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O estudo das características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais dos pacientes em início de terapia antirretroviral no serviço de referência para o tratamento do HIV no estado do Piauí se justifica pelas seguintes considerações:

 No ano de 2014, estimava-se que a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana acometesse aproximadamente 734 mil pessoas no Brasil, correspondendo a uma prevalência de 0,4%. Do total de infectados, aproximadamente 80% estavam diagnosticados e 48% em uso de terapia antirretroviral (MS-BR 2014).

 A taxa de detecção de AIDS no Brasil tem apresentado estabilização nos últimos dez anos, porém persiste com tendência linear de crescimento no Nordeste. Em 2004 a taxa registrada nessa região foi de 11 casos para cada 100 mil habitantes, enquanto que em 2013 foi de 16 casos para cada 100 mil habitantes, o que representa um aumento de 45,5% no período (MS-BR 2014).

 O tratamento da infecção pelo HIV teve seu advento há apenas 30 anos e sofreu importantes modificações quanto às drogas disponíveis, esquemas de tratamento recomendados e momentos de indicação de terapia.

 Uma série de trabalhos observacionais realizados nos últimos anos demonstra a discrepância entre a realidade do tratamento antirretroviral em vários países e as recomendações recentes de terapia precoce.

 Não há estudos determinando as características clínicas, laboratoriais e epidemiológicas dos pacientes em início de terapia antirretroviral no estado do Piauí.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Descrever as características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais de pacientes em início de terapia antirretroviral no serviço de referência para tratamento do HIV no estado do Piauí, estimando a freqüência de tratamento tardio.

2.2 Objetivos Específicos

Descrever a média de tempo entre o diagnóstico e a introdução do tratamento em pacientes em início de terapia antirretroviral no serviço de referência do estado do Piauí.

Descrever a média da contagem de células T CD4 em pacientes em início de terapia antirretroviral no serviço de referência do estado do Piauí.

Descrever a média da carga viral do HIV em pacientes em início de terapia antirretroviral no serviço de referência do estado do Piauí.

Descrever a freqüência de complicações clínicas presentes em pacientes em início de terapia antirretroviral no serviço de referência do estado do Piauí.

Verificar os fatores associados ao início da terapia antirretroviral em fases avançadas de imunossupressão.

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3 MATERIAL E MÉTODOS

Local do estudo

O Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela (IDTNP) é o hospital de referência para atendimento ambulatorial e de urgência e internação hospitalar dos pacientes portadores de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) no estado do Piauí. Atende também indivíduos provenientes de estados vizinhos, especialmente Maranhão e Pará. Além desse público o hospital presta assistência aos portadores de outras doenças tropicais ou infecciosas, tais como malária, leishmaniose visceral, leishmaniose tegumentar e meningite. Trata-se de um hospital-escola, onde se desenvolvem atividades de assistência vinculada ao ensino voltado a estudantes de gradução em Medicina das Universidades Públicas do Piauí e pós graduandos da Residência médica em Infectologia da Universidade Federal do Piauí. O IDTNP situa-se na região central da capital do estado, a cidade de Teresina, numa área permeada de serviços hospitalares e afins, o conhecido pólo de saúde. Sua farmácia realiza dispensação de antirretrovirais para portadores de HIV atendidos tanto por infectologistas do próprio serviço quanto por especialistas que exercem suas atividades em outros ambulatórios públicos e privados. O ambulatório do Instituto de Doenças Tropicias Natan Portela serviu de ponto de partida para o recrutamento dos pacientes da pesquisa, que se configurou em um estudo descritivo transversal.

População de estudo

Foram incluídos pacientes com diagnóstico confirmado de infecção pelo HIV que iniciaram uso de antirretrovirais dispensados pela farmácia especializada do IDTNP no período de primeiro de julho de 2014 a 31 de dezembro de 2014.

Os critérios de exclusão foram: idade abaixo dos 18 anos, gestação, uso prévio de antirretrovirais e acompahamento em ambulatórios distintos ao do próprio hospital sede da pesquisa. Os dados foram obtidos exclusivamente pelo pesquisador executante a partir dos prontuários de ambulatório e das fichas de notificação. A coleta foi realizada por meio de instrumento padronizado, o formulário

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de coleta de dados (APÊNDICE), com informações referentes ao momento de introdução dos antirretrovirais ou até 90 dias anteriores ao mesmo.

