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As inúmeras transformações do século XXI têm traduzido mudanças significativas nas sociedades, sobretudo no Ocidente, com os processos de urbanização e industrialização, os avanços tecnológicos, o empobrecimento, a participação da mulher no mercado de trabalho, entre outros. Estas mudanças têm proporcionado transformações intensas nas famílias, nas suas configurações e tipologias, concepções e dinâmicas de funcionamento. Acrescido a isto, as famílias enquanto grupos sociais passam, também, por transformações que são típicas de sua evolução no curso de vida. Neste contexto, as transformações da adolescência trazem repercussões de extrema importância para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.

Na adolescência, a família continua a exercer o papel principal na socialização do adolescente (Collins & Roisman, 2006; Kreppner, 2000; Steinberg, 2001; Steinberg & Morris, 2001), apesar da crescente influência de outros contextos sobre o seu desenvolvimento. Além de oferecer aos adolescentes a proteção e o cuidado necessários ao seu funcionamento, ela é responsável por proporcionar oportunidades e espaços de aprendizagem e crescimento efetivos, e transmitir padrões relacionais que, durante a adolescência são avaliados e renegociados.

Uma visão mais ampliada e sistêmica desta fase de vida pode ajudar a compreender esses processos, nas suas especificidades e possibilidades, e a ultrapassar a visão deste período como problemático e pouco saudável. As pesquisas atuais precisam apresentar uma perspectiva mais positiva da adolescência, baseando-se em um conjunto de possibilidades e expectativas de mudanças que promovem a aprendizagem de habilidades e capacidades, e que estabelecem o clima de saúde e bem-estar para o desenvolvimento dentro e fora do grupo familiar.

Para isso, é fundamental que adotar metodologias mais apropriadas, que possam responder mais precisamente às questões atreladas à atual perspectiva contextual e relacional do desenvolvimento humano e do adolescente. Mais ainda, que seus resultados se dirijam não só às intervenções clínicas como também, à promoção de ações e programas de saúde e educação, dirigidos à população adolescente e às famílias (Smetana et al., 2006).

Assim, baseados nesta visão do desenvolvimento humano, e procurando atender à tradição e às especificidades da área, e aos critérios de relevância deste trabalho científico, são apresentadas, a seguir, as justificativas científicas e sociais, assim como

os objetivos propostos para esta tese de doutorado.

Relevância Social: A Adolescência no Brasil

Conforme mencionado no capítulo introdutório desta tese, a primeira grande razão para os estudos das famílias durante a adolescência dos filhos está no fato de que o Brasil é um país jovem, com uma população de 17% entre crianças e adolescentes, que necessitam de atenção e cuidados, pois são vulneráveis a riscos, respondendo a 3% da mortalidade total (IBGE, 2010). Atender bem a esta população constitui um desafio para as autoridades, mas, também, para os profissionais, principalmente das áreas de saúde e educação, mas, também, para a comunidade, em geral.

Os estudos sobre a adolescência no Brasil têm enfatizado questões emergenciais diretamente relacionadas ao adolescente e alguns comportamentos desviantes, tais como o uso e abuso de álcool e outras drogas, a gravidez não planejada, a transmissão de doenças, os transtornos mentais e suicídios, fatores considerados como as principais causas desencadeadoras das situações de vulnerabilidade nesta fase (Cerqueira-Silva, Senna, & Alves, 2007; Ministério da Saúde, 2010). Geralmente, eles são dirigidos a identificar condições vinculadas às estruturas sociais em que os adolescentes estão inseridos, condições essas nitidamente marcadas por desigualdades, baixa renda e baixa escolaridade (Ministério da Saúde, 2005b).

Apesar da importância destes grupos de risco, outras camadas igualmente importantes da população precisam ser consideradas. É fundamental ampliar os focos de investigação, reconhecendo fatores, além dos sociodemográficos (idade, sexo e classe social) e psicossociais (relações com a família e pares) que influenciam os comportamentos, o desenvolvimento e o tratamento dos problemas do adolescente brasileiro. Neste sentido, os estudos na área ainda são incipientes e pouco fidedignos, tornando-se essencial implantar investigações que considerem as condições de pluralidade e diversidade da adolescência.

