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1. INTRODUÇÃO

1.11 Justificativa e relevância

O diagnóstico e tratamento do TDAH tem ganhado um destaque polêmico na literatura atual. A abordagem deste transtorno traz dois pontos que merecem destaque na literatura: o primeiro relata a falta de identificação e tratamento adequado para crianças com este transtorno. Já o segundo, de forma antagônica, retrata os números excessivos e errôneos de diagnósticos do TDAH.

Estudos indicam que o primeiro ponto mencionado parece caminhar para um problema de saúde pública, uma vez que tem onerado em cerca de 1,8 bilhão de reais por ano os cofres públicos, decorrentes de investimentos na repetência escolar e assistências médicas ocasionadas pela desatenção dos pacientes com o transtorno (MAIA et al., 2015).

Já o segundo ponto abordado pela literatura retrata o aumento excessivo de casos do transtorno. Somente nos Estados Unidos, entre os anos de 2000 e 2010, o número de casos aumentou em 66%. Esse fato pode estar relacionado ao fator social, uma vez que o mercado competitivo tem estimulado a busca por melhor desempenho de forma cada vez mais precoce, atingindo a idade escolar (STEPHEN P. HINSHAW AND RICHARD M. SCHEFFLER, 2014).

Uma vez que a indústria farmacêutica já possui medicamentos comprovadamente eficazes para o tratamento do transtorno em questão, o primeiro ponto parece ser mais facilmente solucionado (FARMAC; LTDA, 2015). Para tanto faz-se necessário maior investimento em programas de saúde que visem a diagnosticar e tratar as crianças e adolescentes de forma precisa.

Diferente do primeiro ponto, a medicalização excessiva e/ou errônea traz um desafio sem claras definições das suas consequências, uma vez que o uso de psicoestimulantes pode trazer dependência e ainda danos neuropsicológicos ainda não estabelecidos na literatura.

Estudos realizados por nosso grupo de pesquisa mostraram que a administração de LDX em ratos adultos saudáveis pode desencadear sintomas comportamentais semelhantes aos da mania, além de provocar alterações bioquímicas relacionadas ao desequilíbrio oxidativo, culminado em respostas oxidativas (MACÊDO et al., 2013).

Vale destacar ainda, a popularização destes fármacos como potencializadores cognitivos. Tal fato pode estar relacionado ao aumento de 180%

da comercialização e provável utilização de fármacos psicoestimulantes entre os anos de 2009 e 2011 (ANVISA, 2012).

A infância e a adolescência são períodos de desenvolvimento neuroanatômico e cognitivo. Somado ao aumento do consumo de pscicoestimulantes, este fato traz um importante alerta que justifica a investigação dos possíveis danos decorrentes do uso de psicoestimulantes por indivíduos saudáveis.

Desta maneira fica clara a necessidade de estudos que abordem de forma mais aprofundada as consequências do uso indiscriminado destas drogas. Assim, este estudo tem como principal intuito colaborar com o meio científico a fim de que se possa de forma translacional, entender melhor as consequências do uso deste medicamento por indivíduos saudáveis.

2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral

Analisar as alterações comportamentais e neuroquímicas, em áreas cerebrais relevantes para a cognição, de ratos tratados com doses repetidas de lisdexanfetamina na infância e/ou periadolescência, com o intuito de colaborar com a literatura vigente quanto ao conhecimento das consequências comportamentais e neurobiológicas decorrentes do uso indiscriminado de fármacos psicoativos.

2.2 Objetivos Específicos

- Avaliar o comportamento de animais tratados com LDX pelo período de uma a três semanas, iniciando na infância e se estendendo até a periadolescência;

- Avaliar os níveis de marcadores de estresse oxidativo em animais saudáveis submetidos ao uso de LDX por um período contínuo de uma, duas e três semanas;

- Avaliar os níveis de marcadores referentes a neuroinflamação em animais saudáveis submetidos ao uso de LDX por um período contínuo de uma, duas e três semanas.

3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Animais

Foram utilizados ratos Wistar machos com peso inicial de aproximadamente 60g. Os animais foram provenientes do Biotério Central da Universidade Federal do Ceará (UFC). Durante todo o período de experimentação, os animais foram submetidos a um ciclo claro/escuro de 12 h e ambientados em grupos de 6 animais por caixa com livre acesso a comida e água. A temperatura ambiente média foi de 24ºC, podendo a mesma ter variação de mais ou menos 2º. Diariamente, 60 minutos antes do início da administração das drogas, o peso dos animais foi verificado a fim de atestar a saúde e responsividade dos mesmos. Todas as administrações necessárias para a execução do projeto foram realizadas entre o período de 8 e 10 da manhã. O projeto foi aprovado pelo Comitê de ética e pesquisa animal (CEPA) da UFC sob o número 03/2015. Os experimentos foram conduzidos de acordo com o Guia de Cuidados e Usos de Animais de Laboratório do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos da América.

Idade dos animais

Os animais utilizados apresentavam idade inicial de 25 dias e idade final de até 45 dias e peso médio de 65g no início do tratamento. A faixa etária mencionada foi selecionada para dar inicio ao estudo por compreender a infância e o período peripuberal do animal (Tabela 3). De maneira comparativa ao ser humano tal limite de tempo, corresponde ao início da puberdade, idade onde existe grande susceptibilidade ao desenvolvimento de psicopatologias em indivíduos vulneráveis, uma vez que se trata de um período de grandes transições físicas e emocionais, estresse e sensibilidade a estímulos emocionais (FERREIRA, 2002)(SEMPLE et al., 2013). Além disto, a janela etária dos animais utilizada na pesquisa em questão está relacionada também a idade humana onde pode ser iniciado o uso da LDX.

Tabela 3: Correspondência entre idade dos ratos e do ser humano e relação do tempo de tratamento dentro do período de faixas etárias correspondentes

.Fonte: Adaptado de (SEMPLE et al., 2013)

* De acordo com (SENGUPTA, 2013)

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