Considerações éticas

A pesquisa só teve inicio após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Piauí, ao qual foi submetido sob o número 47060515.3.0000.5209. Houve dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Método e Análise estatística

As variáveis estudadas foram: idade, sexo, escolaridade, procedência, ocupação, tempo de diagnóstico do HIV, modo de aquisição do HIV, antirretrovirais prescritos, tabagismo, etilismo, uso de drogas ilícitas, carga viral do HIV, contagem de linfócitos TCD4, hemoglobina, creatinina, colesterol total e frações, triglicerídeos, marcadores sorológicos para hepatites B e C, marcador não treponêmco para sífilis (VDRL), histórico de internação, perda ponderal acima de 10% do peso corporal, diarréia por mais de um mês, febre por mais de um mês, candidíase oral, pneumonia, tuberculose pulmonar, neurotoxoplasmose, herpes simples, herpes zoster, leishmaniose tegumentar, leishmaniose visceral, meningite, criptococose, neoplasia e hanseníase.

Depois de alimentado o banco de dados com as informações colhidas, foi realizada a análise estatística usando o programa EpiInfo versão 7®, calculando-se as freqüências das variáveis categóricas e as médias com medidas de dispersão das variáveis contínuas. Assim foi possível fazer a descrição das características epidemiológicas, clinicas e laboratoriais dos pacientes em início de terapia, bem como avaliar as médias de contagem de células T CD4, de carga viral e de tempo entre o diagnóstico e o início da terapia conforme o sexo, a escolaridade, a procedência e o modo de aquisição do HIV, utilizando o teste t de Student. Também foi realizada, por meio do teste do qui quadrado, a análise dos fatores asociados ao início de tratamento em fase avançada de imunossupressão, ou seja, com contagem de células CD4 igual ou inferior a 200 cél/mm³, além dos fatores associados ao início do tratamento com carga viral igual ou superior a 100.000 cópias/ml e fatores

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associados ao início de terapia com menos de seis meses de diagnóstico da infecção pelo HIV. Para tanto, foi calculada a razão de Odds, considerando um nível de significância de 5%.

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4 RESULTADOS

Um total de 198 pacientes iniciou o uso de antirretrovirais dispensados pela Farmácia do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela (IDTNP) de 01 de julho de 2014 a 31 de dezembro de 2014. Destes, 18 eram gestantes, oito tinham idade inferior a 18 anos, 20 tinha exposição prévia a drogas antirretrovirais e 54 faziam acompanhamento em outros consultórios, freqüentando o IDTNP apenas para receber sua medicação. Assim, nossa população de estudo foi composta por 99 portadores do virus da imunodeficiência humana (HIV) previamente virgens de terapia que iniciaram tratamento específico e seguimento no ambulatório do IDTNP no segundo semestre de 2014. Suas características epidemiológicas estão exibidas na Tabela 01.

A idade dos pacientes variou de 18 a 66 anos, com uma média de 38,2 anos. Do total, 56,6% eram do sexo masculino. Não houve diferença na média de idade por sexo, sendo 38,0 anos no sexo masculino e 38,5 anos no sexo feminino (p=0,84). Foi possível avaliar a escolaridade de 82 indivíduos, dos quais 2,4% eram não alfabetizados, 57,3% tinham o ensino fundamental completo ou incompleto, 29,3% tinham o ensino médio completo ou incompleto e 11,0% tinham o ensino superior completo ou incompleto. As ocupações mais freqüentes foram: do lar (28,9%), trabalhador rural (11,8%), empregado doméstico (11,8%), trabalhador da construção civil (10,5%) e estudante (10,5%). Dos 96 indivíduos analisados quanto à procedência, 47,9% dos pacientes eram oriundos da cidade de Teresina, 34,4% de outros municípios do estado do Piauí e 17,7% de cidades do interior do Maranhão. Foi possível avaliar o modo de aquisição da infecção pelo HIV em 86 pacientes. Destes, 77,9% tiveram transmissão heterossexual, 13,9% homossexual, 7,0% bissexual e 1,2% por uso de drogas injetáveis.

Os esquemas antirretrovirais prescritos foram reportados em 95 pacientes. A maioria (55,8%) recebeu Tenofovir, Lamivudina e Efavirenz. Em segundo lugar em freqüência, veio o esquema de Zidovudina, Lamivudina e Efavirenz, iniciado para 31,6% dos pacientes avaliados. Houve registro de prescrição de profilaxias para infecções oportunistas junto ao início dos antirretrovirais em um terço dos pacientes (34,3%). Havia informação quanto ao tabagismo, etilismo e uso de drogas em apenas 29 pacientes. Entre esses, 37,9% eram etilistas, 27,6% tabagistas e 6,9% usuários de drogas ilícitas.