As pesquisas no País precisam atingir o maior número possível de camadas desta população, conforme prevê a Constituição Brasileira (1988), de modo a identificar sua diversidade e trazer subsídios para a implantação de políticas públicas mais eficientes, programas de atenção à saúde do adolescente e promoção da educação familiar. Especificamente no Distrito Federal, ainda há poucos estudos, sobretudo com recorte psicológico e na perspectiva do desenvolvimento humano, que revelem o perfil bastante

peculiar da adolescência brasiliense no sistema familiar.

Neste contexto, é essencial propor investigações que considerem as condições social, histórica, econômica e cultural da adolescência, perpassada por experiências diversificadas, sobretudo no ambiente familiar no qual este adolescente vive e convive. Os estudos sobre adolescência devem, ainda, ter a família como foco de análise, investigando seus processos com profundidade, no sentido de responder as atuais questões sobre o desenvolvimento neste período do curso de vida.

Relevância Científica: A Família como Unidade Mínima de Análise

Sob o enfoque científico, os estudos sobre a adolescência ainda não contemplam a importância da família. Vista enquanto um grupo também em desenvolvimento, inserido em um contexto social e cultural específico, os estudos que levam em consideração o microssistema familiar e suas inter-relações com os demais microssistemas, como escola, pares e vizinhança, possibilitam uma compreensão melhor sobre como os fatores associados à adolescência podem influenciar e serem influenciados pelos fatores sociais e culturais do desenvolvimento da família e do indivíduo. Reconhecidas como “constructos mais ou menos frágeis que devem se adaptar constantemente aos desafios gerados pelos processos de desenvolvimento” (Kreppner & Ullrich, 1999, p. 18), as famílias devem ser vistas a partir de suas relações contínuas, ou não, e consideradas nas suas diferenças e necessidades, e na forma como seus membros funcionam, buscando soluções para se ajustarem e darem continuidade à sua vida.

Investigar as famílias nos momentos de transição no curso de vida familiar constitui um desafio para os atuais pesquisadores dos processos de desenvolvimento familiar, não só pela especificidade das características que ocorrem nesta fase, como também, pelas possíveis e importantes influências dessas mudanças sobre o indivíduo, a família e toda a sociedade. Além de serem pouco visíveis em outros momentos, essas mudanças exigem novas tarefas de desenvolvimento e recursos emocionais até mesmo das famílias mais funcionais (Freeman & Newland, 2002; Steinberg & Silk, 2002).

Menos ainda tem sido proposto em termos da investigação dos padrões de comunicação e interação familiar na transição para a adolescência. É esperado que os familiares sejam capazes de negociar com sucesso essas mudanças, logo, investigar a qualidade das interações entre eles pode gerar a identificação de demandas e de

possibilidades alternativas para sua adaptação às condições impostas pelo momento. Tradicionalmente, os estudos sobre as famílias na adolescência têm como foco principal de análise o adolescente, e, em busca por explicações e, consequentemente, intervenções que respondam às preocupações e necessidades das famílias e sociedades, poucas pesquisas têm conseguido ultrapassar a identificação de seus comportamentos desajustados e problemáticos. Neste sentido, torna-se importante apontar outras alternativas metodológicas que permitam identificar aspectos do desenvolvimento saudável do adolescente, desmistificar a idéia de „vulnerabilidade e risco‟, e contribuir para análises cujo foco seja o indivíduo em suas relações com seu contexto ecológico, principalmente nas famílias.

Os estudos se concentram nas relações entre o adolescente e um dos seus genitores, em geral a mãe, impedindo a compreensão mais ampla do sistema familiar e, com destaque para o subsistema parental, considerado o mais importante no desenvolvimento dos filhos. Para isso, faz-se necessário propor investigações das interações e relações entre pais, mães, filhos e filhas, nas diferentes díades e tríades, dentro do sistema familiar (Kreppner, 2003; Lila et al., 2006).

A maior parte das investigações ainda se concentra nas influências dos pais sobre o ajustamento do filho, investigando variáveis isoladas, como, por exemplo, o estilo parental (Salvador & Weber, 2008). Estas investigações, apesar de relevantes, já não respondem mais às questões contemporâneas do desenvolvimento humano e familiar, que apontam para as influências bidirecionais das relações familiares (Kuczynski, 2003; Pinquart & Silbereisen, 2004).

