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A JUVENTUDE SOB O OLHAR DOS ADULTOS

3. MEU FLANAR, MEUS CADERNOS E O JORNAL

4.1 A JUVENTUDE SOB O OLHAR DOS ADULTOS

Ainda neste âmbito, Flitner (1968) afirma que abandono e criminalidade começam chamar atenção como sendo questões específicas da juventude. A leitura da obra desse autor permite compreender que a conjugação juventude, criminalidade e abandono são fenômenos da nova sociedade, agora industrial. Pais (1996), analisando o aparecimento da juventude como tema de preocupação para a sociedade e, ao mesmo tempo, interesse para a ciência, de modo especial a sociologia afirma que,

O prolongamento da escolaridade, a legislação sobre o trabalho infantil, que incrementava a idade a que os adolescentes podiam começar a trabalhar, o próprio surgimento da família contemporânea, com o correspondente aumento da dependência dos jovens em relação às suas famílias de origem, a proliferação de casas de correção para menores e outras medidas públicas, constituíram a expressão do reconhecimento social dos ―problemas‖ da adolescência. (p. 31)

Neste mesmo sentido, Abramo (1994) aponta as primeiras décadas do século XX como um tempo profícuo de manifestações de juventude, o que contribui para que esta possa ser percebida como sujeito social especifico, com experiências e formulações particulares. Esta autora destaca ainda a especificidade e a importância do período

entre guerras, quando experiências macabras contribuem para que a juventude adote comportamentos marcados por perplexidade, ressentimento e niilismo. Do mesmo modo, ressalta também que a juventude pode ser percebida e destacada quando seus modos de ser, pensar e de se organizar, apresentam-se como contrastantes com o ponto de vista daquilo que é considerado normal, ou seja, os padrões dominantes. A respeito das considerações acima é relevante a abordagem de Matza (1968), que escreve sobre a importância das tradições ocultas da juventude aponta o choque entre a rebeldia juvenil e o mundo dos adultos respeitáveis. A propósito, o autor fala em molestamento entre gerações. Diz ele que,

A juventude, permanecendo fora da ordem estabelecida e não sendo responsável pelos defeitos da mesma, talvez assuma uma atitude entre, o que parece aos adultos, um idealismo demasiadamente exigente e um cinismo desapiedado. (P. 88)

É preciso assinalar que quando a sociologia traz à tona a juventude como campo de estudo importante, outras ciências acompanham esta tendência, oferecendo as mais diversas abordagens. Para esta pesquisa, contudo, considero suficientes estas informações para que possa fazer um deslocamento para os estudos mais recentes, de modo especial aqueles realizados por autores como Pais (1996), Margulis (1996) e Abramo (1994). Outros autores irão aparecendo para travar um dialogo necessário.

Pais (1996) aponta duas tendências sociológicas na abordagem da juventude. A primeira tendência que pode ser entendida como corrente geracional é aquela que olha a juventude a partir de sua pertença a uma fase da vida. Considerando esta perspectiva o autor escreve que,

A juventude é tomada como um conjunto social cujo principal atributo é o de ser constituído por indivíduos pertencentes a uma dada ―fase da vida‖, prevalecendo a busca dos aspectos mais uniformes e homogêneos que caracterizariam essa fase da vida. (p. 23)

Outros estudiosos, todavia, tem relativizado esse modo de olhar. Bourdieu (1983) já apontou nesta direção. Ao afirmar ser a juventude

apenas uma palavra o sociólogo indicou, entre outras coisas, que o

critério etário, caro à corrente geracional, possa ser manipulado e manipulável, em função de interesses políticos e culturais, por exemplo,

apontando então para a necessidade de deslocamento para uma compreensão da juventude a partir de outros olhares. Seguindo a mesma linha de raciocínio, a partir de estudos com enfoques antropológicos, Canevacci (2005) afirma o não funcionamento das distinções entre faixas etárias. Escreve ele que,

As distinções modernas entre faixas etárias não funcionam mais. Os jovens são atemporais no sentido de que ninguém pode sentir-se excluído desse horizonte geracional. Evidentemente há profundas e diversificadas pressões culturais e comunicacionais que empurram, ou melhor, auxiliam pessoas normais a sentir-se ainda (para sempre) dentro de uma condição que não é mais determinada – para utilizar exatamente uma palavra anglo-saxônica – pela teenage. (P. 36) A segunda corrente apresentada por Pais (1996) é aquela que podemos ler a partir de uma visão classista, que privilegia o pertencimento juvenil a uma cultura, às classes, à situação econômica, etc. Com relação ao modo como essa corrente aborda a juventude o autor escreve que,

A juventude é tomada como um conjunto social necessariamente diversificado, perfilando-se diferentes culturas juvenis em função de diferentes pertenças de classe, diferentes situações econômicas, diferentes parcelas de poder, etc. Nesta tendência a juventude é tomada como um conjunto social cujo principal atributo é o de ser constituído por jovens em diferentes situações sociais. (P. 23)

Se saíssemos às ruas para perguntar às pessoas sobre o significado de ser jovem certamente teríamos surpresas. Isso se ouvíssemos as respostas com um ouvido de pesquisador. Flor da idade, tempo em que se pode tudo, futuro da humanidade, tempo para provar, experimentar, certamente estariam entre as respostas. Por outro lado, se consultássemos uma bibliografia escrita por aqueles que se debruçam sobre o tema juventude encontraremos dissonâncias, mas também será possível mapear o que Abramo (1994) aponta como noções básicas e

amplamente generalizadas na busca dessa caracterização. E essa autora

indica algumas dessas noções, quais sejam, transitoriedade, ambiguidade, suspensão da vida social, vir-a-ser, entre outras.

Uma das primeiras dessas noções a qual podemos destacar é a condição de transitoriedade da juventude. Os estudos de Ariès (2012) apontam que esse é um tempo de preparação para o ingresso na vida adulta. Isso está posto tanto no pensamento comum quanto para muitos outros mais elaborados. O primeiro se manifesta em atitudes que pedem, por exemplo, que se tenha paciência com os jovens, ou então quando se afirma que com o tempo isso passa. O pano de fundo para isso se ancora em uma visão adultocêntrica da sociedade. A esse respeito, Abramo (1994) escreve que:

A ideia central é a de que a juventude é o estágio que antecede a entrada na ―vida social plena‖ e que como situação de passagem compõe uma condição de relatividade: de direitos e deveres, de responsabilidades e independência, mais amplos do que os da criança e não tão completos quanto os do adulto. (P. 11)