• Nenhum resultado encontrado

H Koebel (1872-1923) foi, como refere J M Mackenzie, um jornalista e escritor, que

Parte 2: A apresentação do corpus de análise: contextualização e caracterização

W. H Koebel (1872-1923) foi, como refere J M Mackenzie, um jornalista e escritor, que

se especializou em assuntos da América do Sul, e também cumpriu algumas missões para o governo britânico (1919), reportagens que interessavam aos “homens de negócios”, turistas e o governo britânico. O estado de situação das colónias africanas, como Moçambique, era um tema destes guionistas britânicos do período imperial. “This work was designed primarily for businessmen, tourists and the framers of government policy. It specifically       

150 Parmi les contributeurs de l'hebdomadaire: Antoine de Saint-Exupéry, Georges Auric, Julien Benda,

Pierre Mac Orlan, Jean Rostand, Henri Troyat, Herbert George Wells, Marlène Dietrich, Marie Bonaparte, Suzanne Chantal, Marcel Aymé...”

151 Parmi ses collaborateurs, notamment Charles Ford, Marcel Carné, Blaise Cendrars, Pierre Mac Orlan,

Joseph Kessel.

warned off speculative English-speaking settlers, although it described the very considerable opportunities for business and for people with capital.” (in J. Walton, 2005: 32)

Durante a II GG cruzaram-se em Lisboa muitos jornalistas e homens em missão para os governos de ambos os lados, Aliados e Eixo. Herbert Van Leisen, Eugene Fodor (1905- 1991)153 e Ronald Seth (1911-1985) encontravam-se em Lisboa durante esse período. Van Leisen foi um jornalista suisso que esteve em Lisboa, entre 1936 e 1942, como correspondente do jornal Courrier de Genève (de feição católica). A monografia em análise, que editou em conjunto com Claire Szilard, uma pintora de origem húngara, refugiada em Lisboa nesse período, surgiu dessa estada. (Reto Monico 2011: 165-166) E. Fodor e R. Seth foram identificados como personalidades cosmopolitas, fizeram estudos políticos e económicos. Durante a II GG Fodor, justamente por dominar um conjunto vasto de línguas, integrou os serviços de espionagem militar americanos. Quanto a R. Seth154, este encontrava-se a dar aulas na universidade da Estónia onde, no início da guerra, colaborou na constituição do BBC Monitoring Service, tendo desempenhado serviços especiais — Special Operations Executive (SOE). Capturado pelos nazis, construiu uma vida dupla, cuja lealdade permaneceu nebulosa. No pós-guerra tornou-se um conhecido autor de livros de espionagem.

1881 Fr G Jules Leclerq (1848-1928); 1909 Uk GM W.H. Koebel (1872-1923), 1947 Fr Ch M Herbert Van Leisen; 1963 Fr G e 1970 Uk Fo G, Eugene Fodor (1905-1991) e William Curtis (editor 1907-); 1976 Uk G Ronald Seth (1911-1985).

d) Os escritores e artistas

Quisemos salientar do conjunto de guionistas os que produziram, sobretudo, uma obra literária ou artística. Destacámo-los como viajantes pelo mundo que incluíram na sua obra livros sobre os países e as cidades onde estiveram, espelhando um olhar singular.

Douglas Goldring (1887–1960) foi um escritor e jornalista que “cultivated a circle of

aesthete friends, most notably Somerset Maugham, who introduced him to the poetry of       

153 Autor dos Guias Fodor.

Baudelaire and Verlaine among others. The war, along with the injustices Goldring witnessed while in Ireland in 1916–18, radically politicized him; thereafter he referred to himself as a ‘propaganda novelist’ (Goldring, Odd Man Out: 142)155.

G Sacheverell Sitwell (1897-1988)156, aristocrata britânico, juntou o gosto pela poesia, a escrita, a pintura, arquitectura, tendo viajado pelo sul da Europa em consequência também do seu gosto pelas artes, nomeadamente o “Barroco”, escreveu, a par da monografia sobre Portugal em análise, um outro especializado no barroco português157.

Oswell Blakeston 1907-1985), pseudónimo de Henry Joseph Hasslacher, foi um artista

que explorou vários domínios das artes plásticas, desde a pintura, à fotografia e cinema. Companheiro de Max Chapman (1911-1999)158, outro pintor inglês, ambos os “guionistas” foram marcantes no cenário artístico inglês do século XX. A viagem a Lisboa foi feita em conjunto, e uma das suas curiosidades era saber como se encontrava a vida artística no país governado por Salazar.

“I wanted to experience what I would find in Portugal today and discover if they make sound films in modern Portugal, if they have a live theatre, if the British colony is still flourishing, how people live under the regime of Salazar. I felt that with the stimulus of a new land it might be possible to be more alive to everything than in, say, the more familiar territory of a French holiday.

