinte – conforme art. 123 da Constituição do Estado do

Ceará51: uma única vara especializada em sede de primeiro grau de jurisdição, denominada Vara da Auditoria Militar e, no segundo grau, pelo Tribunal de Justiça, a quem compete julgar os recursos provenientes das decisões do Conselho da Justiça Militar, mais especificamente nas Câmaras Criminais, segundo o art. 26, “e” do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará.

Finda a explicação da organização da Justiça Militar Estadual, passemos à análise de sua competência, que se restringe a julgar as Forças Auxiliares tão somente – Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar -, sendo as Forças Armadas propriamente ditas – Exército, Marinha e Aeronáutica – julgadas pela Justiça Militar Federal unicamente.

No Brasil, por força da sua própria formação histórica, assim como em outros países, como a França e a Itália, faz-se necessária a existência de uma Polícia com uma estética militar, com atividades constitucionais para o policiamento ostensivo e preventivo, de modo que é imprescindível que seus comportamentos e atividades prejudiciais à sociedade e as suas corporações sejam julgados por uma Justiça Especializada. (MAGALHÃES, 2007, p. 80-81)

O art. 144 da Constituição Federal, em seu §6º, conceitua as polícias militares e os corpos de bombeiros militares como forças auxiliares e reserva do Exército. A eles, da mesma forma que às Forças Armadas, também se aplicam os valores da disciplina e da hierarquia, visto que, por força da Emenda Constitucional nº 18/1998, estes foram previstos expressamente no caput do art. 42 da Constituição Federal de 1988.

A Emenda Constitucional nº 45/2004, aumentou a competência da Justiça Militar dos Estados, ao lhe atribuir uma competência de natureza eminentemente cível, qual seja, julgar as ações judiciais contra atos disciplinares militares; sendo esta outra distinção para a Justiça Castrense da União, que se restringe à matéria criminal.

Art. 125 [...]

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.)

§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.

51

Art. 123. A Justiça Militar é competente para processo e julgamento dos integrantes das organizações militares estaduais - Polícia Militar e Corpo de Bombeiros - nos crimes militares definidos em lei, compondo-se:

I - em primeiro grau, da Auditoria e Conselho de Justiça Militar;

II - em segundo grau, pelo Tribunal de Justiça, ao qual cabe decidir sobre a privação do posto e patente dos oficiais, sobre a perda da graduação de praças de ambas as corporações militares.

Vê-se que outra mudança trazida pela EC 45/2004 foi a de tirar a presidência dos Conselhos de Justiça das mãos dos militares, rompendo uma tradição que vinha desde a criação da Justiça Castrense, levando à presidência aos juízes de Direito. Esta é, portanto, outra diferença da Justiça Militar Estadual da Federal.

Segundo Priscila Barbieri, em sua monografia (2010, p. 24):

Dessa forma, a nova competência deferida à Justiça Militar Estadual trouxe, em seu bojo, duas modificações importantes. Sob o ângulo processual, inaugurou o contato da justiça castrense com o processo civil, uma vez que, antes da reforma do Poder Judiciário, estava circunscrita ao processo penal, novidade que trouxe significativas alterações não só na rotina judicante, mas também na estrutura e expedientes cartorários das secretarias, juízos e cartórios da Justiça Militar dos Estados. No campo do direito material, conforme preceitua MARTINS (2005), a competência para processar e julgar ações judiciais contra atos disciplinares militares, colocou a Justiça Militar Estadual em contato com os aspectos científicos do direito administrativo na vertente do direito administrativo disciplinar militar, ramo que vem experimentando grande evolução doutrinária nos últimos anos.

A competência da Justiça Militar Estadual é prevista na Lei de Organização Judiciária dos Estados. Quanto à Lei nº 8.457/92, que organiza a Justiça Militar da União, somente se aplicam à Justiça Militar Estadual os dispositivos relativos à composição dos Conselhos de Justiça – Permanente e Especial, que serão analisados em momento oportuno.

Diferentemente da Justiça Militar da União, a Justiça Castrense Estadual não possui competência para processar e julgar civis, restringindo-se, subjetivamente, a julgar apenas policiais e bombeiros militares, como determina a Súmula 53 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de

crime contra instituições militares estaduais”.

Explicando melhor o tema:

A justiça militar estadual não dispõe de competência penal para processar e julgar civis que tenham sido denunciados pela prática de crime contra a Polícia Militar Estadual. Qualquer tentativa de submeter os réus civis a procedimentos penais- persecutórios instaurados perante órgãos da justiça militar estadual representa, no contexto de nosso sistema jurídico, clara violação ao principio constitucional do juiz natural. A CF, ao definir a competência penal da justiça militar dos estados membros, delimitou o âmbito de incidência do seu exercício, impondo, para efeito de sua configuração, o concurso necessário de dois requisitos: um, de ordem objetiva (a pratica de crime militar definido em lei) e outro, de índole subjetiva (a qualificação do agente como policial militar ou como bombeiro militar). A competência constitucional da justiça militar estadual, portanto, sendo de direito estrito, estende-se, tão somente, aos integrantes da policia militar ou dos corpos de bombeiros militares que hajam cometido delito de natureza militar52. (NÓBREGA, 2013)

Por fim, para que não haja a chamada “justiça dos militares” e para que seja

assegurada a aplicação da hierarquia e da disciplina, à luz de princípios constitucionalmente assegurados, cumpre ao Parquet Estadual, em sua função de custos legis, fiscalizar e exercer o controle externo da atividade policial, conforme previsto no art.129, VII, da CRFB.