Portanto, este estudo pretendeu ultrapassar estes aportes, considerando que, por um lado, há pais adultos, geralmente de meia idade, com comportamentos próprios e perspectivas sobre a família e a adolescência, baseadas nas experiências de sua própria adolescência, nas crenças, valores, bem como metas de desenvolvimento (Steinberg, 1990; Vangelisti, 2004). Em contrapartida, existem adolescentes que, com características, experiências, indagações e expectativas próprias, estão em busca de formar sua identidade e atingir autonomia e independência.

A influência na transmissão de valores entre pais e filhos é mútua, isto é, ocorre tanto dos pais para os filhos como dos filhos para os pais, e, por esta razão, deve ser investigada bidirecionalmente (Kuczynski, 2003; Pinquart & Silbereisen, 2004). Logo, para permitir uma melhor compreensão dos processos de interação entre eles, é preciso que seja adotado um delineamento que privilegie informações fornecidas tanto pelos

genitores quanto pelos adolescentes-foco, reconhecendo as percepções de cada um sobre si mesmo, sobre o outro, sobre a família e sobre as relações estabelecidas entre eles (Dekovic & Buist, 2005). Além disso, devido às experiências diferenciadas de cada um, a discrepância se torna ainda mais acentuada na adolescência (Steinberg, 2001), o que confirma a idéia de que todos os familiares devem ser vistos como informantes igualmente influentes e necessários para a compreensão das relações dentro da família.

Considerando que os pais tendem a agir de modo diferente com seus filhos nas diferentes díades, e quando estão juntos ou não (Beaumont & Wagner, 2004; Dessen & Lewis, 1998; Hinde, 1997; Kreppner, 1992), é fundamental que os delineamentos de pesquisa sejam baseados na visão sistêmica, considerando-se as percepções de cada parte nas suas relações diádicas e triádicas. Contemplar este aspecto permite uma melhor compreensão dos processos de interação e relação entre pais e filhos adolescentes, dentro da família. Avançar nas investigações significa descrever padrões de comunicação que ocorrem simultaneamente nas relações conjugais e parentais, focalizando, por exemplo, díades pai-filho, mãe-filho e pai-mãe, assim como tríades pai-mãe-filho, abordadas, mais recentemente, em pesquisas na área (Beaumont & Wagner; Dessen & Braz, 2005; Kreppner, 2001).

Procura-se, também, considerar as influências mútuas entre o subsistema conjugal e o parental, já amplamente pesquisado na área durante a infância (Erel & Burman, 1995), mas que também merece a atenção dos pesquisadores durante a adolescência. A identificação dos conteúdos associados à qualidade das relações nos diferentes subsistemas familiares (Kreppner, 2003) e dos padrões de comunicação que promovem relacionamentos mais positivos, pode possibilitar o desenvolvimento de ações dirigidas à educação e à saúde da família.

Nesta direção, para investigar a qualidade das relações entre pais e filhos e o desenvolvimento socioemocional do adolescente, este trabalho se propôs a enfocar as interações cotidianas e os modos de comunicação existentes entre os familiares durante a transição para a adolescência. Com foco na parentalidade, propõe-se uma investigação em que são considerados pelo menos dois diferentes níveis do sistema ecológico, o individual e o familiar, sem com isto desmerecer as influências de outros contextos, como o da comunidade e o da cultura, dentro dos quais as famílias estão inseridas.

Assim, busca-se não só identificar características pessoais dos filhos e dos pais como idade, gênero, nível de escolaridade, e do grupo familiar, como arranjos de moradia, número de habitantes e de crianças nas famílias, status marital, rede social de

apoio e religião, modos de vida e atividades; mas, também, as inter-relações entre elas e o contexto social e cultural. Isto implica levar em conta os efeitos das oportunidades e recursos socioeconômicos oferecidos por e para estas famílias, e do impacto das ações institucionais e governamentais sobre seu crescimento e desenvolvimento.

A identificação dos conteúdos associados à qualidade das relações familiares e dos padrões de comunicação que promovem relacionamentos mais positivos (Kreppner, 2003) pode possibilitar o desenvolvimento de ações dirigidas à educação e à saúde da família. Neste sentido, o interesse deste trabalho está, na prática, em colaborar com o aperfeiçoamento das relações familiares, identificando aspectos construtivos nestas relações, que possam vir a modelar comportamentos de comunicação mais apropriados para o desenvolvimento saudável da família, isto é, das competências sociais esperadas pelos familiares nesta fase (Kreppner, 2000).