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Tabela 01. Características epidemiológicas dos pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

Característica N % Sexo 99 100,0 Masculino 56 56,6 Feminino 43 43,4 Idade 99 100,0 18-35 anos 41 41,4 36-50 anos 42 42,4 >50 anos 16 16,2 Escolaridade 82 100,0 Não alfabetizado 02 2,4 Fundamental incompleto 32 39,0 Fundamental completo 15 18,3 Ensino médio incompleto 06 7,3 Ensino médio completo 18 22,0 Superior completo ou não 09 11,0

Ocupação 76 100,0 Do lar 22 28,9 Trabalhador rural 09 11,8 Empregado domestic 09 11,8 Construção civil 08 10,5 Estudante 08 10,5 Professor 04 5,2 Do sexo 01 1,3 Procedência 96 100,0 Teresina – Piauí 46 47,9 Interior do Piauí 33 34,4 Interior do Maranhão 17 17,7 Modo de aquisição 86 100,0 Heterossexual 67 77,9 Homossexual 12 13,9 Bissexual 06 7,0

Uso de drogas injetáveis 01 1,2

Esquema antirretroviral 95 100,0 TDF + 3TC + EFZ 53 55,8 AZT + 3TC + EFZ 30 31,6 AZT + 3TC + LPV + RTV 06 6,4 AZT + 3TC + ATV + RTV 02 2,1 TDF + 3TC + ATV + RTV 02 2,1 TDF + 3TC + LPV + RTV 01 1,0 ABC + 3TC + ATV + RTV 01 1,0 Etilismo 29 100,0 Sim 11 37,9 Não 18 62,1 Tabagismo 29 100,0 Sim 08 27,6 Não 21 72,4

Uso de drogas ilícitas 29 100,0

Sim 02 6,9

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Avaliando o tempo decorrido entre o diagnóstico da infecção pelo HIV e o início da terapia antirretroviral específica encontrou-se uma média de 11,3 meses, sendo que 76,9% dos pacientes iniciaram tratamento com até seis meses do diagnóstico (Tabela 02). Essa média de tempo foi significativamente menor no sexo masculino (9,5 versus 13,7 meses; p=0,02) e entre indivíduos com escolaridade superior (7,1 versus 11,8 meses; p=0,01). O tempo entre diagnóstico e tratamento também foi inferior entre pacientes procedentes de Teresina em comparação aos demais (10,2 versus 12,3 meses; p=0,01) e entre homens que fazem sexo com homens (HSH) em comparação às outras formas de aquisição (6,1 versus 12,5 meses; p<0,001), conforme mostra a Tabela 03.

Tabela 02. Tempo entre o diagnóstico da infecção pelo HIV e o início da terapia antirretroviral em pacientes em começo de tratamento no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

Tempo entre diagnóstico e tratamento N %

≤ 6 meses 70 76,9

Acima de 6 meses e abaixo de 2 anos 07 7,7

≥ 2 anos 14 15,4

Total 91 100,0

Tabela 03. Média de tempo entre o diagnóstico da infecção pelo HIV e o início da terapia antirretroviral específica em pacientes em começo de tratamento no IDTNP de julho a dezembro de 2014, conforme sexo, escolaridade, procedência e modo de aquisição.

Categoria Média de tempo entre o diagnóstico e o tratamento (meses)

p-valor

Geral 11,3 ± 24,7 (variando de 0 a 120) Intervalo interquartílico = 0,5 a 7,0

-

Sexo Masculino 9,5 meses 0,02

Feminino 13,7 meses

Escolaridade Superior 7,1 meses 0,01

Não superior 11,8 meses

Procedência Teresina - PI 10,2 meses 0,01

Não Teresina 12,3 meses

Aquisição HSH 6,1 meses <0,001

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A contagem de células T CD4 no momento do início da terapia antirretroviral específica variou de 2 cél/mm³ a 928 cél/mm³, com uma média de 306,4 cél/mm³. Um pouco mais de um terço dos pacientes (37,8%) iniciou tratamento com contagem de linfócitos T CD4 igual ou inferior a 200 cél/mm³ (Tabela 04). Destes, 74,2% tinham seis meses ou menos de diagnóstico e 71% eram do sexo masculino. A média de CD4 de entrada foi menor no sexo masculino (258,5 versus 367,7 cél/mm³; p=0,02) e entre indivíduos com tempo entre diagnóstico e tratamento igual ou inferior a seis meses (279,8 versus 448,0 cél/mm³; p=0,003). Não houve diferença significativa nas médias de CD4 conforme escolaridade, procedência e modo de aquisição do HIV, conforme mostra a Tabela 05.

