• Nenhum resultado encontrado

A escolha do tópico justifica-se, em especial, devido à lacuna que há nas pesquisas, no Brasil, sobre a necessidade de uso de inglês por pilotos militares, embora, nos últimos tempos, o uso de línguas estrangeiras por militares em operações internacionais e multinacionais venha ganhando destaque entre os pesquisadores.

Em um estudo sobre proficiência em línguas estrangeiras para militares norte- americanos, constatou-se que “[...] os requisitos para a proficiência na língua associados a determinada atividade militar devem ser conhecidos, pois o desempenho satisfatório de tal atividade pode vir a ser uma questão de vida ou morte” (LETT, 2005, p. 105)23. Aliás, em todo o mundo cresce o interesse específico por análises de necessidades de línguas no contexto militar (BIASE; GRATTON, 2010; THOMSON, 2015; PARK, 2015; KUSHI, 2013;

22 Conforme informações obtidas no NOTAER, jornal da FAB, ano XXVIII, n. 8, agosto de 2015. Disponível em:

<http://issuu.com/portalfab/docs/notaer_2015_agosto>. Acesso em: 6 out. 2015.

23 No original: “[...] the language proficiency requirements associated with a given military job must be known,

QADDOMI, 2013; SOLAK, 2012). A observação que se pontua é que nenhuma dessas pesquisas recentemente publicadas desenvolveu-se na América Latina.

Também o inglês necessário no contexto de aviação – em especial para a comunicação entre pilotos e controladores de tráfego aéreo em voos internacionais – tem sido amplamente discutido em um número considerável de estudos (ANDRADE, 2003; OLIVEIRA, 2007; ALDERSON, 2008; 2011; BIESWANGER, 2016; CHINI, 2014; DOUGLAS, 2004; EMERY, 2014; ESTIVAL et al., 2016; GALLO, 2006; BONIFÁCIO, 2015; GARCIA, 2015; PRADO, 2010; 2012; 2015; KATERINAKIS, 2014; MACHADO, 2010; MELL, 2004; MITSUTOMI; O’BRIEN, 2003; 2004; MONTEIRO, 2009; 2010; SCARAMUCCI, 2011, para citar alguns)24.

Entre nós, há vários estudos em andamento25 sobre o tema, mas ainda são escassas, no Brasil, as pesquisas que têm por principal objetivo a realização de “análises de necessidades de línguas” para o contexto de aviação. Dentre elas destacamos aquelas conduzidas por Andrade (2003), que investigou as necessidades de inglês de comissários de voo, e Gallo (2006), que realizou uma pesquisa cujo foco eram as necessidades das situações- alvo de uso da língua por pilotos brasileiros de linhas domésticas e internacionais, ou seja, pilotos da aviação civil. Ambas as pesquisas constituíram dissertações de mestrado, desenvolvidas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC – SP, como parte do Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, LAEL, da mesma instituição. Também Chini (2014), da Universidade de Taubaté, UNITAU, no bojo de sua dissertação de mestrado sobre ensino-aprendizagem de inglês para controladores de tráfego aéreo brasileiro, desenvolveu uma análise de necessidades para tal contexto.

Observa-se, no entanto, que a maioria das pesquisas sobre inglês em contexto de aviação que foram encontradas26 direciona-se, primordialmente, ao estudo do inglês específico utilizado por pilotos da aviação civil e controladores de voo – da aviação civil ou militar –, sem adentrarem questões relativas ao contexto do uso da língua por pilotos militares. Em consulta ao Banco de Dissertações e Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por meio dos descritores “inglês

24 Uma substancial lista de referências bibliográficas de estudos publicados sobre o tema “Aviation English”

pode ser encontrada no site <https://aviationenglishhub.wordpress.com/>. Acesso em: 11 nov. 2016.

25 Somente no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp encontram-se em andamento, em 2016, três

dissertações de mestrado, esta inclusa, e duas teses de doutorado sobre o inglês no contexto da aviação.