Como grande parte das pesquisas é dedicada a identificar padrões problemáticos, particularmente os conflitos familiares, visando modificá-los ou controlá-los (Sillars, Canary, & Tafoya, 2004), este estudo se propõe a investigar os padrões familiares saudáveis como forma de promover o desenvolvimento familiar, de maneira que os resultados possam alavancar intervenções dirigidas ao aprendizado de habilidades específicas. Destas, as habilidades especialmente relacionadas à autonomia, à regulação das emoções, às negociações e resoluções de problema nas relações parentais, pode trazer, também, resultados importantes para as relações extrafamiliares.

Portanto, o presente trabalho teve como objetivo principal investigar os padrões de comunicação utilizados por famílias brasilienses, de classe socioeconômica média, com destaque para os processos de desenvolvimento e negociação da autonomia, que ocorrem entre pais e filhos primogênitos, durante a transição da infância para a adolescência. Independente das influências de outros níveis contextuais, estruturas sociais e processos psicológicos presentes no desenvolvimento das famílias e do adolescente, neste estudo procurou-se priorizar o caráter processual do curso do desenvolvimento familiar, ao investigar as continuidades e mudanças nas relações e nos papéis exercidos por pais e filhos adolescentes ao longo do tempo.

Três eixos norteiam as questões a serem respondidas: 1. Caracterização das famílias de origem e atuais; 2. Caracterização do adolescente nas famílias durante a transição para a adolescência; 3. Padrões de comunicação nas famílias durante a transição para a adolescência e processos de autonomia e negociação entre pais e filhos. Na tentativa de compreender estes eixos norteadores, este trabalho pretende responder

as seguintes questões:

1. Caracterização das Famílias de Origem dos Genitores (FO) e das Famílias Atuais do Adolescente-foco (FA):

1.1. Famílias de origem dos genitores:

(a) Quais as características da estrutura das FO dos genitores?

(b) Que fatos de sua história de vida foram relevantes para o desenvolvimento dos familiares?

(c) Quais as características do funcionamento das FO? Que padrões, práticas educativas e valores estavam presentes nas FO dos genitores?

1.2. Famílias atuais do adolescente-foco:

(a) Quais as características da estrutura das FA dos adolescentes-foco?

(b) Quais as características do funcionamento das FA? Que padrões, práticas educativas e valores estão presentes nas FA? Pais e filhos percebem suas famílias de modo diferente?

1.3. Semelhanças e diferenças entre as FO e as FA:

(a) Quais as semelhanças entre as características das famílias de origem (FO) e as atuais (FA)?

(b) Quais as diferenças entre as características das famílias de origem (FO) e as atuais (FA)?

1.4. Como genitores e filhos concebem a „família‟ nos dias atuais?

2. Caracterização do Adolescente nas Famílias de Origem (FO) e nas Famílias atuais (FA) durante a Transição da Infância para a Adolescência:

2.1. Quais as características dos genitores quando adolescentes nas FO? 2.2. Quais as características dos adolescentes-foco nas FA?

2.3. Há diferenças na transição para a adolescência dos genitores, nas FO, e dos adolescentes-foco, nas FA?

2.4. Como genitores e filhos concebem a „adolescência‟ nos dias atuais?

3. Padrões de Comunicação nas Famílias Atuais e o Desenvolvimento da Autonomia e Negociação entre Pais e Filhos:

3.1. Mudanças percebidas nos padrões de comunicação nas famílias atuais, no momento da transição dos adolescentes-foco:

de proximidade/união, abertura ao diálogo, expressão de afeto e clima emocional da família?

(b) Que práticas educativas se mantêm e que práticas se modificam, na transição para a adolescência?

3.2. O desenvolvimento da autonomia na adolescência:

(a) Como ocorre o processo de desenvolvimento da autonomia na adolescência, nas famílias atuais?

(b) Que padrões de comunicação estão envolvidos no desenvolvimento da autonomia dos filhos?

(c) Quais os aspectos que interferem, favorecendo ou dificultando esse processo, na perspectiva dos genitores e dos filhos adolescentes-foco?

3.3. Negociação de conflitos nas famílias atuais:

(a) Como as famílias atuais se engajam em situações de conflito durante a transição dos filhos para a adolescência?

