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3 PERCURSO METODOLÓGICO

3.1 Lócus da pesquisa: unidade da APAC

A associação filiou-se à FBAC em 05/07/2006 e em 2008 firmou um convênio de manutenção e custeio com o Estado de Minas Gerais, mediado pela Secretaria de Estado de Defesa Social – SEDS. Em 2009 foi firmado outro convênio com o Estado de Minas, dessa vez de construção para a nova sede, com o objetivo de atender 176 recuperandos. Em uma área de aproximadamente 6.000m², o projeto arquitetônico foi devidamente planejado para atender 80 recuperandos no regime fechado, 56 no semiaberto interno e 40 no aberto ou regime semiaberto com direito a trabalho externo.

Com a mão de obra 100% composta por presos do presídio regional e recuperandos que já cumpriam pena na APAC, em 2010 começaram as obras e em 21/11/2013 foram inaugurada as novas instalações do CRS dessa APAC. Ambiente amplamente projetado para promover o cumprimento da pena privativa de liberdade com dignidade, sem perder o foco punitivo da pena.

É válido ressaltar que a APAC funciona como órgão auxiliar da justiça. Atua em parceria com a comunidade, compartilhando responsabilidades na administração de seus Centros de Reintegração Social com os próprios presos, buscando a todo custo a aplicação literal da Lei de Execução Penal, sem a presença de armas e agentes de segurança. O trabalho é desenvolvido essencialmente por voluntários e por funcionários que compõem os setores:

 Disciplinar - Um Encarregado de Segurança, oito Inspetores, sendo quatro do período vespertino e quatro noturnos, três condutores de segurança e dois supervisores de oficina;

 Administrativo - Um Encarregado Administrativo, duas Secretárias, uma Pedagoga, uma Enfermeira, uma estagiária de Assistência Social, um Estagiário de Psicologia, um estagiário de Comunicação/Jornalismo, dois Estagiários Jurídicos; e

 Financeiro: - Uma Encarregada Tesouraria, dois Auxiliares Administrativos. Na APAC utiliza-se uma metodologia própria que, baseada na dignidade não perde o foco da punição da pena, caracteriza-se pelo compartilhamento de responsabilidade no cumprimento da pena privativa de liberdade, com disciplina rígida, respeito ao próximo, ordem, trabalho e envolvimento da família do sentenciado. Valoriza-se, com espírito profundamente cristão, a finalidade recuperativa do condenado e sua inserção no convívio social.

Dessa forma, dentro dos CRS acontecem atos socializadores, cultos religiosos, aulas de valorização humana, palestras e encontros promovidos por outras entidades filantrópicas (NA16, AA17, ALANON18, etc.) para dependência química, além de outros projetos

desenvolvidos por voluntários como oficinas de incentivo à leitura, aulas de espanhol, aulas de inglês, aulas de piano, aulas de reforço para ENEM, aula de violão, aulas de culinária, confecção de miniaturas em madeira, origami, coral e as oficinas escolas que promovem curso de marcenaria, serralheria, padaria, mecânica, costura, suinocultura, criação de aves, dentre outros.

A APAC é pioneira no que diz respeito à educação. Posteriormente à inauguração do CRS, em 2008, foi implantada com o total apoio da 34ª Superintendência Regional de Ensino - SRE, o segundo endereço da Escola Estadual Detetive Marco Antônio de Souza. É uma escola prisional que utiliza da metodologia da Educação para Jovens e Adultos – EJA e disponibiliza aula presencial desde a alfabetização até ao ensino médio, diariamente nos 3 turnos. Esse fato está em concordância com a metodologia apaqueana tendo em vista que o estudo se faz obrigatório para todos aqueles recuperandos que possuem seu grau de instrução incompleto. Atualmente os recuperandos ainda têm acesso ao ensino superior na modalidade a

16 Narcóticos Anônimos; 17 Alcoólicos Anônimos;

distância e presencial, para cursos diurnos. 15% dos 176 recuperandos estão matriculados em cursos de graduação de Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Turismo e Educação Física.