Tabela 04. Contagem de células CD4 em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

Contagem de células CD4 N % ≤200 cél/mm³ 31 37,8 >200 cél/mm³ e ≤350 cél/mm³ 13 15,8 >350 cél/mm³ e ≤500 cél/mm³ 25 30,5 >500 cél/mm3 13 15,9 Total 82 100,0

Tabela 05. Média de contagem de células CD4 em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014, conforme sexo, escolaridade, procedência, modo de aquisição e tempo entre diagnóstico e tratamento.

Categoria Média de contagem de células CD4 (cél/mm³) p-valor Geral 306,4 ± 216,5 (variando de 2 a 928) Intervalo interquartílico = 139 a 413 - Sexo Masculino 258,5 cél/mm³ 0,02 Feminino 367,7 cél/mm³ Escolaridade Superior 405,4 cél/mm³ 0,14 Não superior 294,2 cél/mm³ Procedência Teresina - PI 346,8 cél/mm³ 0,13 Não Teresina 274,9 cél/mm³ Aquisição HSH 326,1 cél/mm³ 0,68 Demais 301,7 cél/mm³ Tempo ≤6m Sim 279,8 cél/mm³ 0,003 Não 448,0 cél/mm³

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Ficou demonstrada uma associação entre iniciar terapia antirretroviral com seis meses ou menos do diagnóstico da infecção pelo HIV e ter CD4 de entrada menor ou igual a 200 cél/mm³ com uma razão de Odds de 6,1 (1,3-29,1; p=0,01), conforme Tabela 06.

Tabela 06. Associação entre tempo decorrido do diagnóstico ao tratamento e contagem basal de células CD4 em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

Tempo entre diagnóstico e tratamento

CD4 ≤ 200 cél/mm³ Razão de Odds

SIM NÃO TOTAL

≤ 6 meses 23 (41,8%) 32 (58,2%) 55 (100%) 6,1 (1,3-29,1) > 6 meses 02 (10,5%) 17 (89,5%) 19 (100%) -

TOTAL 25 (33,8%) 49 (66,2%) 74 (100%) -

A carga viral no momento do início da terapia antirretroviral variou de 42 cópias/ml a 1.811.867 cópias/ml, com uma média de 150.705,6 cópias/ml. Um pouco menos de um terço dos pacientes (30,3%) iniciou tratamento com contagem de carga viral igual ou superior a 100.000 cópias/ml (Tabela 07). Não houve diferença significativa nas médias de carga viral conforme sexo, escolaridade, procedência, modo de aquisição do HIV e tempo transcorrido entre o diagnóstico e o tratamento, conforme mostra a Tabela 08.

Tabela 07. Carga viral em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

Contagem de carga viral HIV N %

≤10.000 cópias/ml 20 30,3

>10.000 cópias/ml e <100.000 cópias/ml 26 39,4

≥100.000 cópias/ml 20 30,3

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Tabela 08. Média de carga viral em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014, conforme sexo, escolaridade, procedência, modo de aquisição e tempo entre diagnóstico e tratamento.

Categoria Média de carga viral do HIV (cópias/ml) p-valor Geral 150.075,6 ± 309.952,7 (variando de 42 a

1.811.867)

Intervalo interquartílico 6.700 a 168.297

-

Sexo Masculino 92.885,6 cópias/ml 0,09

Feminino 220.089,6 cópias/ml

Escolaridade Superior 108.971,4 cópias/ml 0,68 Não superior 156.462,1 cópias/ml

Procedência Teresina - PI 227.613,0 cópias/ml 0,08 Não Teresina 94.037,0 cópias/ml

Aquisição HSH 89.823,8 cópias/ml 0,41

Demais 167.096,9 cópias/ml

Tempo ≤6m Sim 189.482,6 cópias/ml 0,29

Não 91.991,2 cópias/ml

Ficou demonstrada uma associação entre iniciar terapia antirretroviral com seis meses ou menos de diagnóstico da infecção pelo HIV e ter carga viral de entrada maior ou igual a 100.000 cópias/ml com uma razão de Odds de 4,8 (1,1- 34,4; p=0,03), conforme Tabela 09.