Chapman wanted to refresh his eye with new scenes and fill the gaps of information about a country of which one hears comparatively little. “I wonder what pictures they’re painting out there, what music is being composed, whether Lisbon looks like Madrid, if we agree with Jan and Gora Gordon who wrote about Portugal in the early thirties.” (1955 Uk G: 10) A monografia sobre Portugal assinada por Giraudoux (1882-1944), edição póstuma, reflecte a importância de Lisboa nos anos 40. Giraudoux viajou até Lisboa à procura do seu filho, exilado voluntariamente por causa da ocupação francesa em 1940. Este escritor foi um dos mais importantes dramaturgos franceses no período entre as duas guerras. Como diplomata viajou entre os anos 20 e 40 do século XX pelo mundo inteiro. Esteve em Lisboa em 1916 tendo publicado La Journée Portugaise (1920). A síntese da Lisboa vista nesse livro, de acordo com Otília Martins (2012: 176-180), pitoresca e exótica, inaugurou um olhar francês lusofilico revisitado ao longo do séclo XX.

      

155 in http://www.oxforddnb.com/view/article/56883

156http://www.dictionaryofarthistorians.org/sitwells.htm

157 The Southern Baroque, 1924.

Chris Marker (1921-2012), pseudónimo de Christian Bouche-Villeneuve, como já foi

referido, autor da colecção Petite Planète, foi um artista da sociedade francesa sobretudo na área do cinema experimental e documental, vanguardista e singular na sua área. Trabalhou na UNESCO e esteve ligado a diferentes grupos intelectuais da sociedade francesa. Foi co fundador, durante o governo de Vichy, da Revue française Cahiers de la Table Ronde (1944-2014), foi director de uma colecção da revista Esprit (1932-2014) Peuple et Culture, conviveu e trabalhou com cineastas como Agnès Varda e Alain Resnais.

Marker não fez todas as viagens sugeridas na colecção mas como afirma Susana Martins o toque daquele artista encontra-se muito presente nas fotografias do guia dedicado a Portugal. O autor referido no guia, Franz Villier (Franz Thomassin), escreveu para a revista Esprit e conviveu com o núcleo de artistas como Cocteau e Matisse. (S. Martins, 2010: 94)

1934 Uk M Douglas Goldring (1887–1960); 1954 Uk G Sacheverell Sitwell (1897-1988); 1955 Uk G Oswell Blakeston (1907–1985); 1957 Fr G Chris Marker (1921–2012); 1958 Fr M; Jean Giraudoux (1882-1944)

e) Fascinados por Lisboa

Agregamos neste grupo autores (coordenadores) dos guias, editados já depois de 1974, com excepção da monografia de D. Wright e Swift (1971). O que liga estes autores é o facto de terem vivido em Lisboa por um tempo mais prolongado e, no caso dos editores dos dois guias Autrement (1988 e 2003) o facto de terem trabalhado no Liceu Francês e convivido com intelectuais portugueses que viveram em França, como Eduardo Lourenço ou E. Prado Coelho. O gosto por Portugal e Lisboa é menos marcado pelas características “de cidade do Sul”, uma parte das razões de viagem da primeira geração de guionistas escritores, nomeadamente ingleses, mas sobretudo pelo gosto da cultura lusófona. Estes guias tiveram por isso uma participação grande de escritores, filósofos e jornalistas portugueses.

David Wright (1920-1994) e Swift (1927-1983) estiveram em Lisboa nos anos 60 e este

último, pintor, viveu no Algarve até à sua morte. Between 1942 and 1947 D. Wrigh was on the staff of the Sunday Times, after which he became a freelance writer. With the painter

Patrick Swift, he founded and edited X, a highly regarded review of literature and the arts, which appeared from 1959 to 1962, and co-edited An Anthology from X (1988)159.

Swift estava particularmente interessado na arte cerâmica e na azulejaria, tendo contribuido para a preservação dessa arte no Algarve. O pintor Lima de Freitas, que fundou o IADE no tempo de visita destes dois ingleses, foi um dos seus anfitreões lisboetas.

Um outro autor, P. Kyria (1938 -) é um escritor francês, que estudou nos Estados Unidos nos anos 50, sendo actualmente crítico literário do Le Monde e do Magazine Littéraire160. Viveu em Lisboa durante um tempo, cidade que serviu de inspiração a um dos seus romances. A monografia, editada em 1985, é uma revisitação à cidade, que vivia então em democracia, e que Kyria quis testemunhar.

“Je dois à Lisbonne des coups de cœur, un roman, de longs moments de fièvre, de recueillement, de nostalgie et de doucereux ennui aussi. Je lui dois d’apprendre à savoir se contenter de soi, art bien difficile et si vite remis en question, à la première occasion. Seul. J’y ai vécu le plus souvent at ease, dans une sorte de semi-retrait moral, curieux de tout, surpris de rien, sans rien forcer, détaché mais avec une agréable disponibilité d’être un peu mélancolique, ce qui ne jure pas au pays du saudade. Peut-être, à Lisbonne, ai-je été plus moi-même qu’ailleurs?” (1985 Fr M: 113, 114)

