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Krashen e a Aquisição de Segunda Língua

No documento Orientadora – Profª Drª Haruka Nakayama (páginas 54-58)

2.3 BASES TEÓRICAS DO ENSINO COMUNICATIVO

2.3.2 Krashen e a Aquisição de Segunda Língua

Em seu livro Principles and practice in second language acquisition, KRASHEN (1987, p. 9) resume sua teoria de aquisição de segunda língua em quatro importantes hipóteses:

a) a distinção aquisição-aprendizagem; b) a hipótese da ordem natural de aquisição;

c) a hipótese do monitor; d) a hipótese do insumo; e) a hipótese do filtro afetivo.

A quarta hipótese é a por ele considerada como a mais crucial porque ela tenta responder a pergunta de como adquirimos uma língua e dar conta de suas possíveis conseqüências na prática do ensino de línguas. As próximas seções contemplam esses cinco itens

2.3.2.1 A distinção aquisição – aprendizagem Nas palavras do autor [grifos dele]:

A distinção aquisição-aprendizagem (...) afirma que os adultos têm duas maneiras distintas e independentes de desenvolver competência numa segunda língua.

A primeira é a aquisição, um processo similar, senão idêntico, à maneira que as crianças desenvolvem habilidade em sua primeira língua. A aquisição de língua é um processo subconsciente; os adquirentes de língua geralmente não estão conscientes do fato que eles estão adquirindo uma língua. (...)

Outras maneiras de se descrever a aquisição incluem aprendizagem implícita, aprendizagem informal e aprendizagem natural. Em linguagem não técnica, aquisição é “pegar” uma língua.

A segunda maneira de desenvolver competência em uma segunda língua é por meio da aprendizagem de língua. Usaremos o termo “aprendizagem’ daqui em diante para nos referir ao conhecimento consciente de uma segunda língua, conhecer as regras, estar consciente delas, e ser capaz de falar sobre elas. Em termos não técnicos aprendizagem é “saber sobre” uma língua, o que a maioria das pessoas conhecem por “gramática”, ou “regras”. Alguns sinônimos incluem conhecimento formal de uma língua, ou aprendizagem explícita. (KRASHEN, 1982, p. 10)

2.3.2.2 A hipótese da ordem natural Krashen (1982, p. 12) relata:

Adquirentes de uma dada língua tendem a adquirir certas estruturas gramaticais mais cedo e outras mais tarde. A correspondência entre indivíduos não é sempre 100%, mas há similaridades claras e estatisticamente significantes.”

(...)

“... crianças adquirindo Inglês como segunda língua também dão mostra de uma “ordem natural” para morfemas gramaticais, qualquer que seja sua primeira língua. A ordem de 44

aquisição de segunda língua em crianças foi diferente da ordem da primeira língua, mas diferentes grupos de adquirentes de segunda língua apresentaram grandes semelhanças.

(...) para sujeitos adultos, [foi reportada por pesquisa] uma ordem bem similar à vista em crianças na aquisição de segunda língua.

Na figura 7 abaixo Krashen resume várias pesquisas sobre a ordem de aquisição de morfemas gramaticais para aprendizes de inglês como segunda língua.

FIGURA 7 – ORDEM “MÉDIA” DE AQUISIÇÃO DE MORFEMAS GRAMATICAIS PARA O INGLÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA

ING (progressivo) PLURAL

CÓPULA (“to be”)

AUXILIAR (progressivo, como em “he is going” ARTIGO (a, the)

PASSADO IRREGULAR PASSADO REGULAR -s 3ª PES. SINGULAR -s POSSESSIVO FONTE: KRASHEN (1987, p. 13) 2.3.2.3 A hipótese do monitor KRASHEN (1982, p.15) explica:

A hipótese do monitor postula que a aquisição e a aprendizagem são usadas de maneiras bem específicas. Normalmente, a aquisição “inicia” nossos enunciados em uma segunda língua e é responsável pela nossa fluência. A aprendizagem tem apenas uma função, que é como Monitor, ou editor. A aprendizagem entra em jogo apenas para fazer mudanças na forma de nosso enunciado depois que ele foi produzido pelo sistema adquirido. Isso pode acontecer antes de falarmos ou escrevermos ou depois (auto-correção).

