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Juventude e Trabalho no ProJovem Integrado

Parte I: Fundamentação teórica

Capitulo 3: O ProJovem Integrado

3.3. Juventude e Trabalho no ProJovem Integrado

O PJU compreende a juventude a partir da perspectiva de geração, que envolve entender a juventude em suas relações com outros grupos sociais. Esse conceito requer um diálogo intergeracional que produza novas escutas, aprendizados mútuos e trocas de experiências, indicando que todos têm muito a aprender, uma vez que somente os jovens sabem como é ser jovem no mundo de hoje e a mesma coisa com os adultos, idosos, etc.

têm muito a aprender um com o outro, e de que a aliança entre eles é fundamental em contraposição à sociedade do espetáculo e do consumo – que disputa cotidianamente a cabeça e o coração de adultos e, principalmente, jovens, criando demandas ‘inexistentes” e exigindo e incentivando o consumismo exacerbado. Entende que, apesar de a juventude fazer parte de um mesmo ciclo geracional, apresenta diferenças e contrastes oriundos ou fomentados pela desigualdade social, que amplia abismos sociais, discrimina e hierarquiza as relações. Nessa direção, o programa sustenta-se na ideia de que os jovens precisam encontrar-se e ouvir-se mais. Uma das possibilidades de encontros são as participações em ações sociais, movimentos sociais nos quais se demarcam fronteiras simbólicas e se constroem identidades (Salgado & Jardim, 2010).

No PJU, enxerga-se os jovens como sujeitos de direitos, entendendo a juventude como fase singular. O jovem é visto como cidadão, com direitos, mas também deveres, o que significa que sua vida escolar, sua preparação para o trabalho e seu engajamento social são entendidos como sua cidadania em exercício. O entendimento da juventude como uma mera fase preparatória para a idade adulta fica suspenso, assim como a ideia de moratória social – o tempo de preparação do jovem para a entrada no mundo adulto e no mercado de trabalho.

Já o entendimento de trabalho pressupõe a ideia de uma prática social especifica, de caráter cultural e histórico, por meio da qual o indivíduo constrói suas condições de existência. É o espaço no qual o indivíduo se realiza como produtor de si mesmo e produtor de cultura (Salgado & Jardim, 2010). É nesse âmbito que se encontra o eixo da qualificação profissional que, não desconsiderando a dimensão subjetiva do trabalho, visa a possibilitar desde o desenvolvimento de habilidades até a preparação para uma “inserção” ocupacional, que assegure renda e autonomia aos jovens.

consegue os meios para satisfação das suas necessidades básicas, além da produção das condições materiais que possibilitam ao ser humano se reproduzir e sobreviver (Féres et al., 2008). Essas ideias partem da concepção de que o trabalho é um direito, um valor e fonte de realização pessoal, que torna possível as relações sociais que, por sua vez, transformam os indivíduos e vice-versa, em um processo dialético. É com esse olhar que se busca operacionalizar as atividades e propostas contidas nos materiais, aproximando a realidade dos jovens às temáticas referentes aos eixos.

No PJA, o entendimento de juventude e trabalho se assemelha em muitos aspectos ao do PJU. O mundo do trabalho tem um destaque especial, pois a formação traçada busca entender esse processo como algo vital, contribuindo para uma existência autônoma e para a cidadania dos jovens. Nesse sentido, o trabalho é tido como estruturador de identidades, e possibilita criar espaços de pertencimento e organizar práticas sociais que contribuem para que os jovens possam existir em/para a sociedade (MDS, 2009a). O trabalho tem uma função primordial de constituir o sujeito em sua totalidade, na medida em que o cidadão se realiza como produtor de cultura e produtor de si mesmo, em uma relação dialética com o meio social.

O PJA não visa a uma qualificação formal, no entanto, na dimensão socioeducativa, há uma introdução à formação técnica geral para o mundo do trabalho, que é imprescindível para o desenvolvimento de habilidade, para a socialização e para a construção de valores que dão suporte e estrutura à vida dos jovens. É por meio da formação técnica geral que os jovens constroem seus POP, com a ajuda do FTG, que orienta acerca de competência e habilidades necessárias ao mundo do trabalho.

O trabalho do FTG acontece a partir de oficinas com o coletivo, nas quais o facilitador busca promover a reflexão sobre a escolha consciente de uma profissão que é incluída em um projeto de vida mais amplo que acompanha o jovem durante a

passagem pelos percursos formativos. O facilitador, nesse percurso, deve: a) instigar, orientar e apoiar os jovens na formação e aprendizados para a sua inclusão no mundo do trabalho; b) promover a ampliação das competências comunicativas dos jovens; c) promover a inclusão dos jovens no mundo digital; e d) estimular e acompanhar a construção de seu POP (MDS, 2009a).

