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O interesse em discutir, trabalhar e pesquisar a integração ensino-serviço para a formação profissional e a educação permanente dos profissionais dos serviços iniciou no momento em que passamos a desenvolver atividades de gerência em um Centro de Saúde, responsável direta por cerca de 40 trabalhadores que compunham uma equipe multiprofissional. A atualização das práticas, as discussões em equipe acerca dos temas e situações vividas no cotidiano do serviço passaram a fazer parte de nosso processo de trabalho, gerencial e assistencial. As inquietações e o desejo de aprimoramento desse processo educacional se intensificaram ao ingressar como docente na Unochapecó, quando passamos a desenvolver, no nosso espaço de atuação profissional, a atividade de docência, acompanhando grupos de acadêmicos de enfermagem em atividades teórico-práticas. A atividade docente- assistencial levou-nos a refletir sobre a importância da inserção do acadêmico nos cenários de aprendizagem, tanto para sua formação profissional quanto para a “provocação”, a partir dos questionamentos e práticas, dos profissionais daquele espaço.

As leituras, estudos e discussões acerca do tema se intensificaram com a realização do Curso de “Especialização em Ativação de Processos de Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde”, em São Paulo, nos anos de 2005 e 2006, tendo como produto final a elaboração da monografia “A percepção dos profissionais de enfermagem do serviço sobre o desenvolvimento de atividades teórico-práticas – uma relação ensino-serviço”. Nesse trabalho, ao questionarmos sobre a importância da presença do acadêmico nos espaços de atuação profissional, identificamos que 95% dos pesquisados a destacaram como ‘muito importante’. No entanto, ao questionar o porquê, fomos surpreendidas ao identificar que, na percepção dos profissionais, a importância estava na aprendizagem do acadêmico ou na “ajuda” prestada (pela mão de obra) ao serviço.

Nenhum relato apontou para o crescimento ou atualização profissional possibilitado pela aproximação/relação do serviço com a academia.

Estudos e publicações sobre experiências em integração docente-assistencial apontam para as responsabilidades dos serviços de saúde e das instituições de ensino na produção do conhecimento, formação e desenvolvimento de profissionais para o SUS, destacando as facilidades e dificuldades no estabelecimento das relações.

Feuerwerker destaca em suas publicações a integração entre o ensino e os serviços como determinante às mudanças necessárias à formação em saúde.

Artigos produzidos nos últimos dez anos apontam as experiências de integração docente-assistencial com foco e destaques para a importância das relações estabelecidas e do campo/vivência como formadores dos futuros profissionais, como destacam Shimizu (1999), Pinto et. al., (2007) e Beccaria (2006).

Mudanças e transformações na formação são necessárias e urgentes, porém alertamos para o aperfeiçoamento, a qualificação e a educação permanente dos profissionais dos serviços. Muitos desses formados sob currículos fragmentados e especializados, atuando para queixas, órgãos, sistemas e doenças, e não para indivíduos, famílias, comunidades e sociedade, permanecem indiferentes às práticas de promoção da saúde e prevenção de doenças e agravos.

A nova demanda em saúde proposta pelo SUS requer reavaliação, com previsão e planejamento de estratégias e ações em educação permanente dos profissionais da saúde, sendo a academia um potencial “provocador” das práticas em desenvolvimento.

Ao vislumbrar a integração ensino-serviço como estratégia para potencializar o processo de educação permanente profissional, alguns questionamentos surgiram, como por exemplo: como ocorre o processo de integração entre o ensino e os serviços de saúde no município de Chapecó? A partir dessa integração, como ocorre o processo de educação permanente dos profissionais dos serviços de saúde? Tal processo ocorre de fato? O que os profissionais entendem por educação permanente? De que forma a integração contribui (ou não) para o processo de ensino-aprendizagem dos profissionais dos serviços? Essa integração contribui para a revisão de suas práticas, conceitos e comportamentos?

Ao considerarmos que o processo de ensino-aprendizagem requer de todos os atores/autores (docentes, discentes, gestores, profissionais dos serviços e comunidade) envolvimento, respeito e confiança, destacamos a relação de responsabilidade ou co-

responsabilidade e comprometimento dos mesmos, tanto com a formação dos futuros profissionais quanto com o processo de educação permanente dos atuais profissionais dos serviços.

A partir das discussões, leituras e vivências, bem como dos resultados obtidos através de pesquisa anterior, motivamo-nos a aprofundar os conhecimentos sobre os temas educação permanente profissional e integração ensino-serviço, na perspectiva de responder às questões de pesquisa.

- Qual a compreensão dos enfermeiros sobre a educação permanente e a integração ensino-serviço?

- Como os enfermeiros percebem que a integração ensino- serviço pode contribuir para a educação permanente profissional?

Para responder às questões norteadoras, orientamos o estudo a partir de dois objetivos.

- Identificar a compreensão dos enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde sobre a educação permanente em saúde e a integração ensino-serviço.

- Analisar as contribuições da integração ensino-serviço para o processo de educação permanente, na perspectiva dos enfermeiros vinculados às Unidades Básicas de Saúde do município de Chapecó.

EVISÃO DE LITERATURA

Neste capítulo, abordamos os principais assuntos que envolvem os temas desta pesquisa.

Na busca por referências à integração ensino-serviço na enfermagem e educação permanente, percorremos as bases de dados Lilacs, Scielo e, através do editor EBSCOHost, as bases Cinahl, Soc Index e SportDiscus. Pesquisamos também, o banco de teses e dissertações da Capes e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), além de documentos legais (leis, relatórios), livros e periódicos.

Utilizamos como descritores: serviço de integração docente- assistencial / teaching care integration services; educação continuada / continuing education; e educação em enfermagem. Os termos integração ensino-serviço e educação permanente não são caracterizados como descritores, por constituírem termos próprios do Brasil.

A partir dos descritores citados, localizamos e destacamos para leitura e aprofundamento, cerca de 70 artigos, além de, como citado, livros, periódicos, teses e dissertações. Destacamos que essa busca não caracterizou busca ou revisão sistemática de literatura, e sim pesquisa para embasamento e instrumentalização da pesquisadora na discussão dos temas em estudo.

Para construção desta revisão foi necessário o resgate sobre a evolução dos debates e a construção da atual política de saúde no Brasil, a legislação e suas implicações na formação e desenvolvimento dos trabalhadores da área; as produções em enfermagem sobre integração ensino-serviço; e as relações e parcerias estabelecidas entre os setores, assim como da construção da política nacional de educação permanente em saúde, sua vigência e efetividade.

2.1 FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL EM