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2.3 A classificação dos verbos e a marcação de tempo

2.3.1 Língua Portuguesa

A marcação de tempo na Língua Portuguesa é representada pela flexão verbal de tempo, podendo também ser utilizado advérbios e adjuntos adverbiais de tempo para modificar o verbo.

O verbo juntamente com o substantivo destacam-se como as duas mais importantes classes de palavras, pois compõem a base das frases (Cegalla, 2001).

No estudo de Skipp et al. (2002) foi constatado que a utilização dos verbos favorece o desenvolvimento gramatical da criança, pois possibilita a combinações de diversas palavras.

Segundo Bueno (1968), verbo é a palavra que manifesta ação, estado ou qualidade, em geral, de um sujeito. Tem papel fundamental na organização do período (Luft, 2000; Cegalla, 2001) e é a classe de palavras de maior riqueza formal (Macambira, 2001).

Na Língua Portuguesa o verbo é composto por três elementos: o radical, que é o elemento básico; a vogal temática, que liga o radical à terminação e caracteriza a conjugação; e a desinência, que é o elemento mórfico que indica modo e tempo (desinência modo-temporal) e pessoa e número (desinência número-pessoal) (Souza, Youssef, 1998).

O verbo apresenta variações de número, de pessoa, de modo, de tempo e de voz. A essas modificações dá-se o nome de flexão verbal (Cegalla, 2001).

A flexão de tempo indica o momento em que ocorre o fato expresso pelo verbo. Há três tempos no Português, são eles: o presente, o passado e o futuro, que expressam, respectivamente, um fato que ocorre no momento em que se fala, antes do momento em que se fala e após o momento em que se fala (Cunha, 1992; Nicola, 1999; Ryan, 2004).

Alguns estudiosos da Língua Portuguesa vem evidenciando o declínio no uso do tempo futuro sintético (exemplo: comerei) em detrimento da perífrase (exemplo: vou comer). O futuro perifrástico é constituído pelo presente do indicativo do verbo “ir” (flexionado em uma das pessoas do discurso) associado ao infinitivo do verbo principal (Cunha, Cintra, 1985; Cunha, 1992).

Cunha (1992) salienta que o futuro sintético é quase que exclusividade da língua escrita, enquanto a falada prefere fazer uso das formas perifrásticas.

Quanto à forma, os tempos podem ser classificados em simples, quando constituídos por um só verbo, e composto, quando constituído por um verbo no particípio acompanhado pelos verbos “ter” ou “haver” (Ryan, 2004).

O agrupamento das flexões verbais segundo uma ordem determinada constitui a conjugação (Sacconi, 1999; Cegalla, 2001).

Os verbos se reúnem em três conjugações, de acordo com a terminação do infinitivo. Os verbos da primeira conjugação terminam em “ar”, os da segunda conjugação terminam em “er” e os da terceira conjugação terminam em “ir”. Os verbos terminados em “pôr” e seus compostos pertencem à segunda conjugação, pois a forma primitiva latina destes verbos é terminada em “er” (exemplo: verbo:“pôr” - forma latina: “poer”). A língua portuguesa possui aproximadamente onze mil verbos, dos quais mais de dez mil são da primeira conjugação (Cegalla, 2001).

Quanto à conjugação, os verbos classificam-se em regulares, irregulares e defectivos. Os verbos regulares são os que não sofrem alteração em seu radical e cujas desinências são as mesmas do verbo modelo de sua conjugação. Os verbos irregulares são os que sofrem alterações em seu radical ou em suas desinências, afastando-se do modelo a que pertencem. Os verbos defectivos são os que não possuem a conjugação completa (Cegalla, 2001).

Miller e Fellbaum (1991) sugeriram um modelo hierárquico de verbos na língua inglesa que parte dos genéricos (exemplo: cortar) aos mais específicos (exemplo: recortar, picar, serrar). Em termos de aquisição os autores relatam que os verbos genéricos são mais básicos e adquiridos mais precocemente do que verbos específicos.

Na pesquisa de Barbosa (2005) foi analisado o uso de verbos e da categoria “tempo” na fala de crianças brasileiras entre dois e cinco anos de idade. A autora observou que por volta dos dois anos as crianças começam a empregar o verbo em seus enunciados, construindo estruturas simples,

compostas de sujeito, verbo e complemento. Os dados demonstraram que a interação com o meio lingüístico favorece a organização temporal e o uso dos verbos, assim como as estruturas oracionais se tornam mais complexas e coerentes.

Tonietto et al. (2008) estudaram o desenvolvimento da especificidade na aquisição de verbos em 146 crianças ouvintes matriculadas em pré- escolas particulares de Porto Alegre, de dois a seis anos de idade e em 75 adultos universitários, por meio de tarefa de nomeação de ações. As autoras analisaram a validade e especificidade das respostas e calcularam o escore de especificidade de cada participante, definido previamente a partir do julgamento de 79 juízes. De acordo com os dados da pesquisa o uso de verbos específicos aumentou significativamente com a idade, estando definitivamente presente no grupo de adultos. Os resultados sugerem que com a experiência e exposição à língua as crianças adquirem características semânticas mais complexas que possibilitam a utilização de verbos específicos.

Na Língua Portuguesa os verbos também podem ser classificados de acordo com sua predicação em: intransitivos, transitivos diretos, transitivos indiretos, transitivos diretos e indiretos e de ligação. Os verbos intransitivos têm sentido completo, não necessitando de complemento. Os verbos transitivos diretos têm sentido incompleto, necessitando de um complemento sem preposição. Os verbos transitivos indiretos também têm sentido incompleto, mas necessitam de um complemento com preposição. Os verbos transitivos diretos e indiretos utilizam dois complementos, um sem

preposição e outro com preposição. Os verbos de ligação entram na formação do predicado nominal, relacionando o predicativo com seu sujeito (Cegalla, 2001).

Befi-Lopes et al. (2007) analisaram a classificação dos verbos utilizados em situação de fala espontânea por meio de interação lúdica em sessenta pré-escolares em desenvolvimento normal de linguagem, de dois a quatro anos e onze meses, matriculados em creches do município de São Paulo. Os pré-escolares foram divididos nos seguintes grupos: dois anos a dois anos e onze meses (grupo 1), três anos a três anos e onze meses (grupo 2) e quatro anos a quatro anos e onze meses (grupo 3). Os dados demonstraram que o verbo de maior ocorrência em todos os grupos foi o intransitivo, sendo que nos grupos 1 e 2 o segundo mais freqüente foi o de ligação e no grupo 3 foi o transitivo direto.

Segundo Ryan (2004) os verbos também podem ser representados pelas formas nominais, que são compostas pelo infinitivo, gerúndio e particípio. As formas nominais não representam as flexões verbais de tempo e modo, expressam o fato de modo impreciso e vago e são assim chamadas por desempenharem funções de nomes, tais como: substantivos e adjetivos. O infinitivo indica a ação, sem situá-la no tempo, desempenhando função semelhante ao substantivo. Pode apresentar flexão em pessoa, nesse caso é pessoal. Nos casos em que não se flexiona é chamado de impessoal. O gerúndio indica uma ação em andamento. O particípio indica uma ação finalizada, adquirindo uma função parecida com a de um adjetivo ou advérbio (Cegalla, 2001).

A extensa variedade semântica e gramatical dos verbos impede sua rápida generalização. Deste modo, sua aquisição ocorre de forma gradual e necessita que as crianças sejam expostas repetidamente ao mesmo verbo para aprenderem suas propriedades (Marshall, 2003).

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