Tabela 09. Associação entre tempo decorrido do diagnóstico ao tratamento e carga viral basal em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

Tempo entre diagnóstico e tratamento ≤ 6 meses

Carga viral ≥ 100.000 cópias/ml Razão de Odds

SIM NÃO TOTAL

SIM 17 (39,5%) 26 (60,5%) 43 (100%) 4,8 (1,1-34,4)

NÃO 02 (11,8%) 15 (88,2%) 17 (100%) -

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Avaliando o registro de intercorrências clínicas no momento do inicio da terapia antirretroviral, foram encontrados em ordem de freqüência: perda ponderal em 42,4% dos pacientes, diarréia prolongada em 31,3%, internação em 30,3%, febre por mais de 30 dias em 27,3%, candidíase oral em 23,3%, pneumonia em 19,1%, tuberculose pulmonar em 7,1%, neurotoxoplasmose em 7,1% e herpes zoster em 4,0% dos pacientes (Tabela 10). Observou-se que 62,7% dos pacientes avaliados tinham pelo menos uma intercorrência clínica registrada ao início da terapia.

Tabela 10. Freqüência de intercorrências clínicas registradas no momento do começo da terapia antirretroviral ou nos três meses precedentes em pacientes em início de tratamento no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

Intercorrência N (99) %

Perda ponderal > 10% 42 42,4

Diarréia por mais de 30 dias 31 31,3

Internação 30 30,3

Febre por mais de 30 dias 27 27,3

Candidíase oral 23 23,3 Pneumonia 19 19,1 Tuberculose pulmonary 07 7,1 Neurotoxoplasmose 07 7,1 Herpes zoster 04 4,0 Leishmaniose visceral 02 2,0 Meningite 02 2,0

Demonstrou-se a associação entre iniciar terapia com seis meses ou menos de diagnóstico da infecção pelo HIV e estar internado no momento do início do tratamento antirretroviral com uma razão de Odds de 5,6 (1,2-26,1; p=0,01), conforme Tabela 11.

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Tabela 11. Associação entre tempo decorrido do diagnóstico ao tratamento e ocorrência de internação em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014. Tempo entre diagnóstico e tratamento ≤ 6 meses Internação Razão de Odds

SIM NÃO TOTAL

SIM 26 (37,1%) 44 (62,9%) 70 (100%) 5,6 (1,2-26,1)

NÃO 02 (09,5%) 19 (90,5%) 21 (100%) -

TOTAL 28 (30,8%) 63 (69,2%) 91 (100%) -

Observou-se associação entre CD4 basal menor ou igual a 200 cél/mm³ e intercorrências ao início da terapia: internação com razão de Odds de 8,6 (2,7-27,5; p<0,001) e perda ponderal com Odds de 3,3 (1,3-8,4; p=0,01), conforme Tabelas 12 e 13. Não foi encontrada associação entre baixas contagens de CD4 e demais intercorrências clínicas avaliadas no estudo.

Tabela 12. Associação entre contagem basal de células CD4 e ocorrência de internação em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

CD4 ≤ 200 cél/mm³ Internação Razão de Odds

SIM NÃO TOTAL

SIM 15 (48,4%) 16 (51,6%) 31 (100%) 8,6 (2,7-27,5)

NÃO 05 (09,8%) 46 (90,2%) 51 (100%) -

TOTAL 20 (24,4%) 62 (75,6%) 82 (100%) -

Tabela 13. Associação entre contagem basal de células CD4 e ocorrência de perda ponderal significativa em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

CD4 ≤ 200 cél/mm³ Perda Ponderal > 10% Razão de Odds

SIM NÃO TOTAL

SIM 18 (58,1%) 13 (41,9%) 31 (100%) 3,3 (1,3-8,4)

NÃO 15 (29,4%) 36 (70,6%) 51 (100%) -

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Também foi demonstrada associação entre carga viral basal igual ou superior a 100.000 cópias/ml e perda ponderal ao início do tratamento, com razão de Odds de 4,2 (1,4-12,9; p=0,008), conforme Tabela 14. Não se observou associação entre carga viral elevada e demais intercorrências clínicas avaliadas no estudo.

