• Nenhum resultado encontrado

VIII. Marcas fonológicas e lexicais na escrita

8.2. Léxico

Como refere Santos (1967:213), cujo

dos concelhos aqui em análise está descrito, “o léxico é um dos aspectos mais originais dos falares de Trás Montes. O estudo etimológico dos diferentes vocábulos, o traçado de área

domínios portugueses e, em geral, românicos, pode trazer conclusões de grande interesse sobre a antiguidade e o carácter conservador da zona, sobre a sua situação perante

sua estrutura como domínio linguístico cercado, em grande extensão, por zonas de falares espanhóis.” em conta este pressuposto, seleccion

importante do variado léxico que caracteriza os fal

botar

, a interjeição

e o lexema

carai

posteriormente. Note-se, no entanto, que a utilização de

129

o envolvendo a realização da nasal

No caso do sândi externo, apenas encontrámos exemplos na obra literária já mencionada exemplos, o segmento precedente é [+nasal] e a categoria gramatical do clítico seguinte artigo.

213), cujo inquérito inclui apenas nos concelhos raianos e, por essa razão, nenhum dos concelhos aqui em análise está descrito, “o léxico é um dos aspectos mais originais dos falares de Trás Montes. O estudo etimológico dos diferentes vocábulos, o traçado de áreas e a sua comparação com outros domínios portugueses e, em geral, românicos, pode trazer conclusões de grande interesse sobre a antiguidade e o carácter conservador da zona, sobre a sua situação perante a formação da língua portuguesa, e sobre a

ura como domínio linguístico cercado, em grande extensão, por zonas de falares espanhóis.” seleccionámos quatro itens lexicais que, devido à sua alta

o variado léxico que caracteriza os falantes transmontanos. São eles, o advérbio

carai

, cuja categoria gramatical pode ser interjeição ou nome, como veremos

se, no entanto, que a utilização de

além

e

botar

pode alargar-se a

mencionada. Em todos os exemplos, o segmento precedente é [+nasal] e a categoria gramatical do clítico seguinte artigo.

inquérito inclui apenas nos concelhos raianos e, por essa razão, nenhum dos concelhos aqui em análise está descrito, “o léxico é um dos aspectos mais originais dos falares de Trás-os-

s e a sua comparação com outros domínios portugueses e, em geral, românicos, pode trazer conclusões de grande interesse sobre a antiguidade a formação da língua portuguesa, e sobre a ura como domínio linguístico cercado, em grande extensão, por zonas de falares espanhóis.” Tendo que, devido à sua alta frequência, são parte . São eles, o advérbio

além

, o verbo , cuja categoria gramatical pode ser interjeição ou nome, como veremos

130

8.2.1. Além

O advérbio

além

é largamente utilizado em Trás-os-Montes, como se pode ver na Tabela 28, sendo um dos advérbio de lugar mais comuns, juntamente com

em

,

aqui

e

ali.

Os advérbios

acolá

e

afora

, por exemplo, nunca foram utilizados pelos falantes da TQT.

Falante Excerto

AAF2 além lá na rua principal

eu aprendi com um colega além do outro talho

AAF4 além encontrei a difrença muito grande

ANF4 olhe íamos aqui e além

era umas festas os rantchos aqui e além e andámos a dançar aqui e além nas aldeias