26 Monteiro (2009), no “Apêndice A” de sua dissertação de mestrado, traz uma completa lista de referências

bibliográficas, com indicações de teses e artigos, publicados entre 1981 e 2008, sobre inglês para pilotos e controladores de voo.

para aviação” e “pilotos militares”, nos últimos cinco anos, ou seja, entre 2011 e 2015, foi publicada apenas uma dissertação de mestrado cujo tema relaciona-se à língua inglesa para pilotos militares da Força Aérea Brasileira (NAZARETH, 2011). Entretanto, não se trata de uma análise de necessidades, mas sim de uma avaliação do ensino de inglês, geral e específico, oferecido aos cadetes da Academia da Força Aérea (AFA), durante os anos de 2006 a 2008, para conhecer até que ponto o curso então oferecido possibilitava a aquisição da fluência necessária na língua para a atuação competente do Cadete Aviador. As pesquisas que são desenvolvidas por Oficiais Aviadores em escolas de pós-formação da Aeronáutica, embora constituam documentos militares de caráter ostensivo27, não estão disponíveis nas grandes redes de dados consultadas no meio acadêmico. Até onde foi possível consultar, não encontramos nenhuma análise de necessidades de uso de inglês por pilotos da FAB.

Sendo assim, até o momento em que se encerrou o levantamento de dados para este estudo, em fevereiro de 2016, não localizamos pesquisas, no Brasil, que tenham como foco principal uma análise de necessidades do uso de inglês por pilotos militares da FAB e, por consequência, do EDA. Daí a contribuição esperada e o desafio desta pesquisa.

No que se refere ao fato de linguistas aplicados e pesquisadores lançarem-se à investigação de tópicos tão específicos e singulares, como é a necessidade de uso de inglês pelos pilotos da Esquadrilha da Fumaça, preferimos o posicionamento já manifesto por Alderson (2008) em contexto semelhante, quando se pronunciou sobre testes de línguas para a aviação:

Quem somos nós para considerarmos elaboradores de testes de línguas para aviação, ou até mesmo autoridades da aviação civil nacional, responsáveis pelo que fazem ou deixam de fazer, por suas decisões quanto à aceitabilidade de testes, ou pelas decisões que se recusam a tomar? (ALDERSON, 2008, [s.p.], tradução nossa) 28.

E o mesmo autor conclui:

Nossa resposta é que se ninguém está tomando essas decisões, ou fornecendo certo grau de supervisão, então é melhor que o façamos do que ninguém o faça. Mas isso bastaria? Pensamos que não (ALDERSON, 2008, [s.p.], tradução nossa)29.

27No Brasil, um documento pode ser classificado como ostensivo ou sigiloso. Um documento é ostensivo

quando a ele não foi atribuído nenhum grau de sigilo, tendo em vista que o acesso ao seu conteúdo não põe em risco direitos individuais ou coletivos” (WIKPÉDIA, 2016, on-line).

28 No original: “Who are we to hold aviation language test developers, or indeed national civil aviation

authorities, accountable for what they do or fail to do, for the decisions they take as to test acceptability, or the decisions they refuse to take?”

29 No original: “Our answer is that if nobody is taking those decisions, or providing a degree of oversight, then it

Assim sendo, esclarecemos que não é nossa intenção criticar o modo como o ensino de inglês tem sido conduzido ou avaliado no contexto militar da Aeronáutica. Pelo contrário, são reconhecidos os inúmeros esforços da organização em alcançar e manter o mais alto nível de formação de seu pessoal, com destaque para a área de ensino. É neste sentido que este estudo pretende prestar alguma contribuição, apontando caminhos e propiciando reflexões, já que, na busca pela excelência, sempre há espaço para melhorias. Ademais, como em todas as questões de ESP, a ação conjunta entre especialistas em línguas e especialistas na área específica é primordial para o desenvolvimento de ações eficazes. Como enfatiza Scaramucci (2011a, p. 10), ao se manifestar sobre o inglês para aviação, “A natureza complexa dessa linguagem torna absolutamente imprescindível a interação constante entre os especialistas no contexto aeronáutico e os especialistas em linguagem”.

Cabe destacar que a motivação pessoal para a realização deste estudo encontra-se no fato de a pesquisadora ter estado em contato direto com o grupo, por mais de 10 anos, como professora particular de inglês de vários de seus membros, incluindo-se entre seus ex- alunos os últimos cinco Comandantes do EDA, até final de 2015.

Durante todo o período em que trabalhou com membros do grupo, a pesquisadora jamais teve qualquer vínculo profissional direto com a FAB. No entanto, enquanto professora particular, atuou na capacitação de vários Oficiais Aviadores do EDA para o uso do inglês na situação-alvo30, por exemplo, em missões ou intercâmbios nos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra. Tal convivência tornou viável seu acesso ao grupo que, muito prontamente, se dispôs a participar desta pesquisa.