A modalidade também incorpora na sua formação a dimensão subjetiva, de autoconhecimento e de realização pessoal, além de articular a relação entre conhecimento e atividade produtiva, permitindo a apreensão dos elementos socioculturais que configuram os horizontes e projetos de vida dos jovens (MDS, 2009a).

Em muitos casos, os jovens público-alvo do PJA são oriundos de famílias de baixa renda e que recebem o benefício do PBF. Para esses jovens a continuidade dos estudos e o adiamento da entrada no mercado de trabalho formal ou informal passam a ser um horizonte de expectativas e não propriamente algo que vai se realizar. O trabalho se constitui como uma necessidade de sobrevivência, mas nem sempre é possível de ser acessado, assim como acontece no sistema educativo, no qual os jovens enfrentam dificuldades de acesso e permanência (MDS, 2009b).

O traçado metodológico aponta algumas políticas que são recomendadas em relação ao trabalho: políticas de promoção de garantias para que os jovens estudem e não precisem trabalhar antes dos 16 anos; políticas que garantam que o trabalho dos adolescentes ocorra estritamente nas condições definidas pela Lei do Aprendiz; que se amplie o debate sobre mundo do trabalho nas escolas, incluindo esse tema nos currículos do ensino médio, nas redes e nos fóruns juvenis; o fomento a educação profissional como formação complementar à educação básica; e, o incentivo a criação de uma política nacional de qualificação profissional, que seja articulada a diversos

ministérios, empresas, sistema S, ONGs etc. e que considere as especificidades das demandas de públicos distintos – jovens do campo, das cidades, quilombolas, indígenas e jovens com deficiência (MDS, 2009b).

A modalidade PJT tem como principal objetivo a promoção de oportunidades de trabalho, emprego e renda para os jovens em situação de maior vulnerabilidade frente ao mundo do trabalho, por meio da qualificação social e profissional, visando a “inserção” dos jovens em atividades produtivas, que podem ser tanto por meio de vínculos empregatícios formais quanto em atividades geradoras de renda. Para tanto, o PJT utiliza a metodologia dos arcos ocupacionais, assim como o PJU e como uma série de outros programas de qualificação de jovens ofertados pelo MTE. Os arcos se ramificam em ocupações que estão na esfera de produção e na esfera de circulação, promovendo a possibilidade de abranger um campo maior de atuação, aumentado também a possibilidade de “inserção” dos jovens.

O PJT possui na qualificação social um módulo sobre “noções de direitos trabalhistas, formação de cooperativas, prevenção de acidentes de trabalho”, com 20 horas/aula e um módulo sobre “empreendedorismo”, também com 20 horas/aula. Além desses módulos, os jovens ainda têm 250 horas/aula de qualificação profissional de acordo com o arco escolhido.

Diferentemente das outras duas modalidades, o PJT não tem nos seus documentos oficiais um conceito definido de juventude e de trabalho, no entanto, é possível inferir que o trabalho é considerado algo central na vida dos jovens, especificamente, e como algo que deve ser garantido. Nas três modalidades, há uma expectativa de que a relação juventude-trabalho seja minimamente efetivada por meio das ferramentas metodológicas que foram desenvolvidas e adaptadas ao público-alvo de cada modalidade, entendendo que no mundo capitalista de hoje, o processo de

reestruturação produtiva implica na permanência da desigualdade social e do desemprego e que essas situações são vivenciadas de forma mais intensa pela juventude e, nesse grupo, pela juventude pobre.

As modalidades em questão buscam fornecer um contato inicial (PJA) e um contato um pouco maior (PJT e PJU) com o mundo do trabalho e para isso visam instrumentalizar os jovens não só com competências técnicas, mas também com um conjunto de valores que possam ajudá-los a entender seus direitos e conviver na sociedade. Como já dissemos anteriormente, neste estudo, pretendemos discutir o processo de qualificação que é oferecido à juventude e como é estabelecida a relação entre os jovens e o mundo do trabalho. Para tanto, temos como objetivo geral da pesquisa discutir como a relação juventude-trabalho se insere e é operacionalizada no PJI do município de Natal/RN. Especificamente, buscamos caracterizar as modalidades do PJI, no que se refere ao contexto de funcionamento e operacionalização das atividades, em Natal/RN; analisar como a relação juventude-trabalho aparece nos documentos oficiais das modalidades do PJI; e investigar como a relação juventude- trabalho é compreendida pelos gestores das modalidades do programa e qual sua importância.

4. Método

“Todo começo é difícil em qualquer ciência.”

(Karl Marx)