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Além de propocionarem um certo grau de miorrelaxamento, os anestésicos inalatórios são agentes hipnóticos por excelência, sendo ambas as características componentes essenciais em uma técnica anestésica balanceada (Haskins, 1996). Nesse contexto, o isoflurano se destaca pelo seu perfil farmacocinético, o qual possibilita o rápido controle do plano anestésico através do ajuste da dose administrada (Hall et al., 2001). Além dessa característica desejável, a anestesia com o isoflurano resulta em recuperação rápida da anestesia, com mínimo efeito residual, por ser um fármaco eliminado praticamente em sua totalidade pela via pulmonar (Steffey, 1996). No entanto, seu isso isolado como agente de manutenção anestésica é desvantajoso uma vez que esse fármaco, como os demais agentes inalatórios, não possui ação analgésica específica (Hall et al., 2001; Ebert & Schmid, 2004). Somando-se a esse fato, o emprego isolado de anestésicos voláteis pode resultar em depressão cardiopulmonar excessiva, uma vez que doses elevadas são necessárias para se prevenir a movimentação do paciente e para abolir a resposta cardiovascular induzida pelo estímulo cirúrgico (Roizen et al., 1981; Ilkiw, 1999).

Os opióides da familia das fenilpiperidinas, como o fentanil, o alfentanil e o sufentanil são indicados para uso intraoperátorio em associação aos anestésicos inalatórios por proporcionarem analgesia, por inibirem a resposta simpática ao estímulo cirúrgico, e por potencializarem os agentes halogenados (Murphy & Hug Jr, 1982a; Hall et al., 1987a, b; Michelsen et al., 1996). No entanto, opióides como o fentanil podem se acumular no plasma durante infusões mantidas numa taxa constante por períodos de tempo prolongados, fênomeno esse que dificulta o controle do plano anestésico e pode, ainda, resultar em recuperação prolongada associada à depressão respiratória (Egan et al., 1993). Embora o alfentanil e o sufentanil representem avanços em relação ao fentanil, por serem opióides com menor tendência a se acumular no plasma durante infusões prolongadas (Egan et al., 1993), o primeiro opióide desenvolvido com perfil farmacocinético próximo do ideal para administração sob a forma de infusão contínua foi o remifentanil, uma vez que seus processos de inativação metabólica não são saturáveis (Michelsen et al., 1996; Glass et al., 1999).

Em cães, a potência do remifentanil no que se refere à sua capacidade de reduzir a CAM dos halogenados foi estudada até o presente momento apenas com o uso do enflurano (Michelsen et al., 1996), não sendo possível afirmar com certeza que os efeitos desse opióide durante a anestesia com o enflurano seriam reproduzidos durante a anestesia com outros halogenados, como por exemplo, o isoflurano. Além desse fato, há de se considerar que o

emprego do enflurano em anestesiologia vem se tornando cada vez menos freqüente, uma vez que esse agente inalatório pode causar alterações eletroencefalográficas epileptiformes e tremores musculares/convulsões (Scheller et al., 1990; Steffey, 1996); adicionalmente, o enflurano demonstrou ser um depressor cardiovascular mais potente do que o isoflurano (Steffey & Howland, 1978; Mutoh et al., 1997). Diante do exposto, um dos objetivos desse estudo foi estudar a potência e a eficácia do remifentanil no que se refere à sua capacidade de reduzir a CAM do isoflurano em cães (Capítulo 1). Nessa etapa inicial, formulou-se a hipótese que o remifentanil reduziria a CAM do isoflurano de forma dose-dependente e que a porcentagem de redução da CAM proporcionada por esse halogenado independeria do tempo de infusão.

Numa segunda etapa (Capítulo 2), investigaram-se os efeitos hemodinâmicos decorrentes da anestesia mantida com concentrações equipotentes (1,3 CAM) de isoflurano, administrado isoladamente ou associado ao remifentanil, na mesma população de cães. Estudos anteriores verificaram que a administração de alguns opióides como o remifentanil e a metadona pode estar associada ao aumento na resistência vascular sistêmica (Beier, 2007; Maiante, 2007). Foi relatado, ainda, que a administração da metadona, morfina e fentanil pode causar elevação na concentração plasmática de arginina vasopressina, um peptídeo endógeno com potente ação vasoconstritora (Rockhold et al., 1983; Lehtinen et al., 1984; Hellebrekers et al., 1989). Apesar de plausível, não há evidências na literatura demonstrando a existência de uma correlação entre um hipotético aumento na concentração plasmática de arginina vasopressina e os efeitos hemodinâmicos decorrentes da anestesia com remifentanil e isoflurano em cães. Com base nas considerações anteriores, formulou-se a hipótese, nesta segunda etapa do estudo, que a administração do remifentanil resultaria em elevação na resistência vascular sistêmica e que tal efeito estaria correlacionado ao aumento na concentração plasmática de arginina vasopressina induzida pelo remifentanil.

OBJETIVOS

Gerais

O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito da administração do remifentanil em quatro taxas de infusão crescentes (0,15; 0,30; 0,60 e 0,90 µg/kg/min) sobre a concentração alveolar mínima do isoflurano (CAMISO) em cães (capítulo 1). Com base nos valores de CAMISO determinados para cada animal nesta etapa inicial objetivou-se, numa segunda etapa (capitulo 2), estudar os efeitos hemodinâmicos da manutenção da anestesia com taxas de infusão crescentes desse opióide associado ao isoflurano, em comparação à manutenção da anestesia com isoflurano administrado isoladamente.

Específicos

Determinar se a administração de infusões crescentes de remifentanil resulta em redução dose-dependente na concentração alveolar mínima do isoflurano (capítulo 1).

Avaliar o efeito de uma infusão constante de remifentanil sobre a concentração alveolar mínima do isoflurano ao longo do tempo (capítulo 1).

Verificar se o uso de taxas de infusão crescentes de remifentanil, administradas concomitantemente a concentrações equipotentes de isoflurano (1,3 CAM), resulta em otimização da função cardiovascular (melhora no débito cardíaco, no transporte de oxigênio e na pressão arterial), quando comparado aos efeitos hemodinâmicos observados com a manutenção da anestesia com isoflurano adminstrado isoladamente (capítulo 2).

Verificar se a administração do remifentanil resulta em aumento na concentração plasmática de arginina vasopressina e se esse efeito pode estar associado a algumas alterações hemodinâmicas induzidas pelo opióide (capítulo 2).