É válido ressaltar que o bom funcionamento de uma APAC depende do apoio e aceitação da sociedade, visto que o abandono e o preconceito existente contra esses condenados tende a aumentar o índice de violência e reincidência. Dessa forma a APAC, demonstrando total responsabilidade e seriedade para com o trabalho, conseguiu o apoio de importantes órgãos locais, como a Prefeitura Municipal, a Universidade Federal- UFSJ, Instituições de Ensino Particulares, Empresas de iniciativa privada, sistema FIEMG/SESI/SENAI, SENAC, assim como outros órgãos e instituições da região.

Citando a Prefeitura do Município, em 2009, firmou um convênio com a APAC com o objetivo de empregar 40 recuperandos (as) que possuem o benefício do trabalho extramuros ou cumprem pena em regime aberto, entendendo que esta é uma contribuição efetiva para a reintegração desses condenados novamente na sociedade. O convênio é renovado a cada ano e os (as) recuperandos(as) recebem um salário mínimo para atuarem no setor de limpeza urbana.

Infelizmente a realidade das mulheres que são condenadas pela justiça, e consecutivamente cumprem suas penas nos estabelecimentos prisionais do nosso país, é tão ruim quanto a dos homens. Visualizando a emergência de se trabalhar também com as mulheres, foi inaugurada no dia 08 de março de 2018, a sede da Unidade feminina, onde também se aplica a metodologia da APAC.

A capacidade da Unidade Feminina é de noventa recuperandas, atualmente vinte estão no regime fechado, dezenove no provisório, quatorze no semiaberto e nove no aberto. Existe também no CRS da Unidade Feminina, um espaço destinado às gestantes, para que as mesmas possam acompanhar o desenvolvimento de seus bebês de maneira digna e mais humana, até seus filhos(as) completarem um ano de vida.

Mesmo com as dificuldades enfrentadas, atualmente 17 recuperandos realizam os cursos superiores de Administração, Ciências Contábeis e Turismo. Um recuperando conclui o curso de Turismo e dois concluíram em agosto desse ano o curso de Ciências Contábeis. O recuperando que está no regime fechado e já curso o final da graduação realiza estágio dentro da própria Associação, no setor da tesouraria; e outro, que está no regime semiaberto externo, já trabalha como encarregado de oficina dentro da APAC e também realiza o estágio no setor administrativo, ambos já estão no final do curso.

O aluno que concluiu a graduação em Turismo realizou o estágio no setor de informações turísticas, que pertence à Secretaria de Cultura, dentro da rodoviária da cidade. Quando terminar o seu cumprimenta de pena ele terá a oportunidade de concorrer pela vaga nesse setor e poderá ter seu primeiro emprego de carteira assinada ainda estando recluso. Os recuperandos que realizam o estágio dentro da APAC depois de concluírem o curso, poderão também participar dos processos seletivos da Associação. Outro recuperando que concluiu o curso já está em liberdade e trabalhando no local que iniciou o estágio quando ainda estava cumprindo pena na APAC.

Para esses indivíduos que realizam os cursos a distância, a rotina dentro da Associação e o processo de recuperação apresentaram mudanças significativas. O apenado que faz o curso superior tem o seu horário de estudo como atividade diária, participa de todas as palestras e cursos complementares, como por exemplo, palestras dos parceiros da Associação SESI/SENAI e SENAC, tudo isso para auxiliar nas atividades complementares obrigatórias que o aluno tem que apresentar ao final do curso. Com isso ele desenvolve sua responsabilidade e fica mais concentrado e focado no seu processo de recuperação, além disso, muitos deles relatam que, por meio dos estudos, conseguem visualizar uma oportunidade de mudança na vida fora das grades.

No entanto é a Educação a Distância que possibilitou aos alunos privados de liberdade que a aula e a formação em curso superior chegassem até eles, essa é uma oportunidade ímpar na vida desses recuperandos, e uma possibilidade de reinserção na sociedade.

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