E mais adiante adiciona [grifos dele]:

A hipótese do monitor implica em que as regras formais, ou aprendizagem consciente, representam um papel limitado no desempenho da segunda língua. Essas limitações ficaram

mais claras com pesquisas nos últimos anos. Essas pesquisas, revistas no capítulo 4, sugerem fortemente que os usuários de segunda língua só podem usar regras conscientes quando três condições estão presentes. Essas condições são necessárias e não suficientes, ou seja, um usuário pode não utilizar sua gramática consciente mesmo quando as três condições estão presentes. (...)

a) Tempo. (...) “Para a maioria das pessoas, a conversação normal não permite tempo

suficiente para pensar e usar regras.” O abuso do monitor pode levar a hesitação e falta de atenção ao que diz o interlocutor;

b) Foco na forma. “Mesmo quanto temos tempo, podemos estar tão envolvidos com o que estamos dizendo que não prestamos atenção a como estamos dizendo.”;

c) Conhecimento da regra. “Podemos ter certeza que nossos alunos são expostos apenas

a uma pequena parte do total de regras gramaticais da língua, e sabemos que mesmo os melhores alunos não aprendem todas as regras a que são expostos.” (KRASHEN, 1982, p. 16) [grifos do autor]

2.3.2.4 A hipótese do insumo

A hipótese do insumo pode ser resumida em quatro partes (KRASHEN, 1982,

p. 22):

1. “A hipótese do insumo se relaciona à aquisição, não aprendizagem.”

2, “Adquirimos ao compreender linguagem que contenha estrutura um pouco além do nosso atual nível de competência. (i + 1). Isso é feito com a ajuda do contexto ou de informações extralingüísticas.”

3. “Quando a comunicação é bem sucedida, quando o insumo é compreendido e em quantidade suficiente, i + 1 estará automaticamente presente.”

4. “A habilidade de produção emerge. Não é ensinada diretamente.(ou seja, não se pode ensinar fluência, ela aparece sozinha, com o tempo).

2.3.2.5 A hipótese do filtro afetivo

Relata KRASHEN (1982, p. 30 – 31):

A hipótese do filtro afetivo trata de como os fatores afetivos se relacionam com o processo de aquisição de segunda língua. O conceito de um Filtro Afetivo foi proposto por Dulay e Burt (1977) e é consistente como o trabalho teórico feito na área de variáveis afetivas e aquisição de segunda língua, assim como as hipóteses previamente cobertas neste capítulo.

(...)diversas variáveis se relacionam com o sucesso na aquisição de uma segunda língua (...). A maioria delas podem ser encaixadas em uma dessas categorias:

1. Motivação. Usuários com alta motivação geralmente se saem melhor na aquisição de segunda língua (usualmente, mas não sempre “integrativa”)

2. Auto-confiança. Usuários com auto-confiança e boa auto-imagem tendem a se sair melhor na aquisição de segunda língua.

3. Ansiedade. Baixa ansiedade parece ser propícia à aquisição de segunda língua, ...” (...)

“A hipótese do filtro afetivo, (...) defende que o efeito dos fatores afetivos se dá de “fora” do dispositivo de aquisição de linguagem em si. Ela ainda mantém que o insumo é a variável causativa primária na aquisição de língua estrangeira, com as variáveis afetivas agindo para impedir ou facilitar a chegada do insumo aodispositivo de aquisição de linguagem.

FIGURA 8 – OPERAÇÃO DO FILTRO AFETIVO

FONTE: KRASHEN (1987, p, 32) filtro Dispositivo de aquisição de linguagem Competência adquirida Insumo

KRASHEN (1982, p. 32) resume, então, assim sua teoria de aquisição de segunda língua:

1. “A aquisição é mais importante que a aprendizagem.”

2. “Para adquirir, duas condições são necessárias. A primeira é insumo compreensível (ou melhor dizendo, compreendido) contendo i + 1, estruturas um pouco além do nível atual do adquirente, e a segunda, um baixo ou fraco filtro afetivo para permitir que o insumo entre.”

No documento Orientadora – Profª Drª Haruka Nakayama (páginas 54-58)

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