ANM4 tchegue-se pra além

CAM4 salta aqui desce ali foge além metem-lhe medo de além como os ladrões

CAF2 temos outra além na barragem

e além no quintanilha

CAF4 por essas matas fora por aqui por além

olha vai levar além à casa da tia Carlota

CAM3 atão bamos dois pra além do rio

CNF4 além a gente do tua

IAF2 além ao fundo de desemprego

IAF4 pra além de lisboa

IAM3 nunca ninguém me disse sai daí e bai para além

IAM4 nunca foi assim muito por aí além

INM4 todos trabalham por aqui por além

MNF4 outros pra aqui pra além

além indo para lagoa

os mouros derrotaram tudo para além

VAF4 além também compor

para pôr do lado de além

VAM2 tem além um antigo castro

VAM4 até além ao vale cabeiro

aqui chorando além esse carinho de mãe seja aqui seja além

VNM4 dois além e outros dois aqui

8.2.2. Bô

é uma interjeição comummente vemos na Tabela 29. Falante AAM3 ANM4 CNM4 IAF4 INF4 CAM4 MAF4 MNF4 MNM4 VAF4 VNF4 VNM4 Tabela 29

A utilização da expressão

, juntamente com

comum. Veja-se o comentário retirado da página do Teatro de Estudantes de Bragança.

(n)

Em: http://www.myspace.com/t_e_b_ (Outubro 2008)

131

utilizada para exprimir admiração, desconfiança ou discordância, como

Excerto aquilo bô quem é que entra lá dentro eu inda não era nascido e bô nem pra ser Ah bô se lembro

bô o castigo naquela campa deitando-se lá uma pessoa sem o tirar não sai de lá

bô não tinha bagar

num podia andar nas festas bô bô atinge o terceiro ano

bô mandei-lhe fazer mais auguma coisa bô eu num digo mai nada

bô alegre atão conberse lá

já bai pra todos os lados bô mas atão bô tu já andas aí

bô agora dão-lhe tudo

não era assim tão faustada como agora agora bô estava a gente bem armada bô

fazer uma porta para o quintal bô bô num quero conbersa bô bô bô não não bô bô a minha infância

não me deixa bô bô também não posso

bô bô agora quase que faz tanto um homem num dia bô tínhamos de andar a curar

– Listagem do número de ocorrências da interjeição bô por falante.

, juntamente com

carai

, em páginas pessoais e blogues de transmontanos é muito se o comentário retirado da página do Teatro de Estudantes de Bragança.

(Outubro 2008)

o, desconfiança ou discordância, como

eu inda não era nascido e bô nem pra ser se lá uma

não era assim tão faustada como agora agora bô

agora quase que faz tanto um homem num dia

blogues de transmontanos é muito se o comentário retirado da página do Teatro de Estudantes de Bragança.

132

(o)

Texto sobre Maçores –Moncorvo, concelho que faz fronteira com Carrazeda de Ansiães, Vila Flor e Alfândega da Fé, em http://a2b3c4d5.no.sapo.pt/macores_actual.htm (Novembro 2009)

8.2.3. Botar

A utilização do verbo

botar

para designar

despejar, deitar, atirar, atear, pôr,

etc. é muito usual na TQT (cf. Tabela 30). Sabemos, no entanto, que este verbo é também, muito utilizado no Português do Brasil, sendo que a maioria dos sítios e blogues para onde a pesquisa desta palavra nos direcciona são brasileiros.

Falante Excerto

AAM2 botaram-no abaixo AAM4

mas botei-me e sei ler mas botei as mãos às cabras porque não se botou o fogo CAF1 bota-se os obos

bota-lhe alho binho e CAF3 botar o adubo CAM1 botam aquilo fora

penso eu que botam aquilo fora CNF4 botava-o pelo doiro abaixo

é donde o boto é no quartilho está lá no armário boto para lá

INM4 nem uma jinela tinha pra lhe botar uma áugua pra fora não o podem botar fora do emprego

MAF4 botei-a a ela ao poço a senhora botava

VAF3 para não botar o herbicida não é conbeniente botar aos toros VAM1 botei olho pra aquilo

VAM4 o diabo a há-de botar abaixo

foi a cheia de mil novecentos e nove que a botou abaixo VNF4 agora bota mais um fora do que tinham quatro ou cinco

os aparelhos que lá há botaram-mos todos e não me deram com ela

A utilização deste verbo é, também muito comum no Mirandês, como vemos neste excerto de uma crónica de Faustino Antão retirado de http://www.jornalnordeste.com