Michel Chandeigne (1957 -), como diz em entrevista: “Par hasard. J’ai été envoyé en tant

que coopérant à Lisbonne en 1982, où j’ai enseigné la biologie dans un lycée. Et là, j’ai avant tout découvert une ville selon mon goût et une langue qui m’a fascinée, d’abord parce que je la trouve un peu incompréhensible et que j’ai toujours eu du mal à la parler – je me débrouille mieux avec le portugais du Brésil. Et puis Pessoa. Un grand choc à la lecture, un des derniers que j’ai éprouvés.161”

Aquele coordenador do guia Autrement, criou a editora Chandeigne em 1991, dedicada, entre outras, à edição de livros de autores de língua portuguesa (no âmbito da lusofonia) e  edições de livros de viagem, editora associada à Librarie Portugaise et Brasilienne em Paris, criada em 1986. Pierre Léglise-Costa, historiador de arte e linguista, é especialista       

159 http://www.jrank.org/literature/pages/6273/David-Wright-(David-John-Murray-Wright).html 160 http://www.babelio.com/auteur/Pierre-Kyria/45058

de literatura de países de língua portuguesa. É o responsável pela colecção Bibliothèque Portugaise, des éditions Métailié, criada em 1979.

No guia Lisbonne, Nostalgie du Futur, aqueles coordenadores reuniram um conjunto de intelectuais portugueses que falaram sobre Lisboa: Eduardo Lourenço, Teolinda Gersão, José Rebelo, José Vitor Adragão, José Augusto França, Mª Judite Carvalho, Almeida Faria, António Ramos Rosa, António Tabucchi, E Prado Coelho, José Gil Maria José Lencastre, Nelson Venturini, a par de intelectuais franceses igualmente ligados à cultura portuguesa: Robert Bréchon, Dominique de Roux, Patrick Quiller, Jacques Damade e Andre Siganos.

A edição de 2003, coordenada por Jean-Pierre Leger, professor na Universidade Nova, reuniu novamente o mesmo conjunto de intelectuais portugueses, tendo acrescentado uma monografia de Lisboa de Pierre-Jakez Hélias (1914-1995), escritor e folclorista defensor da língua da Bretanha, que encontrava em Lisboa uma afinidade com a sua região natal. Neste grupo, é ainda de salientar a monografia de Péroncel-Hugoz (1940 -), jornalista e escritor especialista do mundo muçulmano, que foi correspondente no Magreb e no Médio Oriente, tendo-se interessado pela francofonia, e nessa linha, pela lusofonia e por Lisboa, uma cidade do Sul.

1971 Uk M David John Murray Wright (1920-1994) e Patrick Swift (1927-1983); 1985 Fr M Pierre Kyria (1938 -); 1988 Fr GM Michel Chandeigne (1957 -); 2002 Fr GM Sobre Péroncel –Hugoz (1940 -); 2003 Fr GM Jean-Pierre Leger

Os restantes autores, embora estejam identificados, não se destacam do perfil dos escritores de guias turísticos, que seguem a direcção definido pelas casas editoras, sobretudo os que foram editados nas últimas décadas de XX.

Como acabámos de mencionar, os autores dos guias estrangeiros que escreveram sobre o país e Lisboa correspondem a um grupo relativamente heterogéneo e que mudou substancialmente na segunda metade de XX. Mas ao mesmo tempo, transversalmente ao século XX destaca-se uma diferença entre a autoria francesa e inglesa. Os ingleses permaneceram mais prisioneiros do seu conhecimento histórico sobre o país e a cidade, presos ao seu ponto de vista, uma atitude que muda com o guia de 1971 Uk M David John Murray Wright e Patrick Swift. Os guias franceses, desde cedo, procuraram incluir o ponto de vista e o conhecimento dos especialistas portugueses. Nos guias publicados no ciclo da

Democracia, o recurso a residentes e especialistas em história e cultura portuguesas é mais evidente.

Contudo constatámos uma predominância da interferência do ponto de vista da nacionalidade francesa, dos “gostos turísticos” que os guias veiculam e o olhar valorativo sobre a cidade e a sociedade portuguesa. Por exemplo, no caso da edição do guide Bleu de 1931, que teve o contributo de Raul Proença, intelectual politicamente crítico do regime do Estado Novo emergente, o fim da Narrativa Histórica introduz a visão salazarista, que justifica a sua implantação contra o tempo atribulado republicano: “Depuis elle a été le théâtre de nombreuses agitations polítiques, jusqu’aux révolutions qui ont bouleversé la vie de la république (oct. 1910, mai 1915, déc. 1917, févr. 1927) (1931 Fr G). Aspecto reforçado no guia de 1953, ”depuis l’avènement à la présidence du Conseil, en 1928, du Drº Oliveira Salazar, Lisbonne connaît une ère de paix et de prospérité, se développant sans cesse. En mai 1952, elle à été le siège de la réunion du Conseil du Pacte de l’Atlantique [20 de fev]” (1953 Fr G). Ou o caso do guia de 1988 da Autrement, onde transparece uma visão dos portugueses a partir da experiência dos portugueses emigrados em França.

Grosso modo prevalece um maior apreço pela cultura portuguesa nas edições de guias de “autoria” francesa enquanto as edições ingleses expressam mais o gosto turístico precoce pelo resort Lisboa-Costa do Estoril.

Documentos relacionados