(b) Como genitores e filhos percebem e reagem aos conflitos parentais? (c) De que forma essas famílias negociam as questões da adolescência?

Por meio dos resultados desta tese, espera-se contribuir para a proposição de ações que possam suprir solicitações de ambos, pais e filhos, quer dando respaldo aos pais para enfrentar as mudanças desta fase, quer dando suporte aos adolescentes, promovendo espaços de voz e negociações, estabelecendo limites claros e firmes, e desencorajando a prática de atos que ferem a sua saúde e as normas sociais e legais. É ressaltada a importância da família na adolescência dos filhos, particularmente, no que tange à ocorrência de relações mais positivas na direção do desenvolvimento saudável do adolescente, da família e da sociedade como um todo.

Além disso, pretende-se contribuir para o avanço científico da área, no sentido de nortear novas pesquisas com orientações mais abrangentes e integradas da família e do adolescente; fornecer subsídios para um olhar mais acurado sobre a adolescência enquanto um estágio de desenvolvimento contínuo e, como tal, dependente da trajetória probabilística do indivíduo inserido em um dado contexto familiar, social e cultural; e gerar informações que possam ser utilizadas na elaboração de programas de promoção e prevenção da educação e da saúde do adolescente e de sua família, aumentando a eficácia de tais programas.

METODOLOGIA

Neste capítulo, são apresentados os referenciais teóricos adotados - a Abordagem Sistêmica da Família (Minuchin, 1985, 1988) e o Modelo (Bio)Ecológico de Bronfenbrenner (Bronfenbrenner, 1979/ 1996) , além do método utilizado para a coleta de dados. Na primeira e na segunda seções, são apresentados os componentes dos dois modelos teóricos e, na terceira seção, que inclui procedimentos de coleta dos dados, os critérios de seleção e de caracterização dos participantes, os instrumentos utilizados, bem como os procedimentos para a análise de dados.

A Transição para a Adolescência sob a Perspectiva Sistêmica

O estudo dos processos de comunicação nas famílias abrange questões importantes do desenvolvimento humano e familiar, que perpassam as inter-relações do indivíduo com o ambiente. Em importantes momentos de transição, como na passagem da infância para a adolescência, estes processos devem ser investigados levando em conta sua complexidade, suas diferenças e similaridades, assim como o contexto relacional da família e da família com os demais contextos.

Para compreender os processos que ocorrem dentro das famílias, incluindo o período de transição do primeiro filho para a adolescência, a Abordagem Sistêmica da Família tem sido apontada como a mais proeminente abordagem teórica da atualidade (Kreppner, 2003; Lerner, Lerner, De Stephanis, & Apfel, 2001; Lila et al., 2006; Minuchin, 1985, 1988; Parke, 2004). Esta teoria focaliza as características processuais e dinâmicas do sistema familiar, e busca integrar os momentos de estabilidade e de mudança, peculiares aos sistemas em desenvolvimento.

Em consonância com as teorias e pesquisas contemporâneas sobre o desenvolvimento humano, a abordagem sistêmica reconhece a família como uma entidade social complexa, única, aberta e contínua, composta por um grupo de unidades organizadas e interdependentes (Dessen & Braz, 2005; Kreppner, 2005; Lila et al., 2006). Os elementos do sistema familiar, sejam eles os diferentes subsistemas (ex: parental, marital, ou fraternal) ou as díades (ex: filho-pai e filho-mãe) ou tríades (filho- pai-mãe), funcionam tanto de acordo com suas peculiaridades, quanto em função das características do sistema como um todo (Minuchin, 1985, 1988; Vasconcellos, 2003).

invisíveis, literais ou simbólicas, que separam os membros, os subsistemas e o próprio sistema familiar do contexto social. Cada família tem uma forma específica de se organizar, tem papéis e regras de funcionamento, além de adotar um processo de comunicação próprio. Por meio de rotinas e rituais diários, as famílias regulam a proximidade e a distância estabelecidas entre seus membros; negociam espaço, tempo e energia empregados nestas barreiras; e buscam estratégias de resolução de problemas cotidianos, revelando, assim, uma cultura familiar particular (Kantor & Lehr, 1975; Kreppner, 2000).

Na transição para a adolescência, a família vive um dos momentos de maiores

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