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JUSTIFICATIVA

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1. INTRODUÇÃO

1.1. ELEMENTOS EPISTEMOLÓGICOS ESTRUTURANTES DA PESQUISA

1.1.3 JUSTIFICATIVA

A temática é emergente e retrata um problema social presente na atualidade, o que se concretiza nos inúmeros dados estatísticos que demostram a incidência na totalidade das regiões brasileiras.

O neoescravismo advém de vulnerabilidades econômicas e sociais que se reafirmam numa economia global, presente nas mais diversas cadeias produtivas.

Para enfrentamento desta problemática se faz necessário a percepção do trabalho escravo contemporâneo no Brasil como reflexo de questões sociais graves, aliados aos fatores da falta de distribuição de terras e riquezas, a precariedade de postos de trabalho e o poderio econômico, político e ideológico de grupos específicos que impedem que mudanças estruturais necessárias para a sua erradicação sejam efetivadas, tais como o aumento da punição e o investimento em alternativas de geração de emprego, renda e acesso à terra (ROCHA & BRANDÃO, 2013).

Ressalta a importância de analisar essa temática, visto que a maioria das situações de trabalho escravo detectadas no Brasil está ligada em modernas e importantes cadeias produtivas, no topo das quais se encontram empresas de grande poder econômico, comumente grandes exportadoras.

A escravidão contemporânea é um transtorno para vítimas, governos, ativistas e cientistas sociais. Essa realidade significa a privação e o abuso de milhões, mas a escravidão é difícil de observar, estudar e prender. A intervenção efetiva requer maior estudo, tanto na estimativa quantitativa da prevalência quanto incidência, mas também na dinâmica subjacente das causas, natureza e consequências da escravidão. Somente muito recentemente a questão entrou em mídia jornalística e literatura acadêmica. Muito mais pesquisas são necessárias para entender os vários fatores econômicos, políticos, culturais, exploradores, de pobreza e violentos que contribuem para a contínua existência da escravidão.

Ao analisar as condições de trabalho degradante no ambiente rural, o estudo revelará as condutas mais recorrentes, o modus dessa relação de trabalho e a dimensão da degradação de seu ambiente. Nesse afã, lançará reflexões acerca das necessidades de modelos e práticas de gestão que valorizem a dignidade do trabalhador e, por conseguinte, direitos e garantias fundamentais. A dissertação mostra-se, igualmente, adequada ante à ofensiva do capital na estrutura de produção rural, ensejando um modelo de acumulação de capital que desprestigia a pessoa. Nesse ponto, emerge a correlação do tema proposto com a linha de pesquisa escolhida – Políticas Públicas e Desenvolvimento Rural Sustentável –, na medida em

que se propõe discutir as políticas públicas para combate e erradicação desse problema.

Existem várias políticas para resolver esse problema. A erradicação da escravidão requer a implementação e aplicação das leis e tratados vigentes, a mudança das estruturas econômicas, a melhoria dos serviços sociais, o aproveitamento dos poderes da mídia e de outras instituições da sociedade civil, e assegurando a prevenção de novos casos. Tanto o lado da oferta como o da procura da escravidão requerem atenção. Um fortalecimento do compromisso combinado com uma renovação dos esforços é desesperadamente necessário para aliviar o sofrimento da escravidão contemporânea.

É através do trabalho que o indivíduo busca satisfazer suas necessidade básicas de sobrevivência, necessidades socias e de auto afirmação enquanto ser humano e profissional. O trabalho tem um sentido vital para o homem, possibilita ele criar e produzir meios para satisfazer suas próprias necessidades e contribui para elevar a dignidade humana, pois é capaz de proporcionar o desenvolvimento da cidadania.

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, o trabalho é um direito de todo homem e mulher, devendo cada um ter o direito de escolher e exercer livremente uma atividade em condições dignas, isso significa dizer que a legislação deve proteger e regular a atividade desempenhada, a fim de garantir a segurança do trabalhador.

A temática do trabalho escravo contemporâneo tem despertado interesse de pesquisadores tanto nacional como internacionalmente, pois é considerado emergente e interdisciplinar, e ainda carece de produções acadêmicas . Assim, diferentes autores têm investigado a questão da escravidão contemporânea nas áreas da política pública (Antero, 2008; Monteiro & Fleury, 2014), responsabilidade social corporativa (GUPTA & HODGES, 2012; VELUDO-DE- OLIVEIRA, MASCARENHAS, TRONCHIN, & BAPTISTA, 2014), ética (DAHAN & GITTENS, 2010) e gestão (GUINDASTE, 2013; MASCARENHAS, GONÇALVES- DIAS, & BAPTISTA, 2015).

Na área de administração, a discussão da escravidão contemporânea como uma prática de gestão foi iniciado pelo trabalho de Crane (2013) e Mascarenhas et al.

(2015), ambas desenvolveram contribuições teóricas substantivas. Crane (2013) analisa a macro (industrial, socioeconômica, geográfica, cultural e regulamentar) e micro (capacidades de gestão inerentes à manutenção da escravidão) contextos que sugerem proposições sobre as condições necessárias para a prática de escravidão e apontam possíveis caminhos para a investigação empírica. Mascarenhas et al (2015), faz uma análise qualitativa, fornecem evidências de que corrobora e amplia as proposições de Crane (2013) no contexto brasileiro, e expõe uma agenda de pesquisa com temas que permitem o melhor entendimento do trabalho escravo como uma prática de gestão.

Se tratando de condição degradante de trabalho, objeto central de estudo dessa investigação, será tomado como base o conceito do artigo 5º inciso III da Constituição Federal, o que afirma que ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. A definição do artigo 149 do Código Penal para condição análoga a de escravo e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no que se refere ao direito de todo ser humano exercer livremente uma atividade em condições dignas.

Neste contexto, a presente pesquisa visa amplificar a discussão iniciada pelos autores Crane (2013) e Mascarenhas et al. (2015) e buscar na legislação uma forma legal de conceituar e analisar relações indignas de trabalho. Enquanto a maioria dos estudos buscaram compreender e avaliar a incidência de trabalho escravo e as características do fenômeno, o foco dessa pesquisa é apresentar realidades de trabalhadores rurais em condições degradantes no Brasil. O pressuposto é que, em pleno século XXI ainda existem fatores que levam à existência de escravidão contemporânea, ter indivíduos expostos a condições de trabalho sub-humanas, embora a maioria da organizações venha a ter mais desvantagens do que os ganhos com essa prática criminosa, seja à sua reputação (GARDBERG & FOMBRUN, 2006; POWELL & SKARBEK, 2006) e coações institucionais (DIMAGGIO E POWELL, 1983; SCOTT, 2001).

Essas evidencias revelam a importância atual e pertinente do tema, tendo em vista a visibilidade social do fenômeno e as estatísticas alarmantes, decorrentes de um movimento de desconstrução das conquistas sociais no âmbito trabalhista e dos direitos humanos, intrínsecos a todos os indivíduos.

Para esse fim, foram utilizados nessa investigação dados primários, os acórdãos, que serão analisados na perspectiva da escravidão contemporânea, buscando identificar as condições degradantes de trabalho no ambiente rural.

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