(p)

8.2.4. Carai

Ainda hoje, na TQT, há determinados itens lexicais marcados socialmente como falantes do sexo masculino, como o calão. No nosso

de 65 anos e de Macedo de Cavaleiros

mais de 51 anos produziram itens lexicais considerados calão

tudo sei lá o caralho

(MNM4);

porque esta merda

(VAM1). No caso das ocorrências

amigos/conhecidos de infância da investigadora.

investigadora, ter produzido uma expressão considerada calão pessoa, poderá ser representativo

principalmente quando as falantes são trabalhadoras activas em caso. Veja-se, também, o relatado no seguinte texto

http://chronicazores.com.sapo.pt/cronica48.pdf

(q)

133

A utilização deste verbo é, também muito comum no Mirandês, como vemos neste excerto de uma crónica de http://www.jornalnordeste.com (Outubro 2008):

Ainda hoje, na TQT, há determinados itens lexicais marcados socialmente como , como o calão. No nosso

corpus

apenas cinco falantes, dois

de 65 anos e de Macedo de Cavaleiros; dois vilaflorenses entre os 20 e os 35 anos e uma vilaflorense com produziram itens lexicais considerados calão:

e ele disse até te fodes

porque esta merda

(VAF3);

é só merda aquele rio

(VAM1);

(VAM1). No caso das ocorrências dos falantes de Vila Flor, um dos falantes é familiar e o

de infância da investigadora. O facto de apenas uma falante, conhecida de longa data da xpressão considerada calão quando relatava um episódio ocorrido com outra poderá ser representativo do papel ainda recatado das mulheres na sociedade transmontana, principalmente quando as falantes são trabalhadoras activas em actividades ligadas a

se, também, o relatado no seguinte texto, escrito por um filho de mãe transmontana, http://chronicazores.com.sapo.pt/cronica48.pdf. (Outubro 2008)

A utilização deste verbo é, também muito comum no Mirandês, como vemos neste excerto de uma crónica de

Ainda hoje, na TQT, há determinados itens lexicais marcados socialmente como produzidos apenas por dois masculinos com mais anos e uma vilaflorense com

e ele disse até te fodes

(MAM4);

eu não corro

(VAM1);

mas custa foda-se

, um dos falantes é familiar e os outros , conhecida de longa data da quando relatava um episódio ocorrido com outra do papel ainda recatado das mulheres na sociedade transmontana, actividades ligadas aos serviços, como é o de mãe transmontana, retirado do site

Também Eckert e McConnell-Ginet (1992:90) referem que a forma como os manipulam a linguagem representa a forma como estes se v

Women’s language has been to said to reflect their [our]

consciousness, upward mobility, insecurity, deference, nurture, emotional expressivity, connectedness, sensitivity to others, solidarity. And men’s language is heard as evincing their thoughness, lack of affect, competiveness, inde

hierarchy, control.

Para além das expressões calão, há diversos falantes (masculinos e femininos) que utilizam a expressão possivelmente proveniente de ou com a mesma origem da expressão castelhana

tida, socialmente e nesta região, como calão, mas como uma interjeição, vulgarmente utilizada em situações de espanto, admiração, ou estabelecimento de comparações, como podemos concluir nos excertos seguintes:

carai quando as professoras lá não estabam na e

aprendem mais num ano do que nós aprendemos num rol de anos

(INM4);

quem é o tordo ou tordo ou carai

aprendem mais num ano

(MAM4) ou como nome

Esta expressão é, também, comum em vários blogues transmontanos, como

(r)

http://onossofloresta.blogspot.com/2008/05/bem-no-

(s)

http://pensar-ansiaes.blogspot.com/2008/07/o-novo-acordo

134

Ginet (1992:90) referem que a forma como os homens manipulam a linguagem representa a forma como estes se vêem enquanto seres sociais:

men’s language has been to said to reflect their [our] conservativism, prestige consciousness, upward mobility, insecurity, deference, nurture, emotional expressivity, connectedness, sensitivity to others, solidarity. And men’s language is heard as evincing their thoughness, lack of affect, competiveness, independence, competence,

