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Capítulo 2- O Gerenciamento de Acervos Arqueológicos em Quatro Diferentes

2.4. Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal de

Para exemplificar a gestão dos materiais arqueológicos no LEPA será exposto, a partir de Ballardo e Milder (2011), o sistema de documentação desenvolvido recentemente para a gestão do acervo salvaguardado nessa instituiçao.

Criou-se este sistema procurando atender as necessidades documentais do acervo arqueológico adotando parâmetros técnicos e utilizando-se de mecanismos para auxiliar na organização e na recuperação dos objetos e das suas informações.

Esta instituição conta com um representativo acervo que remonta às pesquisas arqueológicas desenvolvidas desde os anos 1960. No entanto, os materiais que o compõem não possuíam, até pouco tempo, uma documentação de gestão museológica apropriada, pois o que existia era apenas a documentação arqueológica não padronizada acerca das intervenções em campo. Além disso, não havia um sistema de catalogação e classificação para as coleções do acervo, o que dificultava a localização desses materiais e de suas informações quando solicitados para pesquisa.

Portanto, para implantar o sistema de gestão documental, por meio de um banco de dados digital, foi necessária a criação de uma reserva técnica, e, para isso, foi feito o arrolamento de todas as coleções arqueológicas por procedência e tipologia de material, padronizando, assim, o acondicionamento e a identificação das coleções.

Durante este processo, foi feito também um levantamento de dados sobre o acervo para o diagnóstico das reais necessidades do LEPA. E, concomitante a isso, analisou-se a bibliografia nacional e internacional sobre o assunto em questão, com o intuito de ficar a par dos impasses e das soluções encontrados por pesquisadores que lidam com o gerenciamento de acervos e com documentações de gestão museológica.

Nesse sentido, a metodologia utilizada para a criação do sistema documental deste laboratório baseou-se no programa de gestão documental para acervos arqueológicos do Instituto Português de Museus (IPM), por se tratar de um padrão internacional de normas de inventário que se mostrou eficiente em seu aspecto prático. Essa última instituição implantou essas normas padronizando o sistema de documentação museológica, de forma que os processos de organização das informações foram desenvolvidos para atender o acervo de acordo com as necessidades das diferentes coleções que o compunham (PINHO; FREITAS, 2000; RAPOSO et al, 2000 apud BALLARDO; MILDER, 2011).

O IPM baseou-se no sistema Endovellicus, desenvolvido pelo Instituto Português de Arqueologia, para a elaboração do seu programa. Para isso, após o processamento do acervo

do Museu Nacional de Arqueologia e do Museu Monográfico de Coimbra, foi elaborada a sua estrutura com subcategorias, como item de identificação das tipologias dos acervos arqueológicos, bem como foram adicionados ao programa itens para a identificação de contexto arqueológico e datação de sítios. Com isso, geraram-se campos para o registro de informações específicas para os objetos (RAPOSO et al, 2000 apud BALLARDO; MILDER, 2011) .

Apoiando-se nessa metodologia, foi adotado um sistema de identificação voltado aos objetos que constituem o acervo do LEPA, para a criação do seu próprio programa, classificando-os em categorias e subcategorias, as coleções correspondendo às categorias, e os materiais que as compõem, às subcategorias.

A base deste programa de gerenciamento documental é um software livre conhecido como OpenOffice, disponível para downlod no site: http://www.openoffice.org/download/. Esta ferramenta pode ser configurada conforme as necessidades de cada usuário. No caso do LEPA, os campos do banco de dados correspondem aos itens contidos em uma ficha de registro, elaborada especificamente para o controle da reserva técnica em construção, contendo informações sobre o histórico do material e sua localização espacial.

A proposta destas fichas visa ao registro das peças de forma conjunta e individual, delimitando-as em categorias e subcategorias, e procedendo, assim, às suas indexações por meio da marcação física e da preservação das suas informações intrínsecas em uma base de dados digital.

Para classificar este material, e formular as fichas de registro, se fez necessária a instituição de um inventário para a identificação das peças em suas coleções. Esse sistema foi constituído a partir de uma sigla alfa-numérica, inscrita nos objetos, ou seja: uma sigla com letras relacionadas à coleção a que a peça pertence, um algarismo determinando a sua tipologia (correspondente à subcategoria) e um número sequencial para identificar a ela própria, ou um conjunto de peças dentro de determinada coleção.

A partir, então, da confecção das fichas de registro, com o processamento documental e físico de cada fragmento, e após o seu devido acondicionamento na reserva técnica, foi se fazendo o cadastro do acervo no banco de dados, através do preenchimento de formulários digitais com as informações geradas por meio desse processo de gestão.

A formulação do sistema documental do LEPA foi fundamental para a organização do seu acervo arqueológico, pois anteriormente à criação dessa ferramenta de gerenciamento, a instituição não contava com uma reserva técnica propriamente dita. Portanto, a implantação desse programa, além de permitir a construção desse espaço fundamental, garantiu tanto a

preservação física dos objetos quanto a de suas informações contextuais, bem como proporcionou uma melhoria no sistema de busca, já que permite a localização exata das coleções na reserva.

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Analisando os impasses pelos quais passaram as diferentes instituições citadas, fica claro que as reservas técnicas devem ser planejadas como um dos principais locais do museu ou laboratório de pesquisa, que precisam ser consideradas prioritárias (BRAGA,1998). Estas não devem ser encaradas “como um depósito fechado, um lugar para guardar aquilo que não cabe em uma sala de exposição” (BRAGA, p.271, 1998).

Também é importante salientar que, segundo Afonso et al (1999), para estas dificuldades serem superadas, é necessário que os vestígios arqueológicos sejam organizados já no próprio campo, e que haja “o acompanhamento de todas as etapas do processo curatorial no museu e um compromisso maior, científico e ético, com o destino e o futuro dos materiais coletados” (AFONSO et al, 1999, p.232). E é neste contexto que se seguirá o próximo capítulo deste estudo, isto é, se mostrará o esforço do LEPAARQ/UFPel em elaborar e utilizar-se de metodologias para o gerenciamento da cultura material in situ, bem como no laboratório, onde encontra-se a sua reserva técnica.

Capítulo 3 – Intervenção Arqueológica e Procedimentos Metodológicos Utilizados na