Tabela 14. Associação entre carga viral basal e ocorrência de perda ponderal significativa em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

Carga Viral ≥ 100.000 cópias/ml

Perda Ponderal > 10% Razão de Odds

SIM NÃO TOTAL

SIM 12 (60,0%) 08 (40,0%) 20 (100%) 4,2 (1,4-12,9)

NÃO 12 (26,1%) 34 (73,9%) 46 (100%) -

TOTAL 24 (36,4%) 42 (63,6%) 66 (100%) -

Observou-se associação entre contagem basal de células T CD4 menor ou igual a 200 cél/mm³ e carga viral basal igual ou superior a 100.000 cópias/ml, com razão de Odds de 4,2 (1,4-12,9; p=0,008), conforme Tabela 15.

Tabela 15. Associação entre contagem de células T CD4 e carga viral basal em pacientes em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014.

CD4 ≤ 200 cél/mm³ Carga Viral ≥ 100.000 cópias/ml Razão de Odds

SIM NÃO TOTAL

SIM 12 (50,0%) 12 (50,0%) 24 (100%) 4,2 (1,4-12,9)

NÃO 08 (19,0%) 34 (80,9%) 42 (100%) -

TOTAL 20 (30,3%) 46 (69,7%) 66 (100%) -

Avaliando os resultados de exames complementares recomendados como rotina para pacientes em início de terapia antietroviral, foram encontradas as seguintes médias: hemoglobina 12,6 g/dl, creatinina 0,9 mg/dl, fração LDL-colesterol 98,9 g/dl e triglicerídeos 151,1 g/dl. Não houve diferença significativa dessas médias entre pacientes com CD4 basal igual ou inferior a 200 em comparação aos demais, como mostra a Tabela 16. Quanto as marcadores sorológicos para hepatites virais e sífilis, foram encontrados: um resultado reagente para o antígeno de superfície do virus B (HbsAg) entre 56 avaliados (1,8%), um resultado reagente para os anticorpos anti virus C (anti-HCV) entre 52 avaliados (1,9%) e 14 testes não treponêmicos (VDRL) reagentes entre 61 avaliados (22,9%).

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Tabela 16. Média de hemoglobina, creatinina, LDL-colesterol e triglicerídeos em pacientes portadores de HIV em início de terapia antirretroviral no IDTNP de julho a dezembro de 2014, conforme nível basal de células CD4.

Parâmetro Pacientes com CD4 <= 200 Pacientes com CD4 > 200 p-valor Hemoglobina em g/dL (n=71) 12,3 13,1 0,12 Creatinina em mg/dL (n=71) 1,0 0,8 0,06 LDL – colesterol em g/dL (n=32) 87,1 108,6 0,10 Triglicerídeos em g/dL (n=58) 147,3 151,7 0,85

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5 DISCUSSÃO

O mais recente boletim epidemiológico em HIV e AIDS do Ministério da Saúde brasileiro, publicado em dezembro de 2014, traz informações referentes às semanas epidemiológicas de julho de 2013 a junho de 2014. Há o registro de 476 casos de AIDS em residentes no estado do Piauí notificados em todo o ano de 2013 e 227 casos no primeiro semestre de 2014. Estima-se a quantidade esperada de 200 a 250 casos de AIDS notificados no Piauí para o segundo semestre de 2014, período do presente estudo. Foram incluídos no trabalho 99 indivíduos, dos quais 79 eram residentes no Piauí, compreendendo cerca de um terço dos casos de AIDS notificados no estado no período.

A idade média de início do tratamento antirretroviral encontrada no presente estudo foi de 38,2 anos, semelhante às descritas em coortes de portadores de HIV em início de terapia na África, Ásia, América Latina, EUA e Canadá que variaram de 35 a 41 anos (Keiser O et al. 2008; Crabtree-Ramírez B et al. 2011; Egger M et al. 2014; Althoff KN et al. 2010). A proporção de pacientes do sexo feminino no presente estudo foi de 43,4%, acima da encontrada entre pacientes em início de tratamento na América do Sul, EUA e Canadá, avaliados em outros estudos, que variou de 19% a 40% (Keiser O et al. 2008; Crabtree-Ramírez B et al. 2011; Egger M et al. 2014; Althoff KN et al. 2010). Essa proporção também foi superior a esperada com base nas informações do Boletim Epidemiológico de 2014, que mostrou uma

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