Para além das expressões calão, há diversos falantes (masculinos e femininos) que utilizam a expressão possivelmente proveniente de ou com a mesma origem da expressão castelhana

caray

da, socialmente e nesta região, como calão, mas como uma interjeição, vulgarmente utilizada em situações de espanto, admiração, ou estabelecimento de comparações, como podemos concluir nos excertos seguintes:

carai quando as professoras lá não estabam na escola

(VAF4);

passou pela bófia e ò carai

aprendem mais num ano do que nós aprendemos num rol de anos

(MAM4);

mas eis eram boa gente carai

quem é o tordo ou tordo ou carai

(VAM1). A palavra

carai

é utilizada como interjeição: ou como nome

quem é o tordo ou tordo ou carai

(VAM1).

Esta expressão é, também, comum em vários blogues transmontanos, como podemos ver em n) e o

e-que-tenha-novidades.html (Outubro 2008)

acordo-ortogrfico.html (Outubro 2008)

homens e as mulheres êem enquanto seres sociais:

conservativism, prestige consciousness, upward mobility, insecurity, deference, nurture, emotional expressivity, connectedness, sensitivity to others, solidarity. And men’s language is heard as pendence, competence,

Para além das expressões calão, há diversos falantes (masculinos e femininos) que utilizam a expressão

carai

,

caray

. Esta palavra não é da, socialmente e nesta região, como calão, mas como uma interjeição, vulgarmente utilizada em situações de espanto, admiração, ou estabelecimento de comparações, como podemos concluir nos excertos seguintes:

passou pela bófia e ò carai

(VAM1);

carai agora

mas eis eram boa gente carai

é utilizada como interjeição:

carai agora

(VAM1).

135

8.3. Conclusão

No que diz respeito aos fenómenos fonológicos, os exemplos aqui expostos, retirados de blogues, fóruns e de contos/estórias de autores naturais da TQT, demonstram que os processos por nós analisados podem ocorrer no registo escrito, quer como marca pessoal involuntária (no caso da semivocalização da lateral); quer propositadamente, como na obra

O Diabo veio ao enterro

, ou no caso da africada surda e da realização da fricativa final. No caso da africada surda, o registo escrito deste fenómeno oral é utilizado como forma de identificar a origem do falante, ou seja, o registo escrito propositado da africada cataloga os falantes como sendo de uma determinada área geográfica (interior norte).

Aspecto relevante, mas pouco explorado neste trabalho, é a análise das escolhas lexicais dos falantes transmontanos, em especial da Terra Quente, uma vez que estas podem variar muito de região para região. Veja-se o comentário em (p). O autor comenta que o anterior comentário não deveria, provavelmente, ter sido escrito por um natural de Brunhoso (Mogadouro), por este ter utilizado “adega” e “pipa” em vez de “despensa” e “pipo”63.

(t)

http://boards2.melodysoft.com/Brunhoso/re-igreja-de-brunhoso-4884.html?DOC=31 (Outubro 2008)

Também os itens lexicais

e

carai

são identificadores da variedade transmontana, como vemos no texto escrito por um descendente de mãe transmontana a viver nos Açores.

(u)

Em: http://chronicazores.com.sapo.pt/cronica48.pdf (Outubro 2008)

136

Para terminar, resta salientar que esta secção necessitaria de aprofundamento, que, devido a constrangimentos temporais, não foi possível efectuar. A análise do léxico enquanto marcador geográfico e social é, ainda um vasto campo dos estudos linguísticos a explorar, trabalho que esperamos retomar em trabalhos futuros.